terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Responso a Santo António

(Aviso aos leitores: o que vou escrever é a verdade verdadinha; é necessário dizê-lo porque sei que pode custar a acreditar)

Eu tenho a mania de que tenho um dom.
Ia escrever que «não perco nada» mas não é isso. Lá perder, perco. Tanto como qualquer pessoa. E, evidentemente, que acontece perder definitivamente uma coisa ou outra. Mas isso é raro, direi até raríssimo! Quando não encontro uma coisa, ‘reconstituo o seu percurso’ como toda a gente, creio eu, e… lá está ela. Mas o que me levou hoje a escrever foi o último caso de reencontro de coisas perdidas.
A lista destes casos é grande. Carteiras perdidas e encontradas têm sido várias. Uma vez perdi a carteira e tive de mandar fazer os cartões que lá tinha com bastante arrelia, e meses depois entro numa loja de chinês e lá estava debaixo do vidro do balcão o meu passe social! Pergunto e tiram a carteira de uma gaveta com tudo, até o dinheiro na totalidade!!! Outra vez, batem-me à porta de casa e um polícia sorridente sobe as escadas a perguntar se tinha dado pela falta de algo. Eram as chaves do carro, que eles na ronda tinham achado caídas ao lado da porta… Em Agosto do ano passado, «perdi» e achei o meu carrito, [imagina-se bem o susto] com a diferença de poucas horas.
Na manhã de sexta-feira repetiu-se esta magia que me protege de perder coisas. Ia de abalada de Lisboa um pouco carregada de tralha. Levávamos um saco de viagem com a roupa, e um outro também pesado, com o resto - comida, caixas, livros, e diversos aparelhos necessários para a estadia entre os quais uma máquina de café. Já eram quase 11 horas, e portanto estávamos com pressa, tendo arrancado muito rapidamente. No caminho ainda parámos para fazer mais umas compras de comida e cheguei ao meu destino pela hora do almoço.
Descarrega-se o carro, e ansiosa por tomar café, e peço ao meu filho: "- Traz o outro saco!"  Surpresa dele. "- Mas qual saco?" Ora essa, o saco grande com todo o resto. Ná, não está lá nada... Achei que ele estava a não ver bem,  (homens!!) e fui lá eu. Um baque. De facto não estava lá, e concluímos que nenhum de nós o tinha arrumado dentro do carro, portanto tinha ficado no meio do passeio.
O que me desesperava era a máquina, a menina dos meus olhos, pois ‘nesta altura do campeonato’ não ia poder comprar outra. Bem, não tinha nada a perder, de modo que tomei algumas medidas: falei para a porteira do prédio e pedi para dar uma volta por ali a ver se alguém tinha visto o saco.
E, voilá, depois de 3 ou 4 horas desaparecido, ele voltou a aparecer. O dono do lugar de hortaliça, tinha reparado que um homem da obra em frente tinha guardado um saco, os porteiros foram perguntar e lá estava, máquina e tudo. Note-se, em Lisboa, dia de semana, um bairro com movimento!

Santo António para encontrar o que se perde??!
Sem ofensa, ó Santantónio, mas a minha estrelinha rivaliza com essa coisa do reponso.
Tenho um íman que faz que o que perco volte à minha mão e prontos!!!



* (Não consegui encontrar o post que escrevi, faz já uns anos, a contar que encontrei no dia seguinte a tê-los perdido, dois anéis de enorme estimação que encontrei no contentor do lixo do meu prédio. Essa foi a jóia da coroa das coisas que «não perdi»)

Pé-de-Cereja 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Reformas, salários e outras questões

