terça-feira, 29 de setembro de 2015

Bola-de-neve

Comecei por pensar em 'circulo vicioso' mas a imagem da 'bola de neve' é mais correcta. Queria falar do modo como certas notícias aparecem e são vistas.
A maioria dos jornais, pelo menos aqueles que vejo on-line que é como vejo quase todos, têm uma janela onde realçam as notícias mais vistas. Chama-se mesmo, como é natural, «Notícias mais vistas». 
Ao princípio ficava irritada com a escolha dessas notícias. Havia dias onde só apareciam parvoíces, faits-divers que não interessavam nada, coisas que deviam aparecer em secções do tipo 'acredite-se-quiser', muitas vezes histórias pessoais de social-lights ou jogadores de futebol. Como é que o jornal pode pensar que isto é o mais interessante que publica?! pensava eu. 
Afinal, mea culpa, costumava ler a coisa em diagonal. Eles de facto referem as «notícias mais vistas», ou seja a culpa é do leitor que as escolhe. E pelo que percebi a coisa funciona assim: O jornal publica 100 notícias. O leitor A seja por que motivo for - até pode ir simplesmente atrás do título - abre umas 10. Portanto foram as mais vistas. O leitor B vê que as 10+mais+vistas foram aquelas e vai lê-as, reforçando que foram mesmo as mais vistas. E o leitor C também... Etc. 
Falando por mim, é muito frequente ir ver um disparate qualquer, por curiosidade. Hoje dizia que "Sérgio Ramos compra nova «bomba» de 190 mil euros", eu não fazia a mais ligeira ideia de quem fosse o Sérgio Ramos, mas 190 mil euros dava-me jeito e abri a notícia...
É por isso que lhe chamo «bola de neve», são os leitores que alimentam o monstro e é imparável. Aliás na net com o sistema de partilhas muitas vezes sem se verificar se a história é falsa - e muitas vezes é! - é ainda mais imparável.
Mas ao menos tenhamos consciência disso.



Cereja



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Praxes

Apesar de ter no Cerejas um sítio onde guardo os posts mais 'virados para o passado' a que chamei "ontem e hoje" eu não sou o que se chama uma saudosista. Algumas coisas fazem-me saudades e tenho tendência a vê-las com uma luz doirada, mas até considero que hoje se vive de um modo menos preconceituoso e com muito mais comodidade. Não voltava para o passado mesmo que pudesse.
Contudo, de vez em quando passam-se coisas que «no meu tempo» eram diferentes para melhor, e me é difícil entender porque foi que pioraram.
Temos o caso das praxes. Começando por uma ponta, a farda
Quando entrei na Faculdade os estudantes da primária e mesmo do liceu, usavam uma bata. Era obrigatório, pelo menos nos liceus femininos. Não se refilava assim muito, porque pensávamos que sempre-assim-tinha-sido e os nossos pais não apoiariam a rebelião, mas ao sair a porta do liceu despia-se rapidamente aquele sinal discriminatório, na rua andávamos como toda a gente. Ao entrar na Faculdade uma das satisfações era não haver roupa especial. Lá para Coimbra havia quem se fardasse como os padres mas eram lá coisas deles, sorríamos nós, condescendentes...

