Este fim de semana passei por uma situação invulgar, aqui vai contada em vários andamentos:
Prólogo:
Eu tenho um carro que para animal de estimação seria velhinho: tem um pouco mais de uma década. Cof…cof… mesmo para um ser de metal, já não é exactamente novo. E quando vejo um outro com aqueles extras todos que o meu não tem, começo a olhar para o pobrezinho de ponta!
Primeiro andamento - Tranquilidade
Na noite de sábado, emprestei-o a um amigo que mora fóra de Lisboa e já não tinha comboio. Normal. E no dia seguinte, como tinha que fazer para aqueles lados, fui para lá de comboio com a intenção de o trazer ao fim da tarde. Até me diverti, porque o comboio parecia a Torre de Babel. Na minha carruagem ouvia-se falar todas as línguas que eu conheço sei identificar – excepto o português, é claro. Viva o turismo!
Ao chegar perto do meu amigo notei de passagem o meu carro estacionado. Dei as voltas que pretendia, e no final do dia enquanto ele me ajudava com alguns sacos, lembrei-me «Espera lá! Falta a chave! Temos de voltar à tua casa». Mas…
Segundo andamento - Inquietação
…onde estava a chave??! Procurámos em todos os locais prováveis (e alguns improváveis) mas nem pó! Cansada, enervada, mas confiante de que tudo estava bem porque o carro estava ali à vista, regresso a Lisboa de comboio.
E no dia seguinte, feriado, volto lá acompanhada do meu filho e com a chave sobresselente.
Terceiro andamento - Aprecia-se muito mais uma coisa quando a perdemos…
Ao passar no local onde ele estava na véspera, não o vejo. Quê?! Se o meu amigo tivesse encontrado a chave tinha-me dito! O que se passava? Já os 3 juntos rendemo-nos à evidência – o carro tinha sido roubado. Afinal a chave tinha caído na rua e alguém «achou» o meu carrito. Deixou-o de pousio 12 horas e durante a noite levou-o!
O passo seguinte será procurar a polícia e apresentar queixa.
O passo seguinte será procurar a polícia e apresentar queixa.
Agora a saga de encontrar a esquadra da polícia, a pé! Muitíssimo longe, pelo menos do nosso ponto de vista, e ensombrado ainda mais porque durante esse negro passeio ia magicando como teria de organizar a minha vida sem ter carro. Comprar outro é totalmente inviável, mas ia perder o acesso a muitas coisas incluindo a minha casinha de férias - um dos seus encantos é ficar fóra de mão! Chegámos à tal esquadra exaustos por fóra e por dentro. E depois seguiu-se a cerimónia da apresentação da queixa. A cereja neste bolo é que os documentos tinham ficado no carro, ou seja não tinha prova de que o carro fosse meu! O agente, simpático, educado, aceitou a minha palavra e através da matrícula confirmou a posse. Mas preencher os documentos todos, o que foi entremeado com telefonemas urgentes e colegas a precisarem de coisas, foi coisa para duas horas. Duas horas de nervos enquanto ia planificando como-fazer-tudo-sem-carro.
Quarto andamento - A grande surpresa!
Apanhamos um táxi para voltar à casa do meu amigo. A tal vida-sem-carro implica mais táxis, é claro...Nunca o meu velho carrinho me pareceu tão lindo. Já quase a chegar pensei que tanto cansaço me estava a dar visões, porque O vi. Gritei «Páre, páre!!!» perante o espanto de todos. «O carro está ali!!!!» E estava! Um tanto vandalizado, sem rádio, sem nada no interior, com menos gasolina, mas estava estacionado numa outra rua!
Volto à esquadra no mesmo táxi, onde entro de rompante «Achei-o! Está ali!» e seguiu-se mais uma hora de papelada, pois a informação tinha de ser divulgada para não vir a ser presa por ter roubado o meu próprio carro.
Uff... Ganda susto, e uma história que acabou bem.
É que, como cantam os cauteleiros, há horas felizes!
Pé-de-Cereja
14 comentários:
Uff... Também digo! Mas que aventura assustadora!
Que susto horroroso!
O meu também já teve melhores dias (muito melhores dias!) mas não se pode pensar agora em trocar. É mantê-lo e viva a velha!
Olha a «nossa» Joaninha!
Eu também! Quando vejo um anúncio de carro, fico horas a admirar. Como um puto a ver um bolo...
Mas é admiração à distância. Tomara ter dinheiro para a gasolina, o resto é só sonho!
Mas esta «Cereja» devia chamar-se «Trevo de 4 folhas» que tem uma sorte do caraças!!!
As coisas que ela nos tem contado do que se passa com este carro, nem se acredita! Uma vez apanharam um ladrão quando o estava a roubar!!
Olha aqui o bando todo... :)
Oh Joaninha, e daquela vez em que até lhe foram levar as chaves a casa!?! Nunca me esqueci dessa história fantástica. Nasceu com o rabo virado para a lua, esta sujeita!!!
Bom Dia a todos!
Vocês têm razão, em muitas coisas tenho uma sorte do caraças! Achar coisas perdidas, é comigo. E quanto ao carro foi um duche escocês - quente/frio, uma coisa impressionante. E num curto espaço de tempo...
