terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Acusação / defesa têm de andar juntas

Não é a primeira vez que desabafo por aqui sobre o perigo que é escrever na net sobre o-que-pensamos-ser-um-facto e o cuidado com a forma como o redigimos. Porque enquanto um artigo de jornal, segundo a lei da imprensa, pode ser rectificado ou desmentido com um destaque semelhante num número posterior, na net as ondas provocadas por uma informação incorrecta, não voltam atrás. 


Li ontem, no facebook, esta frasehistória de um sem-abrigo português que está a chocar o país e já o título chamava a atenção - «sem-abrigo português», porquê português?! Li-a, e estranhei a foto porque me parecia falta de respeito pela privacidade do identificado. Contava que o homem tinha entrado num café, encomendando uma sanduíche mista e um galão e lhe tinham dito «e dinheiro?» e depois o tinham mandado esperar na rua. Era de arrepiar, e os comentários que acompanhavam a 'reportagem' linchavam verbalmente esse café, exigindo saber o seu nome para o denunciar. Mas alguma coisa me chamou a atenção, porque a foto do homem em questão lembrava-me alguém que eu conhecia, e além disso a porta que se via era de uma pastelaria, em frente do meu prédio, casa que eu conheço há dezenas de anos!


Dei-me então ao trabalho de procurar outros dados. E, com dificuldade, encontrei a versão da acusada que não negando os factos os explica. Este é um bairro um tanto familiar, o sem-abrigo que o não é, é sim um doente mental que toda a comunidade conhece pelos seus gritos «à godzilla» e um rádio que transporta tocando no volume máximo. Não faz mal a ninguém, embora possa ser um tanto aborrecido. A pastelaria em causa protege-o um pouco, mas acredito que em hora de ponta como são as 8:30 da manhã desta história, não se lhe preste muita atenção. E, a famosa rua, imagem que choca por parecer que ele é tratado como um cão, é o passeio com alcatifa sintética e uma mesa, coisa que nem há no interior, onde só há um balcão.

Ou seja, a acção de grande desumanidade - que já chegou à Alemanha, com 50 mil partilhas e publicidade negativa - é um excesso de familiaridade de uma pessoa que conhece outra há 20 anos e utilizou, mal é certo, o tom protector/autoritário que os mais impacientes usam com os doentes mentais. Foi errado sim, mas merecia esta crucificação?
Porque as cinquenta e tal mil pessoas que difundiram a história não vão conhecer nunca o outro lado. E é essa injustiça que a net permite. Não há o contraditório, como os jornais devem fazer.


Ah...? ! Não fazem?


Cereja

sábado, 13 de dezembro de 2014

Espanto e indignação


Vi o caso numa referência na net e fiquei tão chocada como as dezenas de pessoas que lá deixaram comentários. A história é, elevada ao cubo, a concretização da frase infeliz da senhora da família que anda agora na berlinda, que gostava de ir acampar para Comporta porque era como «brincar aos pobrezinhos».
Neste caso, um hotel de luxo, na África do Sul, oferece aos seus clientes «mais extravagantes» segundo lá diz,  a recriação de uma favela  para terem a experiência autêntica de viver numa favela!!! Claro que apesar de ser feita com os mesmos materiais, tem aquecimento debaixo do chão e acesso à net! E deve estar bem limpa, nem ratos nem bicharada, calcula-se.




Se o Hotel oferece este serviço é porque existe quem o queira.
Afinal para ser mesmo, mesmo autêntico, era bem mais fácil, uma simples troca, eles iam habitar o local tal como estava e a família que residisse naquela casa (?) passava os mesmos dias no Hotel, na suite que a que eles teriam direito. Um pouco mais realista.
E mesmo assim, nunca seria nada de aproximado, porque sabiam que era uma experiência, que quando acabasse tudo voltava ao normal.
Na mesma linha, quando um dos muitos idiotas paternalmente aconselham como se deve viver com salários mínimos, tenho eles todos os meses 10 vezes mais, há quem diga que seria bom obrigá-los a vivenciar a experiência de subsistir um mês com aquela verba. Claro que lhes podia dar uma ideia, mas era sempre falso, porque sabiam que no fim daquele mês - ou ano que fosse! - aquilo acabava e os seus recursos habituais estavam lá. Psicologicamente é outra coisa. O factor mais pesado, a angústia do futuro, não existia. Será que percebem isto?!
Mas esta estupidez do bairro da lata, é de arrepiar, isso é. 


Cereja

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Direitos do consumidor e prazos de validade


Não sou só eu a queixar-me.

Confirmei há poucos dias que outras pessoas que conheço têm a mesma irritação. Um dos direitos do consumidor que me parece mais justo é saber quando compra seja o que for, no caso de aquele produto ser perecível, até quando o pode consumir. Normal, não? Afinal o dinheiro com que se pagou também não desaparece ao fim de um tempo determinado - o que costuma desaparecer é aquele que ainda ficou na nossa carteira...
Há certos produtos, cujo prazo é definitivamente curto como por exemplo os iogurtes, onde essa data costuma estar afixada no topo da embalagem de um modo claro. O leite de pacote também costuma ter a data num sítio bem visível. E depois há produtos que sendo menos perecíveis - conservas, bolachas, embalagens diversas de qualquer produto alimentar, também devem ter gravado o prazo de validade e aí, muitas vezes, a busca mais especializada faz-nos perder um tempo incrível, porque não se encontra ao primeiro olhar, nem ao segundo, nem ao terceiro...
E, o que irrita, faz perder tempo e creio ser um bom motivo para uma proposta a um grupo de defesa dos consumidores, é que cada produto, cada marca, cada embalagem, tem um sítio diferente para afixar esse dado importantíssimo. Para além do tamanho e tipo das letras, sistematicamente bastante pequenas com raras excepções, o local onde aquilo se 'esconde' também varia que se farta... Uma pessoa consciente, que não atire para dentro do carrinho de compras o primeiro produto que vê, perde um tempo enorme à procura da sua validade. Muito irritante. Até porque, sem grandes «manias da conspiração», a verdade é que quem sai beneficiado dessa caça ao tesouro é o produtor e o vendedor porque quem tenha pouco tempo ou paciência, compra de qualquer modo até produtos à beirinha de se estragarem.
Antes de começar a escrever isto, deu-me para fazer um levantamento, e fui pesquisar na minha dispensa: em latas diferentes encontrei 3 com a data de validade na tampa, 5 ao lado, 5 no fundo, 3 delas em baixo-relevo, e as outras em caracteres ou pequenos, ou muito pequenos. Nos pacotes, encontrei 3 com as datas no fundo, 2 com as datas ao lado, 4 com as datas ao fundo mas em baixo-relevo que não se conseguia mesmo ver ! E um deles (viva!!!) com a data no fundo e muito legível, letras de bom tamanho. Nos frascos, uns têm a data na tampa, outros no rótulo e em sítio variados.
Bem. 
Uma proposta para ser apresentada à Defesa do Consumidor: que venha uma lei que decida sobre o tamanho e o local que deve apresentar a data do prazo de validade, por exemplo do tamanho do preço e na tampa. E uniformize-se isso para todas as embalagens! De um modo muito visível, nada daquelas coisas em baixo relevo, que não se conseguem ver e ler.
Como se fará essa proposta? Dizer aqui no blog não chega, mas tem de haver uma maneira de o fazer.


