terça-feira, 30 de outubro de 2012

Esquecer

A memória é um bem precioso, já o sabemos.
Mais do que precioso do ponto de vista afectivo, é vital para a sobrevivência. Mesmo os animais funcionam assim, e os seres humanos mais ainda, desde que nascemos que se 'aprende a viver' com base na memória. Tudo o que não é instinto - que será uma memória da espécie - é aprendido porque nos lembramos.
E depois há a tal memória a afectiva. A nossa vida é feita de recordações. Boas e más, é claro.
Eu, desde há muito, tenho uma estranha característica com a qual muitas amigas minhas se metem: esqueço-me de muitas recordações más. Insistem comigo num tom acusatório: Mas tu não te lembras disto ou daquilo?! Ná. É que não me lembrava. É certo que com alguma ajuda nos pormenores, e muita insistência das pessoas irritadas por esse meu esquecimento, a recordação lá surge entre risadas muitas vezes.
Hoje, abro o jornal e descubro que afinal   este esquecimento  é comprovado cientificamenteParece, dizem eles, que eu 'desligo' um fusível qualquer em relação a certos assuntos. Ainda bem para mim!
Mas atenção, amigos, isto é muito pontual! São episódios que me aborreceram e incomodaram, mas não alteraram a minha vida. Infelizmente as chatices mesmo grandes, essas, desgraçadamente estão cá. Mas também se assim não fosse a vida não me ensinava nada...
E uma coisa aprendi, a nunca dizer nunca!





Pé-de-Cereja

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Para rir

Os transportes públicos são caros.
É uma queixa generalizada. São muito caros. E têm subido desmesuradamente, não apenas ritualmente no início de cada ano como ainda por cima vai havendo uns 'acertos de contas' pelo caminho. Os passes sociais, que tornam apesar de tudo o acesso ao transporte um pouco mais razoável, também têm subido em flecha sobretudo os que têm algum benefício acrescido como os passes para a 3ª idade que quase duplicaram de preço. Tudo isto deve ser a pensar na nossa saúde, para estimular o andar a pé que só nos faz é bem!
Mas adiante.
 Sabemos que os senhores do ministério público, de acordo com a tabela salarial portuguesa, não ganham malzinho. Eu sei. Há uns anos trabalhei num serviço onde todos estávamos 'destacados' exercendo funções idênticas mas recebendo de acordo com o nosso local de origem e vi que o meu ordenado era cerca de metade dos colegas que vinham da magistratura...
Ora bem, ouvi uma notícia sobre a negociação do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público com o governo onde este parece que  pretendia acabar com o transporte gratuito destes senhores mas recuou. É que actualmente, beneficiam de transporte público gratuito, juízes, procuradores, militares, polícias, funcionários das transportadoras e membros dos gabinetes do Governo.
Já imaginaram o que os transportes públicos poupariam se retirassem  as borlas a estes senhores?! Ena pai!  É ver-se actualmente a carreira 26, a 31, a 58, à hora de ponta, apinhadinha com juízes, procuradores, membros dos gabinetes do governo... (Aliás os polícias e militares também são cidadãos como os outros, se não estão a trabalhar não sei porque não pagam bilhete)
Agora a exigência do Sindicato dos Magistrados essa é séria. Era mesmo o que mais faltava o senhor juiz ter de pagar um bilhete de eléctrico! Onde é que já se viu????!  O seu salário ficava abalado e a Justiça tremia...






Pé-de-Cereja

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Preso por ter cão...


Todos nós nos lembramos de uma frase muito irritante que nos diziam quando éramos crianças:
«Claro que não podes! Tu tens 10 anos!!!» e pouco depois «Mas então o que é isto?! repara que tu tens 10 anos!!!» Muitas e muitas vezes esse argumento da idade que servia para justificar algo e o seu oposto era usado com uma pequena diferença de tempo... Eu ficava furiosa. 
Na nossa terra andamos muito habituados a ouvir uma resposta fatalista, dada em tom de fado menor, quando usamos o exemplo de alguma coisa bem feita por um outro país «Ah, mas não compares! Nós somos mais pequenos, é muito diferente» e, como isso é verdade quanto à área geográfica ou população, aceita-se a resposta.
Recentemente, a nossa maior preocupação tem sido a crise económica e suas consequências. Toda a gente dá a sua opinião, num frenesim de críticas, de conselhos, de avisos, de análises mal ou menos enjorcadas. Como exemplos fala-se na Grécia, na Espanha, e levamos as mãos à cabeça de aflição.
Mas às vezes há quem se lembre da Islândia.
Ah, pois, a Islândia. Também teve problemas graves.
 Mas quando nos lembramos de citar o exemplo da Islândia a cantiga muda: «Não podes comparar, é um país muito pequeno!»
Cá está a mesma conversa que me irritava quando era criança. O mesmo facto não pode ser usado para justificar duas coisas opostas!!!!  É uma terra pequena, é verdade. Tem um clima bem difícil ainda por cima. Umas crónicas recentes de um jornalista que lá passou uns tempos, mostra como se vive naquela terra de pouco sol. Mas... eles deram a volta às suas dificuldades.
Então e nós? Somos pequenos demais ou grandes de mais?
Não se atina com o tamanho certo, pelos vistos.
Ou com as decisões certas...




