quinta-feira, 29 de março de 2018

Passarinhos


Gosto de passarinhos.
Não dá para serem animais de estimação para mim. Eu sei que há gaiolas, é claro, mas exactamente por gostar deles não lhes vou fazer a maldade de os manter presos. Então um pássaro!!! Manter preso, seja que animal for, é uma crueldade mas um ser que se pode movimentar em 3 dimensões é para mim de uma crueldade reforçada! Vou-os admirando em liberdade e pronto!
Porém, eu não faço parte de nenhum grupo de observador de pássaros, pelo que não conheço assim tantos...
Mas tenho reparado que a fauna que se pode observar na cidade em que nasci e onde vivo tem evoluído bastante desde que eu era criança. Ou estou enganada e esquecida, ou quando era pequenina via por aqui uns pardalitos, pombos (em quantidade razoável) e andorinhas na Primavera. Não me consigo lembrar de mais variedades...
Mas actualmente, para além dos malfadados pombos que se multiplicaram até se tornarem uma praga (mesmo eu a amiga dos pássaros não os posso nem ver!) começo a ver espécies que possivelmente sempre existiram mas não se dava assim tanto por elas aqui em Lisboa.
Por exemplo as gaivotas. Numa viagem recente ao Porto fiquei admiradíssima com a quantidade de gaivotas que lá observei. Não tinha ideia de que pudessem ser tantas, nunca tinha visto bandos tão grandes a não ser em praias... Achei mesmo graça um dia em que estava a observar num jardim um bando de pombos bastante grande e desviando o olhar vi um bando de gaivotas ainda maior!!! Nunca tal tinha visto numa cidade. Mas quase que de semana para semana vou vendo aumentar por cima da minha casa o número de gaivotas que voam por aqui. Oh espanto! Confesso que me sinto como se o meu terceiro andar fosse uma casa de praia, coisa chic...
E não só. Há um pássaro pequeno que oiço todas as manhãs e não faço a menor ideia como se chama. Como muitas vezes se empoleira no telhado em frente sei que é escuro, tem uma cauda levantada que se agita quando solta uma espécie de chamamento com duas notas. E actualmente há imensos melros, e estorninhos, e vários outros que não conheço nem sei descrever bem. Por acaso as andorinhas é que não vejo tanto, eu que cheguei a ter um ninho delas na minha varanda das traseiras!
Claro que todos estes passarinhos já existiam em Lisboa é claro, não estavam era tão espalhados. E é curioso é que os tais corvos que têm honra de figurar na bandeira da cidade, não se vêem! Em Paris vemos imensos e cá nem um para amostra - ou sou eu que ando distraída.
Mas, por outro lado, decerto que pelas alterações climáticas e produtos que se deitam nas culturas para eliminar os insectos o certo é que os pássaros estão a desaparecer dos campos da Europa, o que não é nada boa notícia. Até porque decerto os que desaparecem do campo não se refugiam na cidade. Vão-se extinguindo, um decréscimo de 55%  como diz a notícia, é gravíssimo. Um quarto das cotovias já desapareceu, teremos de voltar a pedir que não matem a cotovia...!
Nem as outras aves.
Esta é uma causa a que adiro com gosto. Como admiradora de passarinhos, esses seres magnificamente livres, que se deslocam sem limites e até sabem emigrar quando o clima lhes não convém, não podem ser assim dizimados pela ganância humana que lhes retira o alimento ancestral.
Vivam os pássaros!

Cereja

IRS e reflexões...

