quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Livros (importantes)

Passear na net é um desporto que pratico irregularmente. De vez em quando dá-me um amok e passo umas horas saltando de link em link (como o tal elefante de nenúfer em nenúfar...) e descobrindo coisas novas. Sobretudo o twitter a que aderi há uns tempo e pratico quase que só como bisbilhoteira, sem participar lá muito, vai-me dando imensas sugestões.
Ontem encontrei num blog de um amigo virtual que conheço através de outro amigo virtual que conheço através de outro amigo virtual – e fico por aqui para resumir a história – uma rubrica muito interessante.
Chama a atenção, não é?
Adivinhamos logo que não é o que parece. O verdadeiro livro que-não-se-devia-ter-lido simplesmente esquece-se, ou deixa-se a meio. Aquele que por qualquer forma nos incomoda, deve ser lido. Mesmo que seja para o contradizer.
Evidentemente que o que o autor quer dizer é que se trata de livros que não esquecemos, que nos marcaram de qualquer modo, que até influenciaram a nossa vida.
E é muito interessante a lista que por lá aparece, de Musil a Kafka, de Shakespeare a Virgílio Ferreira, livros que vão das Mil e uma Noites ao Principezinho. E, sobretudo o interessante é que se fala não apenas do romance em si mas da forma como o leitor «encontrou» o livro e o efeito que lhe causou.
Gostei muito da ideia.
E inevitavelmente que começo a pensar nos «meus livros». É interessante reparar como ao longo da vida tantos houve que foram muito importantes mas depois se desvaneceram... Sorrio ao pensar que talvez o mais importante ( e aquele que devia mesmo ter lido!!!) foi o primeiro de todos. O primeiro livro que li sozinha, chamava-se «A burrinha toleirona» da colecção Joaninha, uns livros pequeninos de uns 10 centímetros de altura. Na adolescência adorei um romance que as raparigas da minha época liam, «O Romance de Isabel». Ao entrar na faculdade Sartre e sobretudo Simone de Beauvoir e Os mandarins que (creio) decidiram a minha escolha profissional.
De facto os livros que não devia ter lido, que em grande parte alteraram a minha vida, são vários. E ainda os que gostei simplesmente porque gostei. Porque estão bem escritos. Porque o tema é importante. Porque as emoções que descrevem são as que também sinto. Porque são um desafio à imaginação. Porque os li no momento certo.
Porque... porque... porque...
Eu sei lá porque é que se gosta de um livro. Nem sei também porque os guardo religiosamente cobrindo as paredes até ao tecto e enchendo-se de pó. Mas é o meu passado, e quem deita fóra o passado?...





Cereja-com-pé

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

No lugar do outro

Havia uma historiazinha que ouvi contar quando era pequena e a que sempre achei graça por ser muito clara. Tratava-se de dois irmãos que andavam à bulha, ciumentos, queixando-se de que ao dividir um doce cada um deles se sentia prejudicado em benefício do irmão. O pai, zangado, tomou uma decisão um tanto 'salomónica' - a partir daí, um deles ficava com a faca para cortar o bolo e o outro escolhia primeiro o bocado que queria... Imagina-se que dali em diante os bocados eram o mais iguais que era possível.
Esta história ingénua ocorre-me muitas vezes quando vejo a dificuldade que existe em nos conseguirmos colocar no lugar do outro, em imaginar que a vida dê uma cambalhota e haja uma alteração de papeis. Claro que é preciso imaginação em certos casos, mas não muita.
Impacientes na bicha de um supermercado e a achar que a menina da caixa é uma atarantada e não despacha o serviço. E, se por um truque de magia, aparecêssemos sentados atrás de um tapete cheio de produtos, a deslizar rapidamente, e a olhar para uma colecção de clientes mal-encarados e cheios de pressa?... Ah, que nervos. Ou, a nossa chefe mudou a hora de uma reunião o que nos faz diferença e consideramos isso uma prepotência e ela uma bruxa malvada. Se, magicamente, mudássemos de lugar, talvez olhássemos para a sua nossa agenda vendo que as pessoas que coordenávamos (nós afinal) se tinham atrasado a fornecer uns dados indispensáveis. Que raiva, a reunião vai ter de ser mais tarde!
Onde essa troca de papeis é mais evidente e devia ser mais fácil até, é em certas decisões políticas. Como se sabe o regime democrático ensina-nos que o poder é transitório. Quem o assume é porque recebeu mais votos, mas nada diz (até pelo contrário) que da próxima vez não seja o seu adversário a ganhar e quem tem o poder no momento não se veja relegado para a oposição dentro de algum tempo. Ou seja, teria toda a vantagem em cortar o bolo direitinho como o irmão da história.
O parlamento madeirense tomou uma decisão assombrosa do ponto de vista democrático: um deputado vai poder votar por outros e assim assegura que «nunca tem surpresas» como ingenuamente foi explicado.
É evidente que esta esperteza saloia teve repercussões. Anda por aí um burburinho incrível e se calhar ainda é pouco. Mas o que me faz pensar é que estes senhores inventaram esta espantosa ideia sem lhes passar pela cabeça que afinal esta sua maioria de 2 votos pode passar para outras mãos... e aí bem podem espernear e fazer uma grande birra, mas «a outra maioria» que não a deles pode ficar com uma arma na mão.
É anti-democrático? Ah pois é!