Cereja

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Dez segundo para o arrependimento

Melhor do que nada...
Li por aí que o Google nos vai dar uma prenda. Para os mais impulsivos, que escrevem mails assim num repente e, mal clicaram já estão aflitos com o disparate, agora têm até 10 segundos depois de apertar o botão “enviar” para cancelar a acção.
Uma bela ideia. Afinal qualquer um pode querer corrigir uma coisa que fez mal, até no facebook podemos não apenas apagar como até 're-editar' segundo a sua expressão, e escrever de novo. 
Faz sentido.

O que me está a dar vontade de rir é que o dedo no gatilho deve ser tão veloz a escrever como a apagar!!! É certo que 10 segundos é mais tempo do que pode parecer - basta lembrar os anúncios que temos de suportar nos intervalos dos programas de tv...-  mas mesmo assim é uma decisão rápida. Corresponde um pouco a clicar-se ao mesmo tempo que se pensa «Ai, que disparate!!!»

E que tal (proposta que eu faço, de graça, aos senhores do google) para quem reconhecer ser impulsivo poder activar algo que obrigue o seu  email passar sempre por uma fase de 'rascunho' antes de clicar definitivamente no envio? 
Voilá!





Cereja

domingo, 7 de dezembro de 2014

Redes sociais e a bola-de-neve

Não é a primeira vez.
Nem a décima, nem a centésima, nem a.... E claro que não será a última.
Passa-se hoje nas «redes sociais» mas antes de elas serem tão utilizadas, este fenómeno já se encontrava na net, através de fw que circulavam nos nossos mails anos a fio. Surge uma história que impressiona umas pessoas e põe-na a circular com a sua crítica indignada. Mais tarde, prova-se que foi um mal-entendido. Mas como não se pode 'ir atrás' do texto que já passou por milhares de pessoas, mesmo que se escreva outro a esclarecer, acreditar-se-à sempre na primeira versão.
A última história que já não se consegue parar é esta: alguém verificou que uns sem-abrigo de Marselha, usavam um saquinho pendurado ao pescoço que tinha um triângulo amarelo. Para os mais velhos, ou mais informados, ou com interesses sociais ou políticos mais firmes, aquilo foi um choque. * O quê???!!! Depois da estrela amarela para os judeus, um triângulo amarelo para os pobres?!
Eu fui das que se sentiu arrepiada. I-na-cre-di-tá-vel! Tão inacreditável, que achei demais e procurei saber qual era a ideia daquele símbolo. 
Objecção -  o correcto seria dar um tecto a essas pessoas, tirá-las da rua. Mas, enquanto isso não acontece, pode talvez minorar-se algumas dificuldades. E naquela bolsa vinham os esclarecimentos necessários aos paramédicos, que doenças aquela pessoa tinha e de que tratamento necessitava. Não pretendiam fazer uma descriminação, sobretudo  descriminação negativa. 

Mas a ideia infeliz do triângulo amarelo estragou tudo, porque não uma cruz vermelha, por exemplo? Porque o que agora circula sem controlo nas redes sociais é que uns malvados  neo-nazis estão a assinalar uns sem-abrigo sabe-se lá com que intenções.

E mais nada!


Cereja

* Como nota, acredito que, para quem o nazismo é uma história velha, esse símbolo não evoque nada de mau. Ainda há pouco tempo uma marca de roupa conhecida, lançou um pijama para crianças com riscas pretas e brancas e uma estrela dourada. O modelo foi retirado debaixo de protestos. Mas a explicação, talvez cínica mas talvez sincera, era que pretendiam lembrar um western, e era uma estrela de sherif.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Bibliotecas Cabeleireiras ambulantes

Num saltitar entre notícias, (creio que o termo zapping se usa apenas para a  televisão) encontrei uma história muito interessante 
Fútil? O que pode interessar os serviços de uma cabeleireira, quando muitas vezes faltam respostas básicas e fundamentais? Isto é o que muita gente mal-humorada diz.
Não acho nada.
Pelo contrário achei uma ideia brilhante! 
Aliás como resposta ao azedume de quem considera um erro grave pensar-se no supérfluo quando falta o essencial, devo dizer que para mim é esse supérfluo que muitas vezes nos dá forças  para andar de cabeça erguida. E nem sequer é este caso. Segundo conta reportagem uma carrinha foi transformada num salão de cabeleireiro ambulante e «percorre as aldeias mais isoladas de Miranda do Douro para levar os serviços de estética a todos os seus habitantes» Palmas!!!
Quando com a falta de trabalho vejo surgirem sobretudo várias respostas (boas, interessantes, bem-intencionadas, sem dúvida) de gente que pretende 'vender coisas', fico encantada com alguém que vai vender um serviço. E, neste caso, um serviço social! Que pode ser lido de muitas formas:
Para uma pessoa que viva numa terra isolada, encontrar quem lhe lave cuidadosamente a cabeça e lhe corte o cabelo deixando-a bonita e perfumada, é um prazer. Dirão que isso se pode fazer em casa. Pode. E não é uma coisa de vida ou de morte... Mas é o toque que pode mudar a qualidade de vida.
O cabeleireiro ou o barbeiro é o centro de convívio por excelência. Onde há um encontro entre iguais, onde se trocam opiniões, se conversa, se vê revistas de mexericos e se analisam os ditos em voz alta. Ninguém se sente só num salão de cabeleireiro. E há o conforto da água morninha na cabeça, o perfume do champô, a carícia dos dedos de quem nos lava. O cabelo que ganha forma debaixo da tesoura e pente de quem sabe. Tudo isso tem um valor psicológico enorme! Isto do ponto de vista do cliente.
Por outro lado, quem se lembrou deste serviço arranjou trabalho numa altura onde ele falta cada vez mais. Até mesmo nesta área, onde há anos se via abrir porta sim porta não mais um cabeleireiro, tenho verificado que muitos deles estão agora às moscas. E esta iniciativa faz com que vá a montanha a Maomé, com vantagem também para a montanha é claro...
Existiam as Bibliotecas Ambulantes o que era também uma excelente iniciativa, apesar de com o advento da TV se encontra uma distracção mais «fácil», infelizmente. Mas Cabeleireiro Ambulante?...
Uma magnífica ideia. Os mais sinceros votos de que seja um êxito.



