quinta-feira, 30 de junho de 2011

Austeridade


Fui ver ao dicionário que tinha aqui à mão (era o Lello, por acaso) e encontrei:
s.f. Cuidado escrupuloso em não se deixar dominar pelo que agrada aos sentidos ou deleita a concupiscência. Severidade, rigor. Qualidade de austero.
Já agora, espreitei austero:
Adv. Que tem austeridade. Rígido, severo. Sério e grave. Penoso.Ríspido. Sombrio, escuro.
.............
A imagem que eu tinha deste termo, lá muito escondida na minha memória do tempo em que a palavra não se usava como agora, era de uma pessoa considerada austera - ou que tinha austeridade - era que tinha uma característica moral que a tornava muito auto-exigente, não gostava de brincadeiras, não se divertia, levava tudo muito a sério, não aproveitava os prazeres deste mundo, uma espécie de anacoreta.
Hoje usa-se como uma ameaça, uma espada sobre a cabeça. «Tens de viver muito mal ou senão...!»
Mas senão quê?
Senão... vive-se muito mal.
Ficamos reféns das agências de rating, parece. E quem manda das tais agências de rating?
Se fosse um romance policial, cabia perguntar «quem beneficia do crime»?

Pé-de-Cereja

terça-feira, 28 de junho de 2011

"Nós somos todos judeus alemães"

........disse Cohn-Bendit. Juntamente com «soyez realistes demandez l'impossible» é uma frase que marcou a minha geração.
Mas talvez apenas a minha geração.
............
Ontem, no facebook, uma amiga (a sério, não amiga faceboqueana) lembrou-se de lançar uma espécie de desafio. Com base no que estamos enjoados de ouvir, ou seja uma desmarcação cerrada da Grécia, afirmado em todos os tons, que não temos nada a ver com ela para escaparmos ao ataque das agências de rating, criou-se uma página a que ela deu o Título «Somos todos gregos». E, à minha conta, reenviei o contacto para quase todos os «amigos facebook», além de imaginar que à sua conta ela também o tivesse feito e por efeito de cadeia, em breve haveria muitas pessoas a partilhar a ideia.
Desapontamento!
A minha primeira surpresa foi tanta gente não entender o título. Recebi algum feed-back nessse sentido, a frase evocava alguma coisa que não se sabia bem o que era. Coisa estranha para mim.
A segunda surpresa, foi que neste momento – fui lá espreitar – e há apenas 15 pessoas que «gostam». Quinze. Quando, a gracinha mais insignificante fácilmente atinge umas dezenas de «likes» no facebook.
Falta alguma coisa. Não devemos dominar ainda a técnica do fb, ou sou muito ambiciosa e desejava uma resposta mais rápida mas isto é normal, ou realmente as pessoas estão de acordo que amigos amigos gregos à parte.
Mas o ser a Grécia não é o que está em causa. Como disse lá essa minha amiga na frase que iniciou esta experiência, e eu transcrevo tal como ela escreveu:
«Quanto mais os "nossos" dirigentes tentam mostrar aos outros que Portugal é diferente da Grécia (admito que seja) mais eu me sinto grega. Não me importaria de encetar um movimento de solidariedade do género 'neste momento somos todos gregos'. ou todos do Sul, ou todos pobres, ou todos indignados, ou todos mal governados, ou todos bem lixados
Pois é.


Pé-de-Cereja

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um bom conselho

Calor, muito calor...
Temos de ter cuidado com o sol.
Dantes era assim: o famosíssimo creme!

Clique na imagem para ficar maior

(recebi uma colecção magnífica de imagens umas da minha infância e adolescência,outras mais anteriores ainda; apetece-me partilhá-las aqui convosco, de vez em quando)

Pé-de-Cereja

sábado, 25 de junho de 2011

Vergonha!

