sábado, 22 de outubro de 2011

De regresso ao... (futuro? passado?)



A actividade deste blog tem sido pouca ultimamente.
A verdade é que o «facebook» tem roubado muitas das coisas que durante anos ia comentado por aqui. As minhas opiniões sobre a situação política ou os acontecimentos que se vai vivendo por aqui ou lá fora, ficam registados lá - é muito fácil e rápido, e a interacção com as pessoas que lêem quase instantânea. Claro que não-é-a-mesma-coisa. Aqui no blog explico-me melhor, os textos são maiores, a apresentação diferente. Mas a verdade é que leva mais tempo a escrever e publicar e tenho-me deixado tentar pela facilidade.
Mas hoje venho avisar que vou estar mesmo ausente quer do FB quer do Cerejas durante cerca de uma semana.
VOU DE VIAGEM!
Um viagem muito desejada e planeada durante a qual vou tentar deixar para trás os problemas actuais.
Não preciso informar onde vou, mas deixo a dica que não vou lá há mais de 30 anos e é uma das cidades mais lindas do Mundo.
Enquanto faço a mala sinto já o coração a bater tão forte como da primeira vez de todas que lá fui. E, recordando os meses gloriosos em que lá vivi, estudei/trabalhei, sabendo bem que as coisas não podem estar «na mesma» sobretudo porque eu própria não estou «na mesma», hesito se vai ser um regresso-ao-passado, um regresso-ao-futuro, ou qualquer coisa de bem diferente.
Até para a semana!



Pé-de-Cereja

domingo, 16 de outubro de 2011

A lata deles!....

 Recebi este mail, que me apetece partilhar aqui:


Estes são alguns dos indivíduos que vão rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários...


Administrador não executivo da Sonaecom, da Mota-Engil e do BPI, António Lobo Xavier auferiu 83 mil euros no ano passado (não está contemplado o salário na operadora de telecomunicações, já que não consta do relatório da empresa). Tendo estado presente em 22 encontros dos conselhos de administração destas empresas, o advogado ganhou, por reunião, mais de 3700 euros.

O ex-vice presidente do PSD José Pedro Aguiar-Branco e agora ministro da defesa é outro dos "campeões"dos cargos nas cotadas nacionais. O advogado é presidente da mesa da Semapa (que não divulga o salário do advogado),da Portucel e da Impresa, entre vários outros cargos. Por duas AG em 2009, Aguiar-Branco recebeu 8 080 euros, ou seja, 4 040 por reunião.


Segue-se António Nogueira Leite, que é administrador não executivo na Brisa, EDP Renováveis e Reditus, entre outros cargos. O economista recebeu 193 mil euros, estando presente em 36 encontros destas companhias. O que corresponde a mais de 5 300 euros por reunião.


O segundo mais bem pago por reunião é João Vieira Castro. O advogado recebeu, em 2009, 45 mil euros por apenas quatro reuniões, já que é presidente da mesa da assembleia geral do BPI, da Jerónimo Martins, da Sonaecom e da Sonae Indústria



Proença de Carvalho é o responsável com mais cargos entre os administradores não executivos das companhias do PSI-20, e também o mais bem pago. O advogado é presidente do conselho de administração da Zon, é membro da comissão de remunerações do BES, vice-presidente da mesa da assembleia geral da CGD e presidente da mesa na Galp Energia. E estes são apenas os cargos em empresas cotadas, já que Proença de Carvalho desempenha funções semelhantes em mais de 30 empresas. Considerando apenas estas quatro empresas (já que só é possível saber a remuneração em empresas cotadas em bolsa), o advogado recebeu 252 mil euros. Tendo em conta que esteve presente em 16 reuniões, Proença de Carvalho recebeu, em média e em 2009, 15,8 mil euros por reunião.
.................
Embora não desempenhem cargos de gestão, os administradores são bem pagos. 
Por cada reunião do conselho de administração das cotadas do PSI--20, os administradores não executivos - ou seja, sem funções de gestão - receberam 7427 euros. Segundo contas feitas pelo DN, tendo em conta os responsáveis que ocupam mais cargos deste tipo, esta foi a média de salário obtido em 2009. Daniel Proença de Carvalho, António Nogueira Leite, José Pedro Aguiar-Branco, António Lobo Xavier e João Vieira Castro são os "campeões" deste tipo de funções nas cotadas, sendo que o salário varia conforme as empresas em que trabalham.