Pé-de-Cereja


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Mundos paralelos

Por fora parece tudo igual.
Para além da cabeça, tronco e membros, existe a posição erecta - deslocarem-se sobre os membros inferiores. E comunica-se pela fala, grande diferença dos outros animais. E usa-se roupa para cobrir o corpo. Definitivamente trata-se de seres humanos, e se olharmos com alguma atenção para pormenores vê-se tratar-se de seres humanos do século XXI e europeus. E raça branca. E estranhamente habitando o mesmo país (será?)
Mas não.
Não vivem no mesmo país. Não vivem sequer no mesmo Mundo. Uns nasceram em Vénus e outros em Marte pelos vistos.
Estou com estas considerações porque ontem as redes sociais foram agitadas com uma notícia de estarrecer: Contaram que em determinada escola  uma criança de 5 anos foi impedida de almoçar por haver atraso de pagamento da mensalidade por parte dos seus pais
É uma história sinistra. 
Que as regras sejam para cumprir, é óbvio. Que a directora tivesse motivo para considerar que tinha havido desleixo por parte dos pais, aceita-se.  Que estivesse irritada, admite-se. Tudo menos cortar deste modo a alimentação de uma aluna de 5 anos!!! Deixar uma criança sem almoço, e ao pé das que comiam?! Além da 'vergonha social' que aos 5 anos já se sente.... É um acto inqualificável seja qual for o ângulo por que seja encarado.
Ora, como se viu isto foi tema badalado nas redes sociais. E pasmei quando comecei a ler este comentário no facebook:  "Aconteceu-me o mesmo há mais de 20 anos" Ooooooh... Ai coitadinha, pensei eu. Aconteceu-lhe o mesmo! Ainda era pequenina e ficou, cheia de fome, a ver os colegas almoçarem por uma questão de dinheiro. Por acaso ainda me ocorreu que tivesse sido por castigo, em vez da sobremesa como por vezes se fazia, métodos pedagógicos agressivos, tiraram-lhe o almoço todo, qualquer coisa assim. E continuei a ler. "[...] quando estive internada na **** para tirar o apêndice" O quê?! Espera aí! Não estou a perceber nada. Continuei a ler. "Quando finalmente me tiraram o soro e me deixaram comer, fiquei tão contente que pedi um segundo iogurte. Responderam-me que tinha de o pagar à parte! E note-se que a diária na **** não são 5 tostões. Fiquei tão chocada que ainda hoje me lembro!"
Transcrevi ipsis verbis o que a senhora escreveu porque era público, só achei por bem ocultar o local e o nome dela.
Considerar-se O MESMO a situação de uma menina de 5 anos que não pode almoçar e fica a assistir ao almoço dos colegas, e uma adulta numa clínica privada que ao querer um segundo iogurte é informada que o deve pagar à parte, só mesmo em Mundos diferentes.
MUITO diferentes!


