domingo, 17 de maio de 2015

Evolução dos costumes


Tenho a certeza de que quem tem hoje 30 anos ou menos, não imagina a abissal diferença da vida familiar hoje e a que se vivia há uns 50 anos, para não falar da do tempo dos seus avós, em meados do século passado (não foi assim há tanto tempo!)
A separação rigorosa entre os papeis feminino e masculino numa família era uma regra absoluta. Se a separação 'mundo doméstico' e 'mundo do trabalho' não era absoluta, seria porque muitas mulheres abraçavam já os dois mundos. Nunca era porque os homens de algum modo partilhassem o 'mundo doméstico' - qualquer homem, do trabalhador rural ao trabalhador intelectual, considerava que a casa-era-da-mulher. Ponto final. E aliás as mulheres também o consideravam... muitas vezes enxotavam os homens para a sala, para não atrapalhar, que a 'ajuda' não era nenhuma.
Quanto aos filhos, enquanto eram pequeninos também pertenciam ao mundo feminino, e nem se imaginava que assim não fosse. Mesmo os pais mais carinhosos, mais atentos, ficavam paralisados perante um bebé, sem saber o que fazer, claramente desajeitados quando ia além de lhe pegar um pouco ao colo.
Sabemos como hoje isso está tão diferente. Qualquer jovem pai é capaz de tomar conta do seu bebé e até gosta de o fazer. Uma reviravolta completa!
Mas mesmo assim, ainda nos surpreende a imagem de um professor que perante o choro de um bebé que a mãe tinha levado para a sala de aula, lhe pega, consegue acalmá-lo e prossegue uma aula com ele ao colo!!
Uma história completamente inimaginável no tempo dos meus pais. Era verdadeiramente ficção científica!



Cereja

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Orthographia



Ortografias...
Era pequenita quando se fez a Reforma o Acordo Ortográfico de 45. Coisa falhada, porque como o Brasil não aderiu, não houve nenhum 'acordo'... Eu ainda não sabia ler, mas ouvi algumas discussões em casa, porque a minha família era muito virada às letras e tinha um avô escritor que criticou fortemente as mudanças por causa da etimologia das palavras - aliás estava muito zangado que o latim saísse do programa do liceu porque se perdia o conhecimento da raiz da palavra! 
Mas, talvez pelo grande analfabetismo existente, não recordo que aquela mudança causasse nenhuma agitação  (nem o governo o permitiria, claro está!) E, como a biblioteca da minha família era grande e antiga, já depois de saber ler li muitos livros cheios de letras duplas e muitos ph. Pensava eu que separava bem o trigo do joio, a escrita antiga da moderna, via-se logo achava eu - hmmm... talvez assim não fosse. 
Há uns anos foi decidido fazer um novo Acordo Ortográfico.
Não se entendeu nem foi explicada a necessidade disso. É sabido que as línguas europeias mais faladas no mundo - inglês e francês - mantêm uma ortografia bem antiga, recheada de letras mudas, ou que se pronunciam de forma diferente, e isso não impede o seu domínio mundial... Adiante.
Como disse, a coisa foi muito mal explicada de início e, após uns anos onde continuaram sem explicar nada, agora decidiram aplicá-lo. Anda a cair o Carmo e a Trindade!!! Não se pode aceder à Comunicação Social, nem redes sociais sem sermos atingidos por um projéctil dessa guerra, e quem procurar honestamente informação não o consegue. OK, consegue se fôr à origem o que aconselho vivamente. A verdade é que me andam a desgostar os 'argumentos' (?) usados pelo grupo do Contra (onde de início até me situava) porque parece valer tudo, até descaradas mentiras. Claro que uma piada é uma piada, mas circularem frases inteiras com palavras supostamente obrigatórias segundo o dito «acordo» onde é tudo falso, incomoda-me. Não é honesto.
Não sei ainda onde me situo. Vou continuar a escrever como aprendi depois de 45, e tentar habituar-me a ler esta nova linguagem onde vai decerto haver muitas confusões sobretudo pela saída dos acentos. Contudo, sempre existiram palavras homógrafas e homófonas e sabíamos distingui-las... Calma, por favor!
Na cozinha da minha avó havia uma lata que dizia «assucar», (eu ainda tenho essa lata, mas...na sala, como 'antiguidade'!) e quando lia Eça ou Camilo, percebia bem o que era pae, ou Egypto, ou creança, ou archictectura, ou asylo, ou auctor, ou grammática, ou dansa, ou gymnasio...
Pronto, é certo que aprendi as regras de 45. Uma razia das letras duplas que na época (epocha) tiveram mais compreensão (ou comprehensão?) do que hoje parece haver... 





