quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Há horas infelizes

Este fim de semana passei por uma situação invulgar, aqui vai contada em vários andamentos:
Prólogo:
Eu tenho um carro que para animal de estimação seria velhinho: tem um pouco mais de uma década. Cof…cof… mesmo para um ser de metal, já não é exactamente novo. E quando vejo um outro com aqueles extras todos que o meu não tem, começo a olhar para o pobrezinho de ponta!
Primeiro andamento - Tranquilidade
Na noite de sábado, emprestei-o a um amigo que mora fóra de Lisboa e já não tinha comboio. Normal. E no dia seguinte, como tinha que fazer para aqueles lados, fui para lá de comboio com a intenção de o trazer ao fim da tarde. Até me diverti, porque o comboio parecia a Torre de Babel. Na minha carruagem ouvia-se falar todas as línguas que eu conheço sei identificar – excepto o português, é claro. Viva o turismo!
Ao chegar perto do meu amigo notei de passagem o meu carro estacionado. Dei as voltas que pretendia, e no final do dia enquanto ele me ajudava com alguns sacos, lembrei-me «Espera lá! Falta a chave! Temos de voltar à tua casa».  Mas…
Segundo andamento - Inquietação
…onde estava a chave??! Procurámos em todos os locais prováveis (e alguns improváveis) mas nem pó! Cansada, enervada, mas confiante de que tudo estava bem porque o carro estava ali à vista, regresso a Lisboa de comboio.
E no dia seguinte, feriado, volto lá acompanhada do meu filho e com a chave sobresselente.
Terceiro andamento - Aprecia-se muito mais uma coisa quando a perdemos…
Ao passar no local onde ele estava na véspera, não o vejo. Quê?! Se o meu amigo tivesse encontrado a chave tinha-me dito! O que se passava? Já os 3 juntos rendemo-nos à evidência – o carro tinha sido roubado. Afinal a chave tinha caído na rua e alguém «achou» o meu carrito. Deixou-o de pousio 12 horas e durante a noite levou-o!
O passo seguinte será procurar a polícia e apresentar queixa.
Agora a saga de encontrar a esquadra da polícia, a pé! Muitíssimo longe, pelo menos do nosso ponto de vista, e ensombrado ainda mais porque durante esse negro passeio ia magicando como teria de organizar a minha vida sem ter carro. Comprar outro é totalmente inviável, mas ia perder o acesso a muitas coisas incluindo a minha casinha de férias - um dos seus encantos é ficar fóra de mão! Chegámos à tal esquadra exaustos por fóra e por dentro. E depois seguiu-se a cerimónia da apresentação da queixa. A cereja neste bolo é que os documentos tinham ficado no carro, ou seja não tinha prova de que o carro fosse meu! O agente, simpático, educado, aceitou a minha palavra e através da matrícula confirmou a posse. Mas preencher os documentos todos, o que foi entremeado com telefonemas urgentes e colegas a precisarem de coisas, foi coisa para duas horas. Duas horas de nervos enquanto ia planificando como-fazer-tudo-sem-carro.
Quarto andamento - A grande surpresa!
Apanhamos um táxi para voltar à casa do meu amigo. A tal vida-sem-carro implica mais táxis, é claro...Nunca o meu velho carrinho me pareceu tão lindo. Já quase a chegar pensei que tanto cansaço me estava a dar visões, porque O vi. Gritei «Páre, páre!!!» perante o espanto de todos. «O carro está ali!!!!» E estava! Um tanto vandalizado, sem rádio, sem nada no interior, com menos gasolina, mas estava estacionado numa outra rua!
Volto à esquadra no mesmo táxi, onde entro de rompante «Achei-o! Está ali!» e seguiu-se mais uma hora de papelada, pois a informação tinha de ser divulgada para não vir a ser presa por ter roubado o meu próprio carro.
Uff... Ganda susto, e uma história que acabou bem.
É que, como cantam os cauteleiros, há horas felizes!

Pé-de-Cereja

14 comentários:

Zorro disse...

Uff... Também digo! Mas que aventura assustadora!

Joaninha disse...

Que susto horroroso!
O meu também já teve melhores dias (muito melhores dias!) mas não se pode pensar agora em trocar. É mantê-lo e viva a velha!

Zorro disse...

Olha a «nossa» Joaninha!
Eu também! Quando vejo um anúncio de carro, fico horas a admirar. Como um puto a ver um bolo...
Mas é admiração à distância. Tomara ter dinheiro para a gasolina, o resto é só sonho!

Joaninha disse...

Mas esta «Cereja» devia chamar-se «Trevo de 4 folhas» que tem uma sorte do caraças!!!
As coisas que ela nos tem contado do que se passa com este carro, nem se acredita! Uma vez apanharam um ladrão quando o estava a roubar!!

Mary disse...

Olha aqui o bando todo... :)
Oh Joaninha, e daquela vez em que até lhe foram levar as chaves a casa!?! Nunca me esqueci dessa história fantástica. Nasceu com o rabo virado para a lua, esta sujeita!!!

cereja disse...

Bom Dia a todos!
Vocês têm razão, em muitas coisas tenho uma sorte do caraças! Achar coisas perdidas, é comigo. E quanto ao carro foi um duche escocês - quente/frio, uma coisa impressionante. E num curto espaço de tempo...

cereja disse...

