sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Linguagem inclusiva

Sendo uma acérrima defensora da igualdade de género, a tal 'linguagem inclusiva' nunca foi a minha praia. Percebo a motivação, mas não sou lá grande fã. A língua é um reflexo da sociedade, e vai evoluindo à medida que a própria sociedade evolui. E, gramaticalmente, o uso de um plural masculino implica os dois géneros. O oposto é que não, mas parece que a questão é essa. Ao ouvir «vamos todos ao cinema» sabemos que é o grupo todo mas «vamos todas ao cinema» exclui de facto os homens. É verdade que a gramática pode ser injusta porque não avalia a quantidade, e na questão do grupo que ia ao cinema se forem 20 raparigas e 1 rapaz o correcto é dizer-se todos e isso irrita. Entendo. Tenho uma amiga que tinha 4 netas e dizia as minhas netas é claro. Por fim nasceu um neto e ela irritava-se «Nasceu aquele bisnico e agora passo a dizer os meus netos?! Não vou!» Na escrita descobriu-se que @ era um O e um A em simultâneo e está tudo resolvido. A minha amiga teria net@s e o grupo iria tod@s ao cinema. Mas não dá para a fala, portanto nas conversas travadas em língua inclusiva diz-se os dois termos. Aceito embora não pratique, torna as conversas enormes e um pouco irritantes, apesar de sempre se ter dito "senhoras e senhores" nos discursos, mas era apenas no vocativo e pronto.
Mas não se pode inventar paravras. Gramaticalmente há imensas palavras que têm versão masculina e feminina, mas outras não, e para as diferenciar mudamos apenas o artigo. Dizemos o presidente e a presidente, o estudante e a estudante, etc. Inventar terminações femininas é disparate. Além de, na minha opinião, ridicularizar até a tal linguagem inclusiva.
Isto vem a propósito de um incidente engraçado na última Convenção do Bloco de Esquerda. Eu estava a ouvir os discursos, e sorri porque achei graça, quando o Pedro Filipe Soares começou  o discurso dizendo «Camaradas e Camarados!» Ups! Houve uma pequena pausa, ele próprio sorriu, foi obviamente um lapso que nem se voltou a repetir. Engraçado. Claro que o CDS saltou logo aos gritos, mas era coisa que era ou deveria ser indiferente, são os histerismos do CDS quando não tem mais nada para atacar.
Mas com enorme surpresa minha apareceu no Público, num artigo do Pedro Filipe Soares chamado exactamente Camarados a defesa do erro, que inicialmente tinha tido graça. Falava da linguagem inclusiva e da sua importância. Ora o que é demais é demais. Há defesas que se auto prejudicam. Claro que camaradas também são homens! E electricista, e jornalista, e polícia e analista, e contabilista... Para reforçar que existem 2 géneros iguais não faz sentido inventar palavras!!! Cai-se no ridículo e dá-se argumentos aos que combatem a tal inclusão.
Haja bom senso!!!

Cereja

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Um mundo de intrujice

No seguimento da preocupação com as notícias falsas (que são falsas mas não são notícias...) há outra coisa que me admira não ser mais controlado. São uns anúncios incríveis, falsos é claro, mas que parecem verdade. Quero dizer, vê-se que não podem ser verdade tal o absurdo, mas tal como são apresentadas, misturadas e exactamente ao mesmo nível de outras verdadeiras só com atenção - e exactamente pelo seu conteúdo - se confirma que é... um anúncio.
Vejam estas que encontrei de uma só vez:

"Esta família no desemprego ganha 27 mil por mês 
"Duas moças de 19 anos já tem 526 mil euros no banco"
"Médicos estupefactos. Champô produz efeitos melhores do que transplate de cabelo" (OK, esta não vale,é um clássico...)
" Uma antiga técnica chinesa acaba com qualquer dor nas juntas"

