domingo, 28 de abril de 2013

Comodidades....

Há alguns dias tive visitas em casa. Amigas de há muitos, muitos anos. Que já vieram à minha casa dezenas (centenas?) de vezes é claro.
À saída, tarde, quando as acompanho à porta vejo com surpresa que uma das minhas amigas talvez já meio ensonada e de certeza bastante cansada se prepara, de dedo indicador esticado, para carregar na campainha do meu vizinho do meio.  "Espera!!"- bradei eu -"O que vais fazer?!" e, com um ar normalíssimo, ela responde "Então...? Vou chamar o elevador"
Entre gargalhadas aconselhei "Chama, chama, se ele viesse eu ficava-te muito grata!" - apesar de para descer não me fazer tanta falta. Porque o meu terceiro andar não tem elevador e ela está fartinha de o saber há anos. Aliás tinha subido a pé e tudo mas naquele momento isso passou-lhe, e aquele botão estava mesmo no sítio onde o fantasma do elevador devia estar.....
 E há também alguns electrodomésticos que, mesmo sendo relativamente modernos, se tornam completamente indispensáveis! Está neste caso o abençoado microondas. Vivi toda a minha vida até há cerca de 20 anos sem este adereço. E, como não o conhecia não lhe sentia a falta. Mas há dois dias o parvo do meu pifou. Deu-lhe qualquer coisinha má e deixou de trabalhar. Acende, roda, apita no fim, mas... não aquece. Grrrrrrr!
Já não está na garantia, creio eu,  mas queria ver se tem ainda arranjo. Contudo, com o fim-de-semana no meio, etc e tal, e depois o tempo que levar o arranjo (se tiver) a verdade é que tenho de me consolar com tudo à moda antiga. E é uma chatice. Banho-maria? Forno? Ai quem me acode que não tenho paciência.
Como é que era a vida quotidiana há 30 anos, alguém se lembra???




Pé-de-Cereja

sábado, 27 de abril de 2013

Dúvidas



Quando, numa volta pelos jornais, encontrei uma notícia sobre  quais as melhores e as piores profissões do mundo 

dipus-me a ler melhor. Estas coisas podem ser interessantes.
Claro que o título da notícia puxava a brasa à sardinha do que interessava ao jornalista: a pior profissão era de repórter de imprensa. Um tanto estranho porque vinha à frente de lenhador (!!!)  e seguiam-se depois  3. Militar; 4. Ator; 5. Operário plataforma petrolífera; 7. Técnico de leitura de contadores; 8. Carteiro; 9. Construtor de telhados; 10. Assistente de bordo.

Mas não foi isso que me deixou a pensar. É que no campo oposto vinham as melhores profissões.

E a melhor era atuário. (?)

Depois seguiam-se 2. Engenheiro biomédico; 3. Engenheiro de software; 4. Técnico de audiologia; 5. Consultor financeiro; 6. Higienista oral; 7. Terapeuta ocupacional; 8. Optometrista; 9. Fisioterapeuta; 10. Analista de sistema informático. Normal.
Primeiro, ainda fiquei na dúvida sobre o que era um atuário, lá corrigi para português “actuário” e o dicionário explica-me que é (era)  o “redactor dos discursos feitos no senado romano e outras assembleias” e a “pessoa que faz os cálculos respeitantes a seguros” o que tinha de ser o caso Muito bem. Então é isto o tal actuário. Apenas alguém que avalia os riscos.

E fico pasmada.
O importante afinal não é criar coisas. Não é plantar batatas para comer, construir casas para morar, tecer tecidos para nos vestirmos. Nem sequer é ensinar, curar, criar arte. O importante, o verdadeiramente importante, é avaliar os riscos económicos. Essa é que é a profissão de futuro.
Mas afinal vão avaliar os riscos de quê???
Tem de existir todo um sector primário e secundário. Se não houver campos plantados, peixe pescado, gado criado, se não houver fábricas a produzir, se não houver transportes para levar as mercadorias, se não houver comércio para as vender, estão a avaliar o quê?

É em ponto pequeno as tais agências de rating. Parece estarem a brincar com castelos de cartas, a base do trabalho desta profissão moderníssima é o trabalho alheio de que falam com superioridade e à distância como de uma abstracção.  Mas se a base da pirâmide falha, como é que o cume se sustem?




