sábado, 31 de maio de 2014

Ódios Embirrações de estimação

 Se se pode pensar que o amor e ódio são duas faces (opostas?) do mesmo tipo de sentimento, se calhar, em versão soft, o gosto e a embirração também... Talvez sejam as coisas que podíamos apreciar [se...] as que mais nos incomodam quando as temos de criticar. Eu, volta não volta, venho aqui espingardar contra os transportes públicos que, por necessidade e gosto, mais utilizo.
Ando muito de metro.
O metro tem vantagens que conseguem superar o toquezinho de claustrofobia de que padeço e à partida me podia fazer fugir da ideia de me enfiar debaixo do chão: a) é rápido porque não está sujeito às regras dos outros transportes, não há semáforos, acidentes de terceiros, engarrafamentos b) o local de espera é protegido, não se apanha chuva, vento, sol  c) tem tempos de espera curtos.
Ainda "sou do tempo" em que não tínhamos metro em Lisboa. OK, andava de autocarro e eléctrico e muito a pé! E recordo uma ida a  Paris e achar que aquilo era muito prático, pensar 'que bom seria termos o mesmo em Lisboa'. Passaram muitos anos, já viajei por muitos incluindo S. Petersburgo ou Hong Kong e gosto do pequenino metro da minha cidade - as estações são bonitas, é limpo de um modo geral, está bem sinalizado, os transbordos são fáceis. Isto tudo do lado dos prós.
E os contras?
Podem caber numa só chaveta - falta de respeito pelos utentes.
Creio que foi ainda ontem que encontrei 3 artigos relacionados onde se refere que no nosso metro não há segurança  (consideram que mesmo nas suas instalações a responsabilidade é da PSP e mais nada) as locomotivas não têm bons travões só conseguem travar já dentro das estações, e os maquinistas não são sujeitos a avaliação psicológica como o são noutros locais idênticos. E isto com um preço de bilhete elevadíssimo para quem compra um bilhete avulso!
O transporte dá prejuízo? Parece que sim. Então qual é a diferença dos outros metros do resto do mundo? Os passageiros que pagam o bilhete, entram e saem, são iguais aos dos outros metros, o preço também, o que é diferente? Ah, os gestores!!! Aí há diferença...
Muito gostava eu de condenar os senhores que decidem estas coisas a um ano de trabalhos forçados de obrigatoriedade de viajar só de metro. Iam experimentar como é precisar de uma informação mas não haver nenhum funcionário na estação, querer comprar um bilhete e só uma máquina estar a funcionar com uma fila de 20 pessoas à espera, descer ao cais esperar um quarto de hora e quando o comboio chega ir estacionar na outra extremidade obrigando a uma corrida enérgica e por vezes sem conseguir chegar à porta da carruagem, esperar 20 minutos num cais a transbordar de gente e quando o comboio chega nem conseguir entrar tão apinhado vem! E que cautela se pode ter com os carteirista quando se viaja espremido entre 50 pessoas mal podendo respirar?
E os atrasos constantes - há linhas onde todos os dias, mas mesmo todos, há paragens e avarias! - sem uma explicação? E porque é que ao fim de semana diminuem as carruagens na linha que dá acesso às carreiras de camionetes e ao aeroporto? E, sendo praticamente o único transporte público da capital à noite, porque são os horários tão espaçados?
Como comecei por dizer, é talvez por apreciar este tipo de transporte que tudo isto me irrita. E sobretudo por considerar que este desdém com que os utentes são tratados é uma falta de respeito que não se devia permitir.