E, como é tudo muitíssimo relativo, ainda hoje estive a pensar: se uma manhã chegasse ao pé dele e visse que me tinham roubado o rádio e mais um ou duas coisas acabadas de comprar que lá tinha deixado, ficava furiosa. Ia parecer-me uma calamidade.
Hoje isso nem tem qualquer importância. O que são mais 100 ou 200 euros?! Pffff... :) :) :)
Esse amigo é pois melhor do que a policia.
credo, que aventura!!
mas o mais engraçado é teres sido tu a achar o carro. incrível!
Foi mesmo incrível, saltapocinhas! Um alívio incrível. Mas eu nem contei todos os pormenores para isto não ficar um lençol enorme. Por exemplo, quando lá chegámos os tlm o meu e o do meu filho estavam com a bateria em baixo, e eu deixei o meu a carregar na casa do meu amigo. Com este enervamento todo, ao sairmos para ir à polícia, o dele ficou em casa. Quando achei o carrinho, eles ficaram lá de guarda enquanto eu ia no mesmo táxi à esquadra. E durante a hora que se seguiu, não tive hipótese de comunicar com eles porque não havia tlm a funcionar! O do meu filho sem bateria, o do meu amigo em casa, e o meu a carregar... Na era das comunicações instantâneas, 3 pessoas sem comunicar é obra.
OH! Que desgraça tamanha!
Meu Deus! Como seria andar de transportes quando estes não eram acessíveis à bolsa de qualquer comum mortal?
Afinal, andar de transportes públicos só faz bem ao ambiente e a carteira, seja ela qual for, não acha? Olhem bem para o aquecimento global...
Já reparou bem que a maioria do mortal comum não possui carro e desloca-se para bem longe do local onde habita para trabalhar e não por motivos de lazer?
Isto não a faz pensar??? Nos dias de hoje pensar é preciso, não acha?
De qualquer modo, se não está habituada a andar de transportes, incluindo o comboio, não é de admirar a sua estupefacção relativa aos vários idiomas, afinal vivemos num país a escala global, onde as coisas se democratizaram (pelo menos para alguns)...
Deixo-lhe porém uma pequena ressalva: que tal avisar o seu amigo que para a próxima vez tenha cuidado com a sua velha "latinha"?
Afinal carrinhos há muitos, mas os nossos os nossos são os nossos, não é?
Isto tudo que relatou fez-me rir, sabe?
Quando escreveu logo no inicio que só "damos" valor aquilo que temos depois de as termos perdido ou pensar que se perdeu...
Mas isso não acontece a qualquer um. De qualquer modo o "bólide" apareceu, e já poude usufruir da sua humilde casinha de férias, o que é muito bom para si, e para os seus.
O blog, continua uma maravilha, é por estas e por outras que de vez em quando, quando a vida o permite e a paciência também cá volto.
E como estamos de novo com um fim de semana a porta, desejo-lhe um belissimo fim de semana sem sobressaltos.
Nany
Nany, obrigada pela sua visita. Mas gostava de explicar uma coisa.
Como não me conhece, concluiu que eu «não estva habituada a andar de transportes, incluindo o comboio». Olhe que não. Eu ando quase que exclusivamente de transportes públicos. Se saio de Lisboa vou de camioneta ou de comboio, até porque não gosto de guiar em estrada. E tenho várias amigas (assim de repente lembro-me de 4 ou 5) que não têm carro - mas como os filhos têm, a coisa não fica assim muito mal. :) Como ali expliquei a tal casinha não tem mesmo acesso por transporte público, por isso o carro fazia-me falta, mas tirando isso vivo bem sem carro.
Por outro lado também não fiquei «estupefacta» por ouvir 6 línguas diferentes, achei graça por NÃO ouvir português. Foi o contraste, exactamente nos transportes públicos de Lisboa viajam sempre muitos... lisboetas!
Mas, enfim, aceito que desta vez não me expliquei muito bem. Quis apenas contar uma aventura que me pareceu engraçada, e não gabar-me de ser tão rica que até sou a orgulhosa possuidora de uma viatura com 12 anos que nem o ladrão a quis...
Vim cá espreitar por ver 12 comentários (eu tinha sido das 1ªs) e a anónima-nany deixou um muito azedo e trocista. Percebo que ela não tem ou não usa carro para ir para o trabalho. Muita gente também não (apesar de as entradas de Lisboa à hora de ponta fazerem medo ao susto) mas mesmo que o não usem diariamente, são já poucas as famílias onde não exista um - muito usado, quase a cair, mas numa família de vários elementos alguém tem carro. Já não é sinal de riqueza, banalizou-se.
E, pelo que diz a Cereja, o dela não é exactamente um bólide...
Joaninha: Esta é para si...
Não sou "zeda" nem "sarcástica", mas tenho o meu snetido de humor peculiar, um tanto ou quanto peculiar, o que é um direito meu, não acha?
Não tenho inveja de quem tem carro, seja ele bólide ou não, e pode acreditar que sou feliz em andar de transportes públicos, sejam eles comboios, camionetes, autocarros sem contar em andar a pé que só faz bem.
Longe de mim querer ofender quem quer que seja, mas enfi, fica ao critério de cada um, e isso a mi neste momento já pouco ou nada me incomoda, pois a minha vida já deu tantas voltas, já me desiludiram tanto que já não acredito em nada.
É um dos motivos porque leio de vez em quando o blog, distraio-me...
uma boa semana.
nany
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