segunda-feira, 13 de junho de 2011

Por estas e por outras....

... é que a minha opinião sobre este senhor se confirma constantemente.
É um facto mais do que sabido que os discursos que os senhores importantes proferem não são redigidos por eles. O que nós ouvimos é o produto final do trabalho de vários especialistas, dentro do possível, bem articulados entre si. O ‘actor’ que recita a oração final deve ler o texto com boa entoação e um ar convicto, mas é apenas o que se lhe pede.
Vem isto a propósito dos discursos de Cavaco. Não faço ideia de quem seja a equipa que os escreve, mas seria bom que se reciclassem. Há quase sempre coisas a apontar e desta última vez a coisa esteve feia.
Compreende-se muito bem a preocupação do presidente com o défice alimentar português e com o despovoamento do interior questão muito séria e que preocupa muita gente. Contudo a questão da agricultura não é uma birra de gente mimada que prefere viver no bem bom das cidades do que na labuta dura de sol a sol dos campos. Neste momento não estamos a viver um episódio de Uma Casa na Pradaria, estamos infelizmente a sentir na pele as decisões ‘generosas’ da União Europeia.
O que leio por aí é que em Portugal temos cerca de 400.000 agricultores. E também li que perto de metade deste número está a receber subsídios para NÃO PRODUZIR. Isto chama-se regime de pagamento único, e é incentivado. Mais do que isso, 2.000 destes agricultores, ou seja 5% dos que existem, são ex-grandes agricultores e recebem 250 milhões de euros (para não produzir!!) segundo a notícia mais do que os outros todos juntos.
Muito bem, é isto que convém a Bruxelas para proteger os franceses, alemães, os grandes países. Generosamente até «dão dinheiro» para que os pequenos não produzam e… comprem os produtos que eles vendem, é claro.
E depois Cavaco vem pomposamente dizer que quer «criar oportunidades de sucesso para jovens agricultores». Já agora para os menos jovens também. Não era mau, mas talvez fosse de começar por tirar os paus das rodas dos carros para eles andarem!
Quem não se preocupa com o interior? Os que lá vivem (ou viveram) decerto que sim, e muito mais gente responsável, mas… afinal onde estão os 60 mil milhões de euros de fundos europeus que entre 2000 e 2006 deviam ter sido investidas no Interior? Possivelmente foram utilizados a pagar contas urgentes. Contas que deveriam ter verbas para isso, decerto, e talvez tivessem sido desviadas para outros pagamentos e por aí fora… Até se arrumar esta casa caótica, as contas estão sempre erradas.

Mas o paleio do discurso do Presidente é profundamente farisaico, porque não acredito que esteja mal informado. Mas essa duplicidade não é nada que me surpreenda desse senhor, o país conhece-o (ou devia conhecer) desde há muitos anos, quando as vacas estavam gordas.
 