Cereja

domingo, 25 de maio de 2014

Os cinco minutos de fama

Terão as suas razões.
Possivelmente estou a ver mal a coisa.
Mas faz-me bastante impressão ver, sempre que há eleições, os boicotes às mesas de voto espalhados por esse Portugal fóra, chamando a atenção para o que se passa em aldeias de que muita gente desconhece a existência. 
Um acto eleitoral é muito, muito importante.
É o momento onde o cidadão pode dizer alguma coisa pelo seu acto e influenciar a sua vida e dos seus concidadãos. Para além disso é muito caro! Para haver eleições tivemos que gastar muito dinheiro e não apenas no papel dos boletins de voto.
É mau - e já se disse de diversas maneiras e em diversos tons - prescindir-se do direito a votar ou seja abster-se de o fazer. Ou votar nulo ou branco que vai dar ao mesmo no final...
Mas impedir que os outros votem, seja por que razão for, é um crime. É retirar a liberdade de decidir a outrem. Não aceito.
Contudo, sempre, mas sempre (!)  que há eleições, vemos que em diversas localidades grupos de cidadãos descontentes, por motivos até possivelmente justos para o seu descontentamento, decidem fechar as assembleias de voto a cadeado. Imagino que seja o seu desejo de serem falados, de aparecer nos telejornais, da sua aldeia ser conhecida. Só pode!
Desta vez soube de um caso de bradar aos céus, que até conheço relativamente bem: numa localidade há um muro que ameaça ruir e obstruir uma estrada. Coisa chata. Essa estrada, que liga a uma povoação mais importante, está portanto bloqueada há meses, desde Janeiro, creio eu. A semana passada foi anunciada a reparação do muro para breve, finalmente. Aleluia? Não. Os habitantes dessa aldeia decidiram fechar hoje a assembleia de voto da terra a cadeado!
São falados na comunicação social, sem dúvida. Mas desculpem, pelos maus motivos, meus amigos.
Assim não!

Cereja

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Pontos de vista

É muito interessante pensar no que influencia uma opinião.
Tem corrido pelas redes sociais, onde tudo se multiplica num instante, esta imagem interessante provocadora. A primeira reacção de muitas pessoas é de surpresa e pensar que há alguma rasteira...
 


Mesmo para o mais desatento, ela chama a atenção. Círculos??? Ali só se vêem riscos direitos, mais grossos ou mais finos, mas são linhas rectas e paralelas, como é que falam em círculos? OK, pronto, de imediato nos ocorre que seja uma questão de gestalt,  começamos a focar o olhar para outro modo de ver, e .... bingo! Até se encontram os tais círculos. Aliás vendo-se um vêm-se todos...

Isto lembrou-me outras técnicas que existem para mostrar que nem sempre as coisas são necessariamente como parecem à primeira  vista. Há muitos anos num trabalho de formação eu usava uma espécie de metáfora ( ainda me levantei daqui para procurar os acetatos que tenho  guardados quando desatei a rir «-Oh palerma, agora isto encontra-se tudo pelo google!» e é claro que assim é!)
O que eu pretendia mostrar 'graficamente', naquela época, é que se nos afastarmos de um problema por vezes conseguimos encontrar a solução. A pergunta/provocação era como conseguir unir 9 pontos de um quadrado com apenas 4 linhas rectas sem levantar o lápis do papel. Não podia ser. Começando num ponto e indo directamente para outro e depois para outro, sucessivamente, não se conseguia!



Ou seja, se procurasse uma resposta nos limites deste quadrado não se encontrava. Não se podia unir os pontos apenas com 4 rectas. Mas... era possível com esta solução! Um observador que se colocasse mais longe conseguia a perspectiva certa. 
....................
Bem, esta conversa não tem nada a ver com as eleições de Domingo.
Ou terá?

Cereja

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Não se trata de «impressões subjectivas», são números!