Cereja

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O valor do dinheiro preço


O preço é coisa importante.

Dizemos «apreciar» como sinónimo de gostar. Prezar é demonstrar apreço, consideração, estimar. E não deverá (ou deveria) estar tão associado a dinheiro! Afinal 'o preço' de uma coisa pode não ser em dinheiro se «a coisa» não for um objecto, não é verdade?
Bem, mas o mais corriqueiro é pensar-se em valor comercial, e portanto o preço é o dinheiro que se tem de pagar para possuir seja o que for. E, nessa linha de pensamento, há a mania de pensar que quanto mais caro algo é, melhor será a sua qualidade. Temos o aforismo de «o barato sai caro» significando que quando se paga pouco a qualidade é sempre tão má que fizemos um disparate.
Aliás é geral a desconfiança, qualquer coisa que nos pareça muito barata, não pode ser de boa qualidade... 
E também há o contrário, o ser aos nossos olhos tão absurdamente caro que imaginamos estar enganados! Recordo a risota que foi quando o marido de uma amiga perguntou o preço de um relógio e perante a resposta, murmurou, sinceramente: «Aaah...! É de ouro?» Não, não estava a fazer-se engraçado, acreditava que só podia ser de ouro. Aliás hoje em dia também dou por mim a imaginar que propriedades maravilhosas terão alguns produtos para custarem o que custam. 
Mas também há a convicção de que para-ser-bom-tem-de-ser-caro.
Ontem fui a uma farmácia. Enquanto esperava ser atendida prestei atenção à conversa que se travava ao balcão entre uma cliente e quem a atendia. A cliente, vestida de um modo muito modesto e que tudo indicava ter bastantes dificuldades económicas pretendia determinado remédio. Levava uma indicação, que imaginei ser uma receita, apesar de eu não ver bem. A farmacêutica estava-lhe a explicar que existia um genérico daquele mesmo medicamento, com a mesma composição. A cliente mostrava-se desconfiada... Eu apurei o ouvido quando percebi que o valor do medicamento era de 22 € e olhei para a cara da senhora que estava muito pensativa. E o genérico? Ah, o genérico custava 3 €. Tal e qual! Quando eu pensava que a questão estaria resolvida, oiço que a cliente decide rejeitar o genérico porque era tão barato que não podia fazer o mesmo que o outro.
Ainda houve uma discreta tentativa de esclarecimento sobre a composição do genérico mas a cliente saiu com o remédio de marca no saco. E de certo ia fazer-lhe bem, porque a parte psicológica é muito forte.


Cereja

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Privacidade? Não é difícil...

Há uma expressão popular que nos ensina, numa metáfora agrícola, que não podemos desejar ter «sol na eira e chuva no nabal». E isto aplica-se na grande maioria das opções que fazemos.
Um dos grandes avanços do último século deu-se na área da comunicação. Há pouco mais de cem anos, para se transmitir qualquer coisa ou as pessoas se encontravam e falavam directamente, ou enviavam um recado escrito, por mensageiro ou por correio. Nesses tempos para se saber um segredo ou se ouvia a conversa ou se lia o recado, mais nada! 
O tempo acelerou - vieram telefones, depois telemóveis, internet, redes sociais. Como toda a gente sabe a comunicação hoje em dia é instantânea e para todo o mundo, basta lermos um romance ou vermos um filme passado há umas dezenas de anos para sermos confrontados com esta mudança impressionante.
Mas se temos o «sol na eira» para secar o milho, não podemos esperar ter a «chuva no nabal» ao lado para regar os legumes. Ou seja, se escrevemos uma coisa na rede social, sabemos de antemão que não será guardado como o segredo que cochichamos ao ouvido do nosso maior amigo! Haja bom senso!
É que, periodicamente, (que eu recorde já é a terceira vez que isto circula) os meus amigos utilizadores do facebook deixam lá um aviso onde previnem que se quem gere a tal rede social lhe roubar comentários ou imagens irão proceder contra eles. Embora me peçam para «partilhar» aquela declaração nunca o fiz por achar de uma enorme ingenuidade. Aliás ainda hoje li uma «resposta» que confirma o que eu achava...
Aos meus olhos é completamente evidente que quando se coloca qualquer coisa 'on line' há o risco de ela se tornar pública, deixou de ser segredo. Que os meus emails sejam privados, admito, tanto como uma carta que venha pelo correio. E mesmo assim... As cartas podiam ser abertas com o vapor do bico de uma chaleira, e o email pode ser piratado, sabemos isso. Mas é mais recatado, reconheço, um fw enviado por email só deveria chegar às pessoas a quem o envio.
Agora vejamos, escrevo uma coisa no facebook ou twitter mesmo para um grupo restrito, e admiro-me que aquilo seja usado....?! 
Bom senso, precisa-se.
Se desejo que algo seja privado tenho uma solução - não a digo na internet. 
Mais nada!