Podemos retirar daqui as conclusões que entendermos. Mas aceitar destes senhores comentadores de tv, que vão lá ganhar (mais) dinheiro para nos convencerem da necessidade de sacrifícios, a nós, quando eles mantêm as mordomias que se estão a ver, isso é demais.
Na manifestação de ontem, entre vários cartazes com muito humor, fixei um sério, muito sério. Dizia mais ou menos «Quando nos tiram tudo e já não temos nada a perder, então tudo é possível»
É nisso que os senhores das Agências e da troika deveriam pensar. Quando se aperta demais, é perigoso para eles, porque se não há nada a perder, então ...

Pé-de-Cereja

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Uma boa resposta

Helena Matos é jornalista.
Tem um curriculum importante. Actualmente dá a sua opinião no Público, para além do Basfémias. Ela é livre de escrever, assim como nós somos livres de não a ler. Aliás é o que tenho feito desde há algum bastante tempo.
Ontem ela deixou lá a sua opinião de um modo particularmente provocador. Não posso deixar o link porque é para quem paga e não irei pagar para isso... Hoje chegou-me por mão amiga uma resposta que me apetece deixar aqui na íntegra:

Em defesa da democracia indignada: uma réplica a Helena Matos

A dura crítica de Helena Matos ao movimento de ‘indignados’ no Público (13 Out 2011) será certamente tomada por muita gente como apenas mais uma peça de propaganda na luta aguda sobre as saídas da crise actual. É e não é.

Partilho algumas das suas preocupações quanto à ‘democracia genuína’ e a sua valorização da democracia representativa e constitucional. Ela diz basicamente que a democracia legítima deriva das urnas e não da rua. Contudo, o seu argumento parece-me demasiadamente formalista e unilateral.

Em primeiro lugar, há o problema da abstenção nos actos eleitorais. Pode-se afirmar que a abstenção é um exercício consciente expressando uma opção livre de participar ou não e, por isso, não põe um entrave à legitimação das maiorias constituídas nos actos eleitorais. Mas isso é um argumento meramente formal e inválido sociologicamente. Existem dinâmicas de exclusão que produzem uma parte da abstenção e que fazem com que uma parte substantiva dos abstencionistas na nossa sociedade não o seja inteiramente por expressão de livre vontade. Existem dinâmicas de disenfranchisement que operam mesmo sem o exercício de força.

Assim, em determinados momentos a participação na vida política do país ocupa outros palcos e arenas. Isto é sobretudo o caso de situações em que as clivagens de luta social são definidas não apenas por programas partidários elaborados para efeitos eleitorais mas por movimentos de protesto contra poderes instituídos.

Na conjuntura actual de crise do sistema económico e financeiro e da implementação de programas de austeridade, os próprios poderes instituídos – os poderes reais e não apenas formalmente constituídos – não possuem mais legitimidade democrática do que os movimentos de protesto. Não é preciso ser ‘marxista’ e ‘esquerdista’, como insinua Helena Matos, para avançar um argumento sério de que o poder real, que está a definir a crise da enorme maioria da nossa população, é o poder invisível do sistema financeiro capitalista globalizado e o poder visível dos homens que controlam as suas instituições e beneficiam da nossa miséria e insegurança.

Numa situação de crise como a actual, a democracia representativa e constitucional não tem respostas adequadas para largas camadas da população e até cristaliza alianças políticas de interesses que actuam com o intuito de resolver a crise em conformidade com as suas preferências. Estamos numa situação única, de crise do sistema socioeconómico que está a produzir um conflito profundo entre camadas da população.

Seria desejável que a crise pudesse ser resolvida pelo funcionamento normal das instituições da democracia representativa e constitucional. O problema é que os mandatos que emergem de um acto eleitoral podem não ter legitimidade efectiva e absoluta durante todo o prazo da sua vigência e podem nem sequer ser explícitos no seu conteúdo. Isso é de facto o caso de todos os últimos governos – que foram eleitos com base em programas eleitorais que foram contraditos praticamente no dia a seguir a sua tomada de posse. A nossa democracia representativa e constitucional simplesmente não é transparente. E na situação actual qual é o mandato que o nosso Governo está a traduzir nas suas políticas concretas: o mandato dos eleitores ou o entendimento com a troika constituída por entidades alheias e não eleitas? E, enquanto o Governo procura impor as reivindicações da CIP/AIP e os interesses privados esfomeados pelas migalhas do estado social – fazendo da concertação um palco para a exibição da sua prepotência anti laboral e anti-social, aonde poderemos encontrar a legitimidade democrática?

