terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Pena de morte


Continua a matar-se «em nome da Justiça» nos Estados Unidos. 
Há alguns dias li por aí uma notícia de que iriam ser executados 3 condenados no mesmo dia. Noticiavam com pormenor cada caso, e sobre um deles contavam que havia dúvidas, como era um doente de cancro em fase terminal, de que encontrassem veias em estado de lhe dar a injecção fatal. Foi há uns dias e não encontro a notícia para deixar aqui o link, mas recordo que fiquei arrepiada com a atitude brutalmente desumana que as  respostas revelavam. Dizia-se, com estas palavras: Doyle Hamm sofre de um cancro no cérebro e outro no sistema linfático e os seus advogados temem que a sua execução por injecção letal se torne uma sessão de tortura. Segundo os causídicos o seu cliente não possui uma rede venosa para a infusão. E a resposta da Justiça (?) de um modo trocista era de que não acreditavam que não houvesse uma veiazinha onde entrasse uma agulha.
Humor.
Infelizmente os 'humoristas' não tiveram razão. Depois de mais de 10 tentativas falhadas, foi necessário suspender a execução. Os carrascos estiveram horas à procura de uma veia. Um espectáculo de horror, por aquilo que se imagina.
Como agora vão procurar outra data, e talvez outro modo de matar, são capazes de ter o problema resolvido por o condenado morrer sem ajuda, um cancro terminal deve ser eficaz.
Como é possível? Como pode o país mais importante do mundo, resistir em manter a pena de morte (pelo menos em alguns Estados) O exemplo do que se passa nos 170 países que aboliram a pena de morte e dos muitos onde já não se pratica e estão a tratar da abolição, não ajuda a perceber que essa medida não serve para dissuadir crimes? E se a intenção não é essa, então para que serve? Como vingança...?
Não se entende. É certo que há crimes horríveis. Também creio que os destes condenados sejam dos mais horríveis que se imagine. E depois? Se não é uma vingança tipo olho-por-olho é o quê?!


Cereja



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Limpeza, higiene, saúde....

Conversa de ontem com uma amiga: "- Continuas com tosse?", "- É verdade. Ando fartíssima, isto pegou e não consigo que passe", "- Eu escapei este ano, nem problemas intestinais, nem gripe, nem coisas de garganta...", "Sorte!!!", "-Não sei se é só sorte, desde há uns tempos que decidi lavar as mãos muito mais vezes e lavo-as sempre que venho para casa, e olha que tenho tido menos chatices..."

Quando eu era criança as pessoas que me educavam pareceriam hoje maníacas da limpeza. E, claro, se pudessem ver o mundo de hoje ficariam estarrecidas com «a porcaria» que viam... Como vivi nos dois mundos posso bem avaliar.
Há países onde se mantém o hábito de tirar os sapatos à porta de casa. Dentro de casa ou se anda descalço ou com sapatilhas que só se usam no interior. Sabemos que isso se faz no Japão, nos países nórdicos, e parece que também em muitas casas da Alemanha, Canadá, China, etc. Um costume que é tradição e faz sentido, mas que nunca se praticou cá.
Voltando aos anos 40, nunca, mas mesmo nunca se provava do prato de outra pessoa ou se bebia um golo da bebida de outrem. Uma coisa que ficava eventualmente no chão ia para lavar. Na minha casa a loiça lavada era no fim escaldada com água a ferver. Lavávamos imenso as mãos. Ora bem, vamos recordar que os antibióticos estavam ainda em estudo, ou seja os contágios eram sérios e podiam até ser fatais. Morria-se muito de tuberculose, havia casos em todas as famílias, e havia a noção que o que estava sujo não era só o que se via, também muito do-que-não-se-via.
Hoje, com sinceridade, creio que os antibióticos nos fizeram abandalhar... É como se o facto de haver cura para as infecções fizesse desprezar completamente o seu risco. Quando ele ainda existe e muito!
A minha amiga diz que agora é um hábito, Entra em casa, despe o casaco, poisa a carteira, e passa pela casa de banho onde lava bem as mãos e as unhas com a escovinha. E, coincidência ou não, desde que o faz tem tido menos doenças. Faz sentido. As nossas mãos na rua tocam em tudo! O corrimão do metro ou o apoio do autocarro, o carrinho do supermercado, o exterior das embalagens de produtos manuseados por imensa gente, o dinheiro que se entrega ou recebe, ou (ainda o dinheiro), as teclas do multibanco onde todos mexem, é evidente que as nossas mãos passam por todo o lado. E não é a porcaria visível que é preocupante porque aí todos nós estamos de acordo em lavar depressa as mãos quando vemos e sentimos que estão sujas, é a tal que não se vê!!!
Voltando agora aos sapatos, também concordo (embora o não faça) que eles deviam ficar à entrada da porta. Claro que se pisarmos uma porcaria na rua, tal como lavamos as mãos se estão visivelmente sujas, também queremos raspar a tal porcaria. Nem me refiro só ao famoso cocó de cão, que faz com que as ruas por vezes nos obriguem a gincanas-a-pé, é também frequente pisar-se coisas na rua que... não gostamos de levar para casa. Mas quando os sapatos parecem ter as solas limpas, todos pensamos que limparmos no tapete da entrada é suficiente. Não chega com certeza.
Pronto, creio que seria uma revolução demasiada para os nossos hábitos essa coisa de tirar os sapatos à entrada, mas isso de começar a lavar mais e melhor as mãos...? 😄
O conselho da minha amiga fez-me pensar.
Porque não?