Cereja

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Escutas Olhos e ouvidos do Rei

Sabemos que há poucas coisas novas debaixo do sol, não é? O que muda - e muito! - é a tecnologia, mas os interesses humanos levam muito, muito tempo a mudar.
Tenho pensado bastante, ultimamente, nesta coisa das 'escutas'. Coisa antiga, claro está. Aprendi quando era miúda que tinha começado lá na Pérsia Antiga, quando o imperador tinha criado uma força de espiões que ouviam o que as pessoas pensavam e iam contar. Uns milhares de anos depois, os senhores que mandam, fazem o mesmo: escutam o que as pessoas dizem quando não sabem que estão a ser ouvidas, para depois as acusarem, com a justificação, é claro, que é para se defenderem...
Sempre achei que era coisa feia. Porque quem fala, pensando que o que diz é para determinados ouvidos, organiza o seu pensamento de um modo que nem sempre pode ser generalizado.

Recordo uma cena a que assisti, já com muitos, mesmo muitos anos, altamente constrangedora:
Tivemos uma questão complicada no Serviço onde eu trabalhava. Uma pessoa tinha sido transferida de lá sem aviso, o que fazia perigar toda uma resposta que o responsável por essa área estaria a dar. Era um caso bem grave. Reuniram-se de emergência vários técnicos para estudar a situação, e uma colega e amiga minha, muito desembaraçada, insistiu muito para que um dos presentes aceitasse o lugar que estava vago. Seria uma boa solução, de facto, era uma pessoa muito competente e até acima do que seria necessário para o cargo. Ele aceitou. Ela, felicíssima, liga de imediato para o coordenador e diz-nos antes toda sorridente «Vou pôr o telefone em alta voz, para ouvirem a alegria dele!»

Bom, a cena devia ter sido filmada!!! Porque depois da notícia a «alegria» resumiu-se a um enooorme silêncio e, enquanto nos entre-olhávamos, ele só responde «ah...» num tom muito infeliz. E ela, palerma, a insistir «Conseguimos o *****!» mas ele continuava, mostrava que não achava nada boa ideia, e ela interrompeu «Estamos em alta voz!» e claro que o tom mudou completamente.

Às vezes recordo essa cena caricata, para esclarecer que o que dizemos depende muitas vezes de quem nos está a ouvir, e nem é por mal. Mas seja o que for, desligado do contexto e do momento, pode ter leituras perfeitamente opostas.
Pois é! (esta carapuça não tem nome, serve a qualquer pessoa)


Cereja

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Confusão e neblina

Os últimos tempos dias têm vindo a baralhar muito a minha capacidade de ver claro.
Li, num post de O Jumento esta frase: «Dizem-nos para não confiar nos políticos e confiarmos nos magistrados, os primeiros devem ter o estatuto de tendencialmente corruptos enquanto os segundos são umas prima donas da democracia, os sacerdotes que rezam no altar da democracia. Mas o facto é que não é aos juízes formados nos tribunais plenários que devemos os bons princípios da nossa justiça e da Constituição, é aos políticos e aos militares, não foram os juízes que construíram a democracia ainda que hoje se considerem os seus donos e protectores.»
Pois é.

Detesto generalizar. Detesto ainda mais generalizar sobre uma profissão porque dá sempre asneira, somos inevitavelmente afectados pela nossa experiência pessoal no que a essa profissão diz respeito.
Mas...
Felizmente vivi a maior parte, quase a totalidade, da minha vida sem entrar num tribunal.
Fi-lo umas 3 ou 4 vezes.
E dessas, 3 vezes a sentença final do juiz pareceu-me profundamente injusta. Profundamente. Fazendo num caso tábua rasa de pareceres técnicos de peritos com uma longa experiência na matéria, e noutro repescando um pormenor técnico que o advogado deveria ter rebatido se o pudesse ter feito (não sei como isso se processa) Ou seja, a imagem que tenho dos juízes, não é que estejam acima dos graves erros dos comuns mortais. Pelo contrário, pela minha experiência, até erram mesmo muito.
Por isso os últimos acontecimentos me deixam muito confusa e embaraçada.
Não quero fazer juízos de valor, mas que a nossa justiça não tem a venda bem posta, não tenho nenhuma dúvida.


Cereja

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Tempo(s)


Sabemos que existem vários 'tempos' apesar de nem sempre nos lembrarmos disso.
Ouvi ontem na rádio um senhor, que até disse coisas bem interessantes, censurar quem usa a expressão «no meu tempo» que ele considera um erro, sugerindo essa expressão que quem o diz vive no passado quando o tempo actual também é dele. Não concordo. O tempo de hoje também é dos mais velhos, a inversa é que não - para os mais jovens o passado próximo é História.

Fait-divers pessoalíssimo: ontem comprei um telemóvel novo.
Por feitio meu só os costumo mudar quando dão o pio final, o que demora alguns anos. Mas desta vez o bicho de três aninhos de idade, apesar de ainda fazer telefonemas e mandar mensagens, ficou desactivado de uma ou duas coisas que também uso e decidi trocá-lo.
Fui à loja e abordada por uma vendedora expus o que pretendia. Eu estava aberta a qualquer opção, a condição era o preço que tinha de ser bastante limitado. A menina, boa vendedora, muito simpática, mostrou-me as opções sem 'impingir' nada, apenas explicando as vantagens relativas. Gostei muito dela, e como a operação foi demorada fiz alguma conversa.
Como o seu aspecto e das colegas era extremamente jovem, fiz esse comentário, dizendo a rir que pelo menos 16 anos tinham de ter todas...  :D Tinham mais mas não muito, andavam pelos 18 e explicaram-me que era part-time, estavam ainda a estudar. Conversa agradável. 
No final perguntou-me se queria levar o telemóvel já ligado, o que aceitei agradecida. Não gosto nada de explorar as entranhas dessas bichos, depois de os começar a usar nunca os abro como vejo alguns amigos fazerem. Portanto fiquei contente com a oferta, essa parte ia já despachada. Mas, eis senão quando, surge um obstáculo: o meu cartão velhinho não cabia na patilha do telemóvel novo! Pedido conselho a outro colega fui aconselhada a ir ao fornecedor pedir outro cartão.
O engraçado aqui é que quando começámos a investigar porque é que o cartão estava tão velho, expliquei-lhe que aquele devia vir ainda do meu primeiro telemóvel, ou seja o cartão era quase da idade dela!! Esse pormenor fez-nos rir as duas! Aquilo ainda era do tempo em que o telemóvel era do tamanho dos actuais telefones sem fios (os grandes) e não havia assim tantos como isso...
Mas o pensar que aquele chip já andava na minha carteira quando ela usava chucha é uma imagem forte. Essa parte do meu tempo, é mesmo só minha e da malta da minha colheita.