Desemprego.
Um monstro que apavora toda a gente quase toda a gente. Que naturalmente vai afectar até mesmo a qualidade do trabalho efectuado porque psicologicamente, salvo raríssimos casos, trabalhar com a espada sobre a cabeça do facto de saber que o seu trabalho pode evaporar-se de um minuto para o outro não pode ajudar a um bom desempenho.
Quando comparamos a nossa qualidade de vida com a de um passado próximo, as medidas são variáveis conforme a perspectiva política e sobretudo a experiência pessoal de quem está a falar, mas a questão do desemprego ou falta de emprego não é ignorada por ninguém. Até as famílias que (ainda) não estão sob essa ameaça conhecem quem o esteja...
E este é um campo onde todas as comparações são más! Quer nos comparemos com os países estrangeiros, quer nos comparemos connosco próprios.
Veja-se:
São dados da Eurostat. Não são inventados pelo partido a ou partido b de acordo com os seus desejos de propaganda.
Factos: Em 2002 estávamos atrás da Suécia, Dinamarca, Holanda, Chipre e Reino Unido, actualmente só estamos à frente da Grécia e Espanha.
Passámos a trabalhar mal?
Nestes cerca de 10 anos deixámos de querer trabalhar? 
Ficámos todos preguiçosos?
Como é isto possível e sobretudo como é que aconteceu, não só para apurar responsabilidades, o que é importante, mas sobretudo para entender como se pode inverter esta marcha para o abismo.
Porque olhando para estes números não se pode aceitar o argumento de que "está mau para todos". É certo que está pior para todos mas exactamente olhando para as posições relativas é que salta aos olhos que não se piorou uniformente para todos - nós caímos da 6ª posição para a antepenúltima.
Foi mau para todos, mas foi bem pior para alguns.
E isto não é um lamento, é uma revolta. A conclusão é que em Portugal trabalha-se bem e muito mas temos sido muito mal geridos. Estes «maus gestores» é que mereciam ir para o desemprego!







Cereja

domingo, 18 de maio de 2014

Debaixo da asa




Como todos os dias chovem "estudos" sobre tudo e mais alguma coisa, alguns que fazem rir à gargalhada, outros que irritam por ir contra o mais simples bom senso, e muitos completamente neutros que não aquecem nem arrefecem, muitos de nós - e falo já por mim - habituamo-nos a ler em diagonal o que lá vem. Mas de vez em quando aparece um que nos agrada não só (não só mas também) por vir de encontro àquilo que pensamos mas ainda por estar fundamentado. Encontrei hoje um  importante estudo efectuado a um milhar de alunos de 16 escolas de todo o país onde se confirma os baixos níveis de independência de mobilidade que têm as nossas crianças. Quem já tem várias décadas sabe bem como era a sua autonomia  quando era criança. Claro que havia regras e bem firmes, a criança tinha muito menos «poder» do que hoje em dia, mas circulava livremente e sabia como fazer. Ia para a escola sozinha, fazia recados, ia até à casa dos amigos brincar e voltava, quando já eram horas, para casa pelo seu pé. Aliás era chamada à responsabilidade se o não fizesse.
O mundo está muito diferente.
Está. 
Há hoje perigos que não existiam dantes.
É certo.
Mas a ponto de justificar «os baixos níveis de independência de mobilidade entre as criança» que o estudo observou «devido ao excesso de zelo dos seus pais»? Mesmo ao fim-de-semana «a principal actividade realizada entre pais e filhos é a ida às compras (!!!?) seguida da ida à casa de um familiar ou adulto».
O que este estudo refere, e sublinha aquilo que oiço constantemente, é alguma desproporção entre a realidade do dia a dia e a imagem hipervalorizada que nos dá a comunicação social de alguns, sem dúvida graves, acontecimentos. É horrível saber-se de uma criança que foi atropelada, que sofreu um acidente, ou desapareceu. Um horror, um pesadelo. Mas é uma percentagem diminuta, são situações extremas. Aliás nalguns casos até se verifica que foi o menino que se soltou da mão do adulto e correu para a rua...
O antigo conselho de que é muito melhor ensinar a pescar do que oferecer um peixe encaixa muito bem nestas situações.
Ouvi no outro dia uma história interessante. Uma menina estava à espera da mãe em determinado local. Aproximou-se alguém, que até podia ser conhecido, que lhe disse "Olha, a tua mãe não pode vir  mas pediu-me para te vir buscar" ao que a criança calmamente perguntou "Qual é a password?". Simples e moderno. Uma palavra secreta que, se vier da parte dos pais, essa pessoa deve conhecer. Ou 'programarem' bem as crianças para andar na rua, quase em reflexo condicionado à Pavlov: se pode andar pelo passeio, se atravessa na passadeira, de preferência com mais pessoas. Se esse comportamento estiver automatizado, não largará a mão do adulto para saltar para a rua, ao contrário se sentir a mão como 'uma prisão´ até o pode fazer! Ensinar a auto-defesa (a pescar) é bem mais importante do que protegê-la (dar-lhe o peixe e sem espinhas...)
E o estudo também refere o pouco que as crianças andam a pé. Mesmo que a escola esteja a 10 ou 15 minutos de casa, vai de carro. Mesmo adolescentes, já vi apanharem um autocarro para a mesma distância que eu em criança percorria todos os dias a pé! É um hábito, claro, mas estimulado por essa protecção excessiva na infância. Ainda no outro dia ouvi uma avó a gritar a um rapaz dos seus 8 anos numa rua sem trânsito "Não corras! Podes cair!" ... e se caísse?!
Não, não quero voltar atrás ou pretender que no-meu-tempo-é-que-era, mas era sensato repensar algumas das atitudes educativas dos pais de hoje. E parece que alguma coisa começa a mudar... Porque a independência de mobilidade não se deve perder.