"Eu tinha 85 kg. Comecei a perder 4 Kg todos os dias. Todas as manhãs comia uma ***"  [desta vez era uma goji-berry (?) parecia uma passa clarinha]
E, claro, as cem mil receitas para emagrecer num minuto. 
Claro que a banha da cobra já se vendia há mais de cem anos. E, se calhar, para quem ouvia os seus vendedores nas feiras parecia coisa de acreditar. E o truque destes anúncios apresentados como notícias é que aparecem ao lado de notícias verdadeiras embora insignificantes. Não fosse o absurdo do texto e ainda se ficava com dúvidas se havia hipótese de um-casal-no-desemprego ganhasse 27 mil euros por mês...!



Cereja



Amarelo

 Uma cor com história, o amarelo. Pelo que se sabe não colhe o apreço de toda a gente . Há o ditado «se todos os gostos fossem iguais... o que seria do amarelo» sugerindo que já era pouco apreciado, há séculos que pouca gente gostava dele. Eu sou excepção, gosto muito de cores quentes e do amarelo que é a mais suave dessas cores.
Mas tem mesmo má fama. Sobretudo políticamente. E se calhar no futebol, entre centenas de azuis, vermelhos, brancos e pretos, lá aparece uma equipa vestida de amarelo, mas raramente. 
Quando digo que tem má fama políticamente, é porque verifico que há uma coincidência. Afinal «os amarelos» eram os fura-greves, os traidores. Os «verdes» são os defensores da natureza, os «vermelhos» são da esquerda.
Mas, sem querer insistir, o certo é que por coincidência os movimentos de direita atraem a cor amarela... Por cá, as grandes movimentações social, quando vestem de amarelo estão aninhadas à direita. Lembram-se das manifestações contra a Escola Pública? Qual era a cor que vestiam as criancinhas e as mães? Isso. Amarelo!
E no Brasil, os «bolsonaros»? Também vestem de amarelo, pois é. 
E orgulham-se disso, das suas bandeiras amarelas. Também eles são amarelos.
E agora os «coletes amarelos», em França? Bem, o movimento é grande e decerto tem lá gente de vários sectores. Mas não ter o apoio de sindicatos, uma vez que se trata de trabalho...? Hmmm... Aliás ambora não tendo bandeira, e sendo um movimento, tem de haver uma coordenação e ouvindo falar em apoiantes da Le Pen não ouvi citar ninguém de um quadrante oposto.
E cá está, coletes amarelos!
E eu que gosto tanto do amarelo, que é o sol e a luz.
Azares. 😔

Cereja

sábado, 10 de novembro de 2018

Asia Bibi e fanatismo

Sente-se um nó na garganta, ou borboletas no estômago, ou qualquer metáfora que indique mau estar psicológico. Pensamos para nós mas como é possível? e fica-se incrédulo. Primeiro, porque há tantos e tantos anos que se vive a separação da Igreja do Estado que custa entender essa coisa da blasfémia. Blasfémia??? De repente sinto-me transportada à Idade Média.
Asia Bibi. É uma mulher paquistanesa. Quando pesquiso encontro logo um sinal que me impressiona, porque dizem «nascida entre 64 e 71» Como?! Nem se conhece a sua idade?? Não é uma dúvida de 1 ano, é dúvida de 7 anos, para mim um sinal de indiferença pela pessoa. Esta mulher é casada, tem 5 filhos e é cristã. E foi condenada à morte. À morte! Condenada por um tribunal, e confirmada a pena por outro tribunal. Um crime decerto hediondo, para merecer uma reconfirmada pena de morte. Mas o horror que ela cometeu foi... beber um copo de água. Está presa vai para 10 anos, esperando a morte.
Esta sentença não é da Raínha de Copas, da Alice no País das Maravilhas, embora até o pareça pelo absurdo. É real. Um tribunal paquistanês considerou crime uma camponesa que trabalhava no campo e trazia água para os seus companheiros mussulmanos, ter-se atrevido a beber dessa água. Conspurcou a água tornando-a impura porque ela era de outra religião. Pelos vistos a solução seria então converter-se ao islão, mas não quis. Pelo que sei desta história tudo se foi azedando, com Cristo e Maomé, levando assim a questão para altos patamares.
A última notícia é que iria ser libertada porque a acusação não apresentou provas. Contudo, diz-se, estará mais segura na cadeia, onde cozinha para si para não ser envenenada. Se for libertada arrisca-se a ser linchada.
E agora vamos ver o resto do Mundo: 
Ainda é castigada a blasfémia em 39 países do mundo. Estamos no século XXI, não esquecer.
Na Irlanda só há dias se aboliu a blasfémia como crime. E existem mais meia dúzia de países do Primeiro Mundo onde, creio que não se aplica, mas a lei existe! Islândia, Polónia, Alemanha, Dinamarca, Grécia, Itália, Malta, Holanda e até Nova Zelândia. Não se aplica a lei, acredito, mas...