Cereja

domingo, 16 de novembro de 2014

Alimentação

Li há uns tempos uma notícia reportagem que me pareceu muito interessante. Passando directamente à frase com que pretendo acabar este post, podemos concluir que "a comida não é só sabor".
Muito pelo contrário.
A história era engraçada e contava como tinha sido levar 5 crianças a comer uma refeição num restaurante de luxo. Mas não tinha sido irem de mão dada aos pais, e comerem aquilo que vinha na lista, ou o que escolhessem pelo nome. Não senhor! Eles foram uma espécie de júri para avaliar a competência desse restaurante. «Cada prato foi devidamente explicado aos cinco críticos e depois pontuado numa grelha construída à medida, em que a avaliação se desdobrava em apresentação, sabor, cor, textura e cheiro. Todos os itens foram avaliados numa escala de 1 a 5.» Ora isto é que é interessante: apresentação, sabor, cor, textura e cheiro. Quatro dos nossos sentidos eram necessários para uma boa avaliação da qualidade daquela refeição. Faltou o ouvido, e se calhar....
Notem ainda que para estas crianças, o sabor foi o menos valorizado!

Isto vem muito ao encontro daquilo que penso quanto à comida. Uma refeição é (pode ser ) um momento social. É certo que comemos para nos manter vivos e para isso é necessário ingerir vários produtos. E, claro, pode ser simplesmente uma rotina, uma obrigação, como lavar os dentes ou calçar os sapatos, ou um momento de prazer. Ora muitas vezes oscilamos entre os dois extremos, o que se nota bem quando comemos sozinhos em casa, ou com um grupo agradável. E, para mim, mesmo quando comemos em casa, a apresentação do prato que vai para a mesa tem importância. O colorido dos produtos que  são utilizados. o modo como a sua cor e textura se combinam. É uma grande convicção que tenho, não é nos grandes restaurantes que se aprende a comer bem, é no dia a dia da nossa casa. E muitas crianças niquentas, que não gostam disto e daquilo, torcem o nariz porque a apresentação à má!
E, sei do que falo, excepto quando se despeja directamente do tacho para o prato, é sempre possível sem aumentar quase nada o trabalho mostrar uma apresentação agradável.
A comida não é só sabor, pois não!





Cereja

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Velocidade e reflexos


Eu vivo em Lisboa.

Sempre que posso escolho o transporte público mas, como é de esperar, também me desloco bastante de carro que conduzo há dezenas de anos - e aliás quase sem acidentes. O que quer dizer que sou uma observadora e participante activa nas questões do trânsito da nossa capital.

Li há momentos que os radares para verificar a velocidade da circulação em certos locais, que andam avariados há já algum tempo, vão voltar a funcionar. Cá por mim sempre pensei que não se devia era saber que eles não-estavam-activos, porque ver o radar é já dissuasor de grandes correrias... Mas sim, o excesso de velocidade é um perigo, e desconheço se a multa acompanha a velocidade, que é o que devia ser: ultrapassar ligeiramente o limite é bem diferente de passar a mais 10 ou 20 km como muitas vezes se vê.
Mas, para quem circula bastante por Lisboa uma das coisas que mais impressiona é a lentidão de reflexos. Bem sei que nem todos podemos ter reflexos de guarda-redes, mas por amor da santa, é desejar muito que ao acender o verde a fila comece a andar de imediato? Quantas vezes volta a cair o sinal vermelho e alguns carros ainda estão parados?! E, inversamente, eu quero acreditar que é por lentidão de reflexos que se passam tantos sinais vermelhos nos semáforos desta terra. Só pode ser.
Dentro das manobras perigosas da condução, o não respeitar um sinal vermelho é das mais graves. Devia ser uma coisa que só se verificasse muito, mas mesmo muito raramente. Como é possível que eu o veja todos os dias e até sucessivamente em vários semáforos da mesma rua?! A minha lógica diz-me que só podem ser condutores com péssimos reflexos: vêm o amarelo mas levam tanto tempo a reagir que passam no vermelho. :(
Não sei como impedir esta calamidade. Talvez que ao tirar a carta, para além daquele complicadíssimo teste de respostas múltiplas armadilhadas, se devesse fazer também uma avaliação à rapidez de reflexos para que quem os tivesse mais lentos tivesse bem consciência disso. Não é só o pé pesado no acelerador que é grave, a consciência do meio que nso rodeia também é extremamente importante.


Cereja

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Dia da Poupança

Parece que é esta sexta, dia 31, o tal Dia da Poupança. E mais uma vez leio por aí vários e generosos conselhos que me ensinam a poupar. 
Começa pelas lojas, tendo à cabeça os hipers, supers, esses grandes mercados que alegremente insistem que devemos 'poupar' comprando.... muito. Explicam: se comprar 10 objectos vai ganhar imenso porque tem um desconto de metade do preço, 5 saem-lhe de graça! Uau! Mas, deixa cá pensar... só preciso de 2. Vou levar 8 a mais para quê? Porque assim poupo dinheiro, explicam-me. Não acho nada. Eles, sim, ganham mais porque vendem mais e ainda escoam os produtos. Aliás se vendem por metade, mesmo que esse fosse o preço que lhes custava, significa que o lucro habitual era impressionante... Mas a cenoura-na-ponta-do-pau é que o consumidor poupa muito. Nunca apreciei isso, que me deixa a dispensa cheia de coisas que vou levar um tempão a gastar. Mas adiante.
Depois aparecem os conselhos que já enjoam: desligue as luzes, tome duche, use metade do autoclismo, aproveite os restos, use transporte público, faça listas de compras. Banalidades, coisas que nem no tempo das vacas muito gordas eu deixei de fazer, e é uma surpresa que seja aparentemente novidade para quem dá esse tipo de conselhos. Claro que há outros mais actuais, que vão penalizar a restauração - não tomar café na rua, levar o almoço para o trabalho, tomar o pequeno-almoço antes de sair de casa - e aí pode-se poupar alguma coisa, mas não servem para mim que já o fazia.
O que me faz reflectir é como se nota tanto nesta questão de que tipo de economias se fazem, as faixas sócio-económicas. O viver abaixo, muito, muito abaixo dos hábitos de há 20 anos, para algumas pessoas que conheço é viver muito, mesmo muito acima dos meus actuais hábitos, assim como sei que algo que me parece a mim mesquinho de fazer, será normal para quem vive com muito menos do que eu...
Poupar? São tão simpáticos os Continentes e Pingos Doces a ajudar-nos, enquanto o Soares dos Santos e o Belmiro de Azevedo vão recheando o seu porquinho enquanto o nosso está no regime do cavalo do inglês. Até quando?



