quinta-feira, 29 de março de 2012

Mas que raio de publicidade....?!

Tenho andado a remoer, pensando que alguma coisa não anda bem no reino da publicidade.
Não entendo.
Por um lado enchem-nos os ouvidos com a questão do crédito-mal-parado e as dívidas que andam por aí. Mesmo que o grosso das dívidas seja afinal parte da amortização das casas que se compraram quando, fazendo as contas, se via que comprar casa própria era mais barato do que pagar uma renda actualizada, também é verdade que com a oferta fácil do cartão de crédito que se usava para tudo e mais alguma coisa, muita gente anda enterrada em dívidas que não consegue pagar. É muito mau.
Mas... os Bancos continuam a fazer publicidade!!! E de que forma!
Encontrei ontem no «Farinha Amparo», blog que leio diariamente, um post que diz à maneira da Didas, exactamente aquilo que me espanta. Pensei fazer uma citação, mas vale a pena deixar tal como ela escreveu:

E lá continuam eles calmamente a oferecer-se para pagar o ballet à filha do Manel, uma curta-metragem à pita que chegou do estrangeiro e a piscina ao Fonseca. Mais as férias nas Maldivas aos Silvas e o carro novo aos Santos. E lá continua o Cristiano calmamente a anunciar ao país que fez uma mudança na vida que foi abrir outra conta no BES paga pelos clientes que lá estão agarrados às hipotecas. Calmamente, como se não tivesse acontecido nada. Como se não houvesse milhares de famílias com ordenados penhorados por terem querido ter tudo o que eles ofereciam, como se os bancos não despejassem todos os dias os desgraçados que não conseguem pagar a mensalidade, como se os milhares de portugueses que compraram carros e móveis e férias a vinte e cinco anos a juntar ao valor da hipoteca agora não andassem à rasca para vender um T2 por um preço muito acima do que ele vale mas que é o que devem ao banco.


Mas não é só esta publicidade que me faz espécie.
Reparei, como toda a gente, nuns cartazes que apareceram com as imagens de umas crianças a fazerem propaganda ... à EDP. Eu sei que a publicidade é caríssima. Em tempos acompanhei uma campanha de publicidade institucional, e fiquei apalermada quando percebi os custos dessa campanha. Fez-me tonturas. Apenas uns cartazes, uns segundos de tv, e a verba era assustadora. Ora esta é uma campanha de luxo. Bons cantores. Quatro semanas. Televisão, imprensa, rádio, internet, cinema e outdoors. Mas porque é que a EDP precisa de propaganda?
Para além disso usa criancinhas, coisa que nunca me agrada em publicidade e acho até que deveria ser proibido. Mas, este dinheiro todo, gasto PARA QUÊ?! A EDP receia que passemos todos em massa para a concorrência, assim como escolher entre o Continente e o Pingo Doce?...
Ou para justificar aumentar o custo da electricidade de 3 em 3 meses (será mentira?) como dizia um jornal ontem... Não fazerem esta campanha já era uma boa economia.