Cereja

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Bairro

Lisboa é uma cidade grande. Grande para Portugal, claro está, é uma formiguinha ao pé das cidades verdadeiramente grandes, aquelas onde vive tanta gente como no nosso país inteiro. 😉
Mas, à nossa dimensão é grande, maior do que as outras e sobretudo parece maior a quem cai aqui vindo da província e fica com uma sensação de isolamento, de frieza das pessoas, e de que ninguém conhece ninguém nem se importa com isso. E é verdade até certo ponto. Mas o certo é que Lisboa é uma manta de retalhos, um patchwork, um conjunto de bairros que são pequenas comunidades. E as pessoas que vivem alguns anos no mesmo bairro, sem falar nos que já lá nasceram, ou das que chegam e são comunicadoras e sociáveis sabem que são pequenas aldeias. 
O meu bairro tem muito comércio... de bairro! De lugares de hortaliça a farmácia, de cabeleireiro a retrosaria, dezenas de cafés, churrascaria, ourivesarias (!) quiosque de jornais, até uma agência funerária, uma loja de vinhos, oculista, e em tempos havia uma padaria que já fechou. Mas a estrela mais brilhante deste comércio é uma loja de ferragens.
Esta loja tem mais de 50 anos, porque já estava bem enraizada quando eu para cá vim morar. Nessa altura o dono, muito simpático e prestável, atendia bem disposto toda a gente e ajudava as pessoas inexperientes. Conhecíamos também os seus 2 filhos adolescentes que ajudavam o pai na altura das férias.  Actualmente, o sr Porfírio-pai está já reformado, os «porfiriozinhos» adolescentes já grisalhos atendem quem chega, e já vemos um porfírio-neto ao balcão de vez em conta. Um verdadeiro negócio de família que milagrosamente mantêm o sinal de extrema simpatia, e os empregados são do mesmo calibre.
Não conheço nada assim!
Ontem referi aqui um factor S, (S de simpatia) e cada vez é mais evidente que quem o possui tem mais sucesso, ou seja é bom para os outros mas também é bom para si mesmo...
Como expliquei, na minha zona há muito e variado comércio. E, já há uns tempos, abriu um bocado mais acima uma outra loja de ferragens. Talvez tivessem feito uma prospecção de mercado e de facto a loja de que falo está sempre a abarrotar, desde há uns tempos até têm uma máquina de senhas para não haver questões sobre quem chega primeiro! E não tem grande aparência: é um corredor comprido ao longo do balcão, apinhado de tralhas, nem tem espaço para ter as coisas necessárias à vista.
A loja-concorrente é uma beleza, vê-se tudo da rua pela montra enorme, muito arranjada, impecável. E vê-se tudo porque está sempre às moscas. Nem sei como não fechou porque nunca lá vejo ninguém, será que vende pela internet?! É um contraste espantoso, uma apinhada permanentemente e a outra completamente vazia.
Factor S! Como é possível, com tanta gente eles darem a entender que têm todo o tempo para nos explicar as coisas que perguntamos - e perguntamos imenso! Como se usa isto, para que serve aquilo, se para este efeito é melhor isto ou aquilo. Têm a linguagem técnica para os profissionais, mas usam também os termos que uma dona de casa pode perceber. 😮
Ontem fui lá saber os preços de um candeeiro; o empregado mostrou vários, apontou qualidades e defeitos e, até perante a indecisão, tirou-o da caixa e improvisou uma ligação com uns fios para eu ver o efeito dele ligado. O que querem? Trouxe-o, é claro! Aliás se depois não gostar volto, a levá-lo. Sou a vizinha...