Estamos a chegar ao mês da declaração do IRS.
Foi aprovada recentemente uma lei (não sei se é lei) que vigiará os rendimentos de políticos e detentores de altos cargos públicos. Ninguém se poderá opor, imagino. Se quem não deve não teme, pensa-se que quem teme é porque deve, e a velha conversa de os-outros-também-fazem perde sentido porque os-outros também serão «vigiados». E o coro constante de críticas e desconfiança que atinge permanentemente a classe política perderá um pouco de força. Um pouco, penso eu, porque não vai desaparecer, é algo muito enraizado e infelizmente com bastante razão. Não consigo entender como gente inteligente e informada se deixa cair de um modo tão estúpido na ocultação de rendimentos... Nos últimos tempos tem vindo a lume tantos casos, que somos de facto levados a pensar que se trata de um iceberg e a parte oculta é gigantesca. De qualquer modo ainda bem que decidiram criar este organismo, sempre defenderá os, decerto que muitos, honestos!
Mas as tais declarações para o IRS estão cheias de buracos por todo o lado e a famosa fiscalização é um pouco coxa, parece. Para controlar todos (?) os ganhos insistem as Finanças que devemos pedir sempre recibo com número de contribuinte, e assim apanham logo na rede quem venda uma bica sem registar, ou a cabeleireira de bairro que me leva 7 € por arranjar o cabelo, e ainda temos de validar coisa a coisa o que dá um trabalho parvo! Mas... e quem foge descaradamente aos impostos? Como li ontem no twitter «Tem uma renda de casa de 1.000 €, 2 carros de luxo, e 4 filhos em colégios particulares. Declara o smn. É preciso uma denúncia anónima?»  o que calculo que seja uma situação imaginada, mas não é fantasia, acontece. Há empresários que retiram para o seu ordenado o valor do smn, e é sobre isso que pagam o IRS. As outras despesas são pagas com os cartões da empresa...
E além disso... 
Escreveu um twitt sobre o tema desta nova lei, o Pedro Marques Lopes que nos habituámos a ouvir no Eixo do Mal:  «Aguardo serenamente um organismo especial para fiscalizar os rendimentos dos juízes, das empresas, dos clubes, dos picheleiros, dos cronistas, etc...»  É exagero? Hmmm, talvez. Os picheleiros, se forem canalizadores e não os que fazem pichéis, também aqui entram se simbolizarem a economia paralela que todos conhecemos bem. Os juízes já começam a ficar debaixo dos holofotes, e os clubes...ui, ui, ui.
Enfim, no mês do IRS a que quem trabalha ou trabalhou por conta de outrem não escapa, até porque grande parte foi pago à cabeça, tudo isto faz pensar. Diz-se que 'ou há moralidade ou comem todos', frase intrigante porque a moralidade seriam comerem mesmo todos....
OK.
Mas ao menos esperemos que daqui para a frente sob a vigilância da tal Comissão de Transparência, pelo menos a classe política entre na linha. E já agora se olhe para as pequenas coisas, por exemplo, como é que os políticos e os juízes não têm dinheiro para pagar uma renda de casa, mas um professor por exemplo, tem de ter...? Estranho, não é?





