quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Se o exemplo pega

A história é fantástica mas faz todo o sentido: farto e enervado por não lhe pagarem uma obra já terminada, um empreiteiro enérgico passou à acção desmanchando o que fez e não lhe foi pago!
Fiquei entusiasmada.
Todos sabemos que o Estado é um terrível e feroz devedor e um desleixado e péssimo pagador. Quem deixa passar o período de pagamento de qualquer dívida ao Estado, por menor que o seja (ao Estado ou aos Bancos) apanha com uma enorme multa muitas vezes em desproporção com o valor da dívida. Podemos ter até o salário penhorado por um atraso de pagamento de um dia. Isso nunca me aconteceu, mas conheço casos.
Por outro lado, quando fornecemos qualquer serviço ao Estado já sabemos antecipadamente que esse só será pago... quando puder ser. Há uns anos aconteceu-me o absurdo de ter efectuado um trabalho bastante grande e para poder receber tive de, antecipadamente, emitir um recibo. Já isso não é justo nem legítimo - um recibo é passado quando se recebe algo e não quando se-pode-vir-a receber... Mas, vá lá. O inacreditável, é que eu passei o recibo, passou-se tanto tempo que tive de pagar o IRS correspondente a esse rendimento, e nada entrava na minha conta! Recebi um ano e meio depois de ter passado esse recibo.
Tenho reparado que os advogados oficiosos andam desesperados porque estão à espera do seu pagamento desde Abril. Desde Abril, viram bem? O Governo passou, vem este Governo, e eles à espera. A diferença de atitude entre o dever de pagar e o direito de receber, quando se trata de entidades oficiais é gritante!!!
Por isso sorri, quando saltou para as páginas dos jornais a indignação do homem que faz a calçada em Beja. Ah não pagam? Então vou desfazer aquilo que fiz!!!
Brilhante.
Porque a ideia que deve estar nas cabecinhas de quem vai protelando o pagamento é «já está feito, é o mais importante; logo se vê quando dá jeito pagar o trabalho». Nunca lhes passou pela cabeça que o processo pudesse ser revertido!
Evidentemente que isto só pode acontecer a quem já esteja completamente desesperado (e com trabalho 'material' - no meu caso, e no dos advogados não se pode desmanchar o que se tinha feito...) e não se importe com o trabalho que vai ter em deixar tudo com estava no início.
Mas que é bem feito, isso é!!!



Pé-de-Cereja

14 comentários:

Zorro disse...

É uma pouca vergonha. E todos sabemos que o sistema é esse e... achamos que «é assim, pronto». Nunca trabalhei para o Estado (nem o Central nem Câmaras, nem nada) mas sei perfeitamente que é isso mesmo.

Zorro disse...

Ainda cá volto para acrescentar que fizeste muito bem em chamar a atenção para o caso dos advogados oficiosos. Afinal é um Ministério bem importante e de que não se fala. Fala-se do atraso no pagamento das farmácias, mas a Justiça parece pura e inocente...

cereja disse...

Aqui só é pena que a Câmara seja a de Beja quando há para aí outras bem piores. Mas vê-se que os alentejanos são mais decididos, pelo menos...

José Palmeiro disse...

Tal como prometi, cá estou.
Começando pelo fim, direi que esta câmara de Beja, já não é o que era, pois o PS, deitou-lhe a mão e o que por lá anda não tem nada a ver com o que foi, nos tempos idos. Agora são as lutas fratricidas de PS e PSD e seus comparsas. De qualquer forma, tirando as câmaras do regime, isto é as câmaras do mesmo sinal do governo, ninguém tem dinheiro para nada e tudo se resume a um jogo do empurra.
Quando ao empreiteiro que decidiu desmanchar o que fez, por não ter recebido, se por um lado acho bem, por outro não, porque foi mais um tanto a somar à dívida a não ser que, por sua vez ele também não pague aos trabalhadores, enfim!!!!

if disse...

Poucos teriam a gana do empreiteiro desta notícia que eu desconhecia. Ah homem valente!

Num tempo de novos medos, poucos ousam murmurar queixas. Quando o fazem é porque atingiram o limiar do insuportável!

Ah, e acrescento que desde Abril os advogados estão sem receber honorários em dívida relativos a trabalho oficioso prestado em 2010. Claro que de 2011 não viram nem um cêntimo…

Joaninha disse...

Olá a todos!
Essa parte dos advogados é revoltante. E ainda por cima tem pouco eco social, porque existe a ideia feita de que ganham muito. E alguns até ganham (essas sociedades dos barões do Direito...!) mas não são esses que trabalham em oficioso, imagino eu.
............
Esse empreiteiro é de facto um teso! E chateado p'ra caramba! O que ele ali diz é que o homem que lhe vendeu a pedra também não tinha sido paga e portanto teve de a devolver... Eheheheh!!!

Joaninha disse...

Palmeiro, tens a tua razão. O Alentejo está mais cor-de-rosa, empalideceu muito, coitadito. Perdeu as boas cores.

Mary disse...

Que tristeza tudo isto.
Viram como se chamava a calçada que está a ser «descalçada»?
Chamava-se 25 de Abril...
Se isto não é premonitório, ai, ai, ai...

saltapocinhas disse...

que raio de ideia estás a dar ao pessoal.
ficávamos com o país desmanchado!
(como se quase falido já não chegasse!)

cereja disse...

Eheheheh!! Olha que não sei Saltapocinhas... Se a ideia pega, ao fim de uma ou duas ameaças destas talvez se deixasse de encomendar o que não se pode pagar. Afinal o Estado também anda a viver a crédito de nós todos, já se viu? Se «os senhores que mandam» estivessem como os advogados oficiosos deviam pensar 2 vezes.

Anónimo disse...

efectivamente nós não podemos desfazer a calçada, mas daqui a nada teremos que tomar medidas mais sérias. já andamos há muito a gastar o nosso latim para "animação" de quem sabe que isso não nos leva a lugar nenhum, antes pelo contrário.

p.s. tentei publicar no meu face mas não consegui : (

M&M

cereja disse...

Olá amigas IF e MeM!
Que gosto tenho em encontrar aqui, embora lamente imenso que a referência seja essa 'violência económica' que andam a fazer aos advogados que afinal andam a defender os mais desfavorecidos.
Como disse ali no 'corpo do post' também uma vez me aconteceu esperar um ano e meio por um pagamento, e até ter de pagar imposto sobre um dinheiro que ainda não tinha recebido. Mas a verdade é que eu tinha o meu ordenado normal, esse trabalho fi-lo com esforço e 'suor' mas não dependia disso para me aguentar. O que os oficiosos estão a apanhar é revoltante!!!

cereja disse...

Só uma nota para a IF - claro que o nick faz todo o sentido (eu também tive um durante anos e anos que era afinal as iniciais do meu nome) mas achei graça porque acabei de reler o Conde de Monte Cristo (ando a voltar à adolescência, as férias têm destas coisas...) e quando li IF fiquei aqui a sorrir...
:)

cereja disse...

Volto ainda a deitar outra acha para a fogueira. Li há momentos em relação às despesas dos hospitais
como os fornecedores sabem que os pagamentos demoram em média de 240 a mais de 360 dias, os preços são sempre inflacionados, de forma a descontarem os juros. Existem dívidas a fornecedores a mais de 90 dias. [....]
É sintomático também que dos 87 organismos da administração directa e do sector empresarial do Estado, apenas duas assumam não ter dívidas a fornecedores superiores a 90 dias.

O círculo vicioso - leva-se mais porque se tem de esperar muito, e faz-se esperar por não haver dinheiro!