Cereja

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O factor S

Num filme italiano já com alguns anos de que gostei muito, chamado A Melhor Juventude, um dos irmãos protagonistas, estudava medicina, queria ser médico. Ele era excelente mas havia no seu curso colegas ainda melhores. Na disputa de uma bolsa creio eu, ele venceu com alguma surpresa de quem se achava melhor aluno. O professor explicou-lhe que, não sendo o melhor, tinha ganho pelo factor S. Factor S??? Simpatia, explicou o professor. Ele tinha o dom de se aproximar dos doentes, de considerar a perspectiva deles, e isso era uma mais valia na sua profissão.
Faz sentido. Há profissões onde é indiferente a relação com o cliente, e outras onde é logo meio caminho andado. Mas há também muita gente que é fria, distante, longe daquilo que não lhes diz directamente respeito.
A ausência completa de empatia, já é raro, e pode ser um transtorno de personalidade. O termo psicopata é muito forte, mas será isso em limite: uma ausência de culpa, remorso, vergonha.
De uma forma geral, quem tem esse transtorno não o reconhece, como é natural. Nem precisa de nenhuma ajuda para o disfarçar, claro. Mas vamos imaginar, por absurdo, que uma criatura dessas atingia um cargo de enorme responsabilidade, seria responsável por milhões de seres humanos. Assustador, claro. E seria chocante que o mundo percebesse isso, portanto teria de se disfarçar. Talvez um «lembretezinho»....

A cábula de Trump

Ora bem, pelos vistos o Presidente do país mais importante do Mundo, tem de se recordar quando está a falar em público, ou a responder a perguntas, de que deve sentir simpatia, que os outros gostam de ser ouvidos, que têm os seus interesses próprios, que ele até pode fazer qualquer coisa para os ajudar, enfim que existem independentemente do senhor presidente...
Julguei que era uma montagem, e disseram-me que não.
Mas mesmo que o seja, o pior é que isto é verdade!
Aquela criatura com um poder desmesurado porque faz o que quer mesmo para além do que lhe aconselham (quem ele convidou para o aconselhar...) e se não gosta do que o aconselham simplesmente põe-nos na rua, é incapaz de sentir simpatia, o factor S, tão importante, é inexistente..
Quem nos acode!

Cereja

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Figuras públicas

Creio que sempre assim foi. Alguém, que por qualquer aspecto se distingue, passa a ter os olhares anónimos fixos em si e qualquer gesto que faça é visto com uma lente e ampliado. Seriam os Reis e o  Clero na Idade Média, e hoje em dia os very important person e a lente de ampliar é a Comunicação Social. Os mais espiolhados são os políticos, como é fácil de imaginar. Portanto, imagino que seja um trabalho difícil estar permanentemente alerta para não fazer nada que possa ser mal entendido.
Este fim-de-semana foi está a decorrer o Congresso do PSD. Um dos dois maiores Partidos portugueses. Com imensos telhados de vidro, e de quem se diz que é um saco de lacraus... Disseram-se lá coisas espantosas por aquilo que li por aí, tal como:


O Congresso foi para consagrar a eleição de Rio Rio. Não conheço o senhor. Talvez "conheça" melhor o adversário Santana Lopes, afinal sempre foi 1º ministro... Mas, com esta posição de destaque, aparecem alguns traços da sua personalidade, e algumas atitudes chocantes. Se calhar na altura não pensava que as coisas ficassem gravadas para sempre. 
Por exemplo esta história:
Há imagens que não se esquecem e que definem as pessoas. Uma delas é a de Rui Rio num barco, no Rio Douro, a abrir uma garrafa de champanhe com os seus convivas enquanto assiste à demolição de uma das torres do Bairro do Aleixo. No bairro – sei-o porque estava lá – o clima era de desespero, com um enorme aparato policial montado, mulheres que gritavam de raiva ao ver a sua casa ser implodida, homens a chorar junto ao gradeado enquanto o pó dos destroços se espalhava, crianças atónitas junto ao lugar onde até há poucos dias brincavam e que parecia, agora, um cenário de guerra. Se acaso a demolição daquelas torres tivesse sido negociada com a população, talvez um Presidente da Câmara estivesse junto aos moradores naquele momento, de consciência tranquila por ter cumprido o seu dever e garantido uma alternativa para a vida daquela gente. Se não fosse esse o caso, uma pessoa normal que tivesse tomado convictamente aquela decisão teria ao menos o pudor de se remeter ao silêncio perante o sofrimento dos outros. Rui Rio não fez uma coisa nem outra. Foi para a frente do bairro, no aconchego de um barco no meio do rio, juntou os amigos e celebrou, frente aos cidadãos desesperados da sua cidade, o momento em que as suas casas a vinham a baixo. Perante o sofrimento dos outros, Rui Rio sorriu e brindou.
Pronto.
Na altura ele era Presidente da Câmara. E a atitude foi esta. Se alguma vez for 1º ministro decerto dirá a quem se queixa que não seja «piegas», e responderá como o Ulrich «ai aguentam, aguentam...» se lhe disserem que as pessoas não aguentam mais austeridade.

Ficamos com medo.

Cereja

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

New age

Tenho andado a remoer sobre uma situação estranha que me deixa cheia de dúvidas sobre os limites das nossas convicções e até se pode considerar que essas convicções podem ir.
A história é a seguinte:
Uma pessoa que eu até conheci muito novinha mas como isso foi já há bastante tempo agora já deve contar mais de 50 anos, teve uma evolução curiosa. Era uma pessoa bem integrada socialmente, activa na sua profissão da área da educação, casou, teve um filho, foi promovida, tinha amigos, e embora eu passasse muito tempo sem a ver o que ia sabendo dela era no sentido de que estava bem e sem qualquer problema. Separou-se do companheiro ficando a viver com o filho, que entretanto também se tornou independente. Uma família afectuosa, uns pais impecáveis, cultos, inteligentes, tolerantes, uma irmã com um feitio diferente mas com quem tinha apenas 'os conflitos de irmãos'.
Víamo-nos aí uma vez por ano, e na última vez achei-a com algumas manias. A mãe disse-me que não a percebia ultimamente, tinha ido viver para longe numa espécie de volta-à-Natureza, e ria-se achando tudo aquilo uma maluquice.
Nessa noite conversei um pouco com ela e também fiquei admirada, pregou-me as vantagens de uma vida pura, sem nada de civilizado, nem água canalizada, nem electricidade, nem nenhum conforto moderno. Tinha comprado ou alugado uma quinta no Portugal Profundo longe de tudo, tinha uns convidados, comiam o que a terra dava, bebiam água do poço, nem sei se teciam a sua roupa. E meditavam imenso. As doenças tratava-as com cristais e pedras semi-preciosas: ágata, água-marinha, âmbar, ametista... etc, (são imensas) que tinham propriedades fabulosas. Não prolonguei a conversa convencida de que aquilo lhe ia passar... Encolhi os ombros pensando «maluquices da new age» (que de new não tem nada!)
Passaram-se alguns anos, o pai faleceu e a mãe está agora internada com umas das doenças neurológicas da idade. E contaram-me que ela se propõe raptar a mãe para a levar para o seu paraíso, coisa a que todos os médicos se opõem.
Compreendo que para uma fanática sincera seja uma decisão correcta. Mas tem de haver limites. Que ela acredite que está cheia de saúde devido aos seus cristais e vida saudável, é lá com ela e ainda bem. Mas forçar uma senhora de cerca de 90 anos a partilhar essa vida?! É essa linha divisória que não deve poder ser transposta.