Cereja

domingo, 25 de março de 2018

Estudantes e... estudantes

Ia começar a escrever quando me lembrei de que já disse num post, não há muito tempo, que quando se afirma «eu não sou *****, mas» seguido de uma definição é muito suspeito, e creio bem que o disse exactamente em relação a saudosista.  E lembrei-me a tempo, porque o ia repetir 😳 ia explicar que no passado houve coisas boas e más, assim como actualmente.
Comemorou-se hoje, 24 de Março, o Dia do Estudante. Foi no meu tempo. Vivi esses acontecimentos com paixão, com emoção, marcaram a minha geração. Foi uma onda de revolta que nasceu em Lisboa e alastrou às outras academias do país. Mudou alguma coisa e sobretudo mudou as nossas vidas, lutava-se por uma democracia, por liberdade. E nessa época, mesmo fóra dos milhares de revoltosos 'esquerdistas' que lutavam por esse Dia do Estudante com liberdade, só havia essa coisa das praxes e dos trajes e esse folclore todo, lá para Coimbra. Não se via disso em Lisboa e Porto, era uma coisa típica de Coimbra sem interesse.
Distraí-me durante uns anos e depois começo a ver por aí uns rapazes e raparigas mascarados de estudantes! Oooooh! Fiquei um tanto impressionada, no nosso tempo abominávamos tudo o que fosse farda e afinal agora queriam mesmo andar fardados?! E para além disso via também umas fantochadas com grandes grupos a gozarem com uns estudantes que faziam umas palhaçadas quaisquer. Era a «praxe»!!! Um contraste gritante com o que havia no meu tempo, onde quem entrava era recebido com a Semana de Recepção ao Caloiro, que até costumava terminar com um baile e tudo! Uma coisa civilizada nos antípodas desta praxe.
E o que me impressionou mais foi ter lido há dias que em Coimbra num acto anti-democrático tinha havido uma votação desautorizada, votação onde 70% dos estudantes decidiram uma coisa e o Concelho de Veteranos (uma dúzia de estudantes) não deixou... Tratou-se da tourada, ou garraiada, incluída na Queima das Fitas. é que parece que era tradição........ e na tradição não se toca!
Ficamos de boca aberta com estas coisas. Veteranos? Dux Veteranorum? O senhor que goza do privilégio de ser o estudante mais velho (!!!!!)  parece que é este senhor: o Dux Veteranorum. Ou seja, foi aluno de Engenharia Electrotécnica e de Computadores em 1988, e 12 anos depois quando já devia ter acabado o curso 3 vezes, tornou-se Dux eleito pelo conselho dos Veteranos em 2000, e pelos vistos continua a passear-se por lá sem acabar o curso, há uns 18 anos! Tem idade para ser pai dos actuais membros de associação Académica e continua a ser estudante?!?! E é premiado por isso. Uma honra ser o estudante mais vezes reprovado e que mais anos perdeu, passou a sua vida a ser estudante, é uma profissão!
Pois é, o contraste impressiona.

Os jovens da Crise Académica, já fizerem parte de vários governos, o presidente da RIA já foi nosso Presidente da República, quando não havia essa coisa das praxes humilhantes, nem nos fardávamos de estudantes. mas a ala conservadora mantém-se a pé firme.
Faz tudo parte do Mundo, é verdade.
Mas incomoda um pouco.

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quarta-feira, 21 de março de 2018

Incêndios

A nossa Comunicação Social, e não só a nossa sabemos bem, tem uma voracidade incrível e tem de ser constantemente alimentada com carne fresca, o escândalo de ontem já é requentado, tem de haver qualquer coisa todos os dias. Se não há nada de especial temos sempre o futebol para qualquer furo, isso nunca falha 😏
Hoje são as repercussões do relatório da Comissão Técnica Independente sobre os incêndios. Muito grande, um Relatório de quase 300 páginas que deixo aqui embora eu não tivesse lido, reconheço, leio apenas as ondas de choque...
Porque é interessante reparar de como são diferentes, conforme a ideologia de quem comenta. A ala direita, PSD e CDS atiram-se como gato a bofe à má previsão e falhas do Governo  como se quando eles foram governo se tivessem preocupado imenso com a floresta. Mas concordo que os erros de uns não desculpam os erros dos outros apenas lhes retiram autoridade para censurar como se estivessem inocentes. Mas.... atenção ao Cartel do Fogo. Já volto a este assunto.
Do lado dos críticos com outra ideologia sublinham-se outros aspectos como por exemplo a culpa da EDP e outras grandes empresas, Brisa, PT, etc. São empresas que, de olho no lucro, que o têm e de que maneira, descuram os cuidados a que são obrigadas mas que a serem observados podiam diminuir um pouco esses lucros. Coitaditas.
Mas o que não pode, não pode mesmo, tem de ser denunciado por todas as formas, é que mais de metade das causas dos incêndios foram intencionais ou negligentes. Isso mesmo. Provou-se que 40% tiveram causas intencionais, e 20% negligência. A velha questão dos romances policiais «a quem interessa o crime» é um fio que não pode ser solto. Como é possível que haja benefícios...!? Ah, pois é, houve quem tivesse ganho, e não apenas os madeireiros que são os suspeitos imediatos, ou os construtores civis, mas até as empresas que combatem incêndios, que têm material para isso, que têm aviões e helicópteros, por exemplo. Interesses económicos subterrâneos. O tal Cartel do Fogo.
E, sem querer ir muito por aí, a verdade é que este cheiro a fumo do Verão passado, também me fez lembrar o sinistro Verão Quente de 75 . Quem se lembra?