Pé-de-Cereja

terça-feira, 16 de outubro de 2012

As crianças e a hora de deitar

Li umas notícias 'assustadoras'
Eu sei, sabemos todos, que as regras de convivência familiar se vão alterando imenso com o passar dos tempos, e o que era correcto e normal para uma geração não faz o menor sentido para outra. Não podemos nem devemos viver com os padrões de «no meu tempo». A vida doméstica é muitíssimo mais confortável e fácil hoje do que era há cinquenta anos, basta perguntar a quem se recorde. E as relações entre os elementos das diversas gerações também se alteraram, e em certos casos para melhor. Uma criança ou adolescente de hoje está mais próximo dos adultos da sua família. Não sei bem se essa proximidade e conhecimento de questões pessoais e até íntimas dos pais, será correcto e saudável, mas isso fica para um outro post. Desde que o maravilhoso benefício da electricidade se divulgou que os hábitos da vida familiar mudaram também. O eixo temporal da vida quotidiana deslocou-se, não tem nada a ver com o sol,  toda a gente se deita (e acorda) mais tarde. Ao tempo que já não oiço a expressão «fazer serão», tem um sabor a século XIX...  Ná, hoje «vai-se para a noite» outro conceito bem diferente.
Não tem nada de mal, é claro. Viva a luz eléctrica, vivam os seus benefícios, viva a televisão. Eu gosto.
E o que cada um faz com o seu corpo de adulto, é lá com ele, não é?
Mas as crianças não. Elas estão em crescimento. Devem dormir pelo menos umas 9 horas seguidas, e uma criança pequena deverá dormir 12 horas por dia. E no tempo de vigília devia acompanhar o sol, a luz. Ora a notícia que li dizia que havia muitas crianças entre os 4 e 14 anos a verem tv depois da meia noite.
A ver TV?! Entre a meia noite e as duas e meia? 
São tantos disparates juntos que custa a acreditar. Primeiro, o que faz uma criança pespegada horas em frente da televisão a receber informação, de uma forma passiva e acrítica. Bom, mas isso fica para falar outra ocasião que o tema dá pano para mangas.
Segundo, como é possível uma criança de 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4 anos (!!!???) estar acordada a meio da noite sem que nenhum adulto a meta na cama? E... a ver tv!  Quando se fala em maus tratos infantis imagina-se crianças agredidas fisicamente, ou mal alimentadas, ou transidas de frio,  e não uma criança ao meio da noite em frente da tv. 
Mas devia ser.

Que saudades da tv que acabava à meia noite com a bandeira e o hino e o locutor sorrindo: "Boa-Noite e até amanhã se Deus quiser!" [e a polémica do se Deus quiser, quem se lembra, eheheh ] E se alguém se quisesse entreter depois disso, então ficasse a conversar ou a ler até ter sono...




Pé-de-cereja

sábado, 13 de outubro de 2012

Não se cansam e não desistem...!!!!

E quem já anda cansada, farta, sou eu.
Há anos e anos e anos que oiço a mesma cantiga. Tanto repetida acaba por ganhar foros de verdade... Pensam que o mundo do trabalho divide-se em dois grupos apenas (não, não é o que começaram a pensar, os que ganham muitíssimo para a função que exercem e para as suas competências, e os que ganham abaixo do que seria justo para esse padrão de exigência, nada disso) os que trabalham para o sector público e os que trabalham no privado. E mais nada. O primeiros são uns lordes, só têm privilégios, os segundos umas vítimas que até pagam com o seu esforço o ordenado dos primeiros que se limitam a arrecadar um vencimento fixo no fim do mês.
E esta imagem repete-se, repete-se, repete-se até à exaustão!
Li há pouco de novo, que Bruxelas critica a opinião do Tribunal Constitucional de que era inconstitucional o corte dos subsídios aos trabalhadores do Estado porque a Função Pública ganha mais 20% do que o sector privado e mais nada! Que injusto, hã?! Mais vinte por cento, não é brincadeira, é um abuso!!!
Na continuação lá se reconhece que afinal essa gente aproveitadora afinal tem mais formação do que a amostra com que é comparada. Aaaaah! Então, se calhar, nesse grande conjunto que é o sector privado, ou seja não-público, entra todo o sector primário - os trabalhadores rurais, pescadores, mineiros - e o sector secundário - todo o trabalho fabril - pessoas que devem ganhar dignamente sem a menor dúvida, mas que na sociedade onde vivemos têm menor formação académica e menores ordenados. Se pensarmos que nos trabalhadores do estado se encontra toda a classe médica e de enfermagem, todos os professores, a magistratura, até é de estranhar que a Função Pública na generalidade SÓ ganhe mais 20 % do que o sector privado.
Haja pachorra!