Cereja



quarta-feira, 14 de maio de 2014

Pôr ou meter?

Este post ainda antes de o escrever já o classifiquei com a etiqueta de "Resmunguices e embirrações" Porque aceito humildemente (humildemente, o caraças!) que seja uma-questão-de-idade. Mas há palavras que levaram uma reviravolta durante a minha existência, e isso faz-me muita impressão, mesmo que seja caso insignificante.
É que não sei que maldição atingiu o pobre do verbo «pôr».
O dicionário quanto a este verbo dá-nos uma lista de dezenas de casos onde o termo se aplica e bem. Incluindo como correcto também
o significado de meter quando acompanhado por 'no' ou 'dentro' [pôr no, ou pôr dentro]
Depois temos a palavra meter também com diversos significados mas nunca se substituindo a pôr. O verbo meter tem em si a noção de introduzir - fechar, esconder, incluir, entrar, etc.
Ou seja, em bom português, o verbo pôr que é muito abrangente pode também querer dizer meter, mas a inversa não é verdadeira.
Tenho uma amiga, pessoa até muito educada, mas que tem uma frase um tanto grosseira referente a esta caso (vou dizer baixinho, que este é também um blog educado) «Só se mete onde há buraco!» e assim arruma com a questão.
Quando nasceu esta moda, já há uns anos, ainda fiz figuras parvas. «Olha, mete aí na mesa!» e eu à procura da gaveta da mesa... Ná, era para colocar em cima da dita. «O vestido é giro mas eu metia-lhe outros botões», e eu a apalpar os bolsos. «Já meti no fogão» e eu a pensar que era um assado no forno, mas afinal tinha posto o tacho ao lume. «Ok. Já meteu o carro» - ah, eu não sabia que tinhas garagem... Nã, nã, tinha-o 'metido' em cima do passeio.
E por aí fora. Mete-se uma música quando se liga o rádio, mete-se um casaco quando está frio, mete-te aí ao lado da tua irmã, mete o acento nessa palavra, meti a mala na cadeira...
Depois habituei-me e já descodifico. É geral. Deve ter sido uma evolução da língua falada, que já está consolidada, vejo pessoas de todas as idades a dizê-lo... 
Tenho de deixar de embirrar, até porque já percebi que não fica bem dizer «pôr». A galinha é que põe um ovo, já ouvi dizer entre risinhos. As pessoas não são galinhas, não põem, metem!

Ah sim????!!!
*keiaurncfsdr....Oawxdhgfadhdvhzd* 
Rabugice.
Tem de me passar. Talvez logo veja um belo meter-do-sol, que o dia está lindo!
*suspiro fundo*

  Sim senhor! Meteu a colher na boca! Certo. ;)

Cereja

terça-feira, 13 de maio de 2014

Só mesmo no twitter eu poderia um dia queixar-me de que me sinto desconfortável quando sou seguido por um ovo.