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Cereja

terça-feira, 20 de março de 2018

Não podemos ficar indiferentes

Era uma parte do Mundo lindíssima, rica, tranquila. Pouco habitada. Os seus povos indígenas não eram particularmente guerreiros, não quiseram conquistar nem sequer o seu próprio continente todo, deixaram-se ficar pelo Sul. Até que nuns grandes barcos chegaram do outro lado do oceano outros povos que traziam a civilização.
Assim é a História.
E sabe-se bem como continuou, o saque das riquezas, o povoamento à força, a imposição de outros costumes e sobretudo de uma religião e, em nome desta, quanta violência! A importação de escravos africanos numa tão grande quantidade que séculos depois a sua raça é a maioritária deste país. O Brasil. País grande, tão grande que por isso o português se tornou uma das línguas mais faladas do mundo, e pelo qual era normal que Portugal sentisse responsabilidade porque em muitas coisas foi incentivado e apoiado pelos governos portugueses. Pois foi.
Por isso nos arrepiamos quando se vê para onde caminha. A sensação de que quando dá um passo em frente dá logo outro atrás. Ditaduras sucessivas, violência, desigualdades. Eu em adolescente vivi o Brasil através de Jorge Amado e é quase sempre assim que o vejo. Até há pouco tempo parecia estar a dar uns tímidos passos em frente com o governo de Lula e depois de Dilma, mas as fortíssimas forças que se lhes opuseram deram o mais nojento dos golpes. Um pesadelo tornado realidade: os mais corruptos dos corruptos a acusarem os seus inimigos de ... corrupção!
Com o país governado por verdadeiros ladrões que até compravam juízes, o resultado não se fez esperar. Uma guerra aberta, um espelho, polícia e tropa de um lado e gangs e máfias do outro, iguaizinhos, enquanto o povo cada vez mais pobre tem tanto medo de uns como de outros. Lemos isto através das mais diversas fontes, nem sequer brasileiras. Mas de vez em quando o ataque é mal calculado e torna-se um boomerang.
Foi o que se passou com os últimos acontecimentos, a morte, o assassinato, a execução de Marielle Franco provocou uma onda de indignação e revolta enorme, gigantesca, não intimidou como erradamente tinham calculado. Tenho lido imensos artigos de opinião em jornais e redes sociais como a excelente reflexão de Mariana Mortágua, ou Daniel Oliveira Que a morte de Marielle vos atormente tanto como a sua vida , ou em brasileiro O Brasil da vida e morte de Marielle.
Tem matado muitos. Crimes políticos sem a menor dúvida. Marielle está acompanhada por muitas outras vítimas, mas desta vez foi a gota de água. Nas redes sociais há várias hashtags com o seu nome mas falam muito mais do que nela. É ler o que se diz em    #MariellePresente

A conhecida e belíssima frase « Quiseram te enterrar mas não sabiam que eras semente» tem muita força e parece mesmo verdadeira neste caso. 
Afinal até o Washington Post deu a notícia na primeira página...!