Pé-de-Cereja

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ri que logo choras

A Espanha foi a votos.
Sem qualquer surpresa ganhou «a oposição ao governo que lá estava». As coisas andavam mal, portanto tem de se mudar. Faz sentido. Os países que têm estado debaixo do fogo dos «mercados» têm mudado de chefes de governo com eleições ou sem elas (como foi na Itália onde aquele desgraçado devia ter saído há muito mas não para obedecer às 'troikas') É um desabafo que a democracia tem, estes 'portaram-se mal, que venham outros' como já se vislumbra até em França onde o Sarkozy estaria agora periclitante se houvesse eleições.
Portanto os espanhóis votaram, e elegeram o PP para conduzir o país.
Coitadinhos.
............................
É que a gente conhece o filme.
Imagina-se que se está a escolher o mal menor. Claro que nestes casos não há mal menor, e muitas vezes salta-se da frigideira para o lume.
Uma imagem que recordo por vezes é a de uma mulher festejando, radiante, nas nossas últimas eleições a vitória de Passos Coelho. Agitava uma bandeira e toda ela era riso. O repórter apresentou-lhe o microfone e quis saber o que pensava ela daquele resultado e a resposta foi dada num tom de voz eufórico «Agora sim! O meu filho já não precisa de emigrar!!!» Imagino a sua expressão quatro meses mais tarde, quando um próprio membro do governo sugere como uma boa escolha a imigração...
Quem não tinha ilusões, também sofre é evidente.
Mas quem espera que a mudança seja para melhor, sofre duplamente. Pela realidade e pela desilusão.
Coitadinhos dos espanhóis.
do Kaos


Pé-de-Cereja

domingo, 20 de novembro de 2011

Salvem-me das tecnologias!!!

Uma história:
Eu tinha um relógio eléctrico na mesinha de cabeceira.
Já tinha uns anitos. Bom, quero dizer, já tinha mui-tos anos. Muitos, muitos. Um dinossauro dos relógios. Mas funcionava bem e dava-me segurança - durante a noite ao virar-me na cama, mesmo abrindo só um olho, via logo as horas e, tranquilamente, sabendo que ainda faltava bastante para ser manhã, continuava a dormir.
Bom. Tadinho, a semana passada deu-lhe o tranglomango e exalou o seu último suspiro. De velhice, creio eu. Nem pensei que valesse a pena arranjá-lo, se é que aquilo tem tinha arranjo...
Pronto. Tinha a ideia que era um electrodoméstico (?) barato e pus-me em campo para comprar outro. Primeira surpresa, afinal já não é tão barato como aquilo que eu recordava. Houve «a» crise, a subida do iva, e mais isto e mais aquilo e, resumindo, custam mais três vezes do que imaginava. Mas, adiante. Lá fui comprar um, bem bonito, que me seduziu também porque quando o vi na prateleira da loja reparei que a hora se via também projectada no tecto. Prático. Nem precisava de me virar na cama para saber as horas, só abrir meio olho e olhar para cima...
Chego casa, coloco-o na mesa de cabeceira, ligo à corrente e, animada, preparo-me para acertar as horas. Ná! Isso era dantes, agora é tudo automático, há um um sensor (não sei se é assim que se chama) e temos de esperar que esse sensor encontre 'um sinal' dizem que de Grennwich  e depois desata sozinho a procurar a hora certa. Parece que tem vida própria. Ui, que susto. Até me afasto um pouco para o deixar à vontade! Mas não lhe devo ter explicado bem que estava em Portugal e a hora que ele escolheu não era exactamente a hora de Lisboa. Não servia. Só que sua excelência o não-me-toques não aceitava ser accionado à mão. Foi uma luta terrível e acabou por ficar um tanto às 3 pancadas. E ainda por cima, a tal projecção no tecto só consegui que aparecesse se lhe desse uma palmadinha no cucuruto e, claro, para isso tinha de estar acordada. Uma frustração.
No dia seguinte voltei ao lugar da compra. Contei as minhas dificuldades a um vendedor que atenciosamente me explicou os passos necessários (e complicados, continuo a achar) ao bom funcionamento, mas acrescentou que eu tinha um mês para o devolver se o não quisesse. Oooooh! Tinha-me esquecido dessa hipótese.
É que foi logo! De imediato. Saí de lá com o modelo mais simples que encontrei. E, aqui para nós, ainda é demasiado sofisticado, tem várias funcionalidades que não me servem para nada.
Ando cheia de saudades do tal dinossauro que simplesmente marcava as horas e despertava quando eu mandava. Sniff...