Eu entendo que a Segurança Social tenha pouca gente para as encomendas. Era de esperar. desde há muitos anos que de cada duas pessoas que saíam só entrava uma (ficando os que restavam com o dobro do trabalho) e isso, a progressão geométrica,  multiplicado por muitos anos deixa alguns serviços quase vazios.
Portanto, espera-se que o trabalho seja feito pelos utentes, claro. É a lógica do ‘self-service’ que se espalha cada vez mais, as pessoas que ainda há poucos anos atendiam os clientes, são agora máquinas manipuladas pelos próprios, não é? Então, porque não nos serviços públicos?
Ontem, um comentador aqui no blog contou uma situação que este link refere eu confirmo porque se passou exactamente isso com uma prima minha: para se dar baixa quando um idoso morre, espera-se que um familiar peça o subsídio de funeral! Como toda-a-gente-o-pede, a coisa está feita. No caso da minha prima, ela não fez esse pedido porque lhe disseram que não tinha direito, e descobriu que a minúscula reforma da sua mãe estava acumulada há muito tempo numa conta esquecida...
Desta vez, é de revoltar: Pagou-se o abono de família como era habitual. Mas... há casos onde os beneficiários não entregaram a tempo a prova de que os seus filhos são estudantes ou, por pouca sorte, ficaram entretanto desempregados mas o ano passado ainda tinham trabalho e, como entretanto se tinha dado «uma reavaliação extraordinária dos rendimentos», têm de pagar. Se não sabiam que a lei mudou, soubessem. A Segurança Social vai imperturbavelmente pagando, as famílias é que devem conhecer a lei e as tabelas, e devolverem de imediato o que receberam!!!
Brada aos céus.

Isto abrange 258.000 famílias.
Pode ser? Parece que pode.



Pé-de-Cereja

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Ena, tantos fantasmas!!!

Quando ontem dei a minha olhadela matinal pelos jornais (na net) encontrei uma quantidade exagerada de burlas. Eu sei que a vigarice é uma das nossas mais florescentes actividades mas, mesmo assim, no mesmo dia ver a) uma história cómica de polícias e ladrões: um sujeito que fugiu há 8 anos da cadeia, vivia como sendo da PJ e até vivia com uma investigadora até ser apanhado!
Ou b) o facto do Presidente da Comissão Nacional de Protecção de Dados ter recebido, por acumulação indevida de pensões, quase 60 mil euros em 4 anos e no total, se se confirmar a informação, «terem sido pagos indevidamente mais de 184 600 euros a três membros dessa comissão».
.................
E com esta última, damos o braço à Melinda Gordon, e entramos na série «Ghost Wisperer»-Em Contacto! Porque se estes senhores, apesar de já terem passado ao outro mundo, ainda recebem subsídio de compensação (por já cá não estarem?) d) mais notável ainda é que descobrimos a existência de uma clínica toda ela fantasmagórica. Vejam lá:  Médicos já falecidos que receitam que se fartam, medicamentos para uns pobres de uns doentes que... também já por cá não andam


Já imaginaram? Eu até sinto um arrepio. Receitas passadas por médicos-fantasmas (tadinhos, gostavam tanto de trabalhar que não desapegam, mesmo mortos continuam de estetoscópio ao pescoço a cuidar dos doentinhos) a doentes-fantasmas que também insistem em ser tratados, não acreditam que já deviam ter passado para a luz.
Melinda, S.O.S, fazes muita falta!
Ajuda-os a passar, que eles não conseguem...

Pé-de-Cereja

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O género, importância e gramática

Como já aqui referi, foi eleita Assunção Esteves para Presidente da Assembleia da República, sob aplausos gerais. Acontecimento importante em vários aspectos, e que desencadeou no facebook de amigos meus uma estranha polémica que tenho de transportar aqui para o Cerejas por não conseguir dizer tudo o que queria no espaço do FB.
Como ponto prévio gostaria de esclarecer desde já que nada do que vou dizer tem a ver com o Acordo Ortográfico, sobre o qual tenho muitas dúvidas e ainda não sei bem se estou a favor ou contra. Não, aqui trata-se, a meu ver, apenas de uma questão de gramática.
Dá-se o caso de que na troca de comentários com um grupo de amigos, falei na 'senhora presidenta'. Estava a brincar. Pensei que chamando assim dava um ar de mais popular ou infantil e o tom que eu desejava era esse.
Curiosamente outras pessoas também falaram em 'presidenta' e, quando à noite voltei a ligar ao fb já estava montada uma banca de prós e contras o uso de tal palavra. Sorri e ainda a sorrir fui confirmar ao dicionário priberan mas… afinal aceitam a palavra! A mais inteligente defensora dessa novidade ideia  [pessoa que aliás escreve primorosamente] fá-lo com o argumento de que até agora as mulheres não tinham capacidade de serem presidentes de nada, portanto com o assumir de tal competência seria justo que se 'feminilizasse' a palavra. Como uma honra.
Ideia extraordinária, porque se é certo que Presidente da República ou da Assembleia, em Portugal é novidade, já há milhares de mulheres presidentes de tudo e mais alguma coisa – de Conselhos Directivos, da Comissões de Trabalhadores, de Sindicatos, de Associações... Há imensas mulheres que chefiam. Afinal "presidente" é simplesmente alguém que preside, como residente é alguém que reside ou gerente alguém que gere.
Existem na nossa gramática dezenas de palavras que se usam para os dois géneros, sem que isso ofenda ninguém. Adjectivos «bisexuais» :) encontramos imensos – triste, alegre, doente, importante, contente, infeliz, paciente, irritante, transparente - a maioria dos terminados em e mudo, não tem feminino nem masculino. Então actividades vulgares em homens não seriam 'masculinas', reparem nas palavras terminadas em ista (com um A no fim) onde até ainda há mais homens: futebolista, camionista, maquinista e não futebolisto, ou camionisto ou maquinisto; o Alfredo Marceneiro não era um fadisto, nem Chopin um pianisto. E uma mulher que seja agente de polícia? E o meu dentista?
E também tropeçamos no contrário, palavras onde só se usa o masculino. Uma mulher que deite meias solas num sapato não se chama sapateira, teremos que dizer que trabalha em calçado, assim como a profissão de torneiro não terá feminino, porque torneira é outra coisa. Ou seja, acredito que para um estrangeiro não seja fácil aprender português.
Mas nós aprendemos em pequeninos.
Inventar uma palavra por acreditar que assim se aumenta a dignidade da mulher que exerce o cargo, não me convence.
Mesmo nada!