É um fenómeno impossível de ignorar - as redes sociais.
Há contra-corrente? Pois há. Tenho um ou dois amigos que me falam destas coisas com verdadeiro horror. "Eu???? Nem morta me apanhavam numa dessas coisas" repulsa tão forte que me deixa sempre de boca aberta. Livra! Que medo....
Mas também é certo que "essas coisas" se multiplicam velozmente. Redes sociais? Facebook e twitter como reis, mas também a Google+ e LinkedIn, muito conhecidas e partilhadas. Falo destas em primeiro lugar porque são as que também partilho (?), as duas primeiras e sobretudo mais a primeira.
Mas, claro, há muitas, muitas outras. Flickr, Hi5, MySpace, Netlog, Instagram, e por aí fora...Por vezes descubro que faço parte de uma dessas redes nem sei bem como! Alguém me deve ter enviado um convite, em tempos, e distraidamente devo ter aceite, como o shtyle.fm, e outros que me lembram coisas de vez em quando e nem sei como lá entrei nem sei bem como é que posso sair... Também não me tira o sono, simplesmente não colaboro, pronto.

Mas algumas coisas têm graça.
Claro que é sabido que duas das redes mais conhecidas, o facebook e o twitter, tem uns nomes criticáveis (?) para quem está associado entre si e para assinalar quando qualquer coisa é lida. O facebook chama amigos a quem conhecemos ou passamos a conhecer por ela, e o twitter à falta de melhor chama-lhe seguidores. No fb quando se assinala que se leu algo lá publicado, esse click chama-se "like" ou "gosto" em português, o twitter, mais brasileiro, chama-lhe "curtir". Muita gente refila com isso, excesso de afectos nas palavras amigos e gostar, mas são as regras também não faz mal desde que se conheçam e não se levem à letra...
Depois há a questão do bonequinho identificador. Nas duas redes há um espaço para se deixar uma identificação visual, que pode ser ou não preenchida, por uma foto ou um desenho. Para quem não quer dar-se a esse trabalho, esse quadradinho fica preenchido com uma sombra com tronco e cabeça, no face, e com um ovo no twitter. Ora, por vezes a associação das duas coisas, os nomes e os bonecos, dão vontade de rir.
Ontem li no twitter «Só mesmo no twitter eu poderia um dia queixar-me de que me sinto desconfortável quando sou seguido por um ovo»
E não é que é verdade?
Mesmo eu, que tenho poucas ligações, tenho alguns ovos a seguir-me! Nem em banda desenhada!!!!







Cereja

sábado, 10 de maio de 2014

A culpa é daquele menino!

Pela enésima vez, os senhores do governo repetem um truque. Acho-lhes uma graça! Acharia muita graça se não fosse tão sério!
Ora bem:
Vamos imaginar um estádio de futebol repleto de espectadores. Jogo muito importante, muita emoção. Um jogador avançado, pega na bola com as duas mãos e atira-a para a baliza onde entra. Gooooolo! Os jogadores aos pulos, abraçam-se porque ganharam. O árbitro desata a apitar, priiii! priii! não é nada golo, foi com as mãos! Ora, diz o jogador, então não entrou na baliza?! Ganhamos porque a bola está lá dentro, não seja antipático. Não ganharam nada, repete o árbitro. As regras do jogo não são essas. Quero lá saber! vocifera o treinador, mudem mas é as regras, assim não nos deixam ganhar, a culpa desta derrota é do árbitro!
OK.
O árbitro chama-se Tribunal Constitucional. As regras do jogo chamam-se Constituição da República, elaborada por uma Assembleia Constituinte, eleita por sufrágio universal. Quando o governo e os partidos que o sustentam marcam um golo com a mão não é válido, não por birra do árbitro, mas porque não respeitam as regras a que estavam obrigados.
O que faz alguma impressão é que a época já vai adiantada, foram vários os golos anulados por fora de jogo ou não cumprimento das regras, mas o treinador insiste na fórmula tentando que os seus adeptos se ponham todos contra o árbitro.
Para os que conhecem bem as regras do futebol, a coisa não pega. Mas quando a emoção partidária futebolística é grande e a bandeira agita-se tanto na bancada que nem se vê bem o que se passa no campo, então os adeptos quase lincham o árbitro.
A culpa é dele.
Foi ele! Foi aquele menino que é mau.
Buáááá!!!!