O futuro?... Ai, ai, ai!

Pé-de-Cereja

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Quando algo corre bem....

Um 'blog' é um diário. Um diário da web, online, mas a base disto é mesmo um diário onde falamos escrevemos sobre o que nos interessa e vier à cabeça. De modo que, como hoje dormi bem e acordei bem disposta por um incidente minúsculo, insignificante e pessoal mas que me soube bem, só me apetece falar sobre isso, partilhar como se diz actualmente. A vida - e então nos dias de hoje!... - anda a correr-nos um tanto mal. Mas, de vez em quando, alguma coisa corre bem. Quando isso acontece sentimos que uma luzinha se acende dentro de nós!
Eu, pelo menos numa coisa, tive sorte na vida: tenho uma profissão de que gosto. É claro que nem sempre me deixa feliz e contente, tenho muitas vezes dias onde não me apetece começar a trabalhar, alguns momentos para esquecer, casos que correm mal, muitas batalhas que perdi. Muitíssimas até, e algumas de que ainda hoje me lembro com amargura. Mas, de um modo geral, o balanço é positivo e creio que se na palma da minha mão para além das linhas da Vida, da Cabeça e do Coração (penso que é assim, não é?) existisse também uma linha do Trabalho ou Profissão ela devia ser vincada.



Comecei a escrever este post porque recebi ontem, ao fim do dia, um telefonema. Era da família de uma menina que me tinha pedido ajuda profissional, a dar notícias. Nem sempre há essa delicadeza, coisa eu não estranho, mas é bom quando tenho feedback do que se passa, é claro. Desta vez recebi um telefonema bastante alegre e que me deixou também muito contente. É impressionante como por vezes uma intervenção relativamente pequena pode funcionar tão bem.
Não, não preciso nem tem interesse explicar o que se passou. Era uma pedrinha, digamos que quase um grão de areia, que consegui retirar de uma máquina que parecia avariada (lá voltamos de novo às máquinas!....) Pa-re-cia. Mas funcionava lindamente! Removendo essa pedrinha, há uma menina mais contente, uma mãe aliviada, uma família mais feliz.
Pudesse tudo ser tão fácil como a remoção daquela pedrinha! 
Não deixo de sorrir, hoje.