Helena Matos reflecte com bastante razão sobre os riscos envolvidos em situações em que existem reclamações antagónicas quanto à legitimidade do poder político em nome da democracia ‘genuína’. As suas observações com base na história do PREC são relevantes – mas não neste contexto politico. As clivagens sociais e lutas produzidas pela crise actual não são bem equivalentes às clivagens ideológicas e políticas do PREC.

É evidente que as manifestações internacionais e no nosso pais foram organizadas por gente ‘radical’ – entre a qual muitos eventualmente negariam a legitimidade da democracia representativa e constitucional em detrimento da mobilização da rua. Mas então? Isso é inteiramente normal – massas de pessoas não convergem espontaneamente a uma hora e num local sem o apelo de alguém. Todavia, o que caracteriza – pelo menos potencialmente – as manifestações dos ‘indignados’ e de ‘Occupy Wall St.’, nos EUA, é que, apesar do ‘radicalismo’ dos protagonista e das suas palavras de ordem, elas têm encontrado eco e recepção positiva em grandes massas de pessoas – muitas das quais levadas à politica pela primeira vez, ou seja, pessoas normalmente passivas e abstencionistas. É o efeito inevitável desta crise histórica e do transparente desequilíbrio de poder real entre os detentores do capital financeiro e os seus agentes e a enorme massa da população.

Teremos que ver quem se manifesta no Sábado. Quem serão eles e elas? Serão apenas os radicais? Duvido. Irei e não me acho assim tão radical! Mas já agora, acho que os protagonistas radicais destas movimentações estão a fazer um grande serviço à democracia – sejam quais forem os seus motivos ideológicos (e espero que não imponham as suas perspectivas sobre os outros participantes). É que a democracia representativa e constitucional tende a esvaziar-se em tempos de crise se for apenas um palco de legitimação dos interesses do capital financeiro globalizado e precisa necessariamente da inflexão da luta social.

Alan Stoleroff

 Subscrevo:
Pé-de-Cereja

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A «casa da Mariquinhas»

As lojas de penhores são, infelizmente, uma 'instituição'. Sempre ouvi referência a isso, de um modo discreto ou por meias palavras que as pessoas tinham vergonha. E os prestamistas, usurários, eram olhados de lado. 

«Entrei e onde era a sala agora está
À secretária um sujeito que é lingrinhas», 

«....às tantas
Vai parar ao "invejoso"... »
Ora bem, nessas alturas de vacas magras - porque elas só engordaram ligeiramente após o 25 de Abril - tudo servia para os penhores. Tudo, mas tudo o que existia numa casa podia ser empenhado. Roupas, móveis, objectos decorativos, louças, tinham um valor e quem estava habituado já sabia quanto é que ia receber pela bengala do avô, pelo serviço de chá da tia, pelo binóculo do tio-avô marinheiro. Recebia-se «uma cautela», e quando se tivesse dinheiro para resgatar o objecto, ele voltava a casa. Ou não, é claro...
Desde há alguns meses têm aparecido que nem cogumelos num bosque húmido, dezenas de lojas com letreiros «COMPRA-SE OURO». Assim, sem mais.
Algumas acrescentam «ouro usado», outras especificam que «pagam a pronto», e há quem explique que «paga a dinheiro». Já não é a versão de penhores, é mesmo puro e duro, a compra de bens.
É um grande barómetro. Referido assim, como «o seu ouro», fala-se da reserva bancária das pessoas mais simples. Ainda pouca gente tinha conta no banco, e já se passava de avós para netas um cordão de ouro, a herança da família. Essas jóias, brincos, pulseiras, medalhas e sobretudo cordões, eram divididas pela família quando falecia uma avó. Ou eram recebidas em datas importantes, casamentos, baptizados.
Quando hoje vejo rua sim, rua não, balcões onde se «compra ouro» sinto um nó no estômago. Não, eu não tenho «ouro» para vender, dois ou três anéis com mais de 100 anos, se têm um enormíssimo valor sentimental vendidos a peso é menos que nada. Não falo por mim. Mas se essas lojas abriram é porque lhes vale a pena pagarem o espaço. É porque existe quem esteja em desespero a vender aquilo que os avós lhes deixaram com tanto amor.
Sinto um grande peso no estômago sim.