Com surpresa desde há anos que vejo que os jovens estudantes universitários do país todo deram uma reviravolta de 180º e adoram a farda! Mesmo no Verão, podem pingar suor mas vestem todos contentes um fato completo, camisa e gravata, e ainda uma capa para ficaram impecáveis. Verdadeiro amor à farda, o que vai ao arrepio da embirração que tínhamos dantes.
Mas o chocante para mim é a questão das praxes. Quando eu entrei para a Faculdade não havia nenhum ritual. A Associação de Estudantes promovia uma «Semana de Recepção ao Caloiro» que servia para mostrar a casa a quem entrava, onde eram os diversos serviços, a quem é que se deviam dirigir, e os costumes. Havia actividades culturais, e terminava com um baile. Coisa simpática, simples, leve. E sem a menor obrigação, quem queria aproveitar ia, quem tinha mais que fazer passava ao lado.
Actualmente, em Lisboa, nesta altura do ano estamos constantemente a passar por grupos muito grandes de rapazes e raparigas com gritos que se ouvem ao longe, vestidos de preto, nuns rituais estranhíssimos. Não fazem mal nenhum, parece, só chamam a atenção e ficam todos contentes com isso. OK. O pior é quando essas macacadas acabam em violência o que parece acontecer cada vez mais. Mas porquê?! O que motiva esses jovens a praticar e a submeter-se a situações de humilhação ou sofrimento físico? E como sabemos essas parvoíces podem descontrolar-se como aconteceu na Caparica há menos de 2 anos. E como quase acontecia agora, no Algarve, com  uma estupidez que poderia ser fatal
Eu sei que este fenómeno anda a ser estudado, mas preocupa-me. Acredito que o modelo é que tem de ser mudado depressa. Porque não era só «no meu tempo» ainda hoje há quem saiba que afinal há alternativa. Há outras maneiras do ensino superior integrar quem chega ou despedir-se de quem sai.
Assim é que não.




Cereja

domingo, 20 de setembro de 2015

Comer saudável é para quem pode


A alimentação é um tema que aparece com imensa frequência no Cerejas, primeiro que tudo porque me preocupa, é claro, mas também porque "está na moda", como disse aqui, ou aquiimpressiona-me como toda a gente parece saber tudo e dar imensos conselhos mas penso de imediato: se as pessoas sabem porque não fazem?
Li agora um artigo/reportagem onde, talvez pela primeira vez, encontrei em letra de imprensa quase tudo o que vou pensando sobre esta matéria. A conclusão era afinal de que só quem tem dinheiro pode apertar o cinto ! Não, não é brincadeira embora haja um jogo de palavras, porque neste caso usa-se a expressão apertar o cinto literalmente. 
Há cem anos o modelo de elegância levava a dizer «gordura é formosura» mas era uma época onde realmente quem era pobre era magro. Magro porque comia pouco, e o que comia eram os produtos mais baratos, produtos esses que não incluíam nem açúcar nem gorduras, coisas caras na época. O que comiam era o que a terra dava, batatas, couves, comiam bastante sopa com uma pinguinha de azeite, ou arroz com alguma coisa para dar gosto, enquanto os ricos podiam engordar à vontade com carnes e peixes e manteiga, e doces com muitos ovos e muito açúcar, como hoje vemos nos livros de receitas de então.
O mundo girou muito. Hoje é barato produtos que eram de luxo nessa época como o frango, e o leite e manteiga também não são caros, mas os tais legumes frescos já não são para pobres... Não são mesmo, a não ser para quem tenha uma horta no quintal! E como a intensidade da vida do dia a dia deixa quem trabalha sem tempo para grandes cozinhados, quem tem pouco dinheiro e pouco tempo escolhe os alimentos onde paga menos e são mais rápidos de fazer - o doce e gorduroso fast-food. 
[Um reparo: como é que a Itália conquistou o 'mundo alimentar' de um modo tão completo?! Já notaram que em todo o mundo se sabe o que são pizzas, pastas e lasanhas?...]
No artigo que cito as pessoas entrevistadas dizem coisas com que concordo muito como por exemplo «o peixe continua a ser um alimento caro» e enumera as excepções. Perfeitamente verdade. Nos dias de hoje, a carne se for de aves, ou picada que rende mais, é bem mais barata do que o peixe, porque se temos uma bela orla marítima temos também as terríveis quotas de Bruxelas. Até o 'fiel amigo' está caríssimo...
E diz esse artigo algo de que eu também estava convencida: «nunca se gastou tão pouco com a alimentação»! Em 95 gastava-se 21,5% do orçamento familiar em comida e em 2011, 13,3%. E os produtos não estão mais baratos, a 'ginástica' é que é bem maior.
Era muito bom que os conselheiros-bem-intencionados (?) que enchem colunas de jornais a falar de cor sobre os erros alimentares que de facto se cometem, lessem com atenção e respeito este artigo (ou reportagem?) E meditassem.