Pé-de-Cereja

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Gente e robots

Quando eu era jovenzinha adorava ler ficção científica. 
Tinha toda a colecção argonauta, desde o primeiro volume! Aliás em ficção científica (e não só) sempre preferi ler a ver as mesmas histórias em cinema. Não sei porquê, o futuro em cinema é sempre escuro e deprimente. Em romances não, conheço alguns bem optimistas, onde se fala de sociedades, distantes é claro, quer no espaço quer no tempo, onde a vida é mais justa e mais fácil. Tão bom.
É, aliás, muito interessante ler algumas histórias escritas nos anos 50 ou 60 em que o futuro é muuuito distante, lá para o remoto ano 2.000 ou 2001, onde a vida é tão diferente e pode ser tão boa. Não se imaginou nada do que se passa hoje, mas fantasiou-se outras coisas muito interessantes.
E muitas vezes são histórias com robots, é claro. Não esquecer os robots.
Ora  estes pensamentos estas recordações vieram porque vou sentindo cada vez mais que os seres humanos estão a ser substituídos por robots. Não, não, claro que não são robots em forma de gente, são 'apenas' máquinas, mas vem dar ao mesmo. Quando eu era mais nova ao comprar o que precisava para o dia a dia, ia à mercearia, ao lugar de hortaliça, ao talho. Conversava com quem estava ao balcão que me pesava um quilo de arroz, ia buscar um molho de agriões, ou cortava 4 costeletas. Faziam as contas num papelinho, muitas vezes com a prova dos nove ao lado, recebiam o dinheiro, davam o troco. Havia calor humano, mesmo que demorasse algum tempo a ser atendida. Anos depois abriu um super (hiper?) mercado e era muito engraçado, íamos buscar às prateleiras aquilo que se queria, já pesado e embrulhado, e pagava-se tudo no final à pessoa que estava sentada à caixa registadora. Atendia-se muito mais gente em menos tempo e apenas com um empregado. Achei prático e até gostei.
Quando comecei a trabalhar, uma vez por mês ia ao meu serviço um senhor com uma pasta e muitos envelopes e pagava-nos o ordenado. Eu pegava naquele envelope e ia a correr ao banco depositar o dinheiro. Uns anos depois pediram-me o número da contra e passei a ter o dinheiro lá depositado no dia do pagamento. Muito bom, mais seguro e prático. Gostei.
Para comprar gasolina para o carro, ia até a uma bomba e o senhor que lá estava tratava desse fornecimento, mexia lá numas torneiras, metia a gasolina no depósito e nós pagávamos-lhe. Uns anos mais tarde aprendi, e afinal era fácil, pegar na mangueira indicada e vigiar os litros que iam entrando, depois era só ir à caixa pagar. 
Quando precisava de almoçar fóra de casa sentava-me a uma mesa, o empregado mostrava o menu, escolhia, traziam-me o prato, comia, pagava e saía. Tempos mais tarde apareceram uns locais onde só se precisava de pegar num tabuleiro, seguir junto a um balcão e tirar os pratos que se quisesse e no final pagar na caixa. Mais rápido e prático.
O gás, água, electricidade, vinha todos os meses um empregado à nossa casa que contava o que se tinha gasto e recebia o que devíamos do mês anterior. Perca de tempo. É claro que a contagem podemos fazê-la nós e o pagamento pode ser electrónico, ou até automático.
Tudo isto se foi dando quase sem se dar conta, com pezinhos de lã...  Mas foi crescendo e alastrando. No supermercado, os artigos que ainda têm de ser pesados, já se podem pesar nas caixas. Ou, melhor ainda, nalguns deles somos nós, os compradores que fazemos tudo: pomos no saco, pesamos, colamos a etiqueta com o preço, e vamos pagar à caixa, e temos até já a variante de ser o consumidor que passa o códigos de barras no leitor, espera pelo total, faz o pagamento na máquina e vai-se embora... Que tal? Mais uma vez, prático.
.......................
A verdade é que com este 'truque', fazer com que sejam os consumidores a trabalhar para si próprios, consegue-se maior rapidez sem dúvida, e... poupa-se imenso nos salários! Deixou de haver atendimento por seres humanos, servimo-nos a nós mesmos e a relação que temos é apenas com máquinas que não adoecem, não têm emoções, não têm problemas familiares. Se há algum engano a culpa é nossa, não é? as máquinas não se enganam.
É um clássico afinal - os robots ou os humanos manipuladores, vão expulsando para a marginalidade do desemprego os humanos excedentários.
Nesses romances que eu lia costumava haver um herói.
Onde está? 