Pé-de-Cereja

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Reinvenção da democracia


Há coisas engraçadas. 
Por exemplo, a tal “escrita por linhas tortas” que nos dizem que a divindade aprecia (às vezes não lhe faria mal escrever também pelas linhas direitas...)
Se calhar, se não tivesse existido o episódio trágico-cómico do senhor-que-abominava-os-políticos-mas-queria-estar-na-política-à-força ter sido rejeitado duas vezes para o cargo de Presidente da Assembleia da República, teríamos apanhado com mais um bonzo como seria previsto.
Mas... surpresa!
Uma lufada de ar fresco, e vamos ter uma mulher de competência e firmeza como segunda figura do país. Ouvimos um coro de concordância como há tempos não se ouvia, e creio que muito justamente.
Quando no seu discurso falou na “reinvenção da democracia” senti-me identificada. É isso, exactamente isso, que nos anda a fazer falta. «Esta» democracia anda doente, mas a democracia faz-nos falta, assim como nos faz falta um pouco de imaginação.
Vamos reinventar a democracia, Senhora Presidente!
Um passado de competência, uma mulher ainda nova que nos diz

Bem vinda!

Pé-de-cereja

terça-feira, 21 de junho de 2011

Verão

(por favor cliquem 2 vezes na imagem)



Começa hoje.
O calor já se sente, esperemos que não venha a ser demais.
É uma estação belíssima, que nos permite a vida ao ar livre o que eu adoro.
(desculpem, este está a ser o post-rei dos lugares comuns, mas reconheço que é isso que me ocorre neste momento...)

É engraçado o 'cabeçalho' que a Google encontrou para hoje:



Um tanto violenta a imagem, não é?
Mas talvez o Verão seja mesmo violento. Havia o 
« winter of our discontent
Made glorious summer by this son of York», 
dizia Shakespeare, será que por cá o verão também vai ser glorioso?...
Huuuummm... Atenção aos fogos.

