sábado, 31 de janeiro de 2015

Professores e formadores

Muito interessante fazer o paralelismo entre professores (que estão muito nas últimas notícias) e formadores que podem ser vistos como  professores de luxo
Como toda a gente que lê ou ouve notícias sabe, recentemente os alguns professores submeteram-se a mais uma prova de avaliação  com maus  resultados, caso muito badalado. Os jornais foram mostrando algumas das perguntas com mais falhas nas respostas, o que num certo sentido foi bom para a imagem dos professores porque as perguntas pareciam realmente muito difíceis (digo eu, que recebi alguma formação académica mesmo que desactualizada).  Mas enfim, esta guerra entre professores e os seus críticos já vem de longe, os críticos a olharem apenas para o horário docente e considerarem que é uma classe que trabalha pouco e ganha muito, os professores a sentirem-se desclassificados, sem local certo de trabalho e até sem nenhuma certeza de trabalho. E uma profissão cada vez mais exigente e mais severamente avaliada. Mas isto tudo é o ensino formal, o académico.
Porque existe um outro ensino. Há também quem, por dominar bem certas técnicas profissionais, seja chamado a ensinar, ou antes a formar. E aí os critérios são muito mais permissivos, apesar de formalmente cada um destes 'especialistas' ter tido uma formação-para-formadores. Mas neste grupo cabe tudo desde: 
a) Há anos conheci um local onde 'formavam' jovens com alguma deficiência ensinando a trabalhar numa cozinha, ou como sapateiro, ou carpinteiro, ou em limpezas, ou jardinagem, etc. Os 'professores' eram profissionais dessas áreas, com bom-senso (ou nem por isso) e com uma vaga supervisão. Ganhavam pouco, que aquilo era tudo pobrezinho, mas não tinham absolutamente nenhuma formação nem se lhes exigia nada. Afinal iam ensinar como se descascava batatas ou mudava a terra de um vaso...
z) Formação em áreas específicas de saúde mental. Por exemplo «terapia de casal», ministrada em seminários a especialistas em terapia familiar por colegas com mais conhecimentos e mais prática nessa área.
Tudo isto é formação/ensino, do mais elementar ao mais complexo, mas questiono como resultaria a aplicação aos formadores a rede de perguntas a que os professores foram submetidos...
................
Desde há anos que os Centros de Emprego, sobretudo, promovem formações. Imagino que sejam obrigados a isso. Só não consigo é imaginar também quais os critérios. Há uns cursos pequeninos para ensinar a apresentar-se a uma entrevista, a elaborar um currículo, enfim não se aprende como trabalhar melhor mas como vender a sua imagem. OK. E ensinam línguas, que aplaudo vivamente, ou então uns cursos não em áreas onde o mercado tenha faltas (e que áreas são essas?) mas onde existam formadores a quem eles querem dar trabalho.
Estou amarga e de má fé? Não me parece.




Cereja

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Escrever e ler

A propósito dos erros de português dados por professores numa prova de avaliação, prevejo que se aproxime uma forte polémica. Realmente fiquei boquiaberta com a declaração do ministro de que houve 'avaliandos' que deram 20 erros numa frase. Vinte erros numa única frase? Um recorde digno do Guiness... Mas se ele o disse, deve poder prová-lo.
Já escrevi no facebook a este propósito mas apetece-me divagar mais um pouco aqui no blog, que o espaço é mais agradável: a «culpa» de algum mau domínio das novas gerações pela ortografia, radica no facto de já não se escrever à mão. É do conhecimento geral, as crianças desenham muito, até desde bem pequeninas, mas a escrita é feita em computador. É um facto. Elas aprendem a escrever, é claro, pelo menos penso que sim, mas o que fazem depressa e bem é teclar. Afinal, 'escrever/teclar' faz-se até muito, muitíssimo mais do que há 50 anos, não se vê miúdo que não esteja agarrado a um telemóvel ou tablette a conversar por escrito com outra pessoa. Mas escrever em papel já não. O bloco-notas que se trazia no bolso, passou a ser o telemóvel.
Isto não tem mal nenhum. Onde me parece que pode haver alguma ligação com os (des)conhecimentos ortográficos é por um lado o abuso de abreviaturas, e por outro o excelente corrector ortográfico.
É óptimo. Eu adoro aquela coisa. Também penso que já não saberia escrever sem ele! Mas, evidentemente que ajuda estimula a minha preguiça em pensar como se escreve correctamente cada palavra. E isto sou eu, que escrevi dezenas e dezenas de anos com papel e caneta... Quem já aprendeu ou está a aprender com este bordão, imagine-se como será.
E depois há ainda outra coisa.