Pé-de-Cereja

domingo, 13 de novembro de 2011

Sangue do meu sangue

Fui ontem ao cinema com alguma urgência. Receava que o filme saísse do cartaz, uma vez que já só vai num cinema de Lisboa - «Sangue do meu sangue». Esperava ver um bom filme, pesado. Assisti a um excelente filme e um drama talvez menos pesado do que era o meu receio, uma vez que a parte mais dramática era indispensável nesta história.
Um filme sobre o amor, e sobre mulheres. Mulheres que ali têm uma força, uma coragem, uma iniciativa, uma capacidade de trabalho, que me deixa orgulhosa de pertencer ao mesmo género. A vida tão dura mas a que se resiste de uma forma exemplar, vivida num bairro social meio degradado. A promiscuidade a que não se pode fugir pela pequenez das casas de paredes finas, que nos é dada pela banda sonora onde há permanentemente um som de conversas muitas vezes tão alto que o que se conversa no quarto ao lado se ouve melhor do que aquilo que se está a dizer à nossa frente. Esse som permanente, seja da tv a relatar futebol ou noticiário, seja dos vizinhos a berrar uma discussão, seja de crianças a chorar, seja os sons de quem está a fazer amor tão perto que parece estar em cima de nós… Esse é dos efeitos melhor conseguidos, o ruído constante e permanente que tudo invade, que tudo domina.
E, também é claro os espaços de habitação pequeníssimos e superlotados, que levam a que a noção de privacidade (?) seja um luxo impensável.
Mas as mulheres são as grandes estrelas do ‘sangue do meu sangue’
A estrela principal, a mãe. Mãe solteira ainda jovem que aos 42 anos tem uma filha de 21 e um filho de 18. Que criou e educou sozinha. Sabe que o filho não se comporta bem, já esteve ‘num colégio’ por furto mas desconhece que agora se move nas areias movediças da venda de droga. Contudo, mulher inteligente que é, decerto só desconhece porque nem quer encarar essa hipótese que a sua meia irmã, tia do rapaz sabe muito bem. A filha, em quem a mãe deposita muita esperança, é enfermeira e está a estudar. Tem um namorado, vigilante num supermercado que quer casar com ela.
A tia ainda muito nova, cabeleireira, vivendo e trabalhando no mesmo espaço minúsculo, ajudou-a a criar os filhos e mantém uma relação de grande protecção com o rapaz, que tenta auxiliar nos graves sarilhos onde se mete. Ajuda essa que vai até aos últimos limites.
A filha, 21 anos, relativamente independente, deixa-se encantar por um professor, médico, que a seduz com alguma facilidade pois o contraste de linguagem e comportamento é grande em relação ao seu namorado, o vigilante do supermercado.
Estas 3 mulheres, dominam todo o filme. A intensidade do seu amor - pelos filhos, pelo sobrinho, pelo sedutor, é perturbante e dominadora.
Como vi a versão maior, penso que na outra talvez tenham cortado algumas cenas de sexo, para mim excessivas porque não acrescentam nada à história. Assim como também achei demais (mas isso pode ter a ver com o meu feitio e o tipo de educação que tive) o excesso de palavrões, era rara a frase trocada sem um ou dois palavrões…
Mas a avaliação geral é muito elevada.
O realismo muito forte das imagens, a banda sonora que tudo invade e é fundamental, o ritmo especial que nos deixa imaginar que foi filmado em tempo real, a solidão de algumas imagens nocturnas, tornam «O sangue do meu sangue» um filme muito bom em qualquer parte.



Pé-de-Cereja

sábado, 12 de novembro de 2011

Cultura e Filas de espera

Quando muita gente espera por alguma coisa manda a educação que se forme uma fila (*)
Onde se vê isso com mais frequência é nas paragens do autocarro, mas a cortesia ensina que se deve fazer sempre que há várias pessoas à espera e não existam senhas de chegada.
Como moro para esses lados, passei ontem mais uma vez em frente do edifício da Segurança Social no Areeiro. E, também mais uma vez, reparei um pouco distraidamente no enorme comprimento da fila de espera que quase chegava ao Largo do Areeiro, de manhãzinha ainda as portas não tinham sido abertas.
É um espectáculo habitual.
Mas desta vez senti um clic porque de imediato associei a que ainda há uns 15 dias atrás tinha passado por umas outras filas tão grandes ou ainda maiores. Tão grandes, é verdade, que apesar do interesse que eu sentia por entrar nos locais a que essas filas davam acesso desisti sempre porque o tempo que eu tinha era bem curto e assim preferi ver outras coisas que se podiam ver sem ter de esperar.
Refiro-me a uma pequena viagem que fiz a Paris, e as filas a que me refiro eram para entrar em museus, em monumentos, em exposições.
O contraste das duas imagens que sobrepus arrepiava. De um lado a espera alegre para o acesso à cultura, do outro a espera angustiada para ser atendido pela Segurança Social... E o que me deixou a pensar ainda mais no caminho que precisamos de percorrer foi que, mesmo no tempo das vacas 'menos-magras', nunca observei uma grande fila para entrar num museu ou numa exposição. Talvez em concertos de algumas bandas famosas... ou desafios de futebol... e pouco mais. Nem entendo porque é que o Secretário de Estado da Cultura vai cortar com as entradas grátis ao Domingo, assim como assim eles têm tão poucos visitantes, não é com essa mesquinha economia poupança que vai endireitar o orçamento.
[«endireitar» ? ]






