domingo, 13 de novembro de 2011

Sangue do meu sangue

Fui ontem ao cinema com alguma urgência. Receava que o filme saísse do cartaz, uma vez que já só vai num cinema de Lisboa - «Sangue do meu sangue». Esperava ver um bom filme, pesado. Assisti a um excelente filme e um drama talvez menos pesado do que era o meu receio, uma vez que a parte mais dramática era indispensável nesta história.
Um filme sobre o amor, e sobre mulheres. Mulheres que ali têm uma força, uma coragem, uma iniciativa, uma capacidade de trabalho, que me deixa orgulhosa de pertencer ao mesmo género. A vida tão dura mas a que se resiste de uma forma exemplar, vivida num bairro social meio degradado. A promiscuidade a que não se pode fugir pela pequenez das casas de paredes finas, que nos é dada pela banda sonora onde há permanentemente um som de conversas muitas vezes tão alto que o que se conversa no quarto ao lado se ouve melhor do que aquilo que se está a dizer à nossa frente. Esse som permanente, seja da tv a relatar futebol ou noticiário, seja dos vizinhos a berrar uma discussão, seja de crianças a chorar, seja os sons de quem está a fazer amor tão perto que parece estar em cima de nós… Esse é dos efeitos melhor conseguidos, o ruído constante e permanente que tudo invade, que tudo domina.
E, também é claro os espaços de habitação pequeníssimos e superlotados, que levam a que a noção de privacidade (?) seja um luxo impensável.
Mas as mulheres são as grandes estrelas do ‘sangue do meu sangue’
A estrela principal, a mãe. Mãe solteira ainda jovem que aos 42 anos tem uma filha de 21 e um filho de 18. Que criou e educou sozinha. Sabe que o filho não se comporta bem, já esteve ‘num colégio’ por furto mas desconhece que agora se move nas areias movediças da venda de droga. Contudo, mulher inteligente que é, decerto só desconhece porque nem quer encarar essa hipótese que a sua meia irmã, tia do rapaz sabe muito bem. A filha, em quem a mãe deposita muita esperança, é enfermeira e está a estudar. Tem um namorado, vigilante num supermercado que quer casar com ela.
A tia ainda muito nova, cabeleireira, vivendo e trabalhando no mesmo espaço minúsculo, ajudou-a a criar os filhos e mantém uma relação de grande protecção com o rapaz, que tenta auxiliar nos graves sarilhos onde se mete. Ajuda essa que vai até aos últimos limites.
A filha, 21 anos, relativamente independente, deixa-se encantar por um professor, médico, que a seduz com alguma facilidade pois o contraste de linguagem e comportamento é grande em relação ao seu namorado, o vigilante do supermercado.
Estas 3 mulheres, dominam todo o filme. A intensidade do seu amor - pelos filhos, pelo sobrinho, pelo sedutor, é perturbante e dominadora.
Como vi a versão maior, penso que na outra talvez tenham cortado algumas cenas de sexo, para mim excessivas porque não acrescentam nada à história. Assim como também achei demais (mas isso pode ter a ver com o meu feitio e o tipo de educação que tive) o excesso de palavrões, era rara a frase trocada sem um ou dois palavrões…
Mas a avaliação geral é muito elevada.
O realismo muito forte das imagens, a banda sonora que tudo invade e é fundamental, o ritmo especial que nos deixa imaginar que foi filmado em tempo real, a solidão de algumas imagens nocturnas, tornam «O sangue do meu sangue» um filme muito bom em qualquer parte.



Pé-de-Cereja

8 comentários:

José Palmeiro disse...

Gostei muito da tua crítica. ainda não tive oportunidade de ver mas se bem que já tinha essa curiosidade agora, ainda mais.

cereja disse...

Olá, Zé José Palmeiro! Olha que não pretendi fazer uma crítica, a minha camioneta não leva assim tanta areia :) digamos que deixei a minha opinião. Aliás agora com o teu comentário fui reler e vi que havia imenso para dizer ainda, que coisa irritante :) Mas a figura da mãe, Rita Blanco, (fenomenal aquela mulher!) é de uma riqueza espantosa. Digamos que por amor da filha ela põe em risco o perder o amor da filha, se se entende o que quero dizer...
(passei estes comentários do facebook para o blog!)

Anónimo disse...

Claro que é uma crítica, mulher! Afinal as críticas são opiniões, não é? Os 'profissionais' tem mais patua mas olha que gostei bastante desta tua. Até porque também vi o filme - na medida de um filme português está a ter bastante êxito, não sei porque só vai em poucas salas... - e concordo absolutamente. Mas sabes, saí um tanto envergonhado, a gente queixa-se e bem de que a nossa vida anda muito mal, mas eu sei que se fosse obrigado a viver ali, naquela casa, endoidecia...

Anónimo disse...

Mas para além disso, é claro que o que conta são os sentimentos, isso é que é importante (ou também é importante) e a violência daquelas, é espantosa! Sente-se um pouco de tragédia grega.

fj disse...

ambém vi o filme e depois do texto do blog pouco ou nada a acrescentar. Tive igualmente umas horas de grande peso com o óptimo filme que vi. Claro que o seu realismo do contemporâneo aqui e ali será exagerado, e torna-se quase esmagador, e tenho pena de não ter conversado um pouco depois do filme para esclarecer alguns pontos. Mas torna-se quase esmagador, e deve ter-se em atenção que além de pesado o filme é muito grande, calculem que até ter intervalo, à antiga. :D E já que se fala da banda sonora ainda diria é de referir que o som, de tão bom nem parece de filme português.


Mas repetiria que é "critica, mulher" e «bem bem boa, mulher». :)

Joaninha disse...

Olha, mudaste de penteado...?!
Este também é giro.
........
É um belo filme, só o vi este fim de semana. Quanto à linguagem se por um lado também me choca tanta palavra ordinária, isso é o espelho da nossa sociedade. Presta atenção quando ouvires um grupo de adolescentes a conversar - é cada palavra cada palavrão. Muitas vezes, o 'bordão de linguagem' aquilo que se usa para reforçar uma frase, é mesmo um palavrão e dos duros. Também me choca, mas é assim.

cereja disse...

Olá amiga Joaninha!
Pois é, alterei o cabeçalho :D De vez em quando é bom alterar alguma coisa... E quando é fácil fazer a alteração como aqui, toca a andar. Há outras coisas que são muito, muito difíceis de alterar. :(

Boa observação a tua quanto ao modo de falar que «se usa» hoje em dia. Eu não gosto. Educação? Idade? mas reconheço que me incomoda essa espécie de desenvoltura com que se usa o palavrão mais grosseiro como se fosse um termo vulgar. Como uma exclamação. E no filme isso era bem evidente.

Zorro disse...

oLÁ!

Por acaso não vi o filme, apesar de ter ouvido falar bastante bem.
(estive uns tempos longe e mudaste o visual, heim?)