Aqui há uns tempos circulou aqui no facebook e em diversos blogs uma chamada de atenção apoiada na informação transmitida pela comunicação social de que na Suíça se estava a propor que as reformas tivessem um tecto máximo correspondente a 1700€. Era uma medida que estava a ser dada como exemplo com bastante aplauso de muitos comentadores.
Na altura fiquei logo com a pulga atrás da orelha e disse-o. Alguma coisa não batia certo, e até procurei informar-se quanto seria o salário mínimo nacional naquele país para poder fazer as contas. Recolhi a informação de que não existia lá nenhum smn e de que esta reforma de que se falava como modelo para nós, era apenas uma parte do que de facto um suíço aposentado recebia, porque na sua grande maioria tinham reformas ‘privadas’ que lhes permitiam viver confortavelmente na velhice.
E, li hoje um artigo que mostra bem como na Europa se pode viver em mundos distintos. Os sindicatos suíços pretendem agora que se formalize a existência do tal salário mínimo nacional, que não existe ainda. E, vejam só, pretendem que esse seja fixado em 4.000 francos, ou seja, mais de 3 mil e trezentos euros... E, com o argumento de que "quem recebe menos do que este montante não tem condições para cobrir as despesas básicas"
Ora bem. Vejam a contradição: pretendia-se na altura um 'tecto máximo de reforma' que era metade daquilo que se achava necessário para as despesas básicas. Não pode ser, pois não? Alguma coisa não bate nada bem. Aliás é interessante ver que, com montantes completamente diferentes é claro, a situação patrão-trabalhador também segue lá uma evolução semelhante à nossa ( aquilo que um patrão ganhava há 30 anos ia até 30 vezes mais do que o salário mais baixo pago nessa empresa, hoje pode ir até mil vezes mais)
Aquilo que sinto depois de ler estas informações é que não vivemos no mesmo mundo. Não quero dizer «mundos paralelos» porque esses nunca se encontram, mas parece-me bem que se está desfasado no tempo. Muito desfasado!

(Embora haja para aí alguns compatriotas que pelos vistos julgam que vivem na Suíça onde os três mil e tal euros não cobrem as suas despesas básicas)


Pé-de-Cereja

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

KUNG HEI FAT CHOY!!!!!!

Viva o Ano Novo!!!

KUNG HEI FAT CHOY




Hoje iniciamos um novo ano lunar, que vai durar até até 9 de Fevereiro do ano que vem. (são estes mistérios interessantes do ano não querer dizer 365 dias neste caso...)
Dragão!
O Dragão de Água.
Dizem que trás  muitas energias positivas, coisinha de que estamos a precisar imenso!!!

Venha ele:



Pé-de-Cereja

(Todos os anos quando me lembro, e lembro-me quase sempre, deixo no blog uma nota nesta ocasião. Quem viveu no Oriente não fica nunca indiferente a esta data. Fui procurar os textos que tenho escrito nos meus blogs, mas apesar de organizada não o sou tanto que tivesse encontrado todos...
Mas ainda encontrei o que escrevi em 2005
e depois o que escrevi em 2006
e ainda encontrei  o post de  2007
e depois só  o de 2009
Tenho ideia de que todos os anos deixei por aqui a marca, mas claro que quanto mais tempo passa mais resumida é a referência)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Volto sempre ao mesmo...

... porque a velha questão está cá!
Ando cansada de ouvir dizer, por todo o lado e em todos os tons, que há para aí uma deficiência genética (só pode ser!)  que leva a que os portugueses sejam uma corja de preguiçosos que não querem é trabalhar. Aliás essa imagem estereotipada, se nos atinge particularmente, é mais abrangente do que isso porque se estende a todos os povos latinos, não apenas do sul da Europa mas também do sul da América. A imagem do sul-americano mexicano é o tipo que só quer é dormir a sesta com o seu típico chapéu a tapar-lhe a cara para dormir mais sossegado, não é? A típica cigarra que canta quando devia trabalhar, ao invés da diligente formiguinha dos diversos 'nortes' que se esfalfa de manhã à noite, diligente, previdente, a pensar na penúria do Inverno...
Claro que esta é a perspectiva das formigas.
E também é verdade que uma fábula é isso mesmo - uma história. Se um investigador social se lembrasse de experimentar transplantar uma 'cigarra' para o esquema do formigueiro ficaria surpreendido de a ver a trabalhar mais do que as formigas que lá viviam... É que afinal não será assim tão genético! É capaz de ter a ver era com as condições em que está organizado o trabalho lá no formigueiro.
Voltando ao mundo real e à nossa terra, mais uma vez se verifica que afinal trabalha-se muito em Portugal mas produz-se pouco, coisa que deita por terra essa fábula da cantoria.
Ná, podem aumentar indefinidamente as horas de trabalho que não aumentam a produção, talvez muito pelo contrário. E creio que pelo contrário, porque com o cansaço e desmotivação não há produção que aumente. É a quadratura do círculo: pretender-se benefícios do Primeiro Mundo através de condições de trabalho do Terceiro.
E agora li para aí que se vai poder despedir quando o patrão achar que sim. Devo ter lido mal. Sem uma justificação muito fundamentada? Justifica-se a incompetência e erros da gestão com a desculpa de que o trabalhador é mau? É assim que nos tais países considerados evoluídos se faz? Umm... Não acho nada. A tal globalização está a funcionar de modo a nivelar por baixo a força do trabalho. A aumentar as desigualdades.
Mas o Mundo está a caminhar para onde?

