sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Demasiada informação

Será que podemos «saber demais»? À primeira vista, saber é bom, ‘o saber não ocupa lugar’ como se diz, ou seja o conhecimento nunca é demais. É o que parece.
Contudo, desde há uns anos que nos chove informação sobre os benefícios e malefícios de tudo e mais alguma coisa. Sobretudo na esfera alimentar é assustador. Quase tudo o que comemos ou podemos comer, faz muito bem ou faz muito mal conforme sopra o vento!
Uma canseira.
Muita coisa faz mal. Só não «sabe» quem não quer saber que o sal faz mal e muitíssimos alimentos estão cheios de sal. Quanto ao pão tem tido altos e baixos. Desde ser o principal alimento, símbolo de O ALIMENTO, até quase ser banido porque engordava muito, porque tinha sal, depois voltou a ser recuperado, se for completo e com menos sal... Afinal em que ficamos? Sabemos que a gordura faz mal. Fritos nem pensar, assados assim-assim, guisados é melhor não, seguro é comer as coisas cozidas, porque mesmo os grelhados se forem em carvão podem fazer mal. A carne só se for branca, peixe era bom mas pode ter mercúrio, legumes são aprovados mas podem ter pesticidas, e mais isto e mais aquilo...
Mas li há pouco é que afinal o café faz bem UAU!!!!
Para uma apreciadora de café como eu, é uma notícia excelente. E que vem juntar-se aos benefícios do vinho  e ainda (que bom!!!)
...aos do chocolate e
...aos do chá, ou 
...da canela,
...do leite, 
...do tomate,
...da banana, 
...dos espargos,  
...ou ainda do pepino!!!!?
Ufff...! Chega!
.....................................

Já tinha 'alinhavado' este post, links e tudo, faltavam só uns retoques quando li na Visão um artigo falando exactamente nisto, referindo os «mitos relacionados com a comida». Diz lá:  'houve tempos em que a carne vermelha era saudável e a massa má; depois a massa passou a ser boa, e a carne vermelha era terrível, o que durou até surgir a mania Atkins e as regras voltarem a mudar' (tal e qual o que penso!) Refere as mil e uma dietas, e acrescenta 'Com cada cura surge um problema; cada nova verdade acaba por ser em parte um mito'
Afinal o que se quer é bom senso. 'Quer ser saudável? Então esqueça as bebidas light e os alimentos pobres em gordura. Em vez disso como alguns ovos, leite gordo, sal, gordura, nozes, vinho, chocolate e café'
Afinal o que eu queria dizer e por outras palavras está lá escrito é que acho que se pode e deve comer um pouco de tudo, sem preocupações, sem exageros a não ser esporadicamente. O conhecimento é bom desde que não fiquemos obcecados por ele. E acreditemos que é tudo bem relativo, o acreditar que determinado alimento «é um veneno» como oiço dizer, é só uma forma de falar. Afinal até muitos venenos em pequeninas doses não matam!