Dado o ritmo com que se é forçado a ler, o leitor de 2015 não lê tudo. Todos fazemos o que se chama leitura rápida ou leitura dinâmica: lê-se a primeira palavra e a última e o resto é varrido pelos olhos. Claro que se adivinha tudo o que lá está, mas não se lê, verdadeiramente ou seja o modo como está escrito não interessa mesmo nada.
Podem pensar que isto é só para quem é um estudioso, tem de ler textos enormes em pouco tempo, um especialista da leitura. Ná, estão enganados. Basta seguirem uma banal série falada em inglês. A velocidade com que passam as legendas implica que não se vão ler todas as palavras, desafio quem consiga ler, ler de facto, 20 palavras em 2 segundos!  Tira-se pelo sentido, é claro. Ou seja, não se lê. Nem é preciso, vejam o exemplo aqui debaixo. Leram, não leram? (só encontrei em francês mas existem estas gracinhas noutras línguas)





Cereja

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Generalizações e parcialidade

 Voltando atrás alguns dias, em pleno calor gerado pelas eleições gregas, passou-se uma história na tv (RTP) que depois transbordou para as redes sociais com bastantes ondas de comentários.
Venho aqui referir por ser sintomático da cegueira partidária e generalização abusiva de certos casos.

Na noite de Domingo, num painel de analistas da RTP, José Manuel Pureza teve esta intervenção, com a «resposta» da jornalista-pivô.



Ora bem, falar em «paralíticos que andavam à procura de mais um subsidiozinho» é um nojo. Não tem a menor justificação. Nada, mas nada, explica esta falta de sensibilidade e até de educação. Quem julga o repórter que é?
O curioso é que a colega, a senhora que fazia as perguntas, veio em defesa dele, e enfim, poderia alegar várias coisas até que fazia frio e ele tinha bebido uns uzos a mais... Não, optou por seguir na mesma linha: «Todos sabemos os factores que levaram a Grécia a este estado [...] ... quando havia cabeleireiras que se reformavam aos 53 anos por terem uma profissão de desgaste rápido»
Essa do 'todos sabemos' que estamos sempre a ouvir na boca de entrevistadores citando afinal outros colegas que por sua vez ouviram boatos, irrita-me particularmente. Muitas vezes 'todos sabemos' coisas que vieram em letras garrafais em tabloides sem qualquer sentido de ética. E a culpa da situação grega, pelos vistos é da sua economia paralela (talvez seja interessante investigar-se porque existe economia paralela em certos países) e das cabeleireiras que se reformam muito cedo...
Seria que ela gostava de ouvir «vocês na tv que ganham mais de 10 mil euros por mês com despesas de representação!....» Acudia logo, que não, mentira, ela não ganhava isso (nem sei se por acaso ganha...) eram dois ou três dos mais conhecidos. Pois é. E, quanto aos gregos, os tais que vivem dos subsídios, se estes senhoritos fossem viver na Grécia sem ser numas aprazíveis férias, e mergulhassem no seu quotidiano, talvez passassem a falar de um modo menos trocista e arrogante.

Cereja

(O senhor que motivou isto, fala aqui) Faltava a anedota dos pinguins. Mas que parvalhão!





segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ainda a saúde

A propósito deste artigo, que explica que a ARS considera que no Centro de Saúde bastam 10 minutos para atender doentes com gripe, deixei há poucos dias, no facebook, esta minha proposta onde ainda se ganhavam 30 segundos:
«A contra-relógio:
1 - Confirmar o nome, dar Bom Dia, apertar a mão, mandar sentar, abrir a ficha no computador - minuto e meio
2 - Ouvir de que sintomas o doente se queixa - dois minutos
3 - O doente despe-se para ser auscultado - minuto e meio a dois minutos (porque se for velhote pode atrapalhar-se com as mangas ou botões...)
4 - Auscultar o doente, um minuto
6 - Manda-o tossir já enquanto ele se veste, assim ganha tempo mas tem de ser, tem de se vestir - mais um minuto.
7 - Não precisa vêr tensão arterial nem essas mariquices, vai é passando a receita enquanto confirma se é alérgico a algo - outro minuto.
8 - Receita a imprimir, 30 segundos.
9 - Explica-lhe a posologia enquanto o manda dirigir-se depressa para a porta, e chama já o doente seguinte - 30 segundos.
.............
Já está!»