Cereja

domingo, 13 de setembro de 2015

« Este pais não é para velhos»

Digamos que no caso de Portugal o país ainda é menos para velhos, porque para novos também não é. Mas se os novos ainda fogem, o que pode fazer quem chega à velhice nesta nossa terra?
Disseram os jornais que Portugal é o terceiro pior país da Europa Ocidental a assegurar o bem-estar social e económico das pessoas com 60 ou mais anos de idade Alguém ficou muito admirado? Parece que temos ainda Malta e Grécia atrás (interessante confirmar que foram os países mais fustigados pela troika), mas como caiu 3 lugares desde 2013 pode imaginar-se que com mais dois aninhos ainda chegamos ao primeiro lugar a contar do fim!
Neste relatório, que acredito seja isento, diz-se que «cerca de 20 mil idosos vivem em 3.000 lares ilegais e [...] 39 mil vivem sozinhos ou isolados». Não refere aqui que o valor que se paga num 'lar' é completamente exorbitante para o rendimento de alguém que não seja rico, o que explica que muitas famílias estejam a retirar os idosos, não por serem lá maltratados (espero que não sejam) mas por não poderem pagar a mensalidade. Ultrapassa em muito uma reforma razoável...
Mas para os que vivem sozinhos, e ali fala-se em isolados, a vida é um pesadelo. 
Nestes últimos dias tenho contactado com um casal que vive na aldeia onde passo férias. Casal sem filhos, mas que vive no coração do povoado, rodeado de vizinhos por todos os lados. Têm 89 e 90 anos. A casa é deles mas precisam de pagar a electricidade, água, gás, telefone, televisão, e a reforma é de 400 €. Pelo que percebi devem ter ainda algumas poupanças que vão gastando agora para as contas da farmácia e serviços de saúde de que se queixam amargamente (não há transportes e para os bombeiros, de que são sócios, os levarem a uma consulta pagam 40 €) e quando falo com eles sinto-os desesperados. Com cataratas os dois e ele além disso com glaucoma; ela só ouve, um pouco, de um ouvido e ele também não ouve lá muito bem; ele quase não consegue usar as mãos, muito deformadas; têm os dois pacemaker, e ele um tumor cerebral não maligno. Eram pessoas muito independentes, e estão agora sujeitas à boa vontade dos vizinhos que muitas vezes mostram grande impaciência... porque têm também uma vida difícil.
Este casal não tem filhos, têm uns sobrinhos que não os vêm há anos e anos. A solidão que sentem é impressionante. De início considerei que a senhora estava com uma grande depressão pelo desinteresse que mostrava por tudo, mas após uns dias já tinha dúvidas do apressado diagnóstico - com grandes cataratas e meio surda nem a tv a interessava, o que é natural, e visitas não tem nenhumas.
Um caso 'modelo' do que não devia existir num país de 1º mundo que tivesse uma rede de apoio social.
Esse país, definitivamente, não é Portugal.