Pé-de-Cereja

segunda-feira, 26 de março de 2012

A cidade e as serras

Nasci numa cidade. Uma capital. 
Tenho vivido quase toda a vida nela, com alguns intervalos de passagem por outras cidades mais pequenas ou, episodicamente, noutra maior. Mas nunca experimentei viver por períodos maiores do que o espaço de umas férias numa comunidade pequena. Ou seja, tudo o que penso sobre isso pode ser – e certamente é – parcial e infundado.
Toda esta introdução é para dar entrada a contar o que sinto neste momento. 
Estive toda a semana passada bastante longe de Lisboa, a viver em casa de uns amigos numa terra que era maior do que uma aldeia mas menor do que o bairro onde eu vivo. Aliás parece-me que toda a população dessa terra devia ser menor do que a do prédio onde vivi em Macau (com cerca de 40 andares e 10 apartamentos por andar…) E senti-me lá bem. Muito bem. Extremamente bem! 
Eu não sei se teria sido capaz de ter feito a opção que os meus amigos fizeram quando, há dezenas de anos, escolheram ir viver para ali. É um facto que sou uma citadina, que estou demasiado habituada às facilidades que uma cidade nos pode dar. Também é verdade que contribuiu imenso para o bem-estar que senti o convívio com esse casal amigo, amigos de infância, amigos de sempre, que falam a minha língua e com quem é um enorme prazer conversar. Seria bem diferente se estivesse ali sozinha e longe de tudo, mas a realidade não era essa. A realidade dessa semana foi o que me pareceu uma maravilhosa qualidade de vida. 
Aquela casa tinha um quintalinho. E, aos meus olhos de citadina, era um deslumbramento perceber que ia comer caldo verde porque a minha amiga ia apanhar umas folhas de couve que migava e punha na panela; ir apanhar uma alface, tomate, rúcula, e fazer salada com vegetais que ainda deviam ter a seiva a correr;  jantar sopa de acelgas também do quintal; a meio da tarde tive sede abanou-se uma laranjeira e fizemos um sumo espremendo as laranjas que caíram da árvore; os temperos todos os que se imaginam, vieram sem excepção dessa mini-horta. E não era apenas a parte alimentar do quintal que era maravilhosa – lá vinham entregar o jornal à porta, vinham deixar o pão, passava um cigano numa camioneta que deixava a fruta, vieram entregar as embalagens de café… E o correio era ao virar da esquina, a farmácia ficava nas traseiras, havia um café na praça a 3 minutos de distância. 
É verdade que isto não era «uma casa na pradaria» porque se condimentava não apenas com uma habitação muito confortável mas com telemóveis, televisão por cabo, e até um acesso à internet não fácil, reconheço, mas possível. Havia um terminal de multibanco na rua debaixo. 
Era em certa medida o melhor dos dois mundo, por isso e escolha está um tanto falseada. 
Mas que senti muito profundamente uma maravilhosa qualidade de vida, impossível de conseguir aqui no meu 3º andar esquerdo, isso tenho de testemunhar. 

Que bem me fez este intervalo de descanso!


Pé-de-Cereja

quinta-feira, 15 de março de 2012

Pontos de vista

Se há coisa que o momento em que vivemos (já não posso com a palavra crise!) nos tem mostrado muito bem é como é tão relativo o conceito de abundância ou carência. Bem… quero dizer que é relativamente relativo! Estou a pensar que há limites que ao serem ultrapassados tornam certas considerações chocantes e provocatórias, como a Maria Antonieta a aconselhar os esfomeados a comer brioches. 
Uma pessoa nasce, cresce, é educada num determinado mundo. Fala-se em «berço de ouro» para contrapor aos berços de madeira e até pode nem haver nenhum berço, ser apenas um pano traçado às costas da mãe… Mas desde que um bebé começa a observar o mundo que o rodeia dá como certo e adquirido alguns factos que contribuem para o seu conforto ou desconforto. Para ele isso é o normal, o natural. Um adulto (a mãe...?) toma conta dele, e os valores que esse adulto lhe transmite começam por ser aceites como sendo a verdade absoluta. Pronto, fomos chutados para o mundo real que não-é-igual-para-todos, como se vê. Por termos nascido no Canadá, na Índia, na Holanda, nas Filipinas, a nossa vida começou de um modo diferente e as expectativas diferentes são. (Bem, estou a pensar naquilo que se poderá chamar classe média, que quanto aos muito ricos talvez essa diferença não seja assim tão notável) Mas é um facto que uma criança aceita como 'normal' o meio onde foi criada e ficará triste se perder alguma coisa e contente se ganhar. 
Claro que um adulto também. E os últimos tempos têm sido o espelho disso. Como se cada um estivesse num degrau de uma escada, se tiver de descer ou subir isso é sentido por si como uma perda ou um ganho mesmo que no degrau para onde passa esteja a viver imensa gente. É a promoção ou despromoção social afinal, que chega a alterar prioridades cortar-se em despesas, para alguns essenciais, para manter aparências importantes socialmente.
Pensei  nisto quando vi uma reportagem apoiada nuns paternalísticos conselhos do Barreto-do-Pingo-Doce,  a explicar alegremente que os portugueses protestam menos que os gregos "porque estão ocupados a procurar soluções para a sua vida". (#&a;%#ª§£@!!!!!) 
Fiquei agoniada, deu-me vómitos aquilo! Os conselhos que aquela criatura nos vem dar são como se desta vez a Maria Antonieta, dissesse que não fossem gulosos e comessem pão em vez de bolo, quando o que está em causa é simplesmente não haver pão.
 Estive a ouvir pacientemente 'os conselhos' e não existe um único de uma coisa que eu não faça e há vários anos! Carne, é peru ou frango. Peixe, só congelado. Água, bebo a da companhia. Nada de pré-cozinhados. Só uso produtos brancos e depois de comparar bem. Fruta, é de época e a que estiver mais barata. Ando de transporte público. Ginástica é andar a pé e subir as escadas da minha casa. Etc, etc. Mas voltando aos degraus, sei perfeitamente que estou a viver pior do que vivia dantes mas muito melhor do que muita gente. Mesmo muito melhor.
Não, isso não me conforma nada e sinto muita revolta, por mim e por eles. E quando oiço estes Antónios Barretos desejaria que vivessem aí um mês - nem era preciso mais - com uma família de um bairro social ("Sangue do meu Sangue", por exemplo).
E ainda há muitos degraus para baixo…

Pé-de-Cereja

terça-feira, 13 de março de 2012

Borrifos...