Tinha-me achado muito esperta, quando o esquema desabou!
A Visão de 22 de Janeiro publica uma reportagem chamada «Medicina de Guerra» a propósito da questão das 'urgências'. Uma das médicas diz que perde cerca de 10 minutos a tentar abrir o programa de passar as receitas; depois outro para as análises e outro para a lista de doentes; o computador é muito lento, a informação não é cruzada e não há acesso aos dados dos Centros de Saúde.
Ou seja, no meu plano tinha-me esquecido da 'valência informática'! E sei, por experiência, até que ponto esses famosos servidores da saúde avariam, bloqueiam, entram em pane. Metade das vezes que vou a um Centro de Saúde há qualquer azar a esse nível. Se o terrível Citius ficou famoso pelas razões conhecidas, os servidores da área de medicina também não gozam de grande saúde.

Pronto. Os tais 10 minutos que tinham sido apertadinhos, saltam para muito mais porque actualmente tem de ser tudo feito por computador, o que  acelera muito quando funciona mas... Hmmmm! 



Cereja

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Diferente pois, porque não?

Na última revista do Expresso, vêm duas importantes entrevistas quase seguidas, poucas páginas de permeio. Uma a um actor Benedict_Cumberbatch, a outra a um banqueiro António Simões. De comum parece apenas viverem em Inglaterra e estarem na casa dos 30 anos. Mas a entrevista ao actor versou sobretudo o seu último filme  O Jogo da Imitação, estreado agora, biografia de Alan Turing um fabuloso e inteligentíssimo matemático versado em inteligência artificial, em computadores, em códigos e enigmas. Conta a História que este homem ajudou a antecipar o fim da guerra mas e suicidou-se em 1954, com 41 anos. 
Ora o que interessa emparelhar, e decerto foi essa a ideia do jornal, foi António Simões com Alan Turing. Porque os dois têm algo em comum que mostra bem a impressionante evolução da sociedade neste pouco mais de meio século que separa as suas vidas, uma evolução dos costumes sociais (?) que não se conseguiria nunca, mas nunca, imaginar há 60 anos.
Quando eu era criança a homossexualidade era um tema tabu. Completamente. Eu já era bem crescidinha quando vislumbrei o que era 'isso', porque não se falava à minha frente. Aliás os primeiros vislumbres vieram via cultural: Oscar Wilde, António Botto, Verlaine, Rimbaud, (hmmmm?...) eu ficava curiosa pelas meias palavras por 'o-que-não-se-dizia'. Isso, exactamente na época onde na Inglaterra ainda se julgava e condenava uma personalidade genial como Alan Tunig pelo crime de ser homossexual, e condenado à cadeia (como foi Oscar Wilde) ou à castração química que ele aceitou mas cujo sofrimento o levou ao suicídio um ano depois. Uma história de arrepiar.
Mas o vento da ciência foi varrendo os velhos preconceitos como um furacão. E actualmente, nesse mesmo país um presidente de um Banco fala sorrindo da sua orientação sexual e do seu marido, acrescentando que «se não fosse gay provavelmente não seria CEO do Banco» isto na City com o seu formalismo... Impressionante. Toda a linguagem se modificou. O palavrão com que se designava quem preferia o mesmo sexo, ou até a palavra 'maricas', já nem como insulto já se usa muito. E nasceu o conceito de homofobia, que parece a vingança dos gays perseguidos e castigados ao longo dos séculos, porque agora o castigo vai para quem exprima esses sentimentos.

O mundo mudou de facto muito! 

Se alguém fosse transportado dos tempos da minha infância para hoje não é pelos nossos fatos, pelas nossas casas, pelos nossos transportes, que sentiria mais admiração. Talvez um pouco pelos nossos meios de comunicação mas a maior admiração seria sobretudo na sociedade e nesta área específica da valorização das diferenças. A outra face da lua.







Há ainda muito caminho a percorrer, já se sabe. Este é um caso onde o preconceito ignora o Direito das Crianças.