 Cereja





quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Birras infantis

Este é um problema importante na educação infantil, lidar com a birra ou, falando de um modo mais técnico, «como ensinar uma criança a aprender a lidar com a frustração» o que vai dar ao mesmo.
Volta não volta toco aqui neste assunto que causa muitas arrelias aos pais e educadores e não é de fácil resolução. Afinal dar conselhos é a parte mais fácil disto tudo... Mas, muito recentemente assisti numa loja a uma cena dessas e logo de seguida li um texto que falava de como resolver uma bela birra.
A cena a que assisti ao vivo e a cores, passava-se numa loja de produtos de decoração num centro comercial. Uma senhora jovem, estava acompanhada por um rapazinho dos seus 7/8 anos e uma menina de cerca de 4 sentada na sua cadeirinha. Quando entrei a menina berrava a plenos pulmões, e tínha-os em belo estado e, pelo aspecto desesperado e constrangido de quem lá estava, a cena já estava a decorrer havia algum tempo. O que causava alguma surpresa é que a mãe continuava a conversa com a vendedora como se fosse absolutamente surda àquele som que nos furava os tímpanos. Decerto que tinha sido aconselhada (e bem) a não ligar à birra, mas sinceramente não estava a resultar porque a criança gritava cada vez mais e conseguia chamar a atenção por completo, não apenas da mãe e irmão mas de toda a gente da loja e corredor... Um espectáculo completo. Ali impunha-se não ceder, naturalmente, mas também afastar a criança do centro das atenções.
O texto que citei, louvando a mãe que dominou a outra birra, parece 'inventado' para ensinar como-se-deve-fazer, porque não é normal um menino de 4 anos ter os conhecimentos que se lhe exigiam. Quanto à menina, esteve decerto a gritar mais tempo, porque me parece que a opção de a pôr na cadeirinha foi para a tentar controlar. E parece-me bem que o menino da livraria entenda que aquele dinheiro não chega para o que quer e aceite o limite que a mãe lhe deu. Mas querer que ele entenda o valor relativo dos preços? Sozinho? Aos 4 anos? Hmmm...
Claro que são frustrações. Desejar uma coisa que não podemos ter é bem triste e em qualquer idade. Mas se isso não se treina em criança, irá ser um adulto insuportável e infeliz.
Ou também se lhe pode mostrar a figura que faz :) 

Esta cena aqui em baixo já a conheço há muitos anos mas continua muito engraçada.





Cereja

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ir apanhar um «uber»


Ando muito pouco de táxi. Muitíssimo pouco. Passam-se meses e meses em que não os utilizo, creio mesmo que já por vezes passei mais de um ano sem chamar nenhum. E, só agora percebi o que é essa coisa da Uber, imaginem. Saloia que sou! Claro que para usar essa aplicação criada para Android e iPhone eu teria de ter um bichinho desses, e o meu telemóvel era de 'carregar pela boca' como se costuma dizer, não dá para essas modernices...
Mas não posso continuar a ignorar a  guerra entre taxis e uber, afinal vivo neste mundo. Ainda não sei é o suficiente para tomar uma posição. Mas por aquilo que vou lendo, para já parece-me que os táxis em vez quererem esmagar a concorrência talvez pudessem começar a melhorar os seus serviços. Numa reportagem que li chamada apanhar um uber às escondidas dos taxistas diz: 
«A viagem de uber feita pelo PÚBLICO foi de 12,49 quilómetros, durou 12 minutos e 33 segundos e custou 11,88 euros. Os recibos que o serviço envia por email incluem todos os detalhes da viagem, incluindo um mapa com o trajecto. A aplicação dá previamente uma estimativa do custo e permite ao cliente acompanhar no telemóvel o percurso do carro e perceber se este segue a rota do GPS – um factor que será valorizado por turistas receosos que aterram e não conhecem as ruas de Lisboa. O pagamento é feito através da aplicação, com recurso ao cartão de crédito introduzido na altura do registo. Não há necessidade de entregar dinheiro, nem preocupações com trocos ou eventuais gorjetas» Ora não é só para turistas que é bom, para qualquer pessoa é bom!
Não é que tenha nada contra os táxis. Eles devem dar lucro para a empresa ser viável, embora tenha lido por aí que há uns 'tubarões' com centenas de táxis na praça a explorar incrivelmente quem trabalha para eles... mas se vivemos numa sociedade de concorrência, talvez esses taxistas explorados possam por o seu carro particular ao serviço da Uber. :)
Parece que o serviço da Uber não está regulamentado em Portugal. OK, então regulamentem-no. Pelo que vou lendo parece que há duas respostas da Uber, uma de luxo, com carros topo de gama com tarifa base de 2 €, 30 cêntimos por minuto e 1,10 € por km, e uma outra para gente mais modesta, com tarifa base de 1 € mais 10 cêntimos por minuto e 65 cêntimos por km. Muito mais barato do que um vulgar taxi! E quer-me parecer que desde que se não vá nem venha do aeroporto, a galinha dos ovos d'oiro dos taxistas, não haverá grande conflito.