Hoje fico por aqui, mas parece-me que ainda volto ao assunto!

Cereja

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Depressa, depressa, depressa, depressa....!

Actualmente, dizem as estatísticas e o mais elementar sentido de observação, a nossa população é bem mais velha. Nos transportes, nas ruas, nas lojas, até nos desfiles de manifestações, vemos sobretudo pessoas de cabelos brancos e cara a condizer...
Ora a idade dá conhecimento, muita vivência, maior cultura geral, mas retira rapidez de reflexos na grande parte dos casos. Nós [claro que faço parte desse grupo] somos mais lentos, menos ágeis, quer do ponto de vista  motor quer de rapidez de resposta, quando falta a palavra, oh que raiva!
Por outro lado, com o óbvio motivo de reduzir pessoal, muitas empresas substituem as pessoas que atendem por máquinas, o que nos obriga a adaptar a tecnologias nem sempre fáceis, e exigem muita rapidez a quem inevitavelmente tem de atender o público.
Reparem num operador de caixa de um supermercado. Tem à sua frente uma bicha de pessoas bem razoável (até porque se houver poucos clientes em duas caixas, fecha-se uma e o operador vai fazer outro trabalho dentro da loja) e tem de dar andamento àquilo. Portanto, pega nos objectos que passa pelo leitor de códigos o mais depressa que consegue, faz a leitura, põe de lado, pergunta se queremos o nº de contribuite no talão, imprime o talão, recebe o dinheiro e passa ao seguinte. Sem parar, sem parar, sem parar...
Acontece que como a operação de colocar as compras em sacos compete ao comprador e nem sempre é muito rápida, a coisa está sempre a «engarrafar». E o comprador a sentir-se envergonhado, porque todos olham para ele como um empata! Claro que o seguinte também empata, que a coisa é igual para todos.
Isto é mais evidente quando ao frenesim de rapidez do operador de caixa se junta a dificuldade de um comprador mais idoso e menos despachado.
Ontem fiz uma experiência. Por um acaso levava no bolso um contador de minutos, daqueles de cozinha. E tinha reparado que a fila onde eu estava «engarrafava» muitas vezes. Quando a senhora antes de mim começou a ser atendida, carreguei no conta-minutos e travei-o quando as compras estavam já do outro lado da barricada. Conta-minutos? Ná, conta-segundos. Aquela operação levou 27 segundos. Foi um pacote de manteiga, uma embalagem de pão, meia dúzia de ovos, fiambre, pilhas eléctricas, iogurtes, champô, um sabonete. Deve estar a escapar-me qualquer coisa porque eram 10 produtos, que foram passados pelo leitor do código de barras em menos de 30 segundos! Claro que a senhora, já idosa e menos despachada, levou algum tempo a acondicionar aquilo no saco que trazia. Depois fazer o pagamento, receber o troco, também levou tempo... Isto enquanto a fila se impacientava, porque se a menina da caixa estava parada sem fazer nada a culpa tinha de ser da cliente!
É vexatório. É irritante. Mas decerto que quem está na caixa deve receber instruções para ser rápida, para aproveitarem o seu trabalho o mais possível, cada segundo conta. Por outro lado os clientes querem ser atendidos depressa, claro. Mas, a solução óbvia que era ter mais caixas abertas, implicaria mais postos de trabalho, o que não interessa nada aos patrões aos empregadores. Portanto cria-se esse ambiente de stress que todos conhecemos.

PS - Já agora, se nos grandes supermercados há (e muito bem!) caixas prioritárias para pessoas com crianças e deficientes motores, porque não acrescentar os idosos?!


Cereja