Pé-de -cereja


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Eu, o blog e o 25 de Abril

 Hoje é um dia feliz, um dia histórico.
Ando há já muitos anos aqui pela blogosfera, e nos anos anteriores tive sempre a vontade de assinalar este mês de um modo especial. Vem de há muito! 
Não consigo aceder ao meu primeiro blog porque estava numa plataforma que acabou e o que tinha lá escrito foi-se juntamente com a weblog... Uma pena porque nessa altura estava com o máximo do entusiasmo e todos os dias de Abril foram assinalados de um modo muito especial. Paciência.
Mas ainda fui ver o Pópulo onde sob a etiqueta ABRIL eu escrevi  ainda 168 posts! Estão lá!
Mas fui espreitar e já se nota algum desânimo ou talvez eu sentisse que tinha dito tudo nos anos anteriores, porque em 2009 quando falava em Abril classifiquei os meus escritos em ... Utopia, sonhando com o que teria sido, se... 
Contudo no ano anterior, ainda tinha deixado um conjunto de textos a que chamei "O Diário de Ana" onde era recordado todo este mês exactamente como se estivesse em 74. São 30 posts, um por cada dia, e autênticos em cada pormenor. Não, a "Ana" não sou eu, foi imaginada, mas os factos são exactos.
E ainda, nesse blog e nesse ano, no dia 25 deixei ao longo do dia uns 5 posts intitulados "Onde estavas...?" Ou na madrugada, ou na manhã, ou ao meio-dia, ou à tarde, ou à noite, na perspectiva de diversas pessoas.
Em 2007, na mesma categoria Abril, ainda se pode ler uma recolha que fiz a que chamei "o 24 de Abril revisitado" relembrando a quem ainda era demasiado novo na altura,
algumas aberrações da vida no Estado Novo. E outra série a que chamei "Recordações" com imagens e canções.
E... mais nada. Antes, de 2006 para trás, era o Pópulo da Weblog que desapareceu.
Perdi muita coisa, e o complicado é que não me sinto com ânimo para investir de novo como muito claramente se vê por este ano onde deixei "passar Abril" sem nada dizer...
 
Mas fica ainda uma recordação

 






Pé-de-Cereja

terça-feira, 23 de abril de 2013

Pessoas e coisas

A violência é o prato diário que nos chega todos os dias nas notícias. É tanta e tão constante que acabamos por ficar anestesiados e para se ficar verdadeiramente chocados já é preciso o horror do 'terrorismo' ou dos massacres - violência indiscriminada sobre inocentes - para chamar a atenção!
Por outro lado vemos notícias tão impressionantes que até nos custam a aceitar. O que se passa na Índia, por exemplo. Tudo indica que nem seja nada de novo, simplesmente o véu que ocultava a brutal violência sexual exercida por muitos naquela terra e possivelmente considerada natural, está a ser levantado. Digo isto porque não imagino que subitamente de há uns anos para cá os indianos enlouquecessem e essa loucura se fixasse na violação. Aquilo devia ser "um hábito", um "costume", e como tal encarado com tolerância pela comunidade e polícia. O conhecido caso da  jovem violada por um grupo até à morte, ou o da violação da turista, e há poucos dias o de uma menina de 5 anos horrivelmente brutalizada e que só foi deixada com vida porque paradoxalmente o monstro julgou que já estava morta, deixam a Índia debaixo dos holofotes pelo pior dos motivos.
Mas não comecemos a pensar que 'é coisa do 3º mundo', porque sabemos que esta violência contra os mais fracos continua por toda a parte. E, deve integrar-se numa visão da sociedade mais geral. 
Há pouco tempo assisti a uma série de conferências onde se focou este tema. E, embora tivesse já a noção de que a nossa sociedade respeita mais o Ter do que o Ser, ou seja a dureza da lei vai defender sobretudo a propriedade, ainda me fez impressão ouvir quem sabe (no caso era um juiz) contar alguns casos. Por exemplo, um indivíduo divorciado da mulher ia regularmente ao fim-de-semana espancá-la, a ela e ao filho. Com isso arriscava uma pena de 5 anos. Mas de uma vez, entusiasmou-se e roubou-lhe o microondas. Azar, que com esse furto arriscou uma pena de 7 anos!!! Ou por exemplo, duas crianças vêm da escola. Uma chega a casa e é abusada sexualmente, o agressor pode apanhar 12 anos de pena. A colega encontra um gatuno que lhe rouba o telemóvel apontando uma navalha, e ele pode apanhar 15 anos de pena.
Interessante, não?
As pessoas são claramente mais baratas do que as coisas. 



