quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O conforto e os hábitos




É verdade, há coisas que andamos fartinhos de saber, e até nos referimos a elas como sendo uma evidência, mas quando nos caem em cima reagimos sempre mal!
Há confortos que a civilização nos deu e que aceitamos como naturais. Na Europa, neste século, é natural termos saneamento básico, electricidade, água canalizada. Normal. É verdade que há o campismo sem nada disso mas nesse caso é uma escolha, uma diversão afinal.

E, a pouco e pouco, os benefícios “normais” da civilização vão-se alargando. Se para mim água, luz, gás, são tão normais como tecto,  paredes e soalho porque toda a vida vivi assim, o telefone já não.  Lembro-me ainda da chegada desse aparelho à minha casa e e emoção que foi. Tinha só 5 algarismos, e creio que para fora de Lisboa tinha de se pedir a uma operadora para fazer a ligação. Mas depois ficou também um hábito, algo de normal.

Tenho andado um bocado amuada porque a casa onde estou a passar férias, acordou uma destas manhãs, sem ligações exteriores, nem telefone, nem internet. Depois de uma queixa à pt (via telemóvel, é claro) uma voz informou-me de que havia de facto uma avaria exterior e iam proceder ao arranjo, mas podia levar algum tempo. E levou! Dias!!!

Entretanto comecei a pensar como é curioso a importância que vão adquirindo os pequenos confortos.

Primeiro, simplesmente não havia internet. Não se sentia falta de uma coisa desconhecida. Depois habituei-me a usá-la no local de trabalho e, um pouco mais tarde,  em casa. Giro. Habituei-me. Mas em férias não precisava de tal coisa. Ao princípio… ! Mas depois comecei a querer ver emails, sites, blogs, e a achar que afinal dava jeito, mesmo em férias! Lá descobri um cibercafé numa terra próxima e passava por lá uma vez por dia. Mas aquilo acabava por ser caro! E tinha de sair de casa. E esperar que o cliente anterior acabasse. E... e…  E pronto, lá arranjei uma ligação que agora me parece tão importante, mas afinal ainda há 2 anos vivia bem sem ela!

E o próprio telefone, tem uma história parecida. Quando alugámos esta casa há muitos anos os anteriores inquilinos tinham telefone. Mas, por opção, mandámos tirar a ligação. Não foi uma questão económica, era para ter sossego! A “central de comunicações” da aldeia era a mercearia da D. Emília, uma velhinha muito simpática e sociável, que tinha telefone. Estava informada de tudo e conhecia toda a gente. E a loja estava aberta todos os dias do ano! Telefonávamos de lá em caso de necessidade, e dávamos aquele número aos amigos. Quando recebia uma chamada para nós, mandava um rapazinho cá a casa chamar-nos… Simpático!

Isso acabou. E, por motivos vários, lá mandámos ligar o telefone. É claro que depois disso generalizou-se o telemóvel, que é o que agora nos vale, mas como acontece sempre nestes casos, a zona tem uma rede péssima e muitas chamadas não se conseguem ouvir. O telefone tradicional faz mesmo falta…

E muita! Como raio é que não fazia falta há 20 anos?!




Cereja

5 comentários:

Johnny disse...

Tens razão Cereja! Há muitas coisas que não nos davámos por elas há uns tempos e agora já nos fazem falta. :)

amidaca disse...

Não e verdade que não fizesse falta e agora faça.
A verdade é que as pessoas se habituaram...
A verdade é que se considera conforto ter telefone.
A verdade é que deixaram de haver ou estão em vias de extinção cada vez mais os locais onde as pessoas, locais e os visitantes, se juntavam para conviver, cada vez mais o que interessa é vender e comprar, quem vai de férias gosta de comprar coisas típicas que na maioria depois vai ver e a etiqueta diz made in china e os locais gostam de vender, para manterem o negócio.
Felizmente há pessoas que não pensam assim e há coisas que se vão criando neste país e com bom nível de conforto. Mas promovendo essa coisa tão importante e sadia que é a troca de ideias e de vivências, espero que cada vez mais se aposte neste tipo de criações e que passe a existir de facto um turismo deste tipo...ele já existe mas está muito confinado

snowgaze disse...

A mim uma das coisas que sinto mais a falta, quando não tenho, é a internet. Para ver blogues, ler o mail, combinar coisas, e até para conversar online, em vez de usar o telefone.
O telemóvel/telefone já não sinto tanta falta. :)

cereja disse...

Olá, "amidaca", boa tarde!
Este post foi uma espécie de desabafo/reflexão. A tal coisa de uma evidência: a falta só se pode sentir de algo que se teve e se perdeu, o que não quer dizer que na altura em que a temos se lhe dê tanto valor... Muitas vezes dá-se valor enquanto é novidade, depois já nem se nota a sua existência, e se ficamos sem ela volta a parecer muito importante. Eu dei este exemplo porque acabei de passar por isto!
Quando falas em lugares onde as pessoas se juntam para conviver, isso afinal era o que se passava na tal lojinha da D. Emília. Era pequena e atafulhada de coisas, mas até tinha um velho banco de madeira onde as pessoas se sentavam só para dar à língua... Ia-se lá pelo menos comprar o pão uma vez por dia, e ficava-se na conversa. Não podia ser mais agradável! :)

cereja disse...

Boa tarde snowgase, que bom ver-te por aqui!
Olha, se não fosse a net nunca nos tínhamos conhecido :D
Bem, hoje em dia, como toda a gente tem telemóvel, o telefone à antiga já não faz tanta falta, mas eu ainda gosto. Posso ter conversas maiores, oiço melhor, sinto 'mais segurança' com ele, Contudo, como contei ali em cima, durante muitos anos vivi bem sem o ter em casa, se precisasse ia falar a outro sítio.
....... e ainda me lembro (era pequenina mas lembro-me) quando ainda muito pouca gente o tinha!