* Só mais uma nota, sobre um aspecto particularmente chocante nesta coisa do trabalho, férias e feriados.
Quando inicialmente ouvi que o governo ia propor que «as pontes» fossem descontadas nos dias de férias, até sorri. Considerei que era um disparate, alguém que não sabia o que dizia. Durante toda a minha vida de trabalho, era esse o sistema que conhecia - um dia que se gozasse entre 2 feriados era um dia de férias. Significava sempre ter menos um (ou dois, ou três, aqueles que fossem) dias no bloco maior das férias. Todos sabíamos isso. Afinal, venho a perceber que o que se está a impor é que isso seja obrigatório. Eu até posso não querer essa 'ponte' mas se o patrão quiser fechar a casa eu não posso ir trabalhar e quando estiver no gozo das férias que desejo terei um dia a menos! É isto, ou terei entendido mal?!

Pé-de-Cereja

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Até p'rá semana

OK, a imagem é um tanto pirosa, mas não queria deixar aqui dias e dias no blog aquela imagem mal cheirosa do lixo e encontrei esta logo à primeira...
É sossegada, e tem ar puro, creio eu :)



É que só cá volto daqui a uns dias. Lá para quarta mais coisa menos coisa...
Bom Fim-de-semana a todos!!!

Pé-de-Cereja

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Lixo(s)

Desta vez estou a pensar no lixo mesmo lixo. Não é no minúsculo caixotinho do lixo que está aqui no canto do meu ambiente de trabalho nem no famoso lixo para que foi atirada a nossa hipótese-de-pagamento-da-dívida-soberana. Queria falar do lixo doméstico. O lixo lixo.
Lisboa hoje em dia (cof... cof...quero eu dizer, já há uns largos anos...) anda francamente suja. É claro que não me recordo dela sendo muito, muito, muito limpa mas, nas minhas recordações mais antigas, não entravam as quantidades impressionantes de cocó de cão espezinhado, nem embalagens de tudo o que já-teve-comida-dentro espalhadas pelos passeios. Essa «nova porcaria» é relativamente recente.
Mas, mais recente ainda, é o «novo lixo», novíssimo, o que é provocado, paradoxalmente, pela existência dos ecopontos. Este é um tema recorrente dos meus escritos em blogs. Já há mais de 6 anos  escrevia eu sobre o tema Aliás, escrevi até muitas vezes, era uma ideia fixa e não vale a pena procurar links porque  vocês estão a ver o que quero dizer. O que custa acreditar é que está tudo na mesma ou pior!
Chamo a isto um novo lixo, porque antes da existência destes contentores especiais para o lixo separado, do vidro, papel e embalagens, as pessoas deitavam simplesmente o seu lixo no caixote e era recolhido todos os dias pelas camionetas da Câmara. Evidentemente, como recordei acima, havia sempre gente incívica que atirava para o chão a lata da bebida que tinha acabado, ou o pacote amarrotado de batata frita, ou qualquer outra porcaria. Os passeios não andavam limpos, não senhora.
Só que agora, a coisa é diferente. Desde a chegada dos ões - os papelões, vidrões e embalões - a população foi ensinada a que devia «separar o lixo». O.K. Só lhe fica bem. Mas por um lado essa separação não é assim tão óbvia como a publicidade (que nos diz que qualquer macaco ou bebé a sabe fazer) nos quer fazer crer. Está bem que se recolhe vidro, mas quase só garrafas ou boiões e temos de tirar cuidadosamente tampas, rolhas e rótulos. Vidros de vidraças, de lâmpadas, de copos, de pirex, não dá. E devem estar lavados, garrafa de azeite ou óleo, não dá. Papeis para o papelão, mas temos de tirar elásticos, agrafos, fitas adesivas e já não serve se estiver sujo, algum papel de embrulho, nem algumas qualidades de papel. E já nem falo no ecoponto amarelo, das embalagens, que a confusão é enorme sobre o que é lá aceite ou não...
Mas, por outro lado, (e isso é que é mesmo muito grave!) a malta decidiu fazer a coisa por metade: aceitar a existência dos ecopontos e levar os sacos até lá, mas depois não os mete dentro dos contentores, deixa-os ao lado. E não apenas os sacos com o produto para reciclar que ficam de lado quando o ecoponto já está cheio, já agora ficam lá todos os sacos, mesmo com o lixo normalíssimo!
O que dá como resultado que, em Lisboa, as zonas perto dos ecopontos sejam umas perfeitas lixeiras.
Um nojo.
Não há ninguém na Câmara que veja isto????!!!!