Cereja


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Distância

Acontece-me de vez em quando.
E, por mais velha que esteja tenho sempre uma reacção infantil de desapontamento. Farto-me de "ensinar" aos outros como devemos saber resistir à frustração, e quando me cai em cima faço beicinho e parece que fico com 5 anos outra vez.
Como toda a gente, ou quase toda a gente, tenho amigas de infância ou quase. Amigas verdadeiras, amigas do coração. Mas que muito, muitíssimo antes desta actual surto migratório por escolhas todas elas diferentes, imigraram, ou mesmo as que estão em Portugal vivem agora tão longe que uma visita é quase ir ao estrangeiro. 
Claro que quando nos encontramos o tempo parece voltar atrás. Os laços são muito fortes e apertados e na maioria das vezes até parece que se continua uma conversa apenas interrompida por instantes.
Mas, de vez em quando, a realidade agarra-me pelos ombros e dá-me um abanão. É claro e previsível, que a distância material e física faz com que pequenas coisas passem a ser mais importantes para uma do que para outra. Que as prioridades não sejam já as mesmas. Que os interesses não coincidam tão exactamente como no passado. Normal.
Mas o que fazer quando reconheço que afinal não posso visitar uma delas como tinha planeado porque ela vai estar ocupada em todas as minhas possíveis datas? Ou quando as dificuldades financeiras de outra são tão diferentes das minhas que já não sentimos o mesmo?  Ou quando há amigos que já não são amigos comuns? Ou...
Distância física que com o tempo se torna distância psicológica. É a vida? Odeio essa frase!!!
 
É certo que há ainda quem resista a essa dupla distância como acabo de confirmar com o telefonema que acabo de receber e isso dá-me ânimo para relativizar tudo.
Amigas para sempre!





Cereja

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O íman das nódoas

Bem, desta vez volto aqui com uma crónica pessoal - a referência à nódoas não tem nada a ver com nenhuma "saída limpa".
Quando eu nasci as 3 fadas do costume deram-me uns dons simpáticos, sou pontual sem dificuldade, sou arrumada, sou poupada, mas a horrível e feia fada má, como lhe compete, veio estragar a harmonia e fadou-me com um azar infernal: sou um íman de nódoas, desde criança até hoje. A sério. Acreditem.
Era bem pequena e lembro-me de ir brincar para casa de uma menina amiga. Quero eu dizer, não era assim muito, muito, muito amiga... Era a filha de uns amigos dos meus pais. E eu tinha em relação àquelas visitas um sentimento ambivalente: por um lado era engraçado ir lá a casa. A família tinha um nível económico superior ao nosso, o pai era médico de sucesso e ela filha única portanto tinha um quarto lindo com muito mais brinquedos do que o meu. Também faziam uns lanches muito diferentes da minha casa o que achava engraçado. E aquele ambiente (que, curiosamente, hoje me parece bem pretensioso) deixava-me fascinada com os cetins  e doirados. Isso por um lado, mas por outro lado, embirrava porque aquela parva parecia saída directamente de As Meninas Exemplares da Condessa de Ségur! Era im-pe-cá-vel, seguia a etiqueta de tudo, muito bem educada, e se vestia um bibe como todas as meninas daquela época quando estavam em casa, era um bibe branco com folhos de bordado inglês!!! Um bibe branco?! Pois era. Branco. E no final da tarde de brincadeiras estava tão limpo e pouco enxovalhado como estava no início... Oh que inveja! Aquilo não era natural.
Porque eu mal vestia fosse o que fosse um minuto depois estava bom para ir para o tanque da roupa... O molho, saltava do prato, a tinta do aparo da caneta, a sopa da colher, para virem enfeitar a saia, a manga, o peitilho, fosse o que fosse que eu vestia. Às vezes até parecia que era magia, que os salpicos sujos atravessavam a sala toda para chegarem onde eu estava.
E a maldição da fada má não é quebrada com o tempo.
Ainda hoje em dia se vou para a cozinha e ponho um avental, é certo e sabido que a sujidade vai aterrar no sítio da minha roupa que não está protegida pelo tal avental, se lavo os dentes a pasta salta da escova para a blusa! É sina, ou maldição já nem sei. Ainda há pouco depois de uma cena dessas relembrei a tal amiga de infância, aquela que se mantinha imaculada junto de mim mascarrada, dedos pegajosos, nódoas na roupa, fita do cabelo às 3 pancadas, e tive a certeza de que a minha capacidade de ser um íman de nódoas foi uma maldição de criança. Só pode ser!!!



