sábado, 12 de novembro de 2011

Cultura e Filas de espera

Quando muita gente espera por alguma coisa manda a educação que se forme uma fila (*)
Onde se vê isso com mais frequência é nas paragens do autocarro, mas a cortesia ensina que se deve fazer sempre que há várias pessoas à espera e não existam senhas de chegada.
Como moro para esses lados, passei ontem mais uma vez em frente do edifício da Segurança Social no Areeiro. E, também mais uma vez, reparei um pouco distraidamente no enorme comprimento da fila de espera que quase chegava ao Largo do Areeiro, de manhãzinha ainda as portas não tinham sido abertas.
É um espectáculo habitual.
Mas desta vez senti um clic porque de imediato associei a que ainda há uns 15 dias atrás tinha passado por umas outras filas tão grandes ou ainda maiores. Tão grandes, é verdade, que apesar do interesse que eu sentia por entrar nos locais a que essas filas davam acesso desisti sempre porque o tempo que eu tinha era bem curto e assim preferi ver outras coisas que se podiam ver sem ter de esperar.
Refiro-me a uma pequena viagem que fiz a Paris, e as filas a que me refiro eram para entrar em museus, em monumentos, em exposições.
O contraste das duas imagens que sobrepus arrepiava. De um lado a espera alegre para o acesso à cultura, do outro a espera angustiada para ser atendido pela Segurança Social... E o que me deixou a pensar ainda mais no caminho que precisamos de percorrer foi que, mesmo no tempo das vacas 'menos-magras', nunca observei uma grande fila para entrar num museu ou numa exposição. Talvez em concertos de algumas bandas famosas... ou desafios de futebol... e pouco mais. Nem entendo porque é que o Secretário de Estado da Cultura vai cortar com as entradas grátis ao Domingo, assim como assim eles têm tão poucos visitantes, não é com essa mesquinha economia poupança que vai endireitar o orçamento.
[«endireitar» ? ]






*(refiro aqui sempre a palavra fila para uma coisa que 'no meu tempo' se designava em linguagem mais coloquial como 'bicha'; desde alguns anos, por influência do brasileiro creio, esse termo passou a ter exclusivamente outro sentido e passou a chamar-se sempre fila quando nos queremos referir a uma fileira de pessoas umas atrás das outras....)


Pé-de-Cereja

7 comentários:

José Palmeiro disse...

Viva, "Pé de Cereja"!!!
Encaminhado pelo facebook, cá estou eu no cerejal, não em fila, infelismente, mas estou comodamente no meu lugar a ler a tua tão apropriada reflexão. Sim, as filas agora são assim e, das outras que falas, só mesmo lá fora onde as apostas culturais são verdadeiras, onde as pessoas não são, somente, número para acrescentar na tabela de impostos que nos andam a subtrair.
Deixa-me assinalar a belíssima foto que guarnece o teu escrito, aquele "ponto de interrogação", diz tudo.
Cada vez se torna mais doloroso lutar neste nosso cantinho, mas há que lutar, até à morte, para mudar!!!

Anónimo disse...

Realmente as bichas onde passamos o nosso tempo diz muito acerca do país que nos estamos a tornar. Como diz o José Palemeiro, "há que lutar", pois é de uma luta que se trata. O fim da gratuitidade dos museus nacionais nas manhãs de domingo, o aumento do iva para o cinema, teatro, exposições ... é uma guerra cujo objectivo é remeter-nos apenas aos ignóbeis e estupidificantes programas das nossas TV's. Quanto menos pensarmos, quanto menos pensamentos inovadores e críticos nos "contactarem", melhor ficaremos dentro do redil.

Pedro Tarquínio

cereja disse...

Mas que bom, dois dos meus mais estimados leitores fizeram uma visita no mesmo dia... Só estou habituada às visitas da Joaninha, ou King (ou Zorro que agora não tem aparecido...) e sabe-me bem recebê-los a vocês

Zé Palmeiro, senti isso, nos poucos dias em que voltei a Paris depois de várias dezenas de anos, 'sente-se' a civilização e que pena nos nos medirmos pela mesma bitola. Ainda bem que apanhaste o que queria dizer com a foto que encontrei na net. :)

Pedro Tarquínio, tem sido de facto um ataque generalizado. Esta gente em meia dúzia de meses tem destruído tudo o que vê à frente em nome da tal 'poupança'

fj disse...

Verdadeiramente uma coisa não impede a outra, haverá bichas dentro fila...
Seriamente não podemos comparar a actua situação cultural dos povos que fazem fila para museus; ainda estamos tão longe fj

Joaninha disse...

Ooooh...
Afinal eu, a leitora nº 1 ou quase fui ultrapassada! É o resultado de não ter cá vindo ontem... Mas também é o resultado de tu agora não deixares aqui um post diário, como fizeste anos a fio. A gente assim desabitua-se!
Pois é, minha cara amiga! Na nossa terra a entrada em actividades culturais ainda não precisa de bicha ou de fila. E é bem triste que a ida à Segurança Social precise!!!
o boneco foi bem achado, como sempre nos habituaste - é a tua imagem de marca :)

cereja disse...

Olá Joaninha!
Pois é, sou uma ingrata, venho a correr falar quando vejo um comentário novo, e tu que és tão querida nem sempre te respondo... As minhas grandes desculpas!

fj disse...
Este comentário foi removido pelo autor.