Mas cá por mim, continuo a considerar que devíamos era querer  transportes públicos «decentes» e não estes que temos que pioram de dia para dia, até serem privatizados e piorarem à vontade!




Cereja

domingo, 6 de setembro de 2015

o penso rápido


Como ponto prévio devo dizer que deste caso só sei o que li na imprensa, e não conheço o caso como deve ser. Mas parece-me que não é difícil extrapolar esta "decisão administrativa" parece-me a mim, para outras profissões que conheço bem melhor.

Pelo que percebi perante a falta de médicos de família para dar resposta às necessidades da procura, está-se a pensar numa solução que consistirá em aumentar o número de doentes por médico.

Uma fórmula fácil. E note-se que esta falta de médicos de família já nem é no tal Portugal Profundo, cada vez mais abandonado e desabitado. Não, é no Algarve, Alentejo litoral, Loures, Amadora, Sintra, Cascais! A população tem sido atirada do interior onde cada vez tem menos respostas para o litoral, e aqui também elas faltam.
Portanto, como não há médicos de família suficientes aumenta-se o número de doentes por médico. Ah, mas coloca-se uma cenoura na ponta do pau, a recompensa monetária, e tudo fica bem. Mas se há dinheiro para essa 'recompensa monetária' porque não aumentar o número de unidades?
Que desculpem os senhores gestores e economistas (?) ao atender uma pessoa doente, ou ensinar uma criança, não se está a encher chouriços na expressão consagrada para um trabalho desinteressante. São trabalhos de uma grande delicadeza, que implica uma relação humana, aquilo que uma máquina nunca fará. Até porque cada caso é diferente... Ou bastaria um formulário de resposta múltipla: tem dores? sim/não; na cabeça, na barriga, nos membros, em nenhum destes locais, fazer cruzinha; a dor é constante? sim/não; por aí fóra e no final entregava-se o questionário e saia a resposta noutra ranhura.
Mas não é.
Implica uma forte relação humana.Tal como não se pode pensar: não podemos pagar a tantos professores? Não faz mal, em vez de 20 alunos por professor passam a ser 40 e poupa-se um salário. Raciocínio que parece poder ser aplicado a tudo. Mas não pode. 


É o que dá não ver pessoas e ver números.


Cereja


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Animais e a comida de plástico lata


Ando há tempos a pensar sobre a alimentação dos animais domésticos que é um negócio de milhões. De muitos milhões!.
......
Não me recordo, quando era criança, de haver uma 'febre' como a de hoje em relação a possuir-se ou não um animal de estimação. Algumas das pessoas que eu conhecia tinham gatos ou cães e tinham relações de grande ternura com eles, mas não havia tanta preocupação como hoje. Até recordo que, sobretudo na aldeia onde passava férias, achava-se que os animais deviam ser úteis, conceito que hoje não se ouve. Na altura, um bom gato era o que caçava ratos e os afugentava, e um cão servia para vigiar a casa. E comiam o que sobrava da mesa dos donos, se não sobrava nada fazia-se qualquer comida com o mais barato que se encontrasse... Dizer a alguém que no futuro iriam existir secções inteiras de supermercados com comida para os seus animais, seria quase como dizer que no futuro eles iriam voar...