Pé-de-Cereja

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Encadeado de consequências

Tenho duas imagens em mente ao começar agora a escrever: ou 'efeito dominó' onde se imagina peças de dominó a caírem umas em seguidas às outras, ou 'bola de neve' onde uma  bolinha de neve começa a rolar no meio da neve e dentro em breve é uma enorme bola de neve... Há também a teoria do caos de que eu não percebo nada, mas fala no 'efeito borboleta'  uma borboleta que bata as asas no Japão  pode desencadear um tufão nos antípodas (?!)...
Bem, tudo isto me tem vindo à cabeça pela situação económica europeia e sobretudo portuguesa.
É tão chocante o efeito não apenas dominó, parece-me mais 'bola-de-neve' de todas esta terrível situação!
A crise económica.
Muitas vezes imagina-se "e se fosse eu?" e ficamos assustados apenas com pensar nisso, porque no fundo acreditamos que o nosso emprego é estável, ou que temos um belo curriculum, ou que a nossa profissão é indispensável. Mas muitas vezes tudo oscila nem sequer por ter acontecido a terrível catástrofe do desemprego, mas porque uma outra fonte de rendimento importante desapareceu.
Tenho acompanhado de perto a situação de uma grande amiga, reformada, com uma reforma que lhe daria para viver sem luxos embora lhe bastasse a ela. O filho, desempregado, complica muito a situação mas ainda ia dando para viver porque é pessoa muito poupada. Contudo, o seu rendimento para além da reforma era também o que recebia da renda de um apartamento, alugado por um preço que todos concordavam, incluindo os inquilinos, não ser caro.
Mas agora, a bola de neve começou a rolar ou a primeira peça do dominó a cair... A empresa onde trabalhava o inquilino faliu. Segunda peça do dominó, ele deixou de pagar a renda. Terceira peça do dominó, com o orçamento muito mais limitado ela vai ter de dizer à sra Maria  que lá ia passar a ferro que não a pode manter. Quarta peça do dominó, a sra Maria vai tirar os filhos do infantário. E imagino que o infantário tenha de despedir pessoal, etc, etc. 
É uma espiral do inferno.
E que nos anda a engolir a todos.



Vamos travar isto?

Pé-de-Cereja

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A mesquinhice de certa "economias"

Os senhores gestores do metro não andam de metro.
Eu sei que são senhores importantes, com muito que fazer, e que não podem perder o seu precioso e caro tempo, em transportes públicos. Mas... É uma pena que não possam avaliar ao vivo o impacto de certas medidas.
Há pouco tempo inaugurou-se o prolongamento da "linha vermelha" até ao aeroporto. Excelente. Passou a servir Moscavide onde vive imensa gente, Encarnação com talvez menos, e sobretudo ligou o Aeroporto com a cidade de Lisboa, o que é utilíssimo. A maioria das grandes cidades, com aeroportos distantes, têm ligações por comboios e nem se percebia como Lisboa não tinha esta via tão fácil. Eu fui das que aplaudi este melhoramento.
Gostei. Foram 3 estações que desanuviam os transportes. E houve quase unanimidade nos aplausos ao bom aspecto da estação do aeroporto. Estava bonita. Funcional, arejada, limpa, bem iluminada e decorada com gosto e com graça. Um bom «cartão de visita» para o turismo.
Passou-se pouco tempo, pouco mais de 2 meses e a estação continua bonita, limpa, bem iluminada mas e depois...? Alguém que desembarca de um avião traz bagagem, mesmo que seja apenas de cabina. Para aquela estação, ou aquela linha, as carruagens são normais o que tem de ser, mas saem com intervalos tão espaçados como em qualquer outra linha o que quer dizer que ficam rapidamente atafulhadas mesmo com poucos passageiros e os que não entram ficam a encher o cais até ao próximo comboio. Mas, enfim, se calhar não há solução ( quem não é gestora até imagina que a solução era fazer sair mais comboios diminuindo os intervalos)
Agora o que é de uma miopia grave é diminuir nessa linha as carruagens ao fim-de-semana! Essa medida de economia (!?) entrou em vigor no Metro já há uns tempos. Como o fim-de-semana tem vulgarmente menos movimento os comboios chegam com intervalos muitíssimo maiores e têm metade do tamanho. Aliás uma falta de respeito pelos utentes está no facto de nas estações com um único átrio o comboio ir estacionar no final do cais obrigando quem o quer apanhar a uma grande corrida completamente escusada porque bastava estacionar mais atrás!
Mas na 'linha vermelha'...!?!? No caminho de e para o aeroporto?! O turismo é por excelência uma actividade de lazer e faz-se sobretudo apanhando fins-de-semana. O espectáculo de grupos a carregar malas, correndo pelo cais fora, e lutando para entrar numa carruagem de metro, deita por terra o mérito de uma estação alegre, bem iluminada, moderna.
Economias.  E depois gasta-se em campanhas turísticas? Tenham dó!
  

(bem sei que esta imagem não é de cá, mas... podia ser!)

Pé-de-Cereja