Hoje em dia está tudo quase tudo mecanizado.
Já se sabe, por exemplo, que usamos comandos para tudo e mais um par de botas. A mim dá-me alguma vontade de rir ver por vezes usar um comando para ligar um aparelho que basta estendermos um braço para lhe tocar! Mas, enfim, é a civilização e a lei do menor esforço. Do mínimo esforço. O estranho é que as pessoas habituam-se e depois até se esquecem que há outros modos de fazer as coisa. 

Mas desta vez a «dependência» da máquina a que assisti é engraçada. Passo a contar mas faço antes um flashback:


Quando eu era pequenina via passar-a-ferro com um ferro onde se colocavam brasas no interior. Um pouco mais crescida e já essa operação era com um ferro eléctrico, coisa limpa e prática. A transição de um para o outro foi boa mas era preciso alguma cautela e recordo ainda uma história espantosa: Quando fui para Moçambique, os meus pais, como todos os colonos, tinham um criado para tratar da casa - acho até que eram dois, um mainato e um mofana. E ele passava a ferro com um desses ferros de carvão, é claro. Os meus pais eram boas pessoas e decidiram comprar um ferro eléctrico para aliviar o trabalho do rapaz. Simplesmente ele estava habituado a arrefecer o excesso de calor do ferro mergulhando a base num balde de água… Moral da história, o desgraçado não morreu por uma sorte espantosa mas provocou o maior curto-circuito de que há memória! 
Ora, ainda dentro do capítulo «ferro de engomar», esse objecto foi-se aperfeiçoando cada vez mais e hoje temos dezenas de variedades de ferros e uma função que quase todos têm é um borrifador para humedecer a roupa quando está muito seca. Há um botãozinho onde se carrega e sai um jacto de água. Prático. Mas onde a minha história se torna cómica é porque ouvi uma amiga lamentar-se que a senhora que lhe vai passar a roupa não o tinha feito porque o ferro «estava avariado». 
«Que chatice» solidarizei-me eu «que é que ele tem?» 
«É que não sai água do esguicho da frente. Aquilo deve estar entupido, não sei…»
 Larguei-me a rir. Tal empregada, tal patroa. 
«E ela deixou a roupa por passar por causa disso?!» 
«Então?...O  que havia de fazer?» 
Bem, tentei explicar que salpicar de água limpa uma peça de roupa não é tarefa que exija uma competência especial. Mas, acreditem ou não, tal não tinha ocorrido a nenhuma delas. Era uma coisa que a máquina fazia e está tudo dito. 
À mão?!
Como...???
 Mas que raio de ideia . À mão?!.