Pé-de-Cereja 


terça-feira, 16 de abril de 2013

Gente do meu bairro

Ontem deu-me para deixar ficar um desabafo no facebook (o sítio-de-encontro-dos-apressadinhos) e aquilo não entrou, depois tinha aparecido um erro de ortografia (ai, ai, ai..)  tive de apagar tudo, e deu-me uma fúria e desisti!!!! Era uma gracinha, não valia o esforço.
Contei que devia andar com algum mau-olhado porque em pouco tempo se me tinham avariado 5 (cinco!!!) candeeiros, aqui na minha casa. Todos sabemos que uma lei que os electrodomésticos partilham com as necessidades urinárias dos portugueses - quando avaria um avariam logo dois ou três! Mas desta vez tinha sido uma praga e só atingia os candeeiros. Estragava-se um,  guardava-o e começava a usar outro que estava menos à vista, depois esse também pifava e lá ia buscar um outro, entretanto noutra sala outro desfalecia ...e por aí fóra. Cinco! Aliás seis porque um deles foi mesmo para o lixo! E portanto, ontem de manhã enfiei aquela tralha toda num saco e rumei para a lojinha do electricista. O sr. Zé viu-me chegar e começar a pôr aquela tralha toda no balcão e só dizia oh... oh... oh... e acabamos a rir os dois à gargalhada. E pedi-lhe "Olhe o que não tiver arranjo deite fóra e não se fala mais nisso! Mas avariou-se isto tudo, veja o que pode fazer" Simpaticamente respondeu-me que eu passasse por lá antes do fim-de-semana.
E pronto. Era esta historieta que quis contar lá no fb e não ficou.
Mas...
(e agora é que vem a parte que merece ser contado no Cerejas :D )
... mas,  à tardinha, cansada, tinha já trocado de sapatos e ia refastelar-me no sofá de comando em punho quando tocou a campainha. Resmunguei baixinho "O que será agora?!" e hesitei em ir à porta. Publicidade? Vendas porta a porta? Engano?
Abro a porta e a recepção que faço é bradar "Não acredito!!!!!". Era o sr. Zé electricista, com os braços cheios com os meus candeeiros todos já consertados. Todos. Trabalhou a tarde toda e veio trazer-mos a casa. Mandei-o entrar, lá me explicou "É que imaginei que tivesse ficado sem nenhum!" enquanto se ria apontando, porque afinal ainda me tinham sobrado "alguns"...
Mas é isto que se encontra num bairro antigo quando cá se vive há bastante tempo. A simpatia e delicadeza de virem espontâneamente trazer-me à porta o arranjo feito.
'Brigada, sr. Zé.   
  


Pé-de-Cereja 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Perspectiva(s)





Eu sei que não sou das piores.
Não sou mesmo nada das piores. Por feitio, e até por algum 'treino profissional', quando alguém me conta qualquer coisa eu procuro guardar a distância e tentar ser objectiva (mas o que é isso da objectividade quando se trata de afectos, não é?) e mesmo que me sinta solidária com o que me contam forçar-me a pensar que existe outra faceta para a mesma história que não é forçosamente errada.
Recentemente apanhei de enfiada, em poucos dias, com 3 situações que me (re)ensinaram que nunca se deve dizer nunca se deve dar como certo apenas uma versão de um facto. Ser juiz num tribunal deve ser a profissão mais arriscada do mundo!
Não é necessário contar as histórias que motivaram estes pensamentos. Uma pessoa a quem eu secretamente censurava mas afinal estava cheia de razão, outra que eu defendia mas...
Todos nós conhecemos e participamos em muitas histórias semelhantes, conflitos de namorados, questões de irmãos, vizinhos insuportáveis - no momento em que desabafam connosco a razão de quem se queixa entra pelos olhos a dentro mas se mais tarde ouvirmos o "outro lado"... hummm... afinal a coisa é mais complicada!
E, onde sei com toda a certeza que não posso ser imparcial e até é natural que seja injusta, é quando estou excessivamente próxima e a emoção baralha tudo. 
Exactamente como aqui o rinoceronte-pintor. Ele pinta exactamente o que vê. Aquilo é a pura da (sua) verdade.
... mesmo que seja apenas ele a ver daquela forma!