Acho eu.



Cereja

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O monstro branco

Também podia ter chamado a esta história «Ganância injustificada». Porque é uma história que se repete constantemente quer em meios grandes quer em aldeias como aquela de que vou falar. Não é exactamente a fábula do quem tudo quer tudo perde, mas faz lembrar.
A aldeia onde tenho uma pequenina casa, situa-se naquilo a que se chama «área de paisagem protegida». Não é preciso explicação para se perceber que o que lá está não deve ser modificado, e o que for acrescentado deve obedecer a normas muito definidas.
Mas, coisas estranhas se passam nas nossas autarquias, e depois não se estranhe que tenham certa fama. Há regras e... regras.
Conheço pessoalmente quem tenha comprado aqui casa e não tivesse podido alterar nem um prego. A cor da pintura era determinada, branca o que é lógico, mas até mesmo a barra de cor junto ao chão e rodeando as janelas estava definida e seria cinzenta o que já não é tão lógico. Um pouco mais longe o vizinho pintou a casa amarelo gema de ovo, não sei se pagando alguma multa, e lá está a ver-se ao longe.
Esta história tem decerto a ver com a Câmara ter fechado os olhos às suas  próprias regras, mas neste caso parece que isso trouxe azar.
Havia há anos, numa rua pequenina e sem saída para carros, uma zona entre duas casas com uma arrecadaçãozinha. Tão pequenita que uns amigos meus até pensaram em comprar aquele espaço para fazer uma garagem onde pudessem estacionar o carro, coisa muito difícil naquela rua...
Passou-se tempo, aquilo foi vendido, mas esteve em pousio ainda uns tempos (anos?) até que finalmente iniciaram uma construção. Ficamos interessados. O que iriam fazer ali? As casas da rua eram moradias térreas, rés do chão e sótão, ou um discreto primeiro andar.
Quando lá voltei abri a boca de espanto: além da estrutura do rés do chão e de um primeiro andar, que já ultrapassava a altura dos vizinhos, os andaimes seguiam para um segundo andar e ameaçavam chegar a um terceiro. Chamava a atenção ao longe, uma girafa num rebanho de carneiros 😊.
Aquilo não tinha a ver com nada, tirava a vista aos vizinhos além de ser muito feio. Era possível? De quem era o terreno, quisemos saber. A proprietária não vivia lá. Aquela coisa continuava a crescer e a determinada altura, parou. Fui espreitar, e tal como se imaginava cada piso dava apenas para uma divisão, era uma torre difícil de transformar em habitação.
A satisfação de se saber que tinha sido embargado foi murchando, ao ver-se que esse tal embargo tinha simplesmente feito que abandonassem aquilo ao seu destino. Aquelas ruínas de 3 pisos, ficaram assim quase 20 anos. Custa acreditar, mas é como estou a contar.
Certo dia, a bela o monstro adormecida/o acordou.
Diminui-se um andar, acelerou-se o processo, e finalmente ficou pronto. Mas.... surpresa! Depois de pronto, numa zona de paisagem protegida, aparece um edifício de linhas super-modernas. É bonito, eu até fantasio que numa faculdade de arquitectura um professor tivesse dado este problema a resolver como trabalho de fim de curso: "como aproveitar da melhor maneira 10 metros quadrados de terreno". Na maquete ficou giro. 
Na realidade é um monstro, o monstro branco, é todo branco sem telhado e cheio de janelas panorâmicas. Reafirmo que é uma construção interessante, mas... não ali! E aquilo deve deve sofrer da maldição da múmia ou qualquer bruxedo sério. É que estando pronto e acabado e mobilado requintadamente, ninguém lá vive!!! Às vezes pára ali um carro e vão visitar a casa. Até já lá têem ficado uma noite de vez em quando, sempre pessoas diferentes, mas há uns 5 anos que pronto e acabado continua desabitado! É maldição. E é bem feito. Tantas regras e leis não cumpridas, para terem uma casa fantasma.