Cereja

Calor humano


A minha amiga Isabel, que de vez em quando cito aqui, é minha amiga há mais de 10 anos, e conhecemo-nos por causa de um blog. Nessa altura não havia facebook, e usávamos o blog como hoje se usa o fb, para comunicar tudo o que nos interessava a nós e acreditávamos que também interessava os outros, aqueles  nos liam e comentavam. Depois de finado o blog e ter surgido o fb ela aderiu quase logo e eu, uns tempos depois, fui atrás dela. E, pronto, hoje frequento as redes sociais, sem obsessão mas passo por lá todos os dias e continuo a gostar de a ler, porque ela escreve extremamente bem num estilo coloquial e íntimo. Há um ou dois dias deixou lá uma história pequenina, escrita como ela sabe.
Eu identifiquei-me logo, talvez porque também tenho «a mania» de conversar com quem me atende nas lojas, e o mais frequente são caixeiras de supermercado. Não custa mesmo nada, e um sorriso pode fazer diferença.
A propósito da menina que começou mal encarada, a responder friamente, mas 'aqueceu' com as respostas da Isabel, aconteceu-me ontem uma cena também interessante: Num parque de estacionamento de uma grande superfície, eu regressava ao carro empurrando um carrinho de compras. De repente levanta-se uma ventania fortíssima, que me leva os papeis de uns propectos em que estava interessada e levava para ler em casa. Largo o carrinho para correr atrás dos papeis, mas para que não comece a andar sozinho, encosto-o com cuidado ao carro que estava mais perto, vendo que não tocava na pintura, e sim na borracha do pneu. Consigo apanhar os papeis e segundos depois quando volto ao carrinho, o dono do carro diz-me extremamente agressivo «Deixa o carro para correr atrás de uns papeis ??!!!» Ainda respondi «Mas sem tocar no seu carro, com viu» e ele «Pois não, mas por causa de uns papeis!?!?» Bom, respirei fundo, fui deixar as compras no meu carro e ao voltar para arrumar o carrinho no sítio, este é-me arrancado bruscamente da mão com uma pancada fortíssima por um carro que tinha entrado no parque muito acelerado. Fiquei assustada, claro, mas ainda nem tinha olhado para o automóvel causador do «acidente» já tinha ao pé de mim o condutor aflitíssimo a perguntar se estava bem. Tranquilizei-o, tinha sido só um susto, mas ele parecia até mais assustado do que eu, e insistia se eu queria alguma coisa e se estava bem. Pronto, o caso ficou arrumado e o carrinho das compras também. Mas, a caminho de casa, estava muito mais afectada pela cena do primeiro condutor do que com a do segundo. O primeiro é que me afectou!
Ou seja, embora no segundo caso houvesse uma falta ela foi esquecida pela cuidadosa atenção que logo me foi prestada. É como uma parábola, ou uma fábula, ou qualquer história com uma moral: o segredo para uma boa convivência está afinal na boa educação. O primeiro homem até poderia ter alguma razão, mas o modo agressivo como falou estragou tudo. O segundo, fez esquecer a sua culpa com a gentileza que mostrou.