Pé-de-Cereja

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Tem cá uma graça!

Nós usamos a linguagem para comunicar. É um código, é claro. Que se aprende em bebé com a nossa mãe - a tal língua materna. Uma enorme, esmagadora, maioria de pessoas não pensa que a palavra que se diz não é a coisa. A verdade é que a palavra é um conjunto de sons, ou se está escrita um conjunto de letras, que se refere a algo que existe para além dela.
Eu tenho andado a pensar ultimamente que acho bastante graça às reviravoltas que certos conceitos sofreram.
Quando aprendi a falar, a chamar nomes às coisas, existiam «patrões». Durante anos e anos aquilo era claro para mim, um patrão era uma pessoa que contratava outras pessoas para trabalharem para ele e a quem pagava para isso.
A certa altura comecei a notar que isso dos patrões era uma espécie em vias de extinção. Sumiram. Em seu lugar vieram os «empregadores». Diferente, porque os empregadores contratam pessoas para trabalharem para eles e a quem pagam para isso.
Por outro lado, essas pessoas que eram contratadas etc, etc, chamaram-se durante anos e anos trabalhadores. Era o seu nome. Alguns dos patrões, perdão, dos empregadores parece que resmungavam com isso porque como eles, os empregadores, também trabalhavam sentiam-se descriminados.
E assim, o nome mudou. O trabalhador, empregado numa empresa qualquer passou a ser um «colaborador». Lemos em anúncios «precisa-se de 4 colaboradores a tempo parcial» ou «oferece-se colaborador»...
Estranho.
Este não é do âmbito do acordo ortográfico, é adaptação de novos termos a velhos conceitos.
Desde que se continue a saber do que se fala...


Não é nenhum cachimbo, não.
Não pode meter lá dentro tabaco e fumá-lo, que é o que define o cachimbo.
Aquilo é a imagem de um cachimbo.


Pé-de-Cereja

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O eterno mexilhão

Tem-se falado muito nas redes sociais de um estudo divulgado primeiro pelo Correio da Manhã e depois pela TV que responde à questão:

Como o estudo vem de Bruxelas, feito pela Comissão Europeia, não há cá partidarite e acusações de que a culpa é deste menino ou do outro - ando um pouco cansada de ouvir que o mal é «do governo anterior», cassete que serve sempre porque existiu sempre um «anterior». Bom, parece-me que o que importa é ver o que se passa de facto, para além das culpas responsabilidades, e encontrar uma resposta.
Fazendo «o ponto da situação» o certo é que a Comissão Europeia afirma que um estudo feito em Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, Estónia e Reino Unido conclui que Portugal é o único país analisado em que "a percentagem do corte [devido às medidas de austeridade] é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes".
Isto não pode ser.
É inaceitável.
Dizem ali que a «Alemanha apoia cortes violentos em Espanha» ou seja pretende continuar a técnica agressiva e violenta contra certos países.
Mas por outro lado, li há poucos dias que esta mesma Alemanha (e a França), estavam a começar a sentir a perda das mercados que davam como garantidos, os destes países do sul da Europa. Não pode haver sol da eira e água no nabal... A quem vão vender os seus produtos, estes senhores do bloco central europeu? Decerto que não em África, com a miséria que por lá vai [não falo dos africanos super-ricos que esses naturalmente são muito poucos] Também não à Ásia, que produz muito e barato. Duvido que à América... Ou seja se, apertando tanto a tarraxa, bloquearem o consumo dos possíveis compradores europeus, a quem vão vender...?
Interessante, não é?
O mar não pode bater com demasiada força na rocha, porque o mexilhão faz falta.


Pé-de-Cereja