domingo, 11 de fevereiro de 2018

Empatas e egoistas


O respeitinho pela propriedade privada é muito bonito.
E quando o desleixo ou egoísmo ou seja lá o que for prejudica os direitos de muita gente?
Aqui há uns tempos, 2 ou 3 anos, ruiu um muro de uma quinta para dentro de uma estrada. Era uma estrada pacata, que ligava uma aldeia a uma outra estrada mais importante e daí a uma vila que tinha tudo o que esta aldeia não tinha. O trânsito naquela estrada foi interrompido. Normal. Era necessário reconstruir  o muro.
O que não foi normal é que aquela «reconstrução» demorasse uns dois anos. Valha-me Deus, não era a muralha de China, eram 2 ou 3 metros de um muro normalíssimo. A tal quinta era propriedade de um senhor mais ou menos VIP e vigarista certificado ( não é má vontade minha, foi mesmo condenado) que se devia estar bem ralando para o prejuízo dos utilizadores da estrada e ia  deixando passar o tempo. É certo que havia um itinerário alternativo, outra estrada ainda mais manhosa e que tinha um percurso 4 vezes maior!!! Quando se decidiu arranjar o muro, levou aí uns 8 dias, creio eu.
Mas esta zona é amaldiçoada quanto a muros, pelos vistos.
Há já uns dois meses ou mais, que caiu um outro muro numa estrada desta vez com muito movimento. O muro limitava uma propriedade situada mais abaixo do que a estrada, e portanto caiu para dentro do terreno, não bloqueia a estrada, mas... Aquele ponto da estrada sem muro fica um perigo porque carro que se chegue um pouco mais para a direita pode cair por ali abaixo. A autarquia, cuidadosa, bloqueou aquele troço de estrada e instalou uns semáforos portáteis  (?) tornando a circulação alternada e mais segura. Até aqui muito bem.
Críticas: a) Aquilo está naquele preparo há meses, e não se vê o mais pequeno sinal de que se esteja a preparar o arranjo do muro. Nada. Com a agravante de que desta vez é uma estrada que dá acesso a Sintra, com muito trânsito ao início e final do dia ou fins de semana, e são centenas de pessoas prejudicadas. Eu própria já cheguei a estar um quarto de hora para tentar atravessar aquele troçozinho. b) Os semáforos foram programados sem análise nenhuma da situação. Contam sempre o mesmo tempo para os 2 lados, quando obviamente que a afluência de manhã é no sentido oposto à da tarde, criando filas enormes numa direcção e nenhum carro na direcção  oposta!
Não sei nada de leis. Sei que há países (nórdicos) onde não se encontram ruínas porque quem tenha uma casa abandonada perde o direito a ela. Não seria de propor uma norma que, num caso como este que prejudica tanta gente, a autarquia fizesse a obra necessária e enviasse a conta ao proprietário?! A quinta é dele? Ai, pois é, mas a estrada é de todos e todos temos o direito de viajar nela!!!
Não faço a menor ideia do que estes senhores alegam para estar meses ou anos sem reparar a sua propriedade, mas é um grande egoísmo.
Devia haver maneira de pôr termo a isso.


Cereja

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Indiferença


Ensinar um sentimento...? Não percebo bem como é que se faz, mas é claro que falar e treinar para nos colocarmos no lugar dos outros é importantíssimo.
Nos anos que passei no Oriente, observando diversos comportamentos conclui por um estereotipo: os chineses são socialmente insensíveis às desgraças alheias. Por contraposição ao que acreditava se passar nos países de orientação judaico-cristã onde a compaixão era uma virtude. Aliás por experiência própria, alguns acidentes que tive na rua fui de imediato socorrida a ajudada por quem passava, e cuidei que era sempre assim.

