sábado, 24 de fevereiro de 2018

Bairro

Lisboa é uma cidade grande. Grande para Portugal, claro está, é uma formiguinha ao pé das cidades verdadeiramente grandes, aquelas onde vive tanta gente como no nosso país inteiro. 😉
Mas, à nossa dimensão é grande, maior do que as outras e sobretudo parece maior a quem cai aqui vindo da província e fica com uma sensação de isolamento, de frieza das pessoas, e de que ninguém conhece ninguém nem se importa com isso. E é verdade até certo ponto. Mas o certo é que Lisboa é uma manta de retalhos, um patchwork, um conjunto de bairros que são pequenas comunidades. E as pessoas que vivem alguns anos no mesmo bairro, sem falar nos que já lá nasceram, ou das que chegam e são comunicadoras e sociáveis sabem que são pequenas aldeias. 
O meu bairro tem muito comércio... de bairro! De lugares de hortaliça a farmácia, de cabeleireiro a retrosaria, dezenas de cafés, churrascaria, ourivesarias (!) quiosque de jornais, até uma agência funerária, uma loja de vinhos, oculista, e em tempos havia uma padaria que já fechou. Mas a estrela mais brilhante deste comércio é uma loja de ferragens.
Esta loja tem mais de 50 anos, porque já estava bem enraizada quando eu para cá vim morar. Nessa altura o dono, muito simpático e prestável, atendia bem disposto toda a gente e ajudava as pessoas inexperientes. Conhecíamos também os seus 2 filhos adolescentes que ajudavam o pai na altura das férias.  Actualmente, o sr Porfírio-pai está já reformado, os «porfiriozinhos» adolescentes já grisalhos atendem quem chega, e já vemos um porfírio-neto ao balcão de vez em conta. Um verdadeiro negócio de família que milagrosamente mantêm o sinal de extrema simpatia, e os empregados são do mesmo calibre.
Não conheço nada assim!
Ontem referi aqui um factor S, (S de simpatia) e cada vez é mais evidente que quem o possui tem mais sucesso, ou seja é bom para os outros mas também é bom para si mesmo...
Como expliquei, na minha zona há muito e variado comércio. E, já há uns tempos, abriu um bocado mais acima uma outra loja de ferragens. Talvez tivessem feito uma prospecção de mercado e de facto a loja de que falo está sempre a abarrotar, desde há uns tempos até têm uma máquina de senhas para não haver questões sobre quem chega primeiro! E não tem grande aparência: é um corredor comprido ao longo do balcão, apinhado de tralhas, nem tem espaço para ter as coisas necessárias à vista.
A loja-concorrente é uma beleza, vê-se tudo da rua pela montra enorme, muito arranjada, impecável. E vê-se tudo porque está sempre às moscas. Nem sei como não fechou porque nunca lá vejo ninguém, será que vende pela internet?! É um contraste espantoso, uma apinhada permanentemente e a outra completamente vazia.
Factor S! Como é possível, com tanta gente eles darem a entender que têm todo o tempo para nos explicar as coisas que perguntamos - e perguntamos imenso! Como se usa isto, para que serve aquilo, se para este efeito é melhor isto ou aquilo. Têm a linguagem técnica para os profissionais, mas usam também os termos que uma dona de casa pode perceber. 😮
Ontem fui lá saber os preços de um candeeiro; o empregado mostrou vários, apontou qualidades e defeitos e, até perante a indecisão, tirou-o da caixa e improvisou uma ligação com uns fios para eu ver o efeito dele ligado. O que querem? Trouxe-o, é claro! Aliás se depois não gostar volto, a levá-lo. Sou a vizinha...

Cereja

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