Cereja

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Bom senso ou mesquinhez

Este fim-de-semana, li na Revista do Expresso, num apontamento chamado "Oito da Manhã", esta frase de Eduardo Barroso «Ainda me dá prazer operar. Embora a minha grande responsabilidade hoje seja garantir que com a minha retirada tudo continue a funcionar normalmente e, se possível, com melhores resultados. Atrás de mim virá quem melhor fará»
Tão natural este pensamento que nem mereceria referência. Simples Bom Senso. Uma pessoa que prevê retirar-se, se for conscienciosa, facilita a sua futura substituição. Lógico (?)
Mas a frase bateu forte numa das minhas piores recordações.
....................

Embora actualmente o problema assuma umas proporções inimagináveis uma vez que o Estado não admite quase ninguém para substituir quem se reforma, já há bastantes anos que se fazia sentir essa situação. Acontece que quando, olhando para os meus anos de trabalho e para a minha idade, conclui que já podia pedir a reforma meti toda a papelada necessária para a 'contagem-de-tempo-de-serviço' e tive o cuidado de de informar a minha chefe hierárquica de que o tinha feito. A resposta foi muito distraída, talvez um «ah, sim?» sem mais conversa. Eu sabia que estas burocracias são demoradas, mas tive o cuidado de, passado algum tempo, insistir «Dra ***** já pensou quem me pode substituir quando eu sair? Eu podia ir tirando algumas dúvidas...» mas ela mudou de assunto. Uns meses mais tarde voltei a insistir na conveniência de, mesmo parcialmente, alguém ficar por dentro do meu trabalho, mas ela mostrou-se enfadada com o assunto - tinha outras coisas em que pensar...

Um ano depois, recebi uma carta do Serviço de Pessoal informando que eu passaria à reforma no final da semana - e até com bastante tempo a mais do que o necessário! Por boa educação, bati à porta da minha chefe e declarei «Dra ***** como já deve estar à espera - disse com um sorriso - recebi o meu papel da reforma, já não venho para a semana». A mulher, desta vez ouviu e deu um berro «O quêêê?! Nem pense! Não lhe dou a reforma!» Eu nem acreditava no que estava a ouvir. Não me dava??? Ela? Mas 'dava' o quê? Voltei a explicar que o processo estava concluído, quem me pagaria agora era a CGA, eu já não estaria ao serviço na segunda-feira. «Não posso! Não deixo! Então quem vai fazer o seu trabalho?!» Sentia-me num filme, perante uma pessoa louca. Assustada, relembrei «Eu ando a chamar a sua atenção desde há um ano! Não se recorda as vezes que insisti para me deixar preparar alguém para continuar o meu trabalho?»

Até aqui, parecia uma conversa de surdos, ou com uma pessoa completamente desmemoriada. Mas a resposta, de gafanhotos a saltar, profundamente ofensiva, uma verdadeira bofetada, deixou-me estarrecida e a conter lágrimas: «Mas o que é que queria? Ganhar o ordenado e ter uma pessoa que fizesse o seu trabalho?!» Respirei fundo: «Não, Dra *****, queria alguém a quem preparasse e continuasse agora o meu trabalho. Mas hoje já não me preocupo com isso. Felizmente»

Concluindo, como adivinham, dois dias depois saí com abraços e beijinhos de toda a gente e um grande almoço de despedida, mas nem voltei a bater à porta da parva. A mesquinhez do insulto feriu-me muito fundo, a mim que pensava antes de mais no serviço.
Que, como adivinham, acabou. Com a minha reforma feneceu de morte natural...

R.I.P.




Cereja

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"A bolsa ou a vida"

A agiotagem era, nos tempos medievais, um pecado. A personagem de Shylock, símbolo do prestamista, teve de ser representada por um judeu - não poderia ser um cristão nessa época. Aliás nesses tempos, se as dívidas tinham de ser pagas como é evidente e até se aplicava a pena de prisão a quem as não pagasse, (creio que actualmente a constituição não permite a prisão por dívidas) na altura do pagamento pagava-se o seu juro que era uma percentagem da quantia que se devia.
Isso era dantes.