Mas ontem esta visão desmoronou-se! Assisti a algo de horrível.
Era cerca de meio-dia e meia hora. Estação de metro do Oriente. Cais com gente, embora não apinhado. Assim que lá chego chama-me de imediato a atenção uma criatura, que oscilava e cambaleava no meio do cais, aspecto de sem-abrigo, não lhe conseguia ver a cara porque caminhava (?) tão dobrado que a cabeça quase lhe batia nos joelhos. Obviamente que naquela posição não podia ver por onde andava nem em que direcção seguia. Fiquei assustada porque o velho que cambaleava imenso podia cair sem amparo, e aproximei-me a perguntar se se sentia mal. Notava-se então que tinha a mão a fazer concha, no gesto clássico do pedido de esmola. 
Insisti, levantando a voz, «sente-se mal? é melhor sentar-se um pouco» mas não se via um lugar onde o velho se pudesse sentar e ninguém se levantava. Insisti, tentando empurrá-lo para as escadas onde talvez se pudesse sentar, mas sou pequena não tinha força para o levar e todos desviavam os olhos. Ainda tirei o porta-moedas para confirmar o que já sabia, tinha gasto todos os trocos num café e não trazia mais nenhum dinheiro, nem uma nota pequena. Ele escapou-se de ao pé de mim, e continuou naquela posição assustadora, não reparando por onde andava, e mesmo junto à beira do cais!!! Voltei a apelar a quem desviava os olhos «Não podem ajudar este homem? Esta estação não tem  um segurança?»  e a única resposta foi uma mulher de meia idade, que me disse «Ele quer dinheiro, não vê?» e outra «Está é bêbado...»
Era tudo verdade. Devia estar bêbado porque o cheiro a álcool era bem forte, e claro que queria dinheiro. E isso justificava que se desviasse os olhos quando o desgraçado até podia cair à linha?!
Continuei a insistir em voz alta «Não há nenhum segurança? Não se pode chama um?» e acredito que a minha voz mostrasse bem a minha preocupação, mas a indiferença era geral.

Chegou o comboio do metro e, cobardemente, entrei nele fugindo. Derrotada. Envergonhada. 
Como não ouvi falar de nenhum acidente de metro, concluo que o meu terror de uma queda para a linha não se realizou, mas como é possível tanta indiferença?!



Cereja

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Crianças

Encontrei este vídeo (como se encontra quase tudo!) numa rede social.
Não sei uma palavra de alemão, enfim saberei meia dúzia como toda a gente, mas há 'tradutores' que ajudam e portanto o diálogo segue por baixo



- Mamã, posso comer esta maçã? 
- Não, é uma cebola. 
- É uma maçã! 
- É uma cebola! 
- É uma maçã!!! 
- Se insistes, come-a. 
(prefiro ser morto do que admitir o meu erro)

Ora bem, como vi isto numa rede social guardei esta nota aqui para o blog, muito mais privado, porque não ia expor uma fraqueza aos duzentos e tal «amigos» do meu facebook.
É que esta história fez-me lembrar uma outra, vivida por mim com um pouco mais do que esta idade, mas não muito mais.
Tinha acompanhado o meu pai ao café.
Devia ser Verão, recordo que estava quente e até me lembro de que levava um vestido de organdi com pintinhas vermelhas. O meu pai sentou-se e pediu uma cerveja. Quando o empregado a trouxe fiquei encantada com o copo com uma bebida linda, doirada, com bolinhas a borbulhar. Aquilo tinha de ser muito bom!!!
Quis logo uma igual para mim!
- Ná! - informou o meu pai - isto não é para meninas, isto é cerveja.
- Mas eu gosto muito!
- Não gostas nada.
- Gosto sim senhor!
- Não gostas e faz mal...
- Não pode fazer mal, é muito bonito e muito bom.
- Mas sabe mal, é amargo.
- Não é nada!
..........................
Resumindo, tal como a criancinha alemã, cá a je, ganhou a luta e lá veio um copo de cerveja para mim. Apanhei uma troca de olhares entre o meu pai e o empregado que me deixou um pouco desconfiada. E assim que dei o primeiro golo, vi que estavam já a começar a rir...
Pois bem, tal como o menino ali de cima, não dei parte de fraca e embora fosse uma grande desilusão, não tirei o copo da boca e bebi até ao fim mesmo sem deixar que me interrompessem ...
Do resto não me lembro. Reza a crónica familiar que fui para casa ao colo, porque fiquei quase logo a dormir. 
É que uma pessoa sentir-se gozada, mesmo que só tenha um palmo e meio, não se aceita e pronto! Temos o nosso orgulho.

Cereja