segunda-feira, 6 de junho de 2011

E depois do adeus

Já está.
Era completamente previsível, a  dúvida era apenas na percentagem. Quando se viu a metáfora espantosa  que foi o estilhaçar da porta de acesso à sala de conferências quando Sócrates entrou, todos sorrimos.
Que estávamos fritos já ninguém tinha dúvida desde há muito tempo – saltámos da frigideira para o lume. Sem surpresa.
Mas houve algumas surpresas ontem.
Uma delas foi ter ouvido a palavra «perder». Já se me perde na memória as eleições a que assisti, com os mais diversos resultados onde nessa noite e no dia seguinte todos.... ganharam! Sempre pensei que bom que devia ser. Na minha vida quando espero e desejo uma coisa que não consigo, sinto que perdi. Contudo ELES, (todos eles!) nunca perdiam. Claro que quem ganhava, ganhava. Depois havia os que tendo perdido, tinham aumentado a votação, portanto também tinham ganho. Os que tendo perdido, tinha sido por menos do que diziam as sondagens, portanto tinham ganho. Os que tendo perdido, tinham perdido menos do que os seus directos adversários, portanto tinham ganho. Etc.
Desta vez, pelo menos, essa «cassete» da permanente vitória não se tocou.
E ainda bem, porque espero que se siga uma auto-crítica analisando onde se errou e se esteve mal. Só assim se podem dar passos em frente.
A outra triste surpresa foi não o aumento da abstenção – isso era previsível – mas onde ela se deu.
Que a abstenção ia aumentar ainda mais, só não acreditava quem andasse distraído. Pelo meu lado contei várias pessoas conhecidas que garantiam que não iam votar. «É tudo o mesmo!» era a frase que se ouvia, o desencanto do Socratismo versus o desencanto de quem se lembrava dos governos PSD, levava a um encolher de ombros.
Contudo, fiquei preocupada ao ver que desta vez foram os eleitores da esquerda que mais desmobilizaram. Os resultados parecem apontar para isso, porque se somarmos os votos no PS (que nalguns casos poderia ter sido um voto útil contra o PSD) com os do PC e do Bloco, temos ainda um resultado inferior ao que costuma ser. Imagino que fossem votos de abstenção.
De desmoralização.
De descrédito.
Apesar de saber que por toda a Europa os partidos que estavam no governo quando começou esta crise foram muito penalizados, e todos perderam eleições, não posso nunca perdoar aos governos de Sócrates ter-nos roubado a Esperança.
Dizem que ela é a última a morrer.
Então e depois disso?



Pé-de-Cereja

4 comentários:

Zorro disse...

Muito bem.
Já têm «Um presidente, um governo, uma maioria»
Qual será agora a desculpa?....
Que «isto» estava mau?
Mesmo depois do Sócrates ter amaciado as dificuldades e lhes ter feito a papinha toda?
...........
Espero para ver.

cereja disse...

Caro Zorro, eu imagino que agora «a culpa» vai ser da conjuntura internacional.
Até é verdade!
Se tivesse ficado o Sócrates era de certeza por aí que se justificava.
Mas continuo a pensar no que se passa com a nossa esquerda...

Anónimo disse...

Saltar da frigideira para a fogueira.
Quando as políticas de direita neoliberal levam a europa para um retrocesso social digno do século XIX, os cidadãos de portugal optaram por aprofundar essa via.

Pedro Tarquínio

cereja disse...

Boa Noite Pedro Tarquínio, tenho imenso gosto em te encontrar por aqui de novo.
É assustador, penso eu. Olhando para essa Europa, constatamos como tantas políticas sociais conquistadas com tanto esforço e tanta luta desaparecem com tanta facilidade aparente. Tenho uma familiar muito querida que vive num país nórdico e, se bem que estando a milhas do que se passa aqui (a muitas milhas!!!) mesmo lá a coisa está a piorar.
Quanto a nós até parece que somos suicidários.
Cada um vê o seu caso pessoal e olha para o seu umbigo. Que tristeza!