Pé-de-cereja   

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Que confusão

Como o "meu negócio não são números" sempre aceitei que o economicês era uma língua para que não era dotada. Mas até me oriento bem na vulgaríssima economia doméstica, sei organizar as despesas em função das receitas e sou muito prudente. Quando começou o tremor de terra financeiro, há uns anos, as pessoas que têm dedo leve para apontar erros acusaram rapidamente o grande (e inútil) consumismo como a causa do tal 'crédito mal parado'. Aqui d'el rei que se gastava em roupas caras, jantaradas e viagens e depois era o que se via. 
E isso é certo, o tal consumismo é uma doença, mas sempre me pareceu que dívidas muito grandes, salvo raros casos, não eram de produtos de consumo fácil. Era na habitação. E a compra de casa própria, foi uma armadilha muito bem montada por quem tinha todo o interesse nisso - grandes empresas de construção e bancos. E toda muita gente foi caindo nessa armadilha. Por outro lado apareceram muitas empresas à conta do crédito bancário e muito mal geridas - crédito mal parado, decerto. E, quando esta situação se desmorona a onda gigantesca atinge toda a gente, com a acusação de que 'gastámos acima das nossas possibilidades'. E esse plural faz com que quem fez sempre bem as suas contas domésticas se veja responsabilizado por dinheiros a que era completamente estranho... É justo? Não, é a tal linguagem de economicês.
Eu que não falo essa língua, penso "ok, vamos então trabalhar mais, aumentar a produção, criar mais riqueza para com isso pagar essas tais dívidas". Não, não, não. Não percebes nada! Vamos mas é ficar quietinhos, não consumir nada para evitar gastos. Não é trabalhar mais, é trabalhar menos, ou até nada, o desemprego é que é.
Não percebi. E por mais que quisesse nunca percebi. 
Agora, de há uns tempo para cá, vou ouvindo opiniões de pessoas insuspeitas de tendências esquedistas (Bagão Félix, Pacheco Pereira, Ferreira Leite) a concordarem comigo. Não inteiramente, claro, mas em muitas coisas. O mundo começou a girar ao contrário. Imagino que na origem de muitas destas posições estejam conflitos internos partidários, tem de ser. Mas é mais do que isso porque afinal até a troika e o fmi andam a ficar atrapalhados. Vejo que a inefável Lagarde já diz que as baixas taxas de juro não se estão a traduzir em crédito barato para as pessoas que dele precisa" e até fala de crescimento e desemprego, imagine-se! Pelo menos parece, ora vejam:
E ainda ouvimos outra voz do FMI a concluir que... afinal a receita não resultou  
O que é que isto quer dizer?
No último desfile onde fui, alguém a meu lado levava um cartaz "Eu não sou um algarismo!". Pois é. Mas o que está a parecer é que até no-mundo-dos-algarismos as coisas estão a ficar descontroladas... e eu a ficar assustada quando dou por mim a concordar com gente de quem não gosto visceralmente. O mundo decididamente começou a girar ao contrário, e... os rios nascem do mar.


Pé-de-Cereja
 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A perspectiva infantil

Ontem, numa pesquisa na net para uma coisa completamente diferente, encontrei este vídeo que parece ter sido filmado como graça, para fazer rir. Pelo menos assim parece, porque foi exibido perante uma plateia que se riu à gargalhada.

 


Estranhei tanto que voltei a ver para perceber se me falhara qualquer coisa. Não havia dúvida. Era uma cena filmada num carro, em que uma mãe repreendia um filho por ter trazido um copo (que até parecia descartável) de um restaurante onde tinham estado dizendo-lhe que o tinha roubado. E, por aquilo que se ouvia nem tinha sido de propósito que ele tinha trazido o tal copo...
Explicar a uma criança o que é isso da propriedade, faz parte da educação se queremos que ele viva em sociedade. Está correcto. 
Começa por distinguir os seus brinquedos dos dos amigos, depois os bens dos seus pais e familiares, e por fim da sociedade em geral. Se uma criança se apropria de algo que não deve, faz sentido que o devolva e explica-se porquê. 
Neste caso, apesar de parecer uma coisa insignificante, compreendo que a mãe lhe tivesse dito que devia devolver o copo que não era dele. Até poderia ser educativo voltar atrás ao restaurante para devolver o copo, coisa que a criança até parece querer fazer mas a mãe não facilita essa solução, muito pelo contrário aceita o pânico em que a criança fica e deve ter-se divertido uma vez que enviou o vídeo para o programa.
Não achei graça nenhuma.
Recordo uma cena, passada na escada do meu prédio, era eu pequenina. Vivia no andar de cima um rapazinho mais ou menos da minha idade. Uma tarde ouvi um grande alarido na escada, choros de criança e vozes de adultos e fomos todos ao patamar do prédio. O menino-do-andar-de-cima tinha tido artes de enfiar a cabeça no espaço entre o muro da escada e o corrimão. E depois não a conseguia tirar, que as orelhas barravam a passagem... Andaram com ele para cima e para baixo a ver se nalgum ponto o espaço alargava os milímetros suficientes para se retirar a cabeça e a coisa estava difícil. A certa altura alguém exclamou, impaciente - "Pronto! Vai ter de se cortar!" e até estremeci com os berros do meu amigo que esperneava aterrorizado "NÃO! Não me cortem a cabeça!!!!!!" e eu era muito pequena mas mesmo assim entendi que o que se pensava cortar era o corrimão e não a cabeça do Zé.
Esta recordação faz-me sorrir hoje pelo absurdo, quase tão absurdo como chamar a polícia para prender uma criança por ter trazido um copo do restaurante. Mas enquanto ninguém disse ao Zé que o corte era o da sua cabeça, nesta caso a mãe insistiu em que ele tinha roubado, e não permitiu que voltasse a devolver esse roubo. Foi uma maldade.
Como se sentiria ela na situação idêntica para um adulto?

Pé-de-cereja