sábado, 3 de setembro de 2011

Não sei nada de economia

Sou uma pessoa normal. Quero eu dizer, com os conhecimentos normais. Nunca fui grande barra a matemática, portanto todas as noções mais fortes de economia ultrapassam-me por completo. Mas, por outro lado, recordo que tive até bons resultados quando estudei Lógica, de modo que me sinto forte nesse campo.
Dito isto, tem-me feito alguma impressão a desfocagem da relação entre patrões e empregados efectuada desde há umas dezenas de anos para cá. Na minha meninice um patrão era um patrão. Um dono de qualquer coisa - uma fábrica, uma terra, uma empresa – contratava pessoas que trabalhavam lá para que esse seu bem fosse produtivo, e ele pagava-lhes um salário. Um patrão.
Mas a palavra tinha uma conotação pejorativa, parece, e inventou-se outra: «empregador». A coisa ficava assim dividida – os trabalhadores trabalhavam, e os empregadores... empregavam (?). Traduzido, parece que o ‘trabalho’ dos patrões empregadores é dirigir aquilo que fazem os trabalhadores que, como são desprovidos dessa maravilhosa capacidade, ficariam completamente atarantados sem saber produzir nadinha.
A tal lógica que aprendi em tempos começa a fazer perguntas parvas: «Mas, os trabalhadores-por-conta-própria?... Afinal podem fazer as duas coisas...» ou «E como é isso das cooperativas? Aí o trabalho e os lucros podem estar associados...?» ou ainda «Se há trabalhadores-por-conta-própria, não conheço empregadores-por-conta-própria». Ou seja, é desejável que haja planificação e gestão do trabalho para ele ser produtivo mas sem haver trabalhadores não há nada para gerir. Não é o 'empregador' que DÁ (?) trabalho, [acho que não dá coisíssima nenhuma, compra trabalho] a existência do trabalhador é que faz com que a tal gestão faça sentido.
Agora com a tal coisa de um imposto sobre as grandes fortunas uma taxa sobre quem ganhe mais, os tais «ricos», anda tudo irritadiço e a dizer coisas sem nexo. Li há momentos, uma criatura que dizia que nós, por questões religiosas, não gostamos de trabalho. Não era a brincar, dizia-o a sério, e toda a entrevista é espantosa.
Mas se este texto me chamou a atenção, o certo é que por todo o lado, desde o Américo Amorim que diz 'não ser rico, ser trabalhador' (a premissa deve ser que os ricos não trabalham...) aos outros que esperneiam dizendo que ganham muito mais mas precisam disso tudo porque-sim, a verdade é que a crise vai continuar a ser paga por quem trabalha, mesmo que não tenha sido desencadeada por si.
É que neste caso o crime compensa.


Pé-de-Cereja

3 comentários:

Joaninha disse...

Olá!
«Isto» esteve parado uns dias e a gente nota logo... :D
Claro que é verdade, a palavra patrão era 'ofensiva' e desapareceu, o que é cómico porque é tudo igual ou pior só que não é patrão é... empregador! E querem passar a ideia - que afinal é muito aceite - da bondade e generosidade dos patrões que dão trabalho e até pagam por isso!!! Se têm grandes lucros é porque são bons e inteligentes. Se os lucros diminuem, é uma chatice, vão ter de diminuir os salários... Ou ameaçar abrir falência.
Não quero generalizar, há as pequenas e micro empresas onde a coisa pode ser diferente, mas nas grandes é assim mesmo.
Para não falar em Bancos ou Seguradoras!!!!

sem-nick disse...

Eu também acho-lhes uma graça...!! A essa conversa de que os portugueses são preguiçosos, não produzimos porque o trabalho é mau, etc e tal, só me apetece deixar-lhes uma pergunta: porque é que quando imigram os portugueses são bons trabalhadores? Porque é que só na sua terra é que trabalham mal e pouco? Os nossos maravilhosos empresários que se lamentam tanto da má mão de obra nacional, porque é que não montam as suas empresas lá onde se trabalha bem, na Europa do norte, por exemplo?
Poizé...

cereja disse...

Ooooh, Joaninha e sem-nick, ficaram aqui sozinhitos, sem resposta nem nada todo este tempo. Sou muito má e ingrata!
Como expliquei no post que deixei hoje, deu-me uma preguiça enorme! Mas vou voltar, está prometido.
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Sem-nick, é o que eu penso. Somos preguiçosos? Quem é que diz isso? Como é que somos tão bons quando imigramos?
A boa produção tem a ver é com outras coisas, com certeza. e a motivação é importantíssima, mas cada vez temos menos!