*(refiro aqui sempre a palavra fila para uma coisa que 'no meu tempo' se designava em linguagem mais coloquial como 'bicha'; desde alguns anos, por influência do brasileiro creio, esse termo passou a ter exclusivamente outro sentido e passou a chamar-se sempre fila quando nos queremos referir a uma fileira de pessoas umas atrás das outras....)


Pé-de-Cereja

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11-11-11




Muito bem.
Capicua?
Palíndromo? (tchi, que palavra difícil...)
Bolas, às 11 da manhã estava muito entretida a fazer outra coisa e nem dei por esse momento místico passar.
E o coitadinho do  bebé que nasceu às 11 horas e 11 minutos?! Quando ele  fizer 11 anos é que vai ser uma festa


Huummm... Afinal é 11 do 11 de 2011, vem aqui o 2 estragar a simetria, isto não é nada é perfeito.

Assim não brinco!

Pé-de-Cereja

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O óbvio

Sondagens.
Como todos estamos fartinhos de saber, as sondagens servem para muito pouco, para além de dar trabalho a muita gente. Ou dizem uma coisa ao contrário do que nós pensamos (e acha-se logo que foram mal feitas) ou dizem aquilo que também pensamos, e encolhemos os ombros pensando «pois claro!»
Li há momentos mais uma que nos diz uma 'grande novidade': os portugueses mudam os seus hábitos de vida.
Era preciso uma sondagem?
Como é que não se há-de mudar os hábitos de vida? O que me admira nesta sondagem e lança alguma dúvida sobre a quem é que foi aplicada (classe média/alta?) foram as respostas sobre o que é que vamos cortar: os cinco pontos que são focados são coisas que foram cortadas há bastante tempo. Isto, falando por mim, que há uns tempos estaria na classe 'média/média' :) e já reduzi drasticamente, há bastante algum tempo, todos os itens que ali focam - refeições fóra, divertimentos, vestuário e carro.
Porque aquilo é o óbvio, o que entra pelos olhos dentro. Até me atrevia a dizer que aquilo é em certa medida o supérfluo. É desagradável prescindir, tira-nos qualidade de vida, mas consegue-se viver sem isso - sobretudo se soubéssemos que este furo mais apertado no cinto era para toda a gente, que é o que não sucede e daí a indignação...
Não são esses cortes que me preocupam.
Preocupa-me sim, adiar a visita semestral ao dentista e decidir que só lá vou quando me doer um dente.
Preocupa-me perante uma receita de medicamentos, pensar que alguns «podem esperar» e pedir para aviarem só os indispensáveis.
Preocupa-me ter de reduzir (por enquanto é reduzir) as horas da mulher-a-dias, sabendo bem a falta que lhe vai fazer o dinheiro que lhe pagava.
Preocupa-me ter um electrodoméstico avariado e pensar «deixa lá, não faz assim muita falta» em vez de o mandar arranjar, pelo sentimento de degradação que perante isso eu sinto.
Preocupa-me sobretudo, muito, muitíssimo, o pensar no meu filho e seus amigos sem trabalho, sem estabilidade, sem futuro.
Nesta sondagem mais de metade dos inquiridos falam em imigrar. Muito bem. E... para onde? África??? Brasil???
Parece-me que essa é a questão.