Cereja

segunda-feira, 19 de março de 2018

Sempre o 8 ou o 80


Tirando um curto período na adolescência e final dela, sempre fui uma pessoa «moderada». Claro que me apaixonava por causas e vivia com intensidade muitos acontecimentos e situações, mas não era mulher do tudo-ou-nada, sentia que entre o tudo e o nada havia um mundo enorme e era aí que me sentia bem... É curioso porque de uma forma geral as minhas maiores amigas são umas impulsivas vivendo com paixão o tal tudo-ou-nada.
Vou ter de me habituar. é claro. Começando pelo %&$*# do clima!!! Já fomos avisados de que No futuro vamos todos viver entre períodos de grandes cheias e secas extremas. Entendido. Entre fogos e inundações... Em pouco mais de um mês em visitas à zona de Vila Franca, ouvi queixas amargas de que o caudal estava tão baixo que nem se podia pescar e mostravam-me o espectáculo impressionante de peixes mortos a flutuar na água, e no mês seguinte a preocupação era de que se aproximavam cheias com o que isso implicava naquela zona!!!
Por aqui no Cerejas também não consigo atinar com o ritmo certo 😄
É excesso de chuva, perdão, de ofertas.
Há 10 anos, se queria «socializar» escrevia no blog. Ou Cerejas ou Pópulo ou o que estivesse a usar na altura. Não havia confusão. Hoje em dia sinto-me como uma barata tonta - expressão parva para mim que odeio baratas, porque admite que há baratas espertas - a oscilar entre as diversas redes sociais, e a não dizer nada em nenhuma!!!
A oferta é demasiada.
E também os temas de reflexão são em catadupa.
OK. É respirar fundo,  abrir o blog e recomeçar:

«O Brasil fascina-me e assusta-me. Parece-me quase um laboratório social onde encontramos tudo, mesmo o que se imaginava já não existir. A execução de Marielle pode vir a despoletar exactamente aquilo que os seus carrascos queriam evitar. Ou não. »....... etc. É só abrir uma entrada nova aqui e continuar a escrever.
Fácil.



Cereja

domingo, 11 de março de 2018

O que (infelizmente) se lê mais

Chamamos-lhe tablóide, encolhe-se os ombros e aceita-se com a sensação de que a corrente é demasiado forte para se lutar contra ela. E quase se ignora o que essa resignação afinal significa e que consequências tem.
Porque é um dos casos onde «ignorar» é pactuar, embora eu confesse que não faço nenhuma ideia de como se pode lutar contra esta situação. Contra o envenenamento diário que uma enorme percentagem dos portugueses vai sofrendo através de uma informação seleccionada.
Infelizmente todos podemos confirmar que o Correio da Manhã é o jornal diário mais vendido, nem é preciso eles gabarem-se, basta ficar uns minutos em frente de um quiosque de jornais para ver em cada dez vendidos haverá talvez 1 Público, 2 Diários de Notícias, e 1 Jornal de Notícias ou «I», e os 6 restantes são Correio da Manhã. Mas isto é o jornal impresso, falta o que se lê na net, e é nesse que se baseia este apanhado: (o jornal em papel não é 'partilhado' nem conhecemos 'os comentários' 😏)


É a isto que me quero referir. 
Claro que estas histórias são verdadeiras (espero que não as tenham inventado...) mas têm lá um realce especial e portanto são as mais lidas, enquanto as 80% de notícias também verdadeiras mas sem sangue nem escândalo, não merecem destaque, e nem são lidas.
Resultado de imagem para a voz do dono
E há outro tipo de jornalismo que também de revolta, quando por exemplo o Observador ou o «I», publica um artigo de opinião disfarçado de notícia, como se vê com frequência. Parecem factos, qualquer pessoa mais distraída aceita que aquilo é verdade, porque a história que contam é de tal modo trabalhada que se acredita, mas relida com atenção percebe-se que é apenas a opinião do jornalista.
Ou a «voz do dono» da empresa dona do jornal.