Pois é. Não custa nada...😊

Cereja

domingo, 4 de novembro de 2018

Juizes em «greve» (???!!!)

Não sou isenta.
Sou parcial, sim senhor! Apesar de não gostar quando se generaliza a respeito de uma classe, eu cometo esse erro quando se fala de magistratura. Isoladamente há uns que se safam, claro, mas como classe é execrável. E esta ideia espantosa de uma greve, é inacreditável.
 Os juizes não tem direito à greve diz Jorge Miranda. E repete aquilo que eu, ignorante mas não tanto, pensava sabia: «os tribunais são órgãos de soberania, a par do Presidente da República, da Assembleia da República e do Governo». Portanto era uma greve contra quem?...
Dizia a minha amiga Isabel, no facebook, «Alguém sabe se já estão marcadas as greves do Governo, dos Deputados e do Marcelo ou se por enquanto é só a dos Juizes que tem data marcada?», e acrecentou mais abaixo «...é assim como os deputados fazerem greve porque o Marcelo lhes vetou uma lei, ou o Governo uma contra os deputados que lhe chumbaram outra»
Por acaso nem sei bem porque é que estão zangados e nem me interessa lá muito, porque como expliquei, embirro com eles. Profundamente. Como classe, claro. Acredito que haja pessoas excelentes, generosas, sensatas, humanas, equilibradas, que não sei como acabaram como juizes. Mas deve ser contra natura, foi um acidente de certeza, e devem ser pouquíssimos. 
A «greve» é contra a ministra da Justiça por causa de progressão na carreira, e remunerações. Essa coisa da progressão na carreira é chato, que o digam os quase 700 mil funcionários públicos congelados durante anos. Mas pelo que li, o grave mesmo são as remunerações afinal. Dizem que é injusto porque há desigualdade devido à organização dos tribunais, e cita-se que há juízes que aos 30 anos chegam ao topo da remuneração e assim se vão manter durante 40 anos.  
Bom, o 'topo da remuneração' é, líquida o que faz menos vista, cerca de 3 mil euros, mesmo para os tais juizes que podem ter apenas 30 anos. Mas algo não bate certo, eu não consegui juntar aqui uma tabela que encontrei na net onde mostra que com 18 anos de trabalho já ganham quase 5 mil €, desembargador 7.500 €, e por aí fóra. E ainda, direito a casa, equipada e pronta a habitar, ou então um 'subsídio de 'compensação' talvez para ajuda da renda 😌de quase 800 € . E há também verbas para despesas de representação, de serviço urgente, de deslocação, de movimentação (não é o mesmo) que abrange o agregado familiar.
E é esta tabela que querem alterada. 
Por mim sempre achei que quem trabalha deve ganhar como deve ser. E quem tem um trabalho de grande responsabilidade deve ter um ordenado de acordo com isso. Portanto não são estas verbas que me chocam (embora os subsídios extras seja um subterfúgio pouco sério)  mas sim o facto de viverem em Portugal, onde o preço do leite, do pão ou de um bilhete de cinema é igual para todos, e mesmo quando é caro como a gasolina não o é mais para eles, e considerarem que ganham pouco. Desculpem, pouco em relação a quê? Em relação a quem? Pela tabela que não consegui reproduzir, muitos deles ganham tanto como o Presidente da República, que é a referência mais importante.
Não, não pode ser por isso que fazem greve!
Será para irritar o governo? O outro órgão de soberania....?  


Cereja

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

«Parece que a limpeza que Bolsonaro vai fazer na corrupção é de fora pra dentro...pra dentro do seu governo».

Li este twitt que destaquei para título, e parece ser mesmo isto!