Pé-de-Cereja

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dificuldades previstas

Estou a tentar não desatar a criticar os senhores do governo ainda eles não tomaram posse. Um dos bonecos do Bartoon no Público aconselha «Não devemos começar já a criticar o governo» e o outro pergunta «Já? 10 segundos chega?» (mais ou menos isto)
Contudo, o passado das pessoas e as ideias que até hoje defenderam permitem alguns receios.
Ainda por cima há 2 ministérios terríveis, muito pesados e quase ingovernáveis: Saúde e Educação.
Quanto à Saúde há motivos para preocupação, sem dúvida.
E na Educação dá para prever que as coisas não se apresentem melhores.
O Ministro Nuno Crato é conhecido por posições 'conservadoras'. É um opositor ao eduquês. Há muita gente que também o é, e por bons motivos. Mas se há exageros grandes quanto a algumas posições pedagógicas um tanto laxistas, seria um erro bem grave esquecer o que de muito sério se tem construído no campo do ensino desde há dezenas de anos. E, por aquilo que tenho lido, é essa a posição do ministro nomeado.
Exageros. No que diz respeito à intervenção dos pais nas escolas, há coisas estranhíssimas. A ser verdade o título (e texto) deste artigo, tem de se pôr limites a certas coisas. «Pais têm de autorizar chumbo dos filhos»?! Qualquer coisa soa mal, não é?
O aluno tem ou não condições para mudar de ano, e isso é uma competência da escola, só pode ser. Agora que se anda a valorizar tanto o ensino privado, gostaria de ver essas escolas que batem no topo dos rankings perguntando aos pais dos maus alunos se os podem reprovar ou não...
Depois, ainda antes de ter iniciado funções, ele já vai enfrentar a questão das avaliações. Complicado, porque o seu partido na ânsia de combater Sócrates apoiou a contestação dos professores, mas agora vai apanhar essa batata quente ter de resolver a questão.
Em relação ao trabalho dos professores, eu conheço alguns e de variados graus de ensino. Posso dizer que praticamente todos se queixam sobretudo de uma coisa: excesso de burocracia. Oiço uma queixa de todos os quadrantes de ensino, mais de metade do seu tempo de trabalho não é a dar ou preparar aulas mas às voltas com papeis, muitas e muitas vezes repetidos ou com reuniões que não adiantam nada.
Será que o senhor ministro vai levar isso em conta? Agilizar essa burocracia?
Não me parece que seja sensível a isso.
Mas o panorama vai ser complicado uma vez que, devido à crise há cada vez mais alunos de colégios privados a pedir transferência para o público. De acentuar «devido à crise», porque isso diz-nos que não é por opção positiva, por considerarem que esse ensino seja melhor, o que é logo uma posição negativa à partida.
OK, vamos ver.
Os elefantes brancos nem nos jardins zoológicos. Dão trabalho demais!



Pé-de-Cereja

domingo, 19 de junho de 2011

«Não tenho nada p'ra fazer!»

Hoje comecei o dia deixando este boneco no meu facebook, com o título «o que acontece a muita gente; um conselho, leiam mais».
Uns segundos depois vi que era um tanto antipática, e estupidamente paternalista, e lá expliquei em comentário, que era dedicado às pessoas que estando em férias se aborrecem por não ter que fazer se não têm amigos ao pé.
Agora senti necessidade de explicar melhor este desabafo.
Eu sinto que saber ler é um (será sexto? sétimo?) sentido a mais que nós temos. Ver e ouvir são mais importantes, mas dos outros 3, trocava um deles se fosse necessário, pela capacidade de ler.
Lembro-me como se fosse hoje do deslumbramento de ter começado a ler o meu primeiro livro sozinha. Senti-me como se tivesse entrado num mundo encantado, um mundo mágico. E até hoje esse sentimento nunca se desvaneceu completamente.
Quando era gaiata, adolescente, ia naturalmente de férias com os meus pais. Sozinhos, nós os três, que sou filha única. Fazia parte da minha bagagem, um monte de livros (os livros 'para férias') que empilhava junto da minha cama-de-férias e ia devorando ao longo dos dias. Sentia-me maravilhosamente.
Muito bem, reconheço que talvez eu fosse um pouco 'bicho-do-mato' e não me teria feito mal conviver com mais gente nesse período de férias. Contudo no resto do tempo até tinha grandes e bons amigos - pelo menos uma delas, muitas dezenas de anos depois, ainda é uma das minhas maiores amigas...
Não estou aqui a citar-me como modelo de coisa nenhuma, mas apenas para reflectir como é estranho falar com um jovem (ou dois, ou três, ou quatro!) e ouvir «que seca! agora nas férias nem tenho nada para fazer, os meus amigos vão todos para fóra e eu nem sei como ocupar o tempo»
Que estranho.
Sabem todos ler e escrever, vejo que passam parte do dia a mandarem mensagens no telemóvel ou agarrados ao "messenger" na net. Então porque raio não pegam num livro?! Aceito, de boamente, que não gostem de um tipo ou outro de literatura. Mas entre tantos e tantos tipos de leitura de algum deviam gostar, a não ser ( e a hipótese é muito plausível) que nunca tenham adquirido esse prazer da leitura de que comecei por falar.
Mas que pena.
Nem sabem o que perdem.
E ainda por cima um livro não precisa de se ligar à corrente, nem de carregar a bateria, só se gasta dinheiro no momento da compra, é leve, pode levar-se no bolso, não se parte, e faz tanta companhia!