Cereja

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Dia da Mãe e lápis azul

Ontem foi Dia da Mãe.
Dentro dos «dias-de» este é dos mais antigos e mais carinhosos. Claro que como em quase tudo há um aproveitamento comercial, e até parece que não se pode festejar um dia-de sem haver uma prenda comprada numa loja. Mas adiante.
Como é normal, nestas ocasiões relembramos cada um de nós a sua mãe. Aliás ultimamente tenho-me lembrado ainda mais da minha, porque dou comigo a fazer coisas ou a pensar do modo que ela fazia já velhinha e me faziam sorrir com alguma tolerância - grande parva eu! Mais actualizadas, claro, faço paciências no computador quando ela as fazia com umas cartas pequeninas, e eu olhava condescendente, ou vejo uma chachada romântica na tv quando ela lia histórias semelhantes em livro, etc...
Mas o que me fez escrever este post foi ter-me lembrado da vez em que num "Dia da Mãe" fui ler na rádio, uma minha redacção (como se dizia, não se falava ainda em 'textos'!). Teria aí uns 13 ou 14 anos e já não sei porque é que fui escolhida para aquilo, se calhar aquela redacção tinha caído no goto da professora de português... Foi engraçado e um tanto emocionante, a minha primeira vez de falar em público.
Era um texto pequeno, tenho-o aqui escrito à máquina, uma página A4. De grande e emotivo elogio ao papel da mãe, falando do seu apoio, presença constante, reforçando a óptica da adolescente que era dizendo que ela nunca falha quando as amigas falham, o maior dos elogios numa época onde os amigos são tudo!
Depois, como gostava de fazer, passei para o patamar da generalização. E entusiasmada dizia que os conselhos maternos são sempre bons, generosos, altruístas, que se seguíssemos esses conselhos seríamos pessoas excelentes. E, dedução seguinte, se as mães de todo o mundo têm esse ponto em comum, se todos os filhos seguissem os seus conselhos haveria paz, igualdade, bem-estar, justiça, em todo o mundo.
Ora, pouco antes de me sentar em frente do microfone, vi que a última parte tinha sido riscada e substituída por outra frase. Aos meus pais foi dito que... acharam que... parecia socialismo (sic) e portanto a frase foi trocado por "seria então compensada a obra sacrossanta, a devotada missão materna!" 
Nem mais! Honra me seja feita li a horrível frase sem me engasgar.
Era aquilo o lápis azul de que já tinha ouvido falar.



Cereja

domingo, 4 de maio de 2014

Mas então....?!