Se fosse num romance era interessante. Na realidade é um exagero! Tal como se passou com o Trump, se alguém calculou que o seu discurso antes da eleição se ia moderar um pouco depois, desengane-se... Até piora, neste caso. (no caso do Trump afinal também, já fala em disparar sobre os imigrantes se eles atirarem pedras o que não constava no seu programa)

Quanto a famosa corrupção, a grande bandeira que se agitava, como se o partido adversário fosse todo ele corrupto (!!!) e apenas ele, ou sobretudo ele, portanto o Coiso e seus amigos estavam alvos como a neve, é uma das primeiras mentiras a desmascarar-se. Passaram apenas dois dias e vemos 2 ministros convidados, os 2 corruptos. Não é um modo de falar, são mesmo conhecidos como corruptos, com provas, acusados e um deles até já condenado. A realidade ultrapassa a ficção. Lorenzoni, ministro da Casa Civil (?) foi responsável por dez medidas de combate à corrupção, 😊, ena ena! mas afinal foi declarado como tendo recebido dinheiro e confessou que sim e pagaria por ele . Nada mal para quem combatia a corrupção! Depois há um senhor, Alberto Fraga, também convidado para o governo que foi condenado por corrupção, a 4 anos, 2 meses e 20 dias em regime semi aberto! E o governo ainda não está todo formado, vamos encontrar muitos mais corruptos confirmados.
Além disso é impressionante que a primeira decisão anunciada foi exactamente o que se receava: liberalização de porte de arma, e promessa de não ser acusado se matar alguém em defesa. Claro que no caso de estarem sozinhos ou num grupo, como o morto não pode testemunhar é só a palavra do assassino. Licença para matar, nada de 007, basta ser apoiante do futuro governo, mais nada. Digo assim, porque calculo que se for um dos horrorosos «vermelhos» a disparar a tolerância não é a mesma, esse deve acabar linchado de imediato. Na mesma linha de acção, qual a qual primeira medida do governador do Rio de Janeiro? Snipers!   É. E nada disto é inventado, como se vê deixei o link para as notícias, até estão contentes porque vão «limpar» os bandidos, e se no entusiasmo forem uns inocentes misturados são danos colaterais, paciência.
Claro que é indiscutível que o crime é elevadíssimo no Brasil, que os gangs são quase incontroláveis, que nas grandes cidades se vive num clima quase de guerra. Mas sem se ir ao fundo, à causa dessa situação, à raiz do problema, acredito que se vai entrar numa espiral de violência descontrolada, que nem imagino como possa acabar.
E, entretanto, o bode espiatório do PT e a tal corrupção, cada vez mais é desmascarado como um pretexto pois a grande corrupção está viva e cada vez mais forte. Já entra no governo pela porta grande.


Cereja

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Rescaldo

Não vou escrever mais nada sobre o Brasil. É o último (talvez penúltimo) post a respeito destas estranhas eleições que tanta confusão me fizeram pelo modo como se processaram. Não apenas o receio do que se vai passar no Brasil, que elege um candidato cujas «promessas eleitorais» são assustadoras, que usa uma linguagem desbragada, e que apesar disso (ou por isso?) se pode gabar de ter ganho com uma maioria impressionante. O que me assusta e faz reflectir é o caminho que a política vai seguindo quando a sociedade aceita que se jogue este jogo com armas reconhecidamente desonestas.