Cereja

quinta-feira, 8 de março de 2018

Mulher

Dia da Mulher.
«On ne nait pas femme, on le devient» dizia o meu ídolo de adolescência. De adolescência e não só, ainda hoje tenho uma admiração ilimitada por aquela pensadora, profundamente coerente. E esse pensamento/slogan vinha exactamente ao encontro do que eu sentia desde que me lembro de pensar. Era bem pequena e já me incomodava o estereotipo menina - menino embora nessa época a diferença fosse enorme, bem maior, muitíssimo maior, do que hoje. Desde a roupa que se vestia, aos comportamentos permitidos. E, - atenção! - eu vinha de uma família bem liberal e progressista, onde mãe e pai trabalhavam exactamente na mesma profissão, e nesse microcosmo familiar havia uma relativa igualdade. Mas toda a sociedade trabalhava para que não houvesse cá confusões, um homem era um homem, uma mulher era uma mulher.
E nessas antigas memórias de infância, as mulheres eram das maiores defensoras dessa «desigualdade». O que para mim reforça a conclusão da Simone de Beauvoir, era a sociedade que tornava os homens homens e as mulheres mulheres, era porque as próprias mulheres aceitaram e acreditavam na desigualdade que as coisas se têm perpetuado assim. A mulher «era feita» para as tarefas domésticas e caprichava que no seu reino mandava ela com poder absoluto. Recordo a minha avó a enxotar o meu pai da cozinha como se fosse uma galinha «xô, xô, vai-te daqui, só atrapalhas!!» quando ele pensava em ajudar. E não se deixava que um homem pegasse num bebé, muito menos que lhe desse banho ou biberon, porque não tinham jeito. Ou seja, os campos da vida social que seriam «de mulher» eram ferozmente defendidos não admitindo nenhuma competência masculina. Era o seu (nosso?) reino.
Depois havia o reino masculino, esse fóra de casa, público. E aí já poucas mulheres se aventuravam. Era onde a diferença era mais gritante, porque era onde se via o Poder. Tudo o que era autoridade era masculino e isso é muito significativo e importante. O que era autoridade?!
As coisas mudaram, evoluíram, mas não tanto assim.
E a responsabilidade de não ter mudado tanto como devia, é uma responsabilidade também de muitas mulheres, mães e educadoras que não levam muito a sério a igualdade de género. Porque voltando ao princípio do que escrevi, para uma criança essa questão não se põe inicialmente, é a sociedade que lhe ensina essa «hierarquia» 👫

O que faz que ainda hoje, século XXI, no ocidente, este inteligente anúncio, com crianças, faça pensar. 

Cereja

sexta-feira, 2 de março de 2018

Divulgar informação


Parece que vivemos na Era da Informação. Para alguns. Sabemos que há ainda muita e muita gente que não se mexe através da informática com muita, quero dizer até alguma, desenvoltura. Existe, e de que maneira, o analfabetismo da informação
Falando por mim, tenho a consciência de que não sou das mais analfabetas, sobretudo se me lembrar da minha idade porque os meus amigos até são piores do que eu 😏 e contudo passa-me ainda ao lado imensa coisa. Coisas boas, que facilitam a vida.
Conhecemos o «simplex» e reconhecemos que, possa embora melhorar ainda muito, a verdade é que faz jus ao nome, muita e muita coisa se tornou mais simples, até na terra da burocracia como é Portugal. E há mais coisas simplificadas em todas as áreas.
Estou a escrever estas notas porque acabei agorinha mesmo, de marcar em 5 minutos (!!!) uma consulta no meu Centro de Saúde, enquanto acabava um cafézinho e sem me levantar do sofá. Já recebi a confirmação no telemóvel com os dados todos de que poderia precisar.
É (apenas) a terceira vez que utilizo este sistema que ainda o ano passado desconhecia. Um amigo deu-me esta indicação uma vez em que me estava a lamentar por nunca conseguir ligar para o Centro de Saúde que tem a linha sempre ocupada, e nem sempre me dar jeito deslocar-me até lá.
- Mas porque é que não marcas no Portal do SNS?
- O quê? O que é isso? Nunca ouvi falar.
Pronto, mea culpa, não só nunca tinha ouvido falar, como também não olhava com atenção para as informações nos painéis de parede quando ia ao C. Saúde, porque estava lá tudo quando finalmente abri os olhos. não pode ser mais fácil,  é Aqui, e qualquer pessoa consegue. Com a vantagem de que não tem de ser nas horas de serviço, o Centro pode estar fechado mas a marcação faz-se na mesma...
Mas isto é apenas um exemplo de imensas coisas que são desconhecidas pelo público mal informado.
Divulgar correctamente a informação e, se possível, traduzir algumas coisas numa linguagem mais simples seria uma tarefa importantíssima para a maioria dos serviços que prestam serviço à população. Ouvi no outro dia na Antena 1, o Presidente da Câmara de Caminha a propósito do alarme que por aí anda quanto à obrigatoriedade da limpeza dos terrenos e da multa a quem o não fizer, que criou umas equipas para andar pelas freguesias a explicar bem às pessoas de que se tratava, e acalmar o pânico. Uma medida inteligente. Eu sei por mim que muitas coisas que oiço por aí dizer que-deviam-ser-assim, até são assim só que as pessoas não sabem que já se faz!