Cereja

domingo, 26 de outubro de 2014

O preço valor da vida

Há histórias horríveis que lemos por aí e outras ainda mais horríveis e que até custam a aceitar. Como por exemplo se atropele deliberadamente alguém que já está ferido. E se estiver ferido por ter sido momentos antes atropelado? E se a vítima for uma criança? A monstruosidade é de tal envergadura que nos custa acreditar. Claro que a percentagem de existir alguém assim, deve ser remota, uma em menos de um bilião que é a população do país onde o monstro vive - China. 
E talvez me tivesse sentido ainda mais admirada por ter uma ideia confirmada de que os chineses gostam muito de crianças, quem conviveu com eles pode confirmar, portanto aquele acto pavoroso vai até ao arrepio do que é normal naquele povo ou naquela cultura.
Lendo toda a notícia, referem que o culpado estava a fugir a pagar a hospitalização da vítima porque «o país não oferece assistência médica gratuita aos cidadãos» e fazendo as contas de cabeça lá achou que a indemnização em caso de morte era mais barato! Ficaram tão arrepiados como eu?
Como é possível que isto se passe num país que já viveu muito próximo do socialismo...? Hoje em dia uma pessoa (para não falar numa criança!) que adoeça ou tenha um acidente tem de pagar a sua saúde?! Que trambolhões aquela terra tem dado. Anda a conquistar a economia mundial mas trata assim os seus cidadãos. 
Oh que vergonha! 
..............
Isto sim é que é «perder a face» que os orientais tanto temem.



Cereja




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sábado, 25 de outubro de 2014

Há para aí uns adultos que parecem crianças....


Acabei de ler uma história que me deixou de boca aberta.

A história é ESTA
Ou seja, dividindo isto às postas para ficar mais claro. a) há um menino de 5 anos que brinca ao pé dos pais com o iPad deles. Não tem mal nenhum. Apesar de [cof...cof...] se poder pensar que num mundo onde as multinacionais de brinquedos são o que se sabe, talvez ele devesse brincar com os seus próprios brinquedos que decerto era muitos. b) esse menino de 5 anos instalou um jogo novo demonstrando ter grandes competências, ou essa instalação ser facílima. c)  o novo jogo tem o título interessante de «Zombies vs. Ninjas» porque aos 5 anos já não se acredita em contos de fadas, os zombies são muito mais fixes 
OK. Até aqui se lhes pareceu que eu estava a resmungar, é ainda só o meu mau feitio.
Mas vem agora a parte interessante:
e) E os pais deram-lhe o número!!!
f) A criança esteve a brincar matando uns ninjas ou uns zombies (não sei se os zombies morrem...?) e no dia seguinte os pais tinham menos 2.000 euros na sua conta.
...........

Claro que houve aqui algum abuso porque não se explicou que havia compras-dentro-da-aplicação e parece que a história acabou bem porque o dinheiro foi devolvido. E explicam que o que pode parecer apenas um botão para uma criança pode corresponder ao débito de muitos euros na carteira dos pais.

Mas...!!!

Seja por que motivo for, deixar uma criança a brincar sozinha com um instrumento desses?? E ao pé dos pais quando decerto haveria imensas coisas a fazer com os pais e não com uma máquina! E a leviandade de inserir um código de acesso à conta sem confirmar o que estava a fazer!
Bem, imagino que o susto lhes tenha servido de lição, mas esta é mesmo uma história para fazer pensar, tantos os erros cometidos.
E que tal uns chutos numa bola, ou um cesto de basket  na parede, ou até uma corrida à volta do quarteirão? Afinal até os ninjas têm de treinar, não é?


Cereja


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Inocência perdida?


Quem tem acompanhado crianças ao longo da vida tem de notar como, inevitavelmente, elas são o espelho da sociedade em que são criadas. Aliás, qualquer um de nós recorda ainda como via o mundo quando tinha 5 anos, mais ou menos. como eram os adultos aos nossos olhos. Que modelos tínhamos e que resposta se dava à velha pergunta o-que-queres-ser-quando-fores-grande.  
Quando eu era criança as respostas eram bastante mais influenciadas pelo género do que hoje em dia, havia mais do que hoje o desejo de menina e o de menino, os rapazes podiam querer ser bombeiros, marinheiros ou aviadores que as fardas enchiam o olho, as raparigas sonhavam ser bailarinas, cantoras, professoras, enfermeiras. E um desejo para os rapazes perdurou até agora - jogador de futebol! Nessa altura era sobretudo o prestígio mas a pouco e pouco associou-se à ideia de que também se ganha muito dinheiro! Nada contra. Anos mais tarde apareceram os astronauta, cantores de bandas, etc, etc. Mas ontem li para aí uma resposta que me deixou completamente de boca aberta. Dizia uma criança em relação ao seu futuro que «quer ir para a faculdade, tirar um curso e chegar a agente das estrelas do futebol.»  Assim. Sic! (fiz copy/past do que estava escrito)

Já não é o sonho que tem sido transversal a algumas gerações de ser "estrela de futebol", não, o que este miúdo diz é que quer ser agente. Valha-me São... Ups! São quê? Que santo me/os pode proteger? Bem, a profissão é honesta, tem uma associação e tudo, mas...

A mim faz-me confusão os brutais lucros que estes senhores conseguem obter. Que um jogador de primeiro plano ganhe balúrdios, é impressionante mas enfim... É um artista, digamos assim, dá prazer a muita gente, faz o que só ele sabe fazer e ainda por cima exerce uma profissão de desgaste rápido que dura um quarto do tempo de qualquer outra. Agora o «agente» não serve para nada a não ser negociar contractos, só ganha principescamente? a vida porque os outros trabalham, um empresário de jogador é um intermediário que pode acumular dezenas de 'clientes' ganhando uma bruta percentagem. 