Pé-de-Cereja

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vestuário e Bom Senso

Não gosto de fardas.
Não aprecio, simplesmente. Não sou fundamentalista como algumas pessoas que quase ficam com pele de galinha ao ver uma farda mas, mesmo em miúda, não era das que ficavam encantadas ao ver um marinheiro ou aviador só por estarem fardados. :D Por outro lado reconheço que nalguns casos têm a sua razão de ser. Um toureiro de jeans e t-shirt não era a mesma coisa, um médico ou enfermeiro numa sala de operações têm de ter batas. O resto são hábitos culturais. No meu tempo os alunos usavam batas a tapar a sua roupa (bata que aliás podiam vestir à entrada da escola e despir à saída...) coisa que hoje repudiam com energia, mas por outro lado agora adoram fardar-se de capa e batina mesmo com um calor de derreter!...
Bem, mas adiante.
Se a obrigatoriedade de um fato especial para uma profissão é discutível, imagina-se que exista bom senso em relação ao que se veste de acordo com o local onde se trabalha.
Na passada semana passei um dia inteiro no corredor de um tribunal. É ambiente que conheço muito mal. Tinha sido chamada como técnica sobre um caso que estava a ser julgado e, se estava calma sobre o que ia dizer, o local deixava-me nervosa. Para além das pessoas que esperavam para entrar nas diversas salas de julgamento, em pé ou sentados em cadeiras desconfortáveis, circulavam os-donos-da-casa [não sei o nome, oficiais de diligência (?), escrivães (?) enfim digamos os técnicos que dão apoio ao julgamento, os administrativos que fazem a chamada de testemunhas e orientam as pessoas]
Ora uma dessas pessoas que cirandavam por ali era uma senhora, já não nova - entre os 40 e os 50 anos - que vestia um top bem decotado de uma cor que fazia doer os olhos e uma saia que parecia um tutu. Um espanto de saia, mal lhe tapava as coxas e tinha tanta roda que ficava no ar. Completava a toilette uma espécie de fita-bandolette com uma grande  enorme flor de pano do tom da saia.
Assim, quando a vislumbrei a primeira vez, além de ficar de olhos arregalados, ainda me passou a ideia de que seria uma pessoa cheia de humor que queria 'alegrar' o ambiente, uma espécie de palhaça. Só que a esse vestuário inacreditável, não correspondia a uma cara bem disposta muito pelo contrário. Tinha um aspecto muito carrancudo, e falava com as pessoas ao repelão e num tom agreste e autoritário.
I-na-cre-di-tá-vel!
Era um caso, dado o seu ar mal disposto, onde até se poderia imaginar que ela tinha sido obrigada a apresentar-se naquele preparo. Assim, a modos, que uma praxe do tribunal...
Ná!
Impossível.
Mas era decerto uma pessoa desequilibrada. Que cada um tenha o direito a usar o que quer, até está bem, mas dentro de alguns limites. Aquela figura, naquele local, parecia estar a fazer pouco de quem ali estava tão preocupado. Uma completa ausência de bom-senso!



Pé-de-Cereja

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Direitos dos Consumidores

(Este desabafo vem na onda do post anterior)
Já há anos, há mesmo bastantes anos, que eu soube que os produtos em exibição nas montras das lojas, deviam ter expostos os respectivos preços. Quando tal me disseram fiquei admirada, porque tinha a convicção de que a maioria das lojas não seguia essa norma. Acredito que a ideia seria 'obrigar' o consumidor a entrar para conhecer o preço e depois, poderia ser 'trabalhado' pelo vendedor de modo a vir a consumir... Mas sim, foi-me garantido que o único comércio exento dessa norma eram as ourivesarias por terem produtos especialmente caros, creio eu.
Bem.
Todos sabemos que na prática essa lei não é cumprida. Só quando os comerciantes querem chamar a atenção por se tratar de promoções ou saldos é que os preços aparecem em letras grandes. De outra forma, são etiquetas bem pequeninas, muitas vezes viradas ao contrário ou tapadas com outros objectos.
Mas a história da multa aplicada à Livraria Barata veio chamar-me de novo a atenção para o caso - afinal a lei existe e quando dá na cabeça à fiscalização o comerciante até pode ser multado com exagero. Esse é um caso estranho, porque posso garantir que se esses fiscais continuassem o passeio com o mesmo zelo (e não sei em qual das livrarias Barata se deu essa prevaricação) iam encontrar montra sim, montra não, motivos iguais para intervirem.
Multas parece-me exagero, sobretudo multas daquele valor, mas a tal admoestação que afinal a lei também prevê, seria vantajoso. Se os comerciantes acreditassem que da próxima seria a terrível coima, passariam a ter mais cautela na afixação dos preços cumprindo a norma de "que o cidadão veja o preço imediatamente".
Ver o preço sem andar à procura dele.
Eu apreciava.