Pé-de-Cereja

sexta-feira, 17 de junho de 2011

«O sequestro da democracia» ou Síndrome de Estocolmo

A expressão 'sequestro da democracia' infelizmente não é minha, mas bem gostaria de ter tido esta ideia. Porque realmente, se vivemos em democracia, e isso é verdade para quem tem menos de 37 anos, ela está de momento hipotecada, «sequestrada» até.
Um excelente artigo, do Monde Diplomatique, diz tudo aquilo que tenho andado a pensar:
«O verdadeiro poder de legislar terá já sido entregue, por vários anos, ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF)».
.............
A jornalista enfrenta uma série de ideias feitas com que somos diariamente bombardeados, e à força de as coisas serem repetidas acabam por ser aceites sem análise.
Por exemplo

e também:

b) “Outra ainda é a ideia de que o Estado social é necessariamente «gordo», «monstruoso», «ineficaz», precisando por isso de uma cura que o torne «ágil» e «moderno»…”
  
e outra coisa

c) «a «ajuda» não vai ter grandes resultados ao nível da diminuição do desemprego ou da recuperação da economia e que se calhar também não vai permitir resolver o problema do pagamento da dívida»

Mas o que pretendo é que sigam o link e leiam o artigo todo.
Para mim, isto vem dizer de um modo mais claro tudo aquilo que ando a pensar.
E para vocês?



Pé-de-Cereja

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Intimidades


Tive um sonho a noite passada.

(Não sei explicar porque o venho contar aqui. Talvez porque preciso de o registar e como não escrevo actualmente um diário achei que o anonimato de um blog permite uma certa segurança de confidencialidade)

Um sonho que era um pesadelo, mas não de um modo absoluto: era um ‘recado’ de mim para mim, mas de certa forma positivo. Um aviso. Creio que o estou a valorizar mais por andar a ler um livro, Elegia para um Americano, onde se discutem e analisam sonhos.

Como todos os sonhos, esta história não tem princípio. Eu ia fazer uma viagem e sabia que tinha de ir a casa fazer a mala, mas estava na Baixa onde ia encontrando sucessivas pessoas. Neste momento já não sei quem eram, se amigos se desconhecidos, mas foram vários encontros que me empataram e, a dada altura, reconheço que já não me resta tempo para ir à minha casa.

Tomo a decisão de seguir directamente para o cais de embarque. Era no Cais do Sodré. Quando lá chego, muito ofegante, dizem-me que estou enganada, o navio em questão parte do Terreiro do Paço. Começo então a correr por entre ruas velhinhas, um caminho que, como sonho que se presa, é várias vezes mais longo do que o verdadeiro. Sinto-me desesperada por não chegar a tempo, esse desespero dá-me um nó no estômago que se torna numa enorme dor de barriga. A dor de barriga aumenta a aflição porque não há nenhuma casa de banho no caminho nem eu podia perder tempo a procurar.

Finalmente chego ao cais de embarque, um cais muito diferente do Terreiro do Paço, enorme e quase vazio, e lá me dizem que o barco onde eu quero embarcar – disse Madeira, mas o marinheiro corrigiu-me para Açores – ainda ia levar muito tempo a sair.

Eu tinha chegado afinal... excessivamente adiantada.

E pronto. Quanto à análise desta mensagem já a tenho de fazer em privado.


Pé-de-Cereja

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Por estas e por outras....

... é que a minha opinião sobre este senhor se confirma constantemente.
É um facto mais do que sabido que os discursos que os senhores importantes proferem não são redigidos por eles. O que nós ouvimos é o produto final do trabalho de vários especialistas, dentro do possível, bem articulados entre si. O ‘actor’ que recita a oração final deve ler o texto com boa entoação e um ar convicto, mas é apenas o que se lhe pede.
Vem isto a propósito dos discursos de Cavaco. Não faço ideia de quem seja a equipa que os escreve, mas seria bom que se reciclassem. Há quase sempre coisas a apontar e desta última vez a coisa esteve feia.
Compreende-se muito bem a preocupação do presidente com o défice alimentar português e com o despovoamento do interior questão muito séria e que preocupa muita gente. Contudo a questão da agricultura não é uma birra de gente mimada que prefere viver no bem bom das cidades do que na labuta dura de sol a sol dos campos. Neste momento não estamos a viver um episódio de Uma Casa na Pradaria, estamos infelizmente a sentir na pele as decisões ‘generosas’ da União Europeia.
O que leio por aí é que em Portugal temos cerca de 400.000 agricultores. E também li que perto de metade deste número está a receber subsídios para NÃO PRODUZIR. Isto chama-se regime de pagamento único, e é incentivado. Mais do que isso, 2.000 destes agricultores, ou seja 5% dos que existem, são ex-grandes agricultores e recebem 250 milhões de euros (para não produzir!!) segundo a notícia mais do que os outros todos juntos.
Muito bem, é isto que convém a Bruxelas para proteger os franceses, alemães, os grandes países. Generosamente até «dão dinheiro» para que os pequenos não produzam e… comprem os produtos que eles vendem, é claro.
E depois Cavaco vem pomposamente dizer que quer «criar oportunidades de sucesso para jovens agricultores». Já agora para os menos jovens também. Não era mau, mas talvez fosse de começar por tirar os paus das rodas dos carros para eles andarem!
Quem não se preocupa com o interior? Os que lá vivem (ou viveram) decerto que sim, e muito mais gente responsável, mas… afinal onde estão os 60 mil milhões de euros de fundos europeus que entre 2000 e 2006 deviam ter sido investidas no Interior? Possivelmente foram utilizados a pagar contas urgentes. Contas que deveriam ter verbas para isso, decerto, e talvez tivessem sido desviadas para outros pagamentos e por aí fora… Até se arrumar esta casa caótica, as contas estão sempre erradas.

