sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Praxes

Apesar de ter no Cerejas um sítio onde guardo os posts mais 'virados para o passado' a que chamei "ontem e hoje" eu não sou o que se chama uma saudosista. Algumas coisas fazem-me saudades e tenho tendência a vê-las com uma luz doirada, mas até considero que hoje se vive de um modo menos preconceituoso e com muito mais comodidade. Não voltava para o passado mesmo que pudesse.
Contudo, de vez em quando passam-se coisas que «no meu tempo» eram diferentes para melhor, e me é difícil entender porque foi que pioraram.
Temos o caso das praxes. Começando por uma ponta, a farda
Quando entrei na Faculdade os estudantes da primária e mesmo do liceu, usavam uma bata. Era obrigatório, pelo menos nos liceus femininos. Não se refilava assim muito, porque pensávamos que sempre-assim-tinha-sido e os nossos pais não apoiariam a rebelião, mas ao sair a porta do liceu despia-se rapidamente aquele sinal discriminatório, na rua andávamos como toda a gente. Ao entrar na Faculdade uma das satisfações era não haver roupa especial. Lá para Coimbra havia quem se fardasse como os padres mas eram lá coisas deles, sorríamos nós, condescendentes...

Com surpresa desde há anos que vejo que os jovens estudantes universitários do país todo deram uma reviravolta de 180º e adoram a farda! Mesmo no Verão, podem pingar suor mas vestem todos contentes um fato completo, camisa e gravata, e ainda uma capa para ficaram impecáveis. Verdadeiro amor à farda, o que vai ao arrepio da embirração que tínhamos dantes.
Mas o chocante para mim é a questão das praxes. Quando eu entrei para a Faculdade não havia nenhum ritual. A Associação de Estudantes promovia uma «Semana de Recepção ao Caloiro» que servia para mostrar a casa a quem entrava, onde eram os diversos serviços, a quem é que se deviam dirigir, e os costumes. Havia actividades culturais, e terminava com um baile. Coisa simpática, simples, leve. E sem a menor obrigação, quem queria aproveitar ia, quem tinha mais que fazer passava ao lado.
Actualmente, em Lisboa, nesta altura do ano estamos constantemente a passar por grupos muito grandes de rapazes e raparigas com gritos que se ouvem ao longe, vestidos de preto, nuns rituais estranhíssimos. Não fazem mal nenhum, parece, só chamam a atenção e ficam todos contentes com isso. OK. O pior é quando essas macacadas acabam em violência o que parece acontecer cada vez mais. Mas porquê?! O que motiva esses jovens a praticar e a submeter-se a situações de humilhação ou sofrimento físico? E como sabemos essas parvoíces podem descontrolar-se como aconteceu na Caparica há menos de 2 anos. E como quase acontecia agora, no Algarve, com  uma estupidez que poderia ser fatal
Eu sei que este fenómeno anda a ser estudado, mas preocupa-me. Acredito que o modelo é que tem de ser mudado depressa. Porque não era só «no meu tempo» ainda hoje há quem saiba que afinal há alternativa. Há outras maneiras do ensino superior integrar quem chega ou despedir-se de quem sai.
Assim é que não.




Cereja

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