Pé-de-Cereja

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

De novo a publicidade enganosa

Eu sei que para se chamar «publicidade enganosa» deve provar-se que essa publicidade tem a intenção de enganar. E não é fácil prová-lo. Mas...
Cada vez mais eu sinto que estamos mergulhados num banho do que se poderia chamar assim, de tal forma a publicidade se apresenta quase sempre muitas vezes. O que actualmente se deve estranhar é quando não há nenhum  engano mesmo para os cautelosos!
Claro que esse engano pode assumir mil e uma formas. É essa a habilidade. Nos últimos tempos deu-me para prestar atenção e isso. Vamos ver:
a) Anuncia-se com estardalhaço um produto bom e barato. Avisa-se de que é uma promoção, e em letras pequeninas talvez digam que a oferta é limitada. Não se sabe é até que ponto pode ser limitada! Ainda há dias fui com uma amiga ao Corte Inglês comprar um LCD. Tinham-lhe metido no correio um desdobrável com uma imagem enorme desse produto e confirmamos na net as condições. Quando chegámos vimos um, igual ao modelo, em exibição. Dissemos ao vendedor que era aquilo que se pretendia. Tudo claro e fácil, mas...
Embaraço do homem. Ia ver se ainda havia. Tempos depois aparece a explicar que tínhamos sorte (?!), ainda havia 2... (quando saímos da loja, só devia ter ficado um, mas o anúncio continuava)
Esta história fez-me recordar outra amiga que, sendo a primeira cliente ao abrir da porta de uma loja,  já não encontrou o produto anunciado! Era a primeira cliente do primeiro dia! Fez tal escarcéu que lá apareceu um exemplar do anunciado.
b) Outro modelo do que pode levar ao engano, é escrever com grandes letras o preço e de um modo discreto o peso ou a quantidade. Muitas vezes me enganei com isso - custa só x euros mas não é um quilo, são 400 gramas! Ou é meia dúzia. Ou é um sapato em vez do par...! Nesta altura já estou treinada para verificar a que quantidade é que se refere, e sobretudo ver o preço ao quilo. Mas engana! Imaginem duas embalagens de espetadas, ao mesmo preço, uma pesa 300 gr e a outra 400, não é o mesmo, pois não?
c) Outro ponto «enganoso» são os descontos. Li esta história por acaso, mas é interessante. Neste caso foi a tempo a investigação do que estava escondido, mas quantas vezes apenas se vê o graaaande desconto, sem verificarmos afinal qual o preço correcto que o artigo deve ter, ou quanto custaria noutro local.
d) E já nem quero falar nos «brindes». É uma moda. «Leve isto e tem de brinde aquilo». Porquê?! Eu prefiro levar 'isto' se precisar, sem brinde e mais barato. Se quiser o 'aquilo' compro-o. Simples. Leve um par de óculos e outro de brinde...???!!! Só tenho um par de olhos, felizmente.
Ná!
Pode não ser enganoso, tecnicamente, mas induz ao erro.
Devia ser controlado.


Pé-de-Cereja

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Velocidade estonteante


Embirro um tanto com a insistência do «eu sou do tempo em que...»; afinal, tenhamos que idade tivermos, somos sempre «do tempo» qualquer coisa... Mas estou sempre a repeti-lo, afinal é inevitável, quando a maioria das pessoas com quem falo são muito mais novas.
Desta vez apetece-me falar das comunicações e do tal «meu tempo»
Ultimamente tenho passado bastante pelo twitter, escrevo lá muito pouco mas vou bisbilhotar. Apanho as notícias mesmo a sair do forno, e espreito aquilo que os senhores importantes pensam disto e daquilo. Correcção, «aquilo que os senhores importantes querem dizer publicamente sobre isto ou aquilo». É divertido.
E deu-me para pensar na evolução das técnicas de comunicação.
Há quase um mês deixei aqui um post onde lembrava o primeiro telefone da minha casa. Era uma época onde se comunicava por escrito. Escrevia-se muito. Cartas ou postais, toda a gente escrevia. Para urgências havia telegramas. Claro que tínhamos também telefones, mas se não era 'chamada local' tinha de ser através da menina dos telefones e levava mais tempo...
Foram muitos anos até se ter banalizado o telefone, sobretudo para maiores distâncias. Lembro-me de andar já na Faculdade e, nas férias, escrever-me com colegas/amigos que tinham ido passar férias «à terra». E guardava(mos) cartas. Hoje em dia sorrimos com essas recordações.
Depois vulgarizou-se o telefone. Quase todas as casas o tinha, e habituámo-nos a usá-lo. Adolescentes monopolizavam-no. Várias tomadas nas casas ou fios compridos para se falar em qualquer divisão. Já se 'conversava' ao telefone, deixou de ser apenas para dar recados.
Anos depois, veio a net com o correio electrónico, e o terrível telemóvel.
Zás! Destronou-se definitivamente as cartas tradicionais. Era tudo muito mais rápido. O telemóvel permitiu comunicar-se em qualquer momento e em todo o lado. O email, destruiu o correio em papel. Até documentos sérios como facturas, podem chegar por email.
E vieram as redes sociais.
Facebook. Comecei por desconfiar. Para quê, aquela coisa?! Se quero estar com os meus amigos telefono ou vou tomar um café! Beeem... Algumas grandes amigas gostam muito e vou experimentar. Huuum! OK, encontrei lá pessoas de quem tinha perdido o rasto há séculos. Acabo por ceder - tem a sua utilidade. E é muito rápido.
Agora experimentei o twitter.
É ainda mais rápido (e não o tenho no telemóvel para não gastar mais dinheiro!) e mais abrangente.
Sinto alguma vertigem, confesso.
E vejam bem como vou escrevendo o blog que, afinal, (o próprio nome indica) é a modernização do meu velhíssimo diário, que escrevi durante toda a adolescência!
Depressa, depressa, depressa, cada vez mais depressa.