Mas o paleio do discurso do Presidente é profundamente farisaico, porque não acredito que esteja mal informado. Mas essa duplicidade não é nada que me surpreenda desse senhor, o país conhece-o (ou devia conhecer) desde há muitos anos, quando as vacas estavam gordas.
 
 


Pé-de-Cereja

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Água dourada

No meu antigo blog tinha uma ‘categoria’ a que tinha chamado Boas Notícias e cuja existência se explicava por si. Eu achava (e ainda acho) que andamos mergulhados numa onda de pessimismo tão intenso - e justificado, decerto - que quando se ouve uma história boa é de a sublinhar! Sobretudo quando tal é passado em Portugal, que a nossa pobre auto-estima está pelas ruas da amargura...
Aqui no Cerejas não tenho ‘categorias’, mas se tivesse este post era para lá, para o Boas Notícias:
Segundo a notícia que li existe uma empresa (?) criada por alunos do secundário, chamada «GoldenWater», que se classificou em primeiro lugar numa competição internacional. Esses jovens inventaram uma embalagem para líquidos totalmente reciclável, que se pode enfiar num bolso quando está vazia, encher com água canalizada, guardar no frigorífico e desinfectar no microondas
Até parece bom demais para ser verdade!
Se calhar, antes de mais nada devo explicar que sempre bebi o que se chama de um modo desdenhoso «água da torneira» e muito feliz por a torneira deitar água! Tenho a sorte de viver num grande centro onde as análises dizem que a água é boa, e não vejo porque hei-de pagar 40 vezes mais por um produto que para mim é bom na versão normal.
Que existe um parti-pris em relação à chamada ‘água da companhia’ é inegável. Fico sempre pasmada quando vejo junto de uma fonte, pessoas a encher garrafões com a água que essa bica deita, não porque não tenham água em casa, mas por acharem que essa é melhor. Melhor?! Ainda alguém se lembra da celeuma sobre a Fonte das Ratas? Aquilo era água especial, diziam...
Bem, para mim, o único inconveniente da água canalizada era não se poder andar com a torneira no bolso, mas agora até isso está resolvido graças e estes inventores!
Vivam eles!
Clap! Clap! Clap!!!