Actualmente os Serviços das Finanças, ou melhor a Autoridade Tributária e Aduaneira quando há um atraso no pagamento de uma quantia, exige muitas vezes o pagamento de um juro (?) de 100, 200 ou 300 por cento da quantia que se deve. Hoje na Antena 1, no programa Antena Aberta, o tema foi «as multas no pagamento das portagens» e, já que a antena estava aberta, alguns participantes aproveitaram para falar também no pagamento da taxa do IUC em caso de atraso, mesmo que não tivessem conhecimento desse tal atraso. Impressionante.

Tenho a 'sorte' (?) de até hoje não ter sido apanhada por nenhuma destas situações mas tenho amigos pescados por estas redes de arrasto e tenho percebido como a coisa funciona. As histórias que ouvi esta manhã eram exactamente iguais às que tenho ouvido por todo o lado. Como é possível?! Um país que «inventou» a via verde, ideia excelente e muito prática, como é que depois implementa um sistema super-burocrático de pagamentos que implica idas aos correios e perdas de horas de trabalho??? Como é que quem passa numa portagem e não reparou ou se distraiu não recebe um aviso com brevidade de modo a acertar esse débito, mas sim meses e meses depois com multas já inflacionadas de um modo alucinante?! A portagem era de 1 € ou 1,5 € e vai ter de pagar 60 €? ...explicando o funcionário quando se vai tentar perceber a acusação, que tem de pagar primeiro, para poder protestar.

Isto nas portagens. O famoso IUC também: o comprador do carro não o registou nas Finanças, o carro foi roubado, teve um acidente e foi para a sucata? Não interessa nada! O primeiro registo é que interessa e a boa fé do cidadão não impede que as coimas agravadas sejam do valor do próprio carro...

Pois é. As Leis das Finanças não foram concebidas por pessoas de bem. Contra um ladrão podemos fazer queixa na esquadra, mas a quem nos queixamos quando é a própria lei...?


Cereja


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Uns dias depois....


O último post que aqui escrevi, semana passada, foi-o ainda sob a enorme emoção dos atentados de Paris, executados nesse mesmo dia. Escrito muito a quente, e como as vítimas tinham sido atacadas pelas suas ideias que eram transmitidas por desenhos/caricaturas, optei por também não escrever nada e usar apenas imagens de desenhos.

Mas depois aparentemente o cavalo da «informação» que se desejava desejaria rigorosa e sóbria, tomou o freio nos dentes e desatou a galopar extravasando muito do que inicialmente se previa. E o balão das personagens que se sentiam solidárias foi aumentando de volume de um modo alucinante. A frase com muito impacto que se inventou logo a seguir, quando o sangue ainda não tinha secado: "Je suis  Charlie", foi apanhada pelas redes sociais e tornou-se uma bandeira que todos os quadrantes empunhavam. E isso tornou-se uma surpresa sujeita a piadas trocistas. Os grandes nomes do poder europeu dificilmente poderiam pensar que também-eram-Charly uma vez que eles eram o seu exacto oposto!!! A frase foi completa e totalmente desvirtuada, e tornou-se um negócio, imagine-se o absurdo!
Este boneco que deixo a seguir, assinado R. Dutreix, é fabuloso na minha opinião, porque muito verdadeiro - as honras que lhes foram oferecidas depois da carnificina, deixá-los-ia estupefactos, e mesmo muito desconfiados... Ou a rir à gargalhada por não acreditarem.

E realmente era completamente inacreditável....





quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Em choque

Acabar com a liberdade de pensamento e de expressão, à bala?!
Sem palavras, apenas com imagens que a minha raiva encontrou:












Cereja

domingo, 4 de janeiro de 2015

Cortesia Boa Educação Social


A água é talvez demasiado mole e a pedra excessivamente dura, mas não consigo desistir de insistir no mesmo. Há regras sociais da chamada 'boa educação' que parecem desvanecer-se mas isso incomoda-me. A mim e a muito mais gente por aquilo que observo.
Encontramos constantemente pessoas grosseiras, que falam desabridamente, ignoram os outros, não respeitam regras sociais comuns, incomodam, provocam conflitos ou pelo menos causam mau estar.
Não se pode fazer nada quase nada contra isso a não ser evitar o seu convívio.
Mas quando se vê que a semente de um futuro adulto já está contaminada por essas atitudes, é ainda tempo de fazer alguma coisa. Porque é quando se é criança que certos comportamentos se enraízam.
Vemos cada vez mais meninos que entram numa sala como pequenos furacões, sem cumprimentar quem lá está, quase que sem «verem» onde estão e por quem passam. Costumam gritar «dá-me aquilo!» como uma ordem. Ignoram os outros, sejam da sua idade sejam adultos. Não estão habituados a dizer «obrigado» nem entendem esse uso. Não participam na vida doméstica e ninguém lhes chama a atenção para tal. Desarrumam sem arrumar. Estragam e desperdiçam sem que tal lhes faça a menor mossa.
OK, muitos adultos também. Infelizmente.

