segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Recordações

Deu uma certa celeuma nas redes sociais, a notícia de que Portugal na «conferência de dadores para a reconstrução da faixa de Gaza » tinha oferecido 25 mil euros. Bem, se lermos bem toda a notícia dizem que é uma quantia simbólica. Mas de facto é um pouco confuso porque para símbolo é muito e para oferta real é pouquíssimo. Alguns meus amigos de facebook deixaram comentários trocistas ou irritados, e alguém disse que se não há dinheiro mais valia não dar nada.
É também em parte essa a minha opinião. Símbolo por símbolo, fazia-se como quando se compra uma propriedade por um euro, um valor de facto simbólico.
Este caso de uma esmola demasiado pequena (dizia-se «para pouca saúde mais vale nenhuma» o que é um manifesto exagero parece-me, apesar de tudo falecer é ainda pior...) fez-me voltar aos dias da minha infância mais recuada. Na minha família havia uma frase que se dizia entre sorrisos quando havia excesso de poupança: "para-isto-mais-vale-nada"
Eu nasci e fui educada num ambiente de grandes economias, a generalidade do pós guerra mas mais exagerado em casa dos meus avós paternos. Por outro lado embora houvesse racionamentos, a mesa sempre foi farta, sobretudo para mim que era criança de pouco apetite. Mas havia regras. Rígidas até, como nunca deixar comida no prato, as cascas da fruta eram fininhas, rapava-se a carne toda junto aos ossos só eles ficavam no prato, etc, coisas que eu via os adultos fazer apesar de ser pequenina para fazer sozinha.

Sempre gostei muito de queijo. Muito.  Até mesmo mais do que de doces, que na época também não eram muitos. E o queijo comia-se sempre com pão, e até bastante pão. Um tio-avô dizia-me com voz grossa "Menina, come-se o pão e cheira-se o queijo!" dando a entender que por cada dentada grande na fatia de pão correspondia uma dentadinha muito pequena na fatia de queijo... Não achava muita graça, mas acatava. Mas certa vez ele, que adorava arreliar-me, deu-me uma fatia de pão e um pedacinho minúsculo de queijo, mesmo minúsculo quase nem se via!
Ora acontece que eu tenho um feitio, que já tinha nessa altura, quando o copo transborda perco o controlo, resumindo atirei-lhe com o pedacinho de queijo da provocação enquanto declarava alto e bom som "para isto mais vale nada!". Não consigo recordar se levei uma palmada por ter sido malcriada, pode ter acontecido, mas a história foi contada e os meus pais devem ter achado que eu teria razão, portanto a expressão ficou na minha família porque às vezes mais vale nada...



Cereja


2 comentários:

Anónimo disse...

Engraçado essa do «come-se o pão e cheira-se o queijo». Sinal de uma época que também apanhei de raspão. Por isso me faz impressão ver meninos que por vezes deitam para o chão bolos a que apenas deram uma dentada... Há certas crianças de hoje que bem precisavam de um abanão.

Anónimo disse...

Sem querer cair nesses exageros de antigamente, claro, mas nem tanto ao mar nem tanto à terra como é de um modo geral a educação de hoje.