E, como é tudo muitíssimo relativo, ainda hoje estive a pensar: se uma manhã chegasse ao pé dele e visse que me tinham roubado o rádio e mais um ou duas coisas acabadas de comprar que lá tinha deixado, ficava furiosa. Ia parecer-me uma calamidade.
Hoje isso nem tem qualquer importância. O que são mais 100 ou 200 euros?! Pffff... :) :) :)

fj disse...

Esse amigo é pois melhor do que a policia.

saltapocinhas disse...

credo, que aventura!!
mas o mais engraçado é teres sido tu a achar o carro. incrível!

cereja disse...

Foi mesmo incrível, saltapocinhas! Um alívio incrível. Mas eu nem contei todos os pormenores para isto não ficar um lençol enorme. Por exemplo, quando lá chegámos os tlm o meu e o do meu filho estavam com a bateria em baixo, e eu deixei o meu a carregar na casa do meu amigo. Com este enervamento todo, ao sairmos para ir à polícia, o dele ficou em casa. Quando achei o carrinho, eles ficaram lá de guarda enquanto eu ia no mesmo táxi à esquadra. E durante a hora que se seguiu, não tive hipótese de comunicar com eles porque não havia tlm a funcionar! O do meu filho sem bateria, o do meu amigo em casa, e o meu a carregar... Na era das comunicações instantâneas, 3 pessoas sem comunicar é obra.

Anónimo disse...

OH! Que desgraça tamanha!
Meu Deus! Como seria andar de transportes quando estes não eram acessíveis à bolsa de qualquer comum mortal?
Afinal, andar de transportes públicos só faz bem ao ambiente e a carteira, seja ela qual for, não acha? Olhem bem para o aquecimento global...
Já reparou bem que a maioria do mortal comum não possui carro e desloca-se para bem longe do local onde habita para trabalhar e não por motivos de lazer?
Isto não a faz pensar??? Nos dias de hoje pensar é preciso, não acha?
De qualquer modo, se não está habituada a andar de transportes, incluindo o comboio, não é de admirar a sua estupefacção relativa aos vários idiomas, afinal vivemos num país a escala global, onde as coisas se democratizaram (pelo menos para alguns)...
Deixo-lhe porém uma pequena ressalva: que tal avisar o seu amigo que para a próxima vez tenha cuidado com a sua velha "latinha"?
Afinal carrinhos há muitos, mas os nossos os nossos são os nossos, não é?
Isto tudo que relatou fez-me rir, sabe?
Quando escreveu logo no inicio que só "damos" valor aquilo que temos depois de as termos perdido ou pensar que se perdeu...
Mas isso não acontece a qualquer um. De qualquer modo o "bólide" apareceu, e já poude usufruir da sua humilde casinha de férias, o que é muito bom para si, e para os seus.
O blog, continua uma maravilha, é por estas e por outras que de vez em quando, quando a vida o permite e a paciência também cá volto.
E como estamos de novo com um fim de semana a porta, desejo-lhe um belissimo fim de semana sem sobressaltos.
Nany

cereja disse...

Nany, obrigada pela sua visita. Mas gostava de explicar uma coisa.
Como não me conhece, concluiu que eu «não estva habituada a andar de transportes, incluindo o comboio». Olhe que não. Eu ando quase que exclusivamente de transportes públicos. Se saio de Lisboa vou de camioneta ou de comboio, até porque não gosto de guiar em estrada. E tenho várias amigas (assim de repente lembro-me de 4 ou 5) que não têm carro - mas como os filhos têm, a coisa não fica assim muito mal. :) Como ali expliquei a tal casinha não tem mesmo acesso por transporte público, por isso o carro fazia-me falta, mas tirando isso vivo bem sem carro.
Por outro lado também não fiquei «estupefacta» por ouvir 6 línguas diferentes, achei graça por NÃO ouvir português. Foi o contraste, exactamente nos transportes públicos de Lisboa viajam sempre muitos... lisboetas!
Mas, enfim, aceito que desta vez não me expliquei muito bem. Quis apenas contar uma aventura que me pareceu engraçada, e não gabar-me de ser tão rica que até sou a orgulhosa possuidora de uma viatura com 12 anos que nem o ladrão a quis...

Joaninha disse...

Vim cá espreitar por ver 12 comentários (eu tinha sido das 1ªs) e a anónima-nany deixou um muito azedo e trocista. Percebo que ela não tem ou não usa carro para ir para o trabalho. Muita gente também não (apesar de as entradas de Lisboa à hora de ponta fazerem medo ao susto) mas mesmo que o não usem diariamente, são já poucas as famílias onde não exista um - muito usado, quase a cair, mas numa família de vários elementos alguém tem carro. Já não é sinal de riqueza, banalizou-se.
E, pelo que diz a Cereja, o dela não é exactamente um bólide...

silvya disse...

Joaninha: Esta é para si...
Não sou "zeda" nem "sarcástica", mas tenho o meu snetido de humor peculiar, um tanto ou quanto peculiar, o que é um direito meu, não acha?
Não tenho inveja de quem tem carro, seja ele bólide ou não, e pode acreditar que sou feliz em andar de transportes públicos, sejam eles comboios, camionetes, autocarros sem contar em andar a pé que só faz bem.

Longe de mim querer ofender quem quer que seja, mas enfi, fica ao critério de cada um, e isso a mi neste momento já pouco ou nada me incomoda, pois a minha vida já deu tantas voltas, já me desiludiram tanto que já não acredito em nada.
É um dos motivos porque leio de vez em quando o blog, distraio-me...
uma boa semana.
nany