Mas quanto às crianças (já quanto aos adolescentes a coisa é muito mais difícil!) por favor, ensinemos-lhes algumas regras básicas!!!
Encontrei nas redes sociais um texto, escrito em brasileiro, muito interessante. Corrigi apenas meia dúzia de palavras para «português» e deixo-o aqui porque me parece que enuncia o que de mais importante se pode ensinar.


Que tal imprimir e colar atrás da porta do quarto deles...?



Regras básicas de convivência

1 - Chegou? Cumprimente.

2 - Já vai? Despeça-se.

3 - Recebeu um favor? Agradeça.

4 - Prometeu? Cumpra.

5 - Ofendeu? Desculpe-se.

6 - Não entendeu? Pergunte.

7 - Tem? Compartilhe.

8 - Não tem? Não inveje.

9 - Sujou? Limpe.

10 - Não gosta? Respeite.

11 - Gosta? Demonstre.

12 - Não vai ajudar? Não atrapalhe.

13 - Partiu? Concerte.

14 - Pediu emprestado? Devolva.

15 - Falaram consigo? Responda.

16 - Acendeu? Apague.

17 - Abriu? Feche.

18 - Comprou? Pague.



(Nota - sabemos todos que o obrigado, faz-favor, bom-dia, com-licença, são apenas fórmulas, pode ser uma casca oca; o que achei interessante nestas perguntas aqui em cima, foi o enquadramento, uma espécie de 'explicação' para o facto de as dizermos; é importante que desde pequenino se perceba que vivemos em sociedade)

Cereja

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Ping-pong macabro


E assim vai a nossa Saúde!
Em relação às notícias de que vou falar tinha começado por pensar no leito de Procusto como imagem, porque tinha ideia de que ele propunha cortar os pés ou a cabeça para ajustar as pessoas à famosa cama. Afinal enganei-me na história e portanto o mais adequado ao que quero dizer é uma velhíssima piada, a do «Ó Zé, compõe-te!» (ver em baixo) , quando com o mesmo tecido insuficiente se quer cobrir duas realidades - se funciona de um lado deixa de funcionar no outro.
A resposta do nosso SNS, sendo boa é insuficiente. Já o sabemos há muito. Uma pessoa «normal» recorre a uma urgência por uma situação que para si é urgente. Está aflito, ansioso, com dores, e qualquer espera já é difícil de suportar. Mas aceita essa espera por ver outros doentes com situações aparentemente mais graves... 
De um modo geral a primeira ideia que se deve ter é recorrer a um Centro de Saúde mas como aí as respostas também são muito lentas e muitas vezes não as há adequadas acabam numa "urgência".
Ou seja, muitas pessoas, como está provado, vão às urgências por não terem resposta no centro de saúde.
É mau.
Claro que deviam ter a resposta certa no local certo, mas defendem-se assim e sei de técnicos de Centros de Saúde que também aconselham a procurar uma urgência...
O pior é quando as Urgências colapsam! Quando a resposta que devia ser 'urgente' implica esperar horas e horas e horas.
Ah é?!

Se a fralda da camisa tapa à frente, destapa atrás. Se tapa atrás destapa à frente!!!
Por favor, aumentem o pano da camisa. Não façam uma pessoa que se sente mal e doente, andar de Herodes para Pilatos à procura de quem o socorra. É desumano, é cruel, é chocante. Nem é preciso chegar ao extremo de alguém morrer na maca horas depois de ter entrado na urgência, mesmo casos mais leves merecem atenção e respeito. Só isso.





* (a mulher, na sala com uma visita, vê entrar o marido vestido com com uma camisa curta que lhe mostra o rabo e grita «Ó Zé, compõe-te» ao que ele obedece inclinando-se para trás, e mostrando as-jóias-de-família, ouvindo de novo «Ó Zé compõe-te!» e inclinando-se volta a mostrar o rabo...) 

Cereja