Pé-de-Cereja

quarta-feira, 7 de março de 2012

Considerações sobre... memórias e fotografias

Como tudo, ou quase tudo, que tenha a ver com técnicas e máquinas, a fotografia tem avançado a passo acelerado desde que foi inventada. Eu penso que é o mais precioso auxiliar da memória familiar
Venho de uma família onde, para a época, se cultivou mais do que era  normal essa 'recolha de memória'. Digo isto porque sempre vi tirar-se muitas fotografias na minha casa, tenho muitíssimas do início do século passado que não faço já a menor ideia de quem sejam, e sei perfeitamente que comparando com pessoas que não sejam particularmente votadas a essa arte, encontro muito mais fotos na minha família do que aquilo que vejo os meus amigos terem. 
Quando tive de esvaziar a casa dos meus pais após a morte da minha mãe, encontrei caixotes cheios de fotos. Estou a falar a sério, não era uma gaveta, nem um gavetão, eram mesmo caixotes cheios. Devo explicar que o um dos hobbies do meu pai era a fotografia e tinha até uma pequenina câmara escura onde fazia as revelações. Isso talvez explique que as fotos que encontrei lá em casa fossem aos quilos! Na altura, nervosa e cansada, dei-lhe uma rápida vista de olhos, e destruí logo muitas que se via estarem repetidas. Mas 'o resto' enfiei em grandes caixas que vieram atafulhar a minha despensa.
 Há uns meses atrás tinha scanarizado umas fotos mais antigas significativas e criado um álbum no 'facebook'. Achei graça àquilo. Não era coisa que ficasse para a eternidade, mas sempre partilhava com mais gente e, aliás, encontrei assim alguns conhecidos. Mas como não domino nada a técnica destas coisas,  algumas das fotos ficaram minúsculas, quase não dava para se ver. Ná!
Mas, anteontem,  deu-me um vaip!
A semana passada em conversa com uma amiga percebi que tinha feito a coisa do modo mais difícil, e podia scanarizar mais depressa e melhor. Entusiasmei-me. Passei então umas horas a passar para o virtual aquelas fotos a preto e branco já meio amarelecidas. E foi quando entendi a diferença abissal entre a técnica de hoje e a de há meio século atrás. 
Nós hoje tiramos muitas, muitas, muitas fotos. A 'memória´de uma máquina fotográfica permite tirar centenas e centenas de fotos, para além de que quando a foto sai mal se poder apagar de imediato. Ou seja, andamos inundados de fotos de tudo e mais alguma coisa. Mas elas não ocupam espaço, ou pelo menos não ocupam muito espaço real. Até há umas molduras digitais, coisa fina, que vão passando foto após foto enquanto estão ligadas e portanto num só sítio estão as fotos de uma família inteira...
Por outro lado quando me deu para vasculhar nos tais caixotes e escolher as fotos que seriam mais importantes, reconheci que havia ali também muitas «folhas secas» que se podiam deitar fora. Claro que nos anos 50 não se tiravam tantas fotos. Um rolo dava para uma ou duas dúzias e portanto cada foto era muito pensada. Mas... de cada uma tiravam-se  imensas cópias! Para a mãe, para o tio, para os avós, para os padrinhos, para aqueles amigos que estão mais longe, e até para ficar de reserva para o caso de se perder o negativo! E como a fotografia era considerado um bem de valor, muitas vezes quando um familiar morria e se encontrava entre os seus bens algumas fotos, tinha-se o cuidado de as devolver à procedência. 
No meu caso particular, o meu pai revelava cada foto fazendo experiências: papel diferente, mais contraste, menos contraste, ampliava muito ou muito pouco... um nunca acabar. 
Afinal vou ficar com muito mais espaço livre do que imaginava. Mas esta selecção foi-me deixando um nó na garganta e olhos molhados, porque foi uma impressionante viagem no tempo a vários momentos da minha vida que estavam meio esquecidos. 

É uma terrível máquina, a fotográfica!

 Pé-de-Cereja

quinta-feira, 1 de março de 2012

Para que é que se é director-geral do FMI?

Um fait divers bastante engraçado:
O Sr. Strauss-Kahn e a mulher tinham uma casinha em Washington. 
Normal. 
Coisita simples, tinha «dois pisos, com cinco quartos de cama, seis casas de banho - uma delas com jacuzi - salões, jardim, garagem e piscina» Quem é que não tem uma assim?! Aliás o casal tem outra em Nova York (já que estamos a falar dos States) que deve ser também agradável.
Acontece que, com a escandaleira do seu envolvimento com a empregada de hotel, os Strauss-Kahn ficaram com menos vontade de ir à América e possivelmente a de Nova York já lhes chegava, pelo que decidiram vender essa tal em Washington.
Bem, a notícia refere que estão a ter dificuldade na venda, a crise, etc e tal (imagino eu....) ele até já está a dever dinheiro de impostos, e o pobrezito anda arreliado.
Até aí tudo bem e eu não ia pegar nessa história.
Mas o que achei graça, é que a notícia diz que não tem comprador «apesar de terem descido o preço de 5,2 milhões de dólares para 4,7 milhões de dólares» e dito assim parece que os coitados ficam a perder dinheiro. Como bem sabe quem tem de entregar a casa ao Banco por não conseguir pagar os empréstimos, nestas coisas podemos perder e muito.
Contudo, ao ler bem a notícia, este sujeito «comprou a propriedade por quatro milhões de dólares em 2007»! Ou seja ele queria lucrar com esta venda mais de um milhão de dólares em pouco mais de 4 anos. E, mesmo assim, mesmo tendo baixado o preço ainda quer por ela bem mais do que lhe custou.
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Bem se diz que o dinheiro para alguns é fêmea, reproduz-se que se farta.
Tem é de se lhe apanhar o jeito!



Pé-de-Cereja