Começou com o Trump, cuja eleição se sabe que foi influenciada por estudos feitos à massa eleitoral, por empresas especializadas em analizar o que os eleitores queriam ouvir, e em denegrir a oposição. Fossem russos ou britânicos ou americanos, tanto faz, está provado. E quando Trump tomou os seus desejos por realidade, a realidade foi manipulada para estar de acordo com o que ele dizia. Era uma realidade alternativa (!!!) com notícias alternativas, eram 'fake' mas notícias. E isso resultou. Foi eleito e, contra a esperança de muitos, anda a cumprir as suas incríveis promessas eleitorais.
O Brasil é outra coisa. É outro mundo. Por feitio, os brasileiros são muito mais apaixonados, exagerados nas suas emoções. Ouvi ontem uma repórter brasileira falar em 'clima de claque' nos festejos e de facto assim parecia, parecia a final de um derby de futebol. E, como a experiência trumpena resultou só restava utilizar a mesma fórmula melhorada. Foi o que fizeram. Jogando em força nas redes sociais - Trump usa o twitter, Bolsonaro o whatsapp. Mais maquiavélico, porque twitter é aberto, permite respostas, a outra rede, privada, não. Portanto o truque rasteiro foi a) recusar todos os debates, não responder a nenhuma pergunta, mas b) espalhar as mais incríveis mentiras que ficaram sem desmentido. Mentiras graves, gravíssimas! 
Enquanto em Portugal já nos irritamos por ver uma montagem onde uma líder de um partido de esquerda ostenta um relógio que valeria milhões, ou dizer-se de um presidente de câmara que utilizaria para lucro pessoal uma residência oficial, nunca se imagina afirmar que o adversário quer legalizar a pedofilia, distribuiu nas creches biberons em feitio de pénis, ou escreveu um manual para promover relações sexuais entre pais e filhos... Ou acusá-lo de violação de uma menina de 11 anos! Parece o sonho pesadelo de um louco obsecado por questões sexuais. Mas resultou.
E ficamos de boca aberta ao ver a alegria genuina de tanta gente que entre risos dá a mesma resposta, repetida vezes e vezes e vezes «Vai mudar! Votei na mudança!» Não discutiam se o candidato era bom ou mau, o que os deixava felicíssimos era que iam mudar. Que bom!
O raciocínio é fácil: a vida estava má, tem de mudar. E portanto seja qual for a mudança é óptimo. Ouvi muitos apoiantes por aqui, que se recusavam completamente ouvir fosse o que fosse de crítica ao seu candidato, «é mentira!» era a resposta. E ponto final. Até na tv, Jaime Nogueira Pinto ria-se de algumas afirmações, explicando «são coisas que se dizem no calor de uma discussão, estão fóra do contexto» encerrando a questão.

Quanto tempo irá levar a alguns daqueles risos tão alegres desaparecerem? E a primeira notícia que anunciou ter sido sobre a venda de armas  vai agradar a Trump e parece simbólica... 

Cereja


sábado, 27 de outubro de 2018

O mundo de pernas para o ar!


Custa bastante a levar a sério...
Imagine-se que através de um amigo de facebook, cheguei a esta pérola que veio numa rede social - não percebi em qual mas deve ser facebook, o texto é muito grande para twitter.
Se se levar isto a sério (seria uma fake, de outra fake, com origem desconhecida...?) existe um imigrante brasileiro que pretende criar um grupo para desencadear uma «acção colectiva» como escreve, contra um crime de ódio.
Coisa muito grave, o crime de ódio. É uma classificação relactivamente recente, o crime de ódio é um crime social, selecciona-se uma vítima em função da sua raça, orientação sexual, etnia, religião, género, etc e persegue-se ou agride-se fisica ou psicologicamente. É este o texto:


