quinta-feira, 31 de maio de 2018

Desilusão e tristeza


 [nota inicial: fiz aqui no blog uma pausa muito grande. Reconheço que funciono um pouco por 'inércias' quando começo a escrever apanho a inércia do movimento, e escrevo todos os dias com muito prazer, depois interrompo por um qualquer motivo, e começa a outra inércia, custando-me a recomeçar mesmo que existam - e de que maneira! - imensas coisas que gostaria de falar aqui. Agora tenho de  quebrar a preguiça pausa actual 😔 ]

Pois é. Portugal viveu nos últimos dias uma emoção enorme que o dividiu em dois grandes blocos, o SIM e o NÃO a uma proposta de lei, aliás 4 propostas idênticas, propondo a despenalização de quem ajudasse alguém a morrer, suicídio assistido, a eutanásia como ficou conhecida. (digo desta maneira porque na pura eutanásia não está implícito que se pratica a pedido, o que é o caso)  Houve muito quem comparasse com a luta que se travou quando se propôs a despenalização do aborto, porque tem algo de semelhante na sua enorme diferença. São decisões pessoais, individuais, que se tomam também por motivos pessoais, mas que as religiões condenam, e de um modo geral as pessoas com uma formação mais tradicional também não aceitam. E que a lei tal como existe (ou existia no caso da IVG ) castiga. 
Faz sempre impressão os exageros que se dizem, e as mentiras impressionantes que se usam como argumentos. No caso da IVG falava-se do embrião como de um bebé, e com base nisso valia tudo! Houve um referendo onde o «não» ganhou mas no seguinte perdeu. Ou seja, certas ideias precisam de tempo e muito esclarecimento para serem bem entendidas.
O que se passou agora com os 4 projectos da despenalização da eutanásia não é surpresa. Os defensores do Não encheram redes sociais e comunicação social com textos manipulados e usando os mais diversos fantasmas e medos. Muito frequentemente ignoravam os textos que combatiam, propunham coisas que eram exactamente ditas nessas propostas. Fizerem manifestações como a do «não matem os velhinhos» que muita gente gozou, mas a verdade é que podiam levar gente a pensar que se iria exterminar velhos e doentes...  para-não-gastar-dinheiro-em-remédios?!?!??
Mas quando intitulo Desilusão e Tristeza, estou a pensar no voto do PCP. Sinto tristeza, sim. O Partido foi uma referência, senti sempre muito respeito pelo seu trabalho, pelas suas lutas. E mesmo em desacordo muitas vezes, custava-me criticar. Não se faz. Como cuspir na sopa, ou bater na avó, é feio, falta de educação. E, mesmo desta vez não gostei de o ver apanhar tanta pancada de tanto lado, mas caramba, ele pôs a jeito! Se procurarmos a posição do PC espanhol, um partido irmão, a diferença é profunda.
E a verdade é que a lei foi recusada por cinco votos. Cinco votos! Bastaria o PC ter dado liberdade de voto aos seus deputados, como outros partidos fizeram uma vez que era um assunto tão pessoal, e tenho a certeza de que a lei teria passado.
Bom, se tivesse passado, lá haveria um Presidente da República para a vetar, de certeza. Mas teria passado no Parlamento. É isso que me causa desilusão e tristeza, a incompreensível tomada de posição de um partido que me habituei a respeitar. Mas, tal como na IVG, a lei pode passar à segunda. Ou à terceira. Ou à ...
A marcha da história das sociedades é irreversível, acredito.


Cereja

domingo, 6 de maio de 2018

Comércio de Bairro

Já por aqui tenho falado no comércio local do meu bairro o comércio do ponto de vista do utilizador, neste caso de mim e o meu bairro. 😏
E até creio que falei já nesta lojinha .Ela pode podia ver-se como «um lugar de hortaliça», que era mais ou menos o correspondente a este estabelecimento quando eu era pequena. Porque, prioritariamente, vende fruta e hortaliças, mas a assinalar que estamos a viver no século XXI também lá há produtos que seriam de «drogaria» na minha infância, e bastantes enlatados coisa que também não se via nos «lugares», e até vende pão uma vez que já não há «padarias». (A tal «portuguesa» não é obviamente uma «padaria»)

Gosto de lá ir. É perto de casa. E sobretudo tem 2 vantagens enormes 1 - é muito mais barato do que no «outro comércio» e 2 - não há bichas, nos minipreços e pingosdoces temos de esperar e muitas vezes bastante tempo pela nossa vez, ali é super rápido mesmo que esteja lá outra cliente ele vai atendendo as duas ao mesmo tempo. E o raminho de salsa ou coentros não é pago, é só pedir...
A lojinha é de um indiano. Ele e família, muitas vezes está a mulher, e também se vê o filho a fazer os trabalhos de casa. O rádio está sintonizado num posto que fala uma língua exótica (tradução de exótico: que eu não identifico) e por vezes ele suspende o que está a fazer para ouvir o que dizem. É isso que nos mostra que estamos no século XXI, esta imagem não se concebia em meados do século passado!
Mas a clientela é quase toda de senhoras mais ou menos idosas, motivo deste texto. Enquanto ontem eu escolhia a fruta para levar, uma outra cliente apalpava as pêras. «Hmmm... estão muito rijas...» e foi avaliar outra fruta. Há actualmente imensos termos novos o que não faria mal nenhum se não se perdessem os menos novos, até enriquecia a nossa língua. Mas não é o caso. Há imensos que caíram em desuso como o caso do adjectivo «rijo». Neste caso rijo quer dizer duro, podia ser 'forte' também, mas ouve-se já muito raramente essa palavra. É uma palavra de época, como a senhora que a proferiu.
Assim como também 'tem data' o saco que eu tinha levado para trazer as compras. O senhor enquanto pesava duvidou «isso aguenta?» mas depois lembrou-se «ah! havia desses dantes! É antigo, não é?» e no seu português com sotaque aplaudiu «Eram muito bons, sim!»
Assim vai o comércio da minha rua.
A pobre explorada menina do pingodoce não teria tempo para estas saborosas conversas. Mas ali, sim. Viva este comércio de proximidade!!!


Cereja