É verdade, há coisas que andamos
fartinhos de saber, e até nos referimos a elas como sendo uma evidência, mas
quando nos caem em cima reagimos sempre mal!
Há confortos que a civilização nos deu e que aceitamos como naturais. Na Europa,
neste século, é natural termos saneamento básico, electricidade, água
canalizada. Normal. É verdade que há o campismo sem nada disso mas nesse caso é
uma escolha, uma diversão afinal.
E, a pouco e pouco, os benefícios
“normais” da civilização vão-se alargando. Se para mim água, luz, gás, são tão
normais como tecto, paredes e soalho porque
toda a vida vivi assim, o telefone já não. Lembro-me ainda da chegada desse aparelho à
minha casa e e emoção que foi. Tinha só 5 algarismos, e creio que para fora de
Lisboa tinha de se pedir a uma operadora para fazer a ligação. Mas depois ficou
também um hábito, algo de normal.
Tenho andado um bocado amuada
porque a casa onde estou a passar férias, acordou uma destas manhãs, sem
ligações exteriores, nem telefone, nem internet. Depois de uma queixa à pt (via
telemóvel, é claro) uma voz informou-me de que havia de facto uma avaria
exterior e iam proceder ao arranjo, mas podia levar algum tempo. E levou! Dias!!!
Entretanto comecei a pensar como
é curioso a importância que vão adquirindo os pequenos confortos.
Primeiro, simplesmente não havia internet.
Não se sentia falta de uma coisa desconhecida. Depois habituei-me a usá-la no
local de trabalho e, um pouco mais tarde,
em casa. Giro. Habituei-me. Mas em férias não precisava de tal coisa. Ao
princípio… ! Mas depois comecei a querer ver
emails, sites, blogs, e a achar que afinal dava jeito, mesmo em férias! Lá descobri um cibercafé
numa terra próxima e passava por lá uma vez por dia. Mas aquilo acabava por ser
caro! E tinha de sair de casa. E esperar que o cliente anterior acabasse. E...
e… E pronto, lá arranjei uma ligação que
agora me parece tão importante, mas afinal ainda há 2 anos vivia bem sem ela!
E o próprio telefone, tem uma
história parecida. Quando alugámos esta casa há muitos anos os anteriores
inquilinos tinham telefone. Mas, por opção, mandámos tirar a ligação. Não foi
uma questão económica, era para ter sossego! A “central de comunicações” da
aldeia era a mercearia da D. Emília, uma velhinha muito simpática e sociável,
que tinha telefone. Estava informada de tudo e conhecia toda a gente. E a loja
estava aberta todos os dias do ano! Telefonávamos de lá em caso de necessidade,
e dávamos aquele número aos amigos. Quando recebia uma chamada para nós,
mandava um rapazinho cá a casa chamar-nos… Simpático!
Isso acabou. E, por motivos
vários, lá mandámos ligar o telefone. É claro que depois disso generalizou-se o
telemóvel, que é o que agora nos vale, mas como acontece sempre nestes casos, a
zona tem uma rede péssima e muitas chamadas não se conseguem ouvir. O telefone
tradicional faz mesmo falta…
E muita! Como raio é que não
fazia falta há 20 anos?!
Cereja