Pé-de-Cereja

domingo, 9 de outubro de 2011

«...e o povo não aguenta»

A palavra de ordem é antiga. Quem se lembra de ouvir:
«O custo de vida aumenta
o povo não aguenta” ?
Afinal esta recordação antiga vem relembrar que temos andado desde há muito tempo a sentir apertar cada vez mais o famoso cinto. Claro que quando se cantava esta palavra de ordem, há muitos muitos anos, nem se imaginava que íamos aguentar aquilo que se está a aguentar hoje! Temos aguentado mais, e mais, e mais, com protestos é natural, com desabafos, mas... vamos aguentando surpreendentemente.
Enquanto por muitos países se vai vendo a indignação manifestar-se com maior ou menos veemência, nas ruas, em abaixo-assinados, em movimentos de cidadãos, a revolta vai crescendo como é notório, nós protestamos baixinho.
Não apenas protestamos baixinho como nos auto-punimos. Que a crise tenha esta ou aquela origem, que a gigantesca manipulação das super-poderosas agências de rating seja indesmentível, o cidadão que lê os títulos dos jornais e escuta a primeira notícia do telejornal, sabe logo que «a culpa é nossa»
Porque gastámos mal. Porque a corrupção invade tudo. Porque os gestores são uma lástima. Porque somos preguiçosos. Porque o governo é um capacho da troika. Porque o governo anterior foi uma nódoa.
E é verdade. Infelizmente todas estas acusações são verdade (tirando essa coisa da preguiça, que é muito discutível) e talvez ainda mais um punhado de outras. Em nome da dignidade seria bom que se corrigisse tudo isto. Mas...
...mas o que se passa com as dívidas dos outros países? Deixando de lado os países europeus que estão a cair como pedras de dominó, o que se passa com os EUA?! Não é só agora que eles têm uma enorme dívida soberana, pois não? E no Japão? Grandes países com grandes economias estão a tremelicar como gelatina. Há qualquer coisa de muito errado na estrutura neoliberal.
Contudo o que me levou hoje a escrever aqui no Cerejas foi o reparar no jeitinho que tem a nossa (e não apenas a nossa) comunicação social em assobiar para o ar.
Este fim-de-semana falámos de futebol.
Não acho mal. Quando se anda muito desmoralizado, haver algo que corre melhor é bom. Também fiquei contente com o resultado da Selecção. Mas, valha-me Deus, quando existem  manifestações em Wall Street há uma semana, quando essa onda transborda de Nova York para Washington e Los Angeles, as nossas primeiras páginas falam-nos de politiquices e faits-divers... Aquela imagem podia dar ideias à nossa gente tão ordeira, e desatar a «incendiar as ruas» (??!) como teme o primeiro ministro.
Haja paciência? Ná! Já houve paciência a mais!!!!




(clique na imagem)

Pé-de-Cereja

sábado, 1 de outubro de 2011

«Vai-se indo....»

Há frases feitas e respostas estereotipadas que já nem ouvimos.
O cumprimento habitual «Como está? Passou bem?» de um modo geral não obtém como resposta a verdade verdadeira que, aliás ninguém teria paciência de ouvir. Dá-se uma resposta formal e apressada.
Desde há uns tempos que este «Como está?» se foi diluindo numa outra frase, creio que nascida no Brasil, «Tudo bem?» a que se responde sem se prestar atenção ao que se diz «Tudo bem!»
Já por aqui batalhei várias vezes contra esse falso optimismo. Apesar de, por distracção, também entrar no jogo de vez em quando, quando paro uns segundos sinto-me ridícula. TUDO bem???! Nunca, é claro! Impossível, a não ser no Paraíso.
Hoje passava na rua quando ouvi a troca velhinha de cumprimentos e a resposta foi «Vai-se indo..
Era uma senhora nada nova, que caminhava devagar com um saco de compras.
Ela lá ia.
Lentamente.
E a resposta era correcta «Vai-se indo...»
Não era uma lamuria, um queixume, não, o tom era calmo. Mas pressupunha toda uma vida de luta, bem difícil. E ela lá seguia carregando o seu saco.
«Vai-se indo»



Pé-de-Cereja