sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Diferente pois, porque não?

Na última revista do Expresso, vêm duas importantes entrevistas quase seguidas, poucas páginas de permeio. Uma a um actor Benedict_Cumberbatch, a outra a um banqueiro António Simões. De comum parece apenas viverem em Inglaterra e estarem na casa dos 30 anos. Mas a entrevista ao actor versou sobretudo o seu último filme  O Jogo da Imitação, estreado agora, biografia de Alan Turing um fabuloso e inteligentíssimo matemático versado em inteligência artificial, em computadores, em códigos e enigmas. Conta a História que este homem ajudou a antecipar o fim da guerra mas e suicidou-se em 1954, com 41 anos. 
Ora o que interessa emparelhar, e decerto foi essa a ideia do jornal, foi António Simões com Alan Turing. Porque os dois têm algo em comum que mostra bem a impressionante evolução da sociedade neste pouco mais de meio século que separa as suas vidas, uma evolução dos costumes sociais (?) que não se conseguiria nunca, mas nunca, imaginar há 60 anos.
Quando eu era criança a homossexualidade era um tema tabu. Completamente. Eu já era bem crescidinha quando vislumbrei o que era 'isso', porque não se falava à minha frente. Aliás os primeiros vislumbres vieram via cultural: Oscar Wilde, António Botto, Verlaine, Rimbaud, (hmmmm?...) eu ficava curiosa pelas meias palavras por 'o-que-não-se-dizia'. Isso, exactamente na época onde na Inglaterra ainda se julgava e condenava uma personalidade genial como Alan Tunig pelo crime de ser homossexual, e condenado à cadeia (como foi Oscar Wilde) ou à castração química que ele aceitou mas cujo sofrimento o levou ao suicídio um ano depois. Uma história de arrepiar.
Mas o vento da ciência foi varrendo os velhos preconceitos como um furacão. E actualmente, nesse mesmo país um presidente de um Banco fala sorrindo da sua orientação sexual e do seu marido, acrescentando que «se não fosse gay provavelmente não seria CEO do Banco» isto na City com o seu formalismo... Impressionante. Toda a linguagem se modificou. O palavrão com que se designava quem preferia o mesmo sexo, ou até a palavra 'maricas', já nem como insulto já se usa muito. E nasceu o conceito de homofobia, que parece a vingança dos gays perseguidos e castigados ao longo dos séculos, porque agora o castigo vai para quem exprima esses sentimentos.

O mundo mudou de facto muito! 

Se alguém fosse transportado dos tempos da minha infância para hoje não é pelos nossos fatos, pelas nossas casas, pelos nossos transportes, que sentiria mais admiração. Talvez um pouco pelos nossos meios de comunicação mas a maior admiração seria sobretudo na sociedade e nesta área específica da valorização das diferenças. A outra face da lua.







Há ainda muito caminho a percorrer, já se sabe. Este é um caso onde o preconceito ignora o Direito das Crianças.


Cereja

1 comentário:

cereja disse...

Um comentário a mim própria, ou seja um esclarecimento, na sequência de algumas conversas:
É de notar que eu tive essa educação, mas os meus pais eram do mais aberto e tolerante que podia haver. Anti racistas verdadeiros, defendiam todas as minorias sociais, obviamente os direitos das mulheres, aceitavam tudo, que eu me lembre... o «não se falar» da homossexualidade era a cultura da época muito entranhada. Sei que o meu pai era até amigos de homossexuais, sobretudo artistas, mas esse aspecto da sua vida era como se não existisse.
Um mundo muito, muito diferente do de hoje.