Pé-de-Cereja

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O presente no passado

Há uns cinquenta anos fiz uma viagem que ainda brilha na minha memória: fui a Paris com o meu pai. Foram uns dias gloriosos. Já estive em vários países da Europa, já estive noutros em África, já estive em mais alguns no Oriente. Mesmo Paris, conheço razoavelmente de várias viagens e uma estadia prolongada de meses. Mas o que mais me marcou foi essa maravilhosa primeira semana em Paris com o meu pai.
Na penúltima semana de Outubro o ciclo fechou-se - voltei lá, desta vez com o meu filho!
Não tinha voltado há mais de 30 anos, e tinha sido repetidamente avisada «vais estranhar muito, está tudo diferente do que era». Bem, nós vemos as coisas com os olhos mas decerto que também com o coração, ou com as emoções. A atitude com que lá cheguei era muito semelhante àquela com que desembarquei noutros tempos, de braço dado com o meu pai - a convicção de que ia ser muito bom.
E foi maravilhoso.
Reencontrei todas as minhas melhores memórias: o céu azul transparente, um cheiro especial, a beleza do Sena, as ruas, as esplanadas, os bouquinistes, as escadinhas, os velhos prédios dos séculos passados com as suas mansardas e multiplas chaminés, os eternos monumentos tão belos como sempre... Surpresa agradável - os parisienses que eu recordava arrogantes, frios, distantes, respondendo com enfado, estavam normalíssimos e simpáticos até!!! Milagre.
Claro que não vou contar aqui no Cerejas a viagem - quem conhece a cidade não precisa disso, e quem ainda não conhece terá relatos melhores. Falo apenas de emoção. Reencontrar os lugares, as pontes, as ruas, os jardins, os bancos, o entardecer, o sol a bater na água do Sena, o céu dos dias de Outono, o perfume do ar...
Tal como da primeira vez, esta vai ser uma recordação que brilha dentro de mim como um sol.

Há 50 anos o meu pai....

O seu neto quase no mesmo sítio

Pé-de-Cereja

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Poupar?.....


Dia da Poupança.
Diz o dicionário que poupar é «Gastar com moderação» ou «Não desperdiçar» mas é evidente que qualquer dos conceitos parte da base de que se possui aquilo que não se vai desperdiçar.
"Se não têm pão, que comam brioches" respondeu Marie Antoinette, numa frase célebre. Hoje, em Portugal, ouvindo alguns conselhos de uns senhores importantes, parece-me ouvir uma adaptação como se respondessem  «não comam brioches, comam pão» a quem se queixa de que já tem pouco pão, ou mesmo nenhum. Uma estranha surdez. Aconselham a não se gastar aquilo que já não se pode gastar porque não se tem!
Vi ontem num jornal na net, uma reportagem que me chamou muito a atenção.
Como podem reparar à pergunta «onde é que poupa?» os inquiridos, um tanto atrapalhados, vão enunciando diversos modos de gastar menos: comprar produtos brancos, não procurar divertimentos, não usar o automóvel, etc.
Não estava à espera de encontrar muitas sugestões que me servissem para as minhas poupanças (possíveis...) mas apesar de tudo, pensei que poderia encontrar ali uma ou duas ideias.
Sniff...
As tais poupanças que os inquiridos referem é aquilo que eu venho fazendo há muitos meses, ou até há anos!
Andar de transporte público, é o que faço. Uso o carro (bem velho coitadito) quando não há outra hipótese, em casos onde quem o não tem até chama um táxi.
Comprar preferencialmente produtos brancos, também. Aliás até já sei que mesmo assim devo ver bem os preços porque por vezes há promoções mais baratas do que os produtos brancos. Também já há muito tempo que costumo passar por diversas lojas comprando aquilo que é mais barato em cada uma.
Refeições em restaurante, há muito tempo também que cá por casa não se faz.
Divertimentos culturais, teatro, cinema, concertos, livros novos, reduziu-se drasticamente. Vou relendo os livros que tenho ou os que me emprestam, vejo tv, uso a net. Já não compro jornais, não tomo café na rua a não ser numa excepção ou acompanhada.
.......................
Os meus amigos riam-se dizendo que eu era muuuuito poupadinha. Agora confirmo que sim, mas...
Não chega.
A ganhar menos, a pagar mais impostos, a qualidade de vida tem caído na vertical.
Só tem subido a raiva que sinto ao ouvir os conselhos de quem fala de longe destas situações. Não querem mostrar na prática como se faz?....

Pé-de-Cereja