Muitas coisas neste campo mudaram para melhor. Encontramos por todo o lado clínicas veterinárias que podem responder de imediato a uma aflição, coisa excelente. E acho muito bem que nos preocupemos com o bem-estar de um ser por quem somos responsáveis desde o momento que o escolhemos e aceitámos. Mas... Mas por outro lado impressiona-me um pouco o volume de dinheiro que os negócios que prosperam à volta dos animais manipulam. E um desses negocios é a alimentação.
Recordo um anúncio de uma marca de comida que ao elogiar os benefícios que aquela marca trazia para os animais que a comessem, terminava dizendo «Restos??!! Nuuun-ca!» com uma entoação que parecia estar a referir-se a qualquer coisa de muito horrível. Até dava vontade de rir. E o certo é que hoje todos os animais domésticos comem a chamada comida de lata não apenas por ser mais prático, mas porque os seus donos acreditam que é melhor para eles. Os mesmos donos que, muitas vezes, para si procuram os produtos biológicos e evitam comprar enlatados! O que faz a publicidade!!! Foi há dias notícia a história de um cão doente de gordo! Caso delicado que para ser ultrapassado para além da dieta implicou hidroginástica!! Pobre animal...
Não tenho actualmente nenhum animal de estimação. Mas recentemente 'tomei conta' de um gato e um cão. O gato vinha com a recomendação de que recusava comida que não fosse de certa marca. Fui experimentando outras, mais baratas, e ele estranhava mas comia. Até que me roubou um belo bife de frango, cru! E a seguir carne para espetadas. E depois um carapau também cru. Ou seja, quando podia escolher não comia a tal comida especial... O cão, esse sempre gostou de 'acabar-o-que-estava-no-prato-do-dono' e manteve o hábito. Aliás olhava para mim como quem pensa «se é bom para ti, tem de ser bom para mim». Não sou veterinária, mas acredito no instinto dos animais. Claro que comem a comida que se vende nas prateleiras dos supers e gostam. Mas quanto a ser o melhor do mundo....hmmm... é a publicidade que nós vamos engolindo.

O pobre do cão gordíssimo dizem que tinha sido sempre alimentado com comida de lata. Pronto, lá vão descobrir um «nicho de mercado» com comida para animais que devem emagrecer.
.......
Vivó mercado.





Cereja

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A Canção é uma Arma A palavra é uma arma com pontaria

Chamou-me a atenção uma notícia do JN com este «interessante» título :Hungria apanha mais de 8 mil migrantes este fim de semana.
Algo me soou mal, muito mal. E, estúpida, não localizei de imediato porque é que aquele título me incomodou. Até que li um comentário no facebook que, com humor negro, falava d' «A Apanha de Migrantes» chamando a atenção para que o que se costuma apanhar são Malandros, Ladrões, Meliantes, Bandidos, Terroristas, Traficantes de Droga, Banqueiros Vigaristas, Políticos Corruptos, gente que comete delitos - e não é delito Fugir da Guerra ou sequer da Fome. ( o texto é dele, não consegui linkar o face...)
A verdade é que com esta frase, sem se dizer claramente se insinua muito. Falar em migrantes e não em refugiados é já uma posição. Desde o ínicio que se pretendeu misturar as águas e catalogar quem foge à morte e destruição no seu país, como uma espécie de oportunistas que decidem ir para um país rico para melhorar a sua qualidade de vida. E que fosse?! Parece legítimo procurar melhorar a nossa vida através do trabalho. Mas a verdade é que aquela gente não decidiu calculadamente emigrar para ter trabalho, ela foge a uma guerra que parece não ter fim. Se eles não são refugiados, então o que são refugiados?
E, depois a sobranceria com que se informa que «foram apanhados», só falta acrescentar 'em flagrante delito'! Foram apanhados?? 'Apanhados' a passar através de arame farpado com crianças ao colo!!! Imagino esta boa alma, há 70 anos, apontar um ser humano de estrela amarela ao peito a fugir de um comboio para Auschwitz, e gritar «vai ali um!».
A atitude do governo húngaro é chocante. Impedir a entrada em comboios a passageiros que até compraram bilhete? Têm medo que eles atravessem o país? Que lá queiram ficar? De qualquer modo a forma como as coisas são relatadas não é inocente, e o título em causa diz muito sobre o seu autor.