Pé-de-Cereja

quarta-feira, 8 de junho de 2011

As comadres e as verdades

Mais uma vez se confirma o que toda a gente anda fartinha de saber: a conversa pré-eleitoral e post-eleitoral é completamente diferente.
Aliás, uma crítica azeda que oiço fazer aos pequenos partidos é exactamente «eles dizem o que querem porque sabem que não vão para », mas o interessante é que mesmo os que «vão para lá» também dizem aquilo que lhes parece conveniente na altura e depois passam uma esponja como se os votantes estivessem sempre ‘alzheimerzados’ – e às vezes até parecem!
Desta vez encontramos um interessante e novo pomo de discórdia – a divisão das pastas ministeriais se, tal como foi anunciado e parece ter caído muito bem no eleitorado, o número de ministérios for emagrecido para 10.
Serem dez ministérios, significa logo que alguns ficam gigantes, uns monstros.
Por exemplo, li a hipótese de associar Educação, Ciência e Cultura, o que seria aparentemente sensato - a Cultura que está tão magrinha e enfezada ficava debaixo da asa da Educação, e o Ensino Superior junto ao «outro» Ensino, mas se for para lá um ministro que acha que o M.E. deverá ser «uma agência de apoio às escolas e uma agência de avaliação» a coisa fica difícil.
Juntar Justiça e Administração Interna? É muito poder, não é?
Quanto à hipótese de Agricultura, Mar e Território pode fazer sentido. Portas já navegou por aí, mas será que gosta desse emagrecimento?
Agora a ideia do Trabalho, Segurança Social e Saúde como li não sei onde, parece-me uma completa loucura! Não há como gerir esse elefante.
Também ouvi a hipótese de Economia+Finanças. São áreas de que não sei nada mas parece-me que só uma pessoa a dominar isso tudo é dinheiro poder a mais nas mãos de um só. Já aconteceu e não correu bem.
Mas o que me tem feito sorrir agora é a divisão do Poder entre Coelho e Portas. Portas diz que quer 4 Ministérios, mas se os reduzirem a 10 o que ele quer é quase metade do governo!!! Nada mau. Bom aluno das peixeiras aprendeu a regatear, e lá vai disto. Ou então, atira-se às urtigas essa ideia da redução do executivo (por isso é que o que se diz antes é uma coisa diferente do que depois se vai fazer depois) e arranja-se colocação para os amiguinhos pêpês.
Enfim, ainda agora a procissão vai no adro.
Vamos esperar, mas isto promete.





Pé-de-Cereja

segunda-feira, 6 de junho de 2011

E depois do adeus

Já está.
Era completamente previsível, a  dúvida era apenas na percentagem. Quando se viu a metáfora espantosa  que foi o estilhaçar da porta de acesso à sala de conferências quando Sócrates entrou, todos sorrimos.
Que estávamos fritos já ninguém tinha dúvida desde há muito tempo – saltámos da frigideira para o lume. Sem surpresa.
Mas houve algumas surpresas ontem.
Uma delas foi ter ouvido a palavra «perder». Já se me perde na memória as eleições a que assisti, com os mais diversos resultados onde nessa noite e no dia seguinte todos.... ganharam! Sempre pensei que bom que devia ser. Na minha vida quando espero e desejo uma coisa que não consigo, sinto que perdi. Contudo ELES, (todos eles!) nunca perdiam. Claro que quem ganhava, ganhava. Depois havia os que tendo perdido, tinham aumentado a votação, portanto também tinham ganho. Os que tendo perdido, tinha sido por menos do que diziam as sondagens, portanto tinham ganho. Os que tendo perdido, tinham perdido menos do que os seus directos adversários, portanto tinham ganho. Etc.
Desta vez, pelo menos, essa «cassete» da permanente vitória não se tocou.
E ainda bem, porque espero que se siga uma auto-crítica analisando onde se errou e se esteve mal. Só assim se podem dar passos em frente.
A outra triste surpresa foi não o aumento da abstenção – isso era previsível – mas onde ela se deu.
Que a abstenção ia aumentar ainda mais, só não acreditava quem andasse distraído. Pelo meu lado contei várias pessoas conhecidas que garantiam que não iam votar. «É tudo o mesmo!» era a frase que se ouvia, o desencanto do Socratismo versus o desencanto de quem se lembrava dos governos PSD, levava a um encolher de ombros.
Contudo, fiquei preocupada ao ver que desta vez foram os eleitores da esquerda que mais desmobilizaram. Os resultados parecem apontar para isso, porque se somarmos os votos no PS (que nalguns casos poderia ter sido um voto útil contra o PSD) com os do PC e do Bloco, temos ainda um resultado inferior ao que costuma ser. Imagino que fossem votos de abstenção.
De desmoralização.
De descrédito.
Apesar de saber que por toda a Europa os partidos que estavam no governo quando começou esta crise foram muito penalizados, e todos perderam eleições, não posso nunca perdoar aos governos de Sócrates ter-nos roubado a Esperança.
Dizem que ela é a última a morrer.
Então e depois disso?



