sexta-feira, 15 de maio de 2015

Orthographia



Ortografias...
Era pequenita quando se fez a Reforma o Acordo Ortográfico de 45. Coisa falhada, porque como o Brasil não aderiu, não houve nenhum 'acordo'... Eu ainda não sabia ler, mas ouvi algumas discussões em casa, porque a minha família era muito virada às letras e tinha um avô escritor que criticou fortemente as mudanças por causa da etimologia das palavras - aliás estava muito zangado que o latim saísse do programa do liceu porque se perdia o conhecimento da raiz da palavra! 
Mas, talvez pelo grande analfabetismo existente, não recordo que aquela mudança causasse nenhuma agitação  (nem o governo o permitiria, claro está!) E, como a biblioteca da minha família era grande e antiga, já depois de saber ler li muitos livros cheios de letras duplas e muitos ph. Pensava eu que separava bem o trigo do joio, a escrita antiga da moderna, via-se logo achava eu - hmmm... talvez assim não fosse. 
Há uns anos foi decidido fazer um novo Acordo Ortográfico.
Não se entendeu nem foi explicada a necessidade disso. É sabido que as línguas europeias mais faladas no mundo - inglês e francês - mantêm uma ortografia bem antiga, recheada de letras mudas, ou que se pronunciam de forma diferente, e isso não impede o seu domínio mundial... Adiante.
Como disse, a coisa foi muito mal explicada de início e, após uns anos onde continuaram sem explicar nada, agora decidiram aplicá-lo. Anda a cair o Carmo e a Trindade!!! Não se pode aceder à Comunicação Social, nem redes sociais sem sermos atingidos por um projéctil dessa guerra, e quem procurar honestamente informação não o consegue. OK, consegue se fôr à origem o que aconselho vivamente. A verdade é que me andam a desgostar os 'argumentos' (?) usados pelo grupo do Contra (onde de início até me situava) porque parece valer tudo, até descaradas mentiras. Claro que uma piada é uma piada, mas circularem frases inteiras com palavras supostamente obrigatórias segundo o dito «acordo» onde é tudo falso, incomoda-me. Não é honesto.
Não sei ainda onde me situo. Vou continuar a escrever como aprendi depois de 45, e tentar habituar-me a ler esta nova linguagem onde vai decerto haver muitas confusões sobretudo pela saída dos acentos. Contudo, sempre existiram palavras homógrafas e homófonas e sabíamos distingui-las... Calma, por favor!
Na cozinha da minha avó havia uma lata que dizia «assucar», (eu ainda tenho essa lata, mas...na sala, como 'antiguidade'!) e quando lia Eça ou Camilo, percebia bem o que era pae, ou Egypto, ou creança, ou archictectura, ou asylo, ou auctor, ou grammática, ou dansa, ou gymnasio...
Pronto, é certo que aprendi as regras de 45. Uma razia das letras duplas que na época (epocha) tiveram mais compreensão (ou comprehensão?) do que hoje parece haver... 





Hoje fico por aqui, mas parece-me que ainda volto ao assunto!

Cereja

2 comentários:

snowgaze disse...

Olhando para a coisa de outra forma, parece-me positivo que o AO cause tantas paixões. Deve ser sinal que as pessoas se importam com a escrita. :)
(eu continuarei a escrever como sei, até que não saiba e precise da ajuda do dicionário)

cereja disse...

Oh Snowgaze, só vi o teu comentário quase 2 meses depois!!! Agora venho aqui muito pouco, fico-me quase só pelo facebook :(
Eu também acho, ou acharia, positivo que os argumentos fossem correctos e a discussão limpa e escorreita. Irrita-me contudo, o que estou sempre a ouvir, como por exemplo dar-se um erro de palmatória e depois encolher-se os ombros «agora com o acordo já não sei!», em palavras que nem de perto nem de longe foram atingidas com o tal acordo! Ou a tal gracinha que circulou muito sobre «o cágado/cagado está de facto/fato na praia» quando as palavras esdrúxulas continuam todas a ter acento, e facto escreve-se assim porque se pronuncia o c.