Cereja

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Multibanco, antes e depois


É verdade que tenho por diversas vezes partido em guerra por aqui, quando considero que em muitos casos as empresas substituem os homens por máquinas, na mira de aumentarem os lucros. Está sempre a acontecer e cada vez mais. O comércio, por exemplo, fica despersonalizado porque os clientes usam o tal «self-service» ou seja servem-se sozinhos do que precisam e agora também muitas vezes pagam sozinhos, arrumam as compras e saem... Tudo se pode passar sem ver viv´alma! Faz-me um pouco impressão.
Mas li ontem que já fez 30 anos que nasceu o multibanco!
É curioso que também já pensei (e penso...) sobre ele o mesmo do que acabei de dizer do comércio em geral. Quando éramos atendidos num balcão do Banco havia uma relação «humana» que decerto não existe em frente da caixa de multibanco. Ainda hoje quando preciso mesmo de ir ao «meu» balcão, há lá funcionários que até sabem o meu nome. É agradável.
Mas... confesso que o multibanco é MUITO prático! Muitíssimo. E, seja pelo que fôr, ou por Portugal ter adoptado o sistema mais tarde do que outros países ou por ter trabalhado melhor a tecnologia, o nosso sistema de multibanco é melhor do que os outros! Quem vai ao estrangeiro vê isso claramente : não só pela quantidade de caixas que existem, como pelas funções que executam.
A geração mais nova nem se lembra de como era o mundo antes do «dinheiro de plástico» e sem caixas de multibanco. Estive a contar ao meu filho que quando comecei a trabalhar - e na Função Pública! - no dia do pagamento ia lá um senhor com uma pasta e envelopes com os nossos nomes e dentro de cada envelope vinha uma folha nomeando o vencimento, os descontos, e um maço de notas e até moedas. Eu é que depositava parte dele no Banco, e foi um grande avanço quando mais tarde o ordenado passou a ser directamente depositado no Banco. Nessa época andávamos sempre com o dinheiro para as despesas e tínhamos um «livro de cheques», preenchia um, rasgava-se pelo picotado e escrevia-se no 'canhoto' a quantia e para quem era. Era tudo.
Hoje é tudo muito mais fácil, e graças ao multibanco quase não precisamos de andar com dinheiro: pagamos as compras, levantamos e depositamos dinheiro, pagamos facturas, pagamos portagens, fazemos transferências, compramos bilhetes de espectáculos, pagamos o nosso transporte mensal, os impostos, enfim pagamos praticamente tudo! No mesmo sítio, a qualquer hora do dia ou da noite. Não digam que não nos facilita a vida!!!
O outro lado da moeda, menos contacto humano mas maior simplificação dos processos. Desta vez tenho de concordar.






Cereja

As doenças que não se vêm ao microscópio


Há doenças que não se vêm ao microscópio.
E portanto há para aí pessoas que «não acreditam» nelas.
E até são boas pessoas. Sensíveis, generosas, carinhosas. Só que essa coisa da saúde mental, hmmmm.... parece-lhes uma fantasia! Não digo que não aceitem as psicoses graves, se estiverem com um esquizofrénico «acreditam» que essa pessoa não está bem, mas já o campo das neuroses parece-lhes uma pieguice de gente fraca ou pelo menos sem a sua força de vontade - isto porque, claro está, nunca sentiram tal e não conseguem imaginar, nem pôr-se na pele dos outros.
E há frases, opiniões, que se ouvem constantemente do tipo, «tens de reagir» quando é óbvio que a doença é o não ser capaz de o fazer, ou «não te preocupes com isso», ou «deixa lá, isso passa».

A Ordem dos Psicólogos lançou uma campanha que me parece muito bem concebida, para abrir os olhos a quem ridiculariza as doenças do foro psicológico. Por exemplo:

Uma das doenças que um leigo só aceita se-passou-por-ela costuma ser a depressão. Para muita gente aquilo é uma espécie preguiça, ele ou ela tem é que reagir, sair, divertir-se, passear, que ... «aquilo» passa. Pelo que tenho observado, a depressão até irrita muita gente, como se fosse sobretudo um meio de chamar a atenção.
Pois, amigos, olhem que não é. Até posso acreditar que nos séculos passados não se notasse tanto, até porque não ficaram registos, e também aceito que na actualidade exista mais, mas é uma doença grave. Assim como os outros exemplos que as imagens referem.


Nem sempre a dor é física, sabiam?


Cereja