Pé-de-Cereja

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A segurança do seguro

Este é apenas um desabafo, um blog também serve para isso. Uma história corriqueira, banal e que não surpreende ninguém, mas que me deixou irritada e muito.
A história é esta:
Há uns 8 anos fiz ao meu filho um seguro de saúde. Como ele não era abrangido por nenhum sub-sistema, achei por bem colocar as barbas de molho. Não era coisa cara porque ele era novo e saudável, e os anos foram passando sem qualquer problema ou atrito. O ano passado, por alturas do Verão, considerei que era mais prático fazer o pagamento por transferência da minha conta em vez da conta dele – uma vez que era eu a pagar – e comuniquei isso para a contabilidade da companhia. 
 Muito bem
Enviei o nib e a autorização bancária e descansei.
Há uns 15 dias ele foi ao dentista por rotina, e ao pagar o cartão não foi aceite. Mas que raio…?! Sentia-me com a consciência tranquila, mas assim que pude liguei para a companhia recebendo então a informação de que o cartão estava desactivado. Como disse????! Explicam-me que não tinha sido pago Agosto, depois fora pago Setembro e parece que Outubro mas em seguida não tinha havido mais pagamentos portanto o seguro estava anulado.
Respirei fundo e contei até 10.
É verdade, isso é certo, que eu pago todas as minhas contas por transferência bancária. Acho prático, não penso muito no assunto e tudo tem corrido bem. Também é certo que quando digo todas falo de muitas! São tantas que eu vejo o extracto bancário mas nem sempre confiro todas as parcelas (daqui para a frente já não vai suceder!) a não ser que alguma me salte à vista por exagerada o que não tem sido o caso. Resumindo, para acertar agora esse seguro teria de pagar 600 ou 700 euros de atrasados.
Mas fico a pensar que esses senhores 'ganharam' com o meu filho, que nunca usou o cartão a não ser para uma rotineira visita anual ao dentista, cerca de 5.000 euros. Seria exigir muito um aviso em como o pagamento não estava a ser efectuado e havia o risco de anular o seguro? Até para conservar um bom cliente, jovem e saudável.
Pois é. Há coisas que não são para entender.



Pé-de-Cereja

quinta-feira, 2 de junho de 2011

As crianças e o seu Dia



Ontem foi o Dia da Criança.
Para quem vive hoje existe a noção de que é um «Dia» que sempre existiu mas não é assim. Quando eu era criança não me lembro disto e realmente como Dia Mundial só nasceu em 1954.
O que não quer dizer que não seja importante durante o ano parar-se para reflectir um pouco sobre o que é uma criança, quais são os seus direitos e deveres, e o que deve um adulto fazer por ela.
Pela Declaração dos Direitos da Criança, é criança todo o ser humano até atingir a maioridade, pelo que engloba aquela idade a que chamamos ‘adolescência’. Chamo a atenção para isto devido aos diversos casos chocantes que têm aparecido nos nossos media referindo adolescentes . 
Tal como este caso, ou este outro, ou ainda, hoje mesmo, este.
Situações que nos parecem estranhas, a nós adultos e cujos protagonistas se não são adultos, não se enquadram na nossa ideia de crianças.
Mas a sociedade deveria ter um critério. Assim como me deu a volta ao estômago o horror que foi o que fizeram na Síria a uma criança de 13 anos, torturada de um modo completamente revoltante – toda a tortura é revoltante, mas esta atinge o máximo do horror! .
São ainda crianças, ou seja não são adultos.
Mas, aceito e acredito que grande parte dos meninos com quem me cruzei ontem, estivessem a festejar o seu dia com passeios, festas, alegria. Uma grande maioria recebeu presentes, e até os exigiu: «Então, é Dia da Criança e não recebo nada?!» como um direito. E em muitos casos esse ‘direito’ era reivindicado de um modo pouco simpático, atendendo apenas ao que lhes apetecia e gostariam e para além daquilo que os pais podiam dar... (a neta da minha empregada exigiu e obteve um brinquedo que custou 6 horas de trabalho da avó)
Por isso, pela dificuldade que verifico existir em dar um feed-back correcto às nossas crianças, achei de aplaudir estas sugestões sobre o que fazer no Dia da Criança:
1 – Converse sobre a verdadeira importância do Dia da Criança
Fale com o seu filho sobre o verdadeiro significado deste dia. Explique-lhe como surgiu, porque é comemorado e aproveite para chamar a atenção de como nem todas as crianças têm a mesma hipótese de festejar o dia alegremente e com a família.
2 – Aproveite a festa para educar o seu filho
Sem dramatismo, faça entender ao seu filho que a realidade é bem diferente do que talvez imagine. Nos dias festivos, fale com ele sobre a realidade da vida. Naturalmente, sem preconceitos nem pressões. A boa disposição da criança nestes dias é muito maior, o que pode fazer com que aceite melhor as conversas que, de outra maneira, não quereria ter.
3 – Não permita que o seu filho cresça fora da realidade
Diga-lhe que o mundo não é totalmente agradável, nem o mar-de-rosas que poderia supor. Mas não o assuste. Aproveite para dizer que a vida é auspiciosa mas chame a atenção para a realidade, especialmente nesta crise económica.

Que tal?


Pé-de-Cereja