Pé-de-Cereja

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Obsolescência Programada ou Consumo, consumo, consumo

Mais uma «teoria da conspiração»?
O vídeo é grande mas muito interessante:




Dispensa comentários, não  é?
Esta preocupação tem sido tema recorrente por aqui, no Cerejas.

É toda uma mentalidade, um modo de olhar a vida que se adoptou.  Não é de agora, tanto quanto posso observar só pessoas com mais de 50 anos cresceram e foram educadas num meio onde se censurava o desperdício, possivelmente como rescaldo da Grande Guerra. Isto em Portugal. Mas desde daí que toda a filosofia é outra.
Pretende-se 
«Diminuir a vida dos produtos para aumentar as vendas»
...e naturalmente que a coisa resulta.
Sai mais barato comprar novo do que mandar arranjar!!! Torna-se portanto absurdo 'arranjar' o que se avariou. Como quebrar esta lei?
O vídeo, chama a este fenómeno Obsolescência Programada, e começa por contar a história de uma lâmpada 'mágica' que funciona há 100 anos e como se programou cientificamente o tempo de vida das lâmpadas para forçar a compra de outras novas. Depois vem o resto da história.
Não sei se isto é um conto de fadas ou realidade, mas faz pensar...

Pé-de-Cereja

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Historieta

Dizem as notícias que o consumo privado bate nível histórico. Nenhuma surpresa. Para se consumir tem de haver alguma 'coisa' para pagar o que se consome e já se aprendemos, de um modo bem duro, que o crédito é um monstro, sedutor sim à primeira vista, mas uma espécie de serial killer que arrasta os desprevenidos para uma trituradora. (Esta é uma imagem que deve vir directamente da série «mentes criminosas»...) É ver as pessoas que estão a ter de entregar as suas casas ou carros que adquiriram pela facilidade do crédito.
Mas, para além do desemprego, dos salários congelados, de ausência de perspectivas para os jovens, de aumentos enormes em bens necessários, é interessante confirmar o facto de que apesar de os salários serem mais baixos, o custo dos produtos que temos de comprar é, em Portugal, igual ou até superior a outros países da União Europeia. Quando se vai ao estrangeiro nota-se isso e mesmo cá acontece, ao olhar a etiqueta do preço numa loja tipo Zara,  por exemplo, verificar-se que comparado com outros países não é nada mais barato, muitas vezes é até mais caro.
E um pequeno fait-divers a que assisti ontem veio reforçar muito a minha certeza:
Estava à procura de um produto numa «loja-de-chinês», as descendentes directas das antigas «lojas-dos-trezentos». Têm proliferado, como é natural, porque é ainda onde se encontram coisas mais acessíveis como todos sabemos.
Também lá estava uma família - pai, mãe, e dois filhos pequenos - que falavam francês. Um francês muito fluente e correcto, mas pelo seu aspecto decidi que eram imigrantes nossos. Um dos gaiatos trazia na mão um brinquedo e insistia com os pais para que lho comprassem. A resposta foi rápida e firme: «Non, non, non! C'est beaucoup plus cher qu'en France!» disse o pai. A mãe, mais coração mole, foi ver o preço mas concordou logo prometendo que no regresso lhe comprariam um.
Ora isto passou-se numa loja onde as coisas são mais baratas!
.................
Mas não há que duvidar: por cá, barato, barato, só os nossos ordenados!