 Eu ainda pertenço à geração que olha um pouco de lado para a margarina. É uma coisa que é parecida com a manteiga e a pretende imitar, mas...
Claro que se comprava. Era mais barato e pronto! Mas, na minha cabeça, manteiga é manteiga e a margarina seria sempre uma prima bem afastada com muito menos qualidades. Contudo, desde há uns tempos (bastantes!) a margarina sofreu uma ascensão social notável, começou a valer por si mesma, deixou de se lhe chamar margarina e a ser conhecida pelo nome da sua marca e, sobretudo, sofreu uma impressionante subida de preços.
Tão grande essa subida que em muitos casos atingiu o preço da velha e saborosa manteiga. Aliás pelo menos num caso, onde aparece com curiosas propriedades medicinais, até dobra o preço!
Bem sei que o preço é um tanto flutuante, existem muitos e variados tal como existem muitas marcas, contudo frequentemente pego numa embalagem de uma margarina toda vistosa e ao lado um pacote de manteiga e o preço é o mesmo. E tenho ouvido a publicidade a gabar o produto, garantindo que "sabe a manteiga".
Beeeem... Parece aquela anedota, mas então se sabe a manteiga e custa tanto como a manteiga porque é que não comemos manteiga...?!
E, quando estive a fazer uma pesquisa ligeira antes de começar a escrever aqui, encontrei duas informações, uma numa perspectiva mais histórica mas muito bem feita no blog Garfadas, e noutro blog, desta vez espanhol, uma referência um tanto científica que vem ao encontro da minha opinião sobre as diferenças entre a manteiga e a margarina.  Ganha a manteiga!

Pois é.
Cá por mim, não em grande quantidade que os alimentos devem ser consumidos com moderação, todos eles, mas se preciso de uma gordura ainda prefiro a velhinha manteiga.



Cereja

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Dia do Trabalhador


Dia do Trabalhador.
Era de esperar que este governo não medalhasse nenhum trabalhador, (embora fosse bonito uma medalha a um anónimo, à imagem do soldado desconhecido escolher-se um qualquer 'trabalhador desconhecido' como exemplo) mas já se fica um tanto de cara à banda por ver que, na véspera do dia do trabalho decidiram medalhar uns senhores patrões. Entre o Trabalho e o Capital vê-se bem o que é verdadeiramente importante.
Mas adiante.
Ao assinalar este 1º de Maio o primeiro ministro declara que o modelo assente em salários baixos não interessa a Portugal Olha que bom. Então afinal já  começam a pensar ao contrário do que mandam os senhores do FMI e da troika, para se começar a exportar e melhorar a economia não é através do baixo custo de mão de obra que se pode competir. Boa! Mas, como a nossa experiência já é grande, sabemos que o mundo onde os senhores do poder vivem rodopia a uma grande velocidade. A verdade de hoje já não é a de amanhã, o melhor é aceitar como provável aquilo que essa tal experiência nos ensina. Ah! Afinal não é bem assim. O nosso smn continua a ser chocantemente baixo, os impostos esmagadores, e quem paga de facto esta crise é o trabalho. Mas alteraram alguma coisa: aumenta-se o IVA e a TSU com a simpática (?) justificação de que assim não se baixa ainda mais as reformas.
Estava eu a pensar nisto quando li esta espantosa frase "São boas notícias para pensionistas e funcionários públicos, más notícias para trabalhadores e consumidores"  Com isto, este senhor  informa-nos que nem funcionários públicos nem pensionistas são consumidores - já se sabe que vivem em cavernas, bebem água da chuva, comem ervas bravias, e andam nus ou vestem peles de animais - além de destilar o habitual veneno quando sugere também que um funcionário público não é um trabalhador. No  mesmo jornal podemos ler que os funcionários públicos têm tido salários cortados durante 8 anos, o que quem trabalha na função pública já tinha reparado! Imagino que alguns funcionários das finanças ao receberem as declarações de IRS fiquem a pensar que aquele impresso está mal preenchido. O filho de uma minha amiga, a trabalhar na função pública e a ganhar menos do que há 10 anos, porque o ordenado é o mesmo e os impostos maiores, mostrou-me a sua declaração: salário 650 €, renda de casa 500 €. Números que não se podem falsear....
E.... e... e....

Bem.
É já tempo de ir à rua desabafar. gritar.

VIVA O 1º DE MAIO!!!


Cereja