Cereja

quinta-feira, 1 de março de 2018

Notícia contada de um modo quase «fake»

中文寫作不使用字母
Se não me enganei, acabei de escrever : a escrita chinesa não tem letras.
Isto, porque li por aí ontem Ce*sura: Porque é que a Chi*a decidiu ba*ir a letra *  Bem, assim, a fazer-se de engraçado, foi um único jornal, e quem lesse tudo sem ser em diagonal percebia que tinham tinha proibido (?!) a letra N mas... na internet. O que é bem diferente de proibir uma letra!!!
Eu não sei chinês. Sou de uma total enorme ignorância nesse assunto, tal como imensa gente, apesar de agora desde que a China começou a invadir o Mundo 😏já veja por aí aulas de chinês e gente a esforçar-se por aprender. Mas, para um ocidental é bem difícil quer a fala quer a escrita.
Tenho alguma autoridade para ter esta opinião, porque tentei!
Vivi uns anos no Oriente e, como seria natural, tentei perceber o que diziam. Acreditem que é muito difícil e talvez ainda mais falar. Talvez consiga quem saiba cantar... porque eles usam 9 tons diferentes a falar - tentem vocês dizer um som, por exemplo o som da vogal O, de nove maneiras diferentes! E isto é a fala, a escrita é feita pelos chamados caracteres que são uma espécie de pequeníssimos desenhos. 
Repito que não aprendi nada, excepto um pouco os algarismos para saber os preços. (disse isto a brincar, mas dava jeito) mas pelo menos aprendi que cada caracter queria dizer pelo menos uma palavra quando não um conceito completo! Porque se ia sobrepondo. Por exemplo:


Vejam como é interessante, o sinal que significa fogo, se estiver tapado quer dizer cinzas, mas se for pequeno é chama, árvore repetida é floresta, e com um traço é livro. Quanto mais elaborado é o que se quer dizer mais complicado o caracter - disseram-me que psicólogo se escrevia o-que-olha-para-dentro-do-coração, imagem linda mas possivelmente disseram-me a brincar.
Todas estas memórias e recordações vieram por causa da referência a «letra» coisa que não existe em chinês. Ou existe no teclado de um computador, formatado para escrever nessa forma, o que foi o truque que usei para a frase inicial deste post!!!!
O caminho que se percorreu... 
Desde a caligrafia chinesa traçada com um fino pincel molhado em tinta..da China, e olhem que vi crianças de 3 e 4 anos a esforçar-se por aprenderem a escrever assim (!) até aos actuais portáteis, passaram poucas dezenas de anos. Quase não se acredita.

Cereja