Pé-de-Cereja

domingo, 18 de setembro de 2011

A força da(s) inércia(s)

Se é que ainda tenho visitantes habituais (tinha muitos alguns no antigo blog, ficaram reduzidos a 3 ou 4 neste...) acredito que esta pausa os tenha afugentado. Sniff...
Já lá vai o tempo onde eu tinha um blog cheio de energia e vivacidade, que publicava 3 ou 4 posts todos os dias! (esse ou o seguinte, ou ainda um anterior, que eu ando nisto há muito tempo! ) Houve uma época em que me parecia que tudo à minha volta era motivo para um post e, sobretudo o que era mais importante, tinha vontade de o escrever. Era a famosa «inércia», naquele caso «do movimento»: todos os corpos são "preguiçosos" e não desejam modificar seu estado de movimento: se estão em movimento, querem continuar em movimento; se estão parados, não desejam mover-se
Bom... É mesmo assim. Parece um ciclo vicioso - apetece-me escrever, escrevo, recebo muitos comentários, isso estimula-me a escrever mais, por sua vez recebo mais comentários, e pronto a coisa está em movimento!
Mas a «outra» inércia também funciona. Por variados motivos não venho ao blog, os meus visitantes não têm motivo para comentar nada, eu desmotivo e o relógio sem corda pára!
Claro que também os facebooks, twitters, googles+, me desviam para outras paragens. São mais imediatos, há logo resposta, há mais vivacidade, encontro amigos que nunca vêm aqui, e... zás, acabo por passar lá mais tempo, atraiçoando aqui o Cerejinhas.
Mas hoje passo por aqui apenas para prometer que vou quebrar estas inércia.
Com visitas ou sem visitas, Cerejas aqui venho eu!!!
Té já!



Pé de Cereja

sábado, 3 de setembro de 2011

Não sei nada de economia

Sou uma pessoa normal. Quero eu dizer, com os conhecimentos normais. Nunca fui grande barra a matemática, portanto todas as noções mais fortes de economia ultrapassam-me por completo. Mas, por outro lado, recordo que tive até bons resultados quando estudei Lógica, de modo que me sinto forte nesse campo.
Dito isto, tem-me feito alguma impressão a desfocagem da relação entre patrões e empregados efectuada desde há umas dezenas de anos para cá. Na minha meninice um patrão era um patrão. Um dono de qualquer coisa - uma fábrica, uma terra, uma empresa – contratava pessoas que trabalhavam lá para que esse seu bem fosse produtivo, e ele pagava-lhes um salário. Um patrão.
Mas a palavra tinha uma conotação pejorativa, parece, e inventou-se outra: «empregador». A coisa ficava assim dividida – os trabalhadores trabalhavam, e os empregadores... empregavam (?). Traduzido, parece que o ‘trabalho’ dos patrões empregadores é dirigir aquilo que fazem os trabalhadores que, como são desprovidos dessa maravilhosa capacidade, ficariam completamente atarantados sem saber produzir nadinha.
A tal lógica que aprendi em tempos começa a fazer perguntas parvas: «Mas, os trabalhadores-por-conta-própria?... Afinal podem fazer as duas coisas...» ou «E como é isso das cooperativas? Aí o trabalho e os lucros podem estar associados...?» ou ainda «Se há trabalhadores-por-conta-própria, não conheço empregadores-por-conta-própria». Ou seja, é desejável que haja planificação e gestão do trabalho para ele ser produtivo mas sem haver trabalhadores não há nada para gerir. Não é o 'empregador' que DÁ (?) trabalho, [acho que não dá coisíssima nenhuma, compra trabalho] a existência do trabalhador é que faz com que a tal gestão faça sentido.
Agora com a tal coisa de um imposto sobre as grandes fortunas uma taxa sobre quem ganhe mais, os tais «ricos», anda tudo irritadiço e a dizer coisas sem nexo. Li há momentos, uma criatura que dizia que nós, por questões religiosas, não gostamos de trabalho. Não era a brincar, dizia-o a sério, e toda a entrevista é espantosa.
Mas se este texto me chamou a atenção, o certo é que por todo o lado, desde o Américo Amorim que diz 'não ser rico, ser trabalhador' (a premissa deve ser que os ricos não trabalham...) aos outros que esperneiam dizendo que ganham muito mais mas precisam disso tudo porque-sim, a verdade é que a crise vai continuar a ser paga por quem trabalha, mesmo que não tenha sido desencadeada por si.
É que neste caso o crime compensa.


Pé-de-Cereja