A imagem pode conter: texto

Ora esta pessoa, que apoia um candidato que percorre quase todas as categorias reconhecidas como «crime de ódio»: despreza as mulheres, quer acabar com os gays, ridiculariza os negros, favorece uma seita religiosa e permite que se ataque outras igrejas, odeia a raça índia, e achava bem esterilizar os pobres para não terem tantos filhos..., tem a enormíssima lata de dizer que os portugueses estimulam o ódio aos brasileiros. Resalva, 'brasileiros que se opõem ao pt'. Nota, é engraçado pensar que se em Portugal estivesse no poder um governo de extrema direita, estes senhores imigrantes seriam recambiados, pois um ponto comum a essa ideologia é varrerem imigrantes porta fóra. 😈 
Mas fiquei a pensar que este grupo de brasileiros ofendidos ia ter uma tarefa gigantesca se queria acusar quem aconselha a não se votar Bolsonaro. Mais fácil seria dar um prémio a quem considera que sim, esses sim, são muito poucos! Ainda hoje o Miguel Sousa Tavares, escreveu no Expresso, que apresenta uma capa muito explícita do que o jornal pensa, Este Brasil, não!  e é alguém que fala de Brasil como grande amigo... Um jornalista, fundador do Observador, diz que o ódio não tem defesa, não se tolera. É uma traição à História  As figuras públicas, quase sem excepção, manifestaram-se contra esse candidato onde não se consegue vislumbrar uma qualidade. Até cobarde ele é, escondendo-se atrás do tal ferimento recebido no estranhíssimo atentado, para fugir a todos os debates com o adversário. Todos! Quando aparece fresco e bem disposto em todas as outras situações. 
E são os apoiantes desta pessoa que se ofendem quando se lhe apontam os defeitos, e esses sim aparecem em histórias verdadeiras e documentadas. 
Aliás não é só em Portugal, em vários quadrantes verifica-se o repúdio a Bolsonaro, li há pouco que a maire de Paris, declarou o seu apoio e admiração por Haddad. Onde isto já vai...

Cereja




sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Dívidas

Não entendo nada de Economia.
Mesmo nada. O que sei sobre a matéria é pela-óptica-da-dona-de-casa como se costuma dizer. E reconheço, sei perfeitamente que como sapateira não vou além da chinela... 😏
Contudo acho curioso tantas pessoas, que pelos vistos sabem tanto como eu, darem palpites sobre tudo, e sobre essas coisas que falam de números astronómicos, como o deficit das nossas contas, as públicas, claro. Pelo que se sabe anda no zero vírgula qualquer coisa, e mais uma décima ou centésima é caso para grandes gritos e preocupações. Oiço frequentemente, em bichas de transportes públicos, cafés, conversas junto de quiosques, que é uma vergonha dever-se dinheiro, que o governo devia preocupar-se era em pagar o que deve, que se (a pessoa que fala) devesse dinheiro já não conseguia dormir de noite, etc. Ora li há momentos num artigo sobre o Trump referências engraçadas sobre dívidas públicas e deficits. Dizia lá que o deficit dos EUA [um trilião em 2020!! ] está cada vez mais profundo e relembra que «o Reino Unido esperou até 1946 para admitir que a dívida do império correspondia a um deficit de 258%» OK, a Inglaterra tinha acabado uma guerra, mas a América mete-se nas guerras que quer, ninguém lhe declarou guerra, não se entende que possa ser comparável.
E a tal dívida externa, que quando se ouve tocam campainhas de alarme à menção da palavra «dívida» explica que afinal o país com maior dívida são... os EUA!  E depois vem a Inglaterra, Alemanha, França, etc. Ou seja, nada a ver com a dívida ao merceeiro, que é muito feio. Os países importantes têm dívida, é chic, o último da escala é o Palau 😞, coitadinho, sabem onde é? Quase nem tem dívida, nem nada. Um pobretanas.
E depois oiço e leio coisas estrambólicas como por exemplo, a China, ( a China!) apenas 2 pontos mais cumpridora de que Portugal, querer comprar a dívida dos EUA! E o Trump, aquele mesmo Trump, o Grande, acabará por vender?? Suspense...
Brinco por aqui porque sei, como comecei por dizer, que o mundo da economia é um mistério para mim. Mas estou pela ponta dos cabelos, de tanta opinião badalada por aí, na rua e/ou nas redes sociais, de quem sabe tudo e usa para atacar o governo naquilo que tem feito bem, de noções de dona de casa que vai às compras.
Na Grécia, Sócrates sabia que não sabia nada. Os nossos críticos de rua e redes sociais precisavam de algumas aulas de filosofia.

Cereja