quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Escrever e ler

A propósito dos erros de português dados por professores numa prova de avaliação, prevejo que se aproxime uma forte polémica. Realmente fiquei boquiaberta com a declaração do ministro de que houve 'avaliandos' que deram 20 erros numa frase. Vinte erros numa única frase? Um recorde digno do Guiness... Mas se ele o disse, deve poder prová-lo.
Já escrevi no facebook a este propósito mas apetece-me divagar mais um pouco aqui no blog, que o espaço é mais agradável: a «culpa» de algum mau domínio das novas gerações pela ortografia, radica no facto de já não se escrever à mão. É do conhecimento geral, as crianças desenham muito, até desde bem pequeninas, mas a escrita é feita em computador. É um facto. Elas aprendem a escrever, é claro, pelo menos penso que sim, mas o que fazem depressa e bem é teclar. Afinal, 'escrever/teclar' faz-se até muito, muitíssimo mais do que há 50 anos, não se vê miúdo que não esteja agarrado a um telemóvel ou tablette a conversar por escrito com outra pessoa. Mas escrever em papel já não. O bloco-notas que se trazia no bolso, passou a ser o telemóvel.
Isto não tem mal nenhum. Onde me parece que pode haver alguma ligação com os (des)conhecimentos ortográficos é por um lado o abuso de abreviaturas, e por outro o excelente corrector ortográfico.
É óptimo. Eu adoro aquela coisa. Também penso que já não saberia escrever sem ele! Mas, evidentemente que ajuda estimula a minha preguiça em pensar como se escreve correctamente cada palavra. E isto sou eu, que escrevi dezenas e dezenas de anos com papel e caneta... Quem já aprendeu ou está a aprender com este bordão, imagine-se como será.
E depois há ainda outra coisa.

Dado o ritmo com que se é forçado a ler, o leitor de 2015 não lê tudo. Todos fazemos o que se chama leitura rápida ou leitura dinâmica: lê-se a primeira palavra e a última e o resto é varrido pelos olhos. Claro que se adivinha tudo o que lá está, mas não se lê, verdadeiramente ou seja o modo como está escrito não interessa mesmo nada.
Podem pensar que isto é só para quem é um estudioso, tem de ler textos enormes em pouco tempo, um especialista da leitura. Ná, estão enganados. Basta seguirem uma banal série falada em inglês. A velocidade com que passam as legendas implica que não se vão ler todas as palavras, desafio quem consiga ler, ler de facto, 20 palavras em 2 segundos!  Tira-se pelo sentido, é claro. Ou seja, não se lê. Nem é preciso, vejam o exemplo aqui debaixo. Leram, não leram? (só encontrei em francês mas existem estas gracinhas noutras línguas)





Cereja

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