E esta criança tem como fito na vida ser... agente?! Ir para a faculdade, estudar muito, para ser agente?
De facto o mundo da minha infância não tem nada, mas mesmo nada a ver com o actual.


Cereja

sábado, 18 de outubro de 2014

Um fim-de-semana para esquecer...

Do ponto de vista doméstico, claro!
Mas este meu fim-de-semana apanhou um mau olhado qualquer.
Começou a correr mal já nos últimos dias da semana.
Eu odeio baratas. Já estão lá para trás alguns posts sobre esse tema. Tenho um nojo visceral, uma coisa um tanto inexplicável,  que reconheço ser exagerado, mas não o consigo controlar, é um insecto particularmente repulsivo. E, na minha casa que é antiga e tem condições para as ter, eu tenho a mania de que as consigo expulsar todas! Ora na 5ª e 6ª feira elas começaram a aparecer, mas moribundas. Várias, mas mal se mexiam e acabavam por morrer sem eu quase lhes fazer nada. Começo a fazer deduções e, quase de certeza, o que se passa é que algum dos meus vizinhos também «desbaratou» a casa com algum produto forte e elas vieram-morrer-longe, ou seja vieram morrer na minha casa. Gnag, ca-nojo!
Saí dali depressa mas também porque era fim-de-semana e altura de voltar à minha casa de aldeia abandonada há cerca de um mês. Tinha pedido para me fazerem uma grande limpeza, não exactamente a 'limpeza da primavera' que se fazia na casa dos meus pais, seria antes a 'limpeza de outono', e a senhora que tem a chave daqui costuma ser muito boa nisso, a casa fica sempre limpíssima. E desta vez, estava tudo impecável de facto, simplesmente no afã de limpar o chão da cozinha, devem ter querido tirar o frigorífico do sítio e desligaram-no da tomada!!! Meus amigos, se não passaram por isso não conseguem imaginar.
O congelador que é razoavelmente grande e estava muito cheio só o consegui despejar com um lenço a servir de máscara. E mesmo a parte debaixo, com muito menos produtos, estava preta... Uma hora a despejar e limpar tudo e o cheiro a empestar a casa. Vai ter de ficar aberto com vinagre, bicarbonato de sódio, sei lá que mais a ver se volta a ficar utilizável. 
Vamos lá pensar, que outra coisa poderá correr mal?


Cereja

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Magrura é formosura?

... ou "a parvoíce dos estereótipos"!
Na minha infância não era moda ser-se magro.
De modo nenhum, pelo contrário! A verdade é que a tuberculose era ainda um flagelo, mal comparado era quase a sida desses anos. Era doença contagiosa, muito mortal, e que quase exigia que os seus doentes fossem afastados da sociedade, fossem para sanatórios onde não contagiassem ninguém. E, o modelo do tuberculoso era alguém magro, até muito magro, portanto esse aspecto não era atractivo. Claro que também não seria atractivo quem fosse claramente gordo, portanto o 'modelo' era ter um volume (?) médio. No meio está a virtude...
Quanto às mulheres, o que era sexy era a «ampulheta», cintura fininha, o mais fininha possível, e peito e anca mais volumosos - se possível com a mesma medida, mas sem excessos. Curvas sim, bastantes curvas tal como a Brigitte Bardot ou a Marylin Monroe.  Depois os tempos mudaram muito, o modelo passou a ser a Twiggy, quase andrógina para além de super magra. Essa moda também passou (felizmente!) mas desde aí que o ideal de magreza ficou. Sem aquele exagero, mas... Nunca se falou tanto na forma física, dietas, exercícios, olha-se para o prato avaliando quantas calorias lá estão sendo isso mais importante do que a sua aparência ou se cheira bem. Uma ditadura. E, quanto ao corpo feminino, o modelo já não é a ampulheta: são seios grandes que podem ser moldados por cirurgia plástica, e um rabo firme não já a anca como nesses tempo antigos onde até parecia feio falar-se em rabos. As voltas que o mundo dá....!
Lembrei-me disto por ter lido em sucessão duas notícias tipo fait-divers. Por um lado a referência a uma senhora, que por acaso até é Ministra da Saúde e que é gorda. OK, diz a notícia que aquela obesidade é por doença, e deve ser porque é grande, mas é fantástico isso ser notícia! Essa agora?! A outra história, também interessante, é sobre uma actriz que desfilou em fato de banho não estava tão elegante como os padrões exigiam e sofreu uma série de críticas e enxovalhos. Exactamente. 
Agora para se ser bonito é indispensável ser-se magro. A expressão antiga de «pau de virar tripas» deixou de fazer sentido, nem se se tem pena de quem esteja magro. A gordura não é de todo formosura, até provoca um trejeito enjoado a quem fala, a magrura é que o passou a ser.
Tempos.
E estereótipos. 


Cereja

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Recordações

Deu uma certa celeuma nas redes sociais, a notícia de que Portugal na «conferência de dadores para a reconstrução da faixa de Gaza » tinha oferecido 25 mil euros. Bem, se lermos bem toda a notícia dizem que é uma quantia simbólica. Mas de facto é um pouco confuso porque para símbolo é muito e para oferta real é pouquíssimo. Alguns meus amigos de facebook deixaram comentários trocistas ou irritados, e alguém disse que se não há dinheiro mais valia não dar nada.
É também em parte essa a minha opinião. Símbolo por símbolo, fazia-se como quando se compra uma propriedade por um euro, um valor de facto simbólico.
Este caso de uma esmola demasiado pequena (dizia-se «para pouca saúde mais vale nenhuma» o que é um manifesto exagero parece-me, apesar de tudo falecer é ainda pior...) fez-me voltar aos dias da minha infância mais recuada. Na minha família havia uma frase que se dizia entre sorrisos quando havia excesso de poupança: "para-isto-mais-vale-nada"
Eu nasci e fui educada num ambiente de grandes economias, a generalidade do pós guerra mas mais exagerado em casa dos meus avós paternos. Por outro lado embora houvesse racionamentos, a mesa sempre foi farta, sobretudo para mim que era criança de pouco apetite. Mas havia regras. Rígidas até, como nunca deixar comida no prato, as cascas da fruta eram fininhas, rapava-se a carne toda junto aos ossos só eles ficavam no prato, etc, coisas que eu via os adultos fazer apesar de ser pequenina para fazer sozinha.

Sempre gostei muito de queijo. Muito.  Até mesmo mais do que de doces, que na época também não eram muitos. E o queijo comia-se sempre com pão, e até bastante pão. Um tio-avô dizia-me com voz grossa "Menina, come-se o pão e cheira-se o queijo!" dando a entender que por cada dentada grande na fatia de pão correspondia uma dentadinha muito pequena na fatia de queijo... Não achava muita graça, mas acatava. Mas certa vez ele, que adorava arreliar-me, deu-me uma fatia de pão e um pedacinho minúsculo de queijo, mesmo minúsculo quase nem se via!
Ora acontece que eu tenho um feitio, que já tinha nessa altura, quando o copo transborda perco o controlo, resumindo atirei-lhe com o pedacinho de queijo da provocação enquanto declarava alto e bom som "para isto mais vale nada!". Não consigo recordar se levei uma palmada por ter sido malcriada, pode ter acontecido, mas a história foi contada e os meus pais devem ter achado que eu teria razão, portanto a expressão ficou na minha família porque às vezes mais vale nada...



Cereja


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Telefones

A televisão tem destas coisas: o ser possível uma «viagem no tempo» com dois clics sem sair do sofá! Quando falo em viagem no tempo não quero dizer um filme ou uma série sobre viagens no tempo é claro, as histórias de ficção científica é coisa de outro departamento, refiro-me a eu própria viajar no tempo.
As operadoras de cabo oferecem desde há uns tempos um serviço simpático: a possibilidade de gravar os programas que não podemos ver em directo, ou por não estarmos em casa ou por estarmos a ver outro programa nessa altura. É muito útil e eu sou uma cliente que o utiliza bastante. Sobretudo em séries de que gosto mais marco a gravação de todos os episódios e fico descansada.
Ora aconteceu que entre essas gravações de séries tenho duas muito contrastantes: «Person of interest» («Sob Suspeita») e «Maigret» baseada nos romances de Simenon. Um contraste enorme, tendo apenas a unir estas séries o meu interesse, a primeira passa-se no (ainda mas já próximo!) futuro e a segunda num passado que até foi vivido por mim. Ainda vou voltar a falar de cada uma delas em particular porque as acho muito interessantes.
Mas o que achei fantástico foi ontem ter visto um episódio de uma logo de seguida a ter visto um da outra. No 'Sob Suspeita', como se sabe, uma pessoa pode comunicar com outra estando cada uma nos locais mais remotos desde que tenha colocado um auricular, dando a impressão de estar a falar 'para o ar' a quem esteja ao seu lado. Comunicação instantânea e em qualquer lado. Tecnologia. No caso do Comissário Maigret que vi de seguida, Maigret et la maisou du juge se não me engano, a pessoa responsável por uma importante investigação (Maigret) precisa de falar para um posto de polícia na província para algo urgentíssimo, liga para a telefonista de serviço pedindo a ligação e ela informa-o de que vai de ter de esperar meia hora! Ele fica furioso, é certo, mas a coisa é verosímil eu sei!!! Parece-me que se passava na década de 50, em França não era em nenhum país subdesenvolvido!
Eu ainda recordo isto. Se o telefonema não era para Lisboa,   quero eu dizer "se não era local", tinha de se pedir a uma telefonista para efectuar a ligação e demorava o seu tempo. E também sei que, se quiser, hoje posso ligar para os antípodas, por exemplo para Macau para dar um exemplo que conheço, enquanto passeio o meu cão.
Alucinante a passagem do tempo, não é?





Cereja


sábado, 4 de outubro de 2014

Religiões

Ouvi ontem, pela hora do almoço na Antena 1, creio que no programa «Portugal em Directo», uma notícia curiosa. (chamo-lhe assim provisoriamente, à falta de um outro termo...) Como estava com um ouvido distraído não prestei atenção se a entrevista era a um reitor de uma universidade, ou um director de uma Escola Superior, mas passava-se no norte interior. E, pela conversa percebia-se que recebia estudantes estrangeiros e essa afluência era importante pelos vistos, de qualquer forma portugueses ou estrangeiros as escolas precisam de alunos para estar abertas.
E, explicava esse responsável, tinha recebido o ano passado muitas queixas de estudantes por falta de ... (?) um local de oração.
Pensei ter ouvido mal.
Não queriam cantinas, bibliotecas, sanitários, isso devia haver com fartura, os jovens queriam era rezar e não tinham onde. Como estamos em Portugal em 2014, esta exigência parecia tresloucada a não ser, deixa cá pensar... alunos estrangeiros... bingo! a não ser que ela que partisse de estudantes islâmicos. As outras confissões religiosas mais conhecidas fazem-no apenas semanalmente, e no caso de uma urgência em contactar a divindade qualquer local serve, pelo que sei.
E, o espanto, é que as pessoas que dirigiam aquela instituição escolar concordaram logo e inventaram um «espaço» como agora se diz, sem símbolos para poder ser usado por todos (quais todos?) e isso já está disponível. Rapidinho.
Não costumo ter a mania da conspiração.
Mas... Que falta fazia numa universidade do interior um «espaço de oração» para islamistas? Quando muita gente começa a ficar seriamente preocupada com o sucesso do recrutamento que os loucos do IS estão a obter em países ocidentais - Inglaterra, Holanda, França, e pelo que se sabe até já foram jovens com passaporte português -  e essa quinta coluna seria (será?) uma força a ter em conta porque muito mais dificilmente detectável, alguém inocentemente abre «salas de oração» que entra pelos olhos a dentro poderem ser focos de difusão desses ideais de hegemonia islâmica.
De facto as coisas da religião dizem-me muito pouco. Fico satisfeita por viver num país onde constitucionalmente a igreja e o estado estão separados. Mas cada vez fico mais preocupada com os exageros que o fanatismo religioso comete, nesta actual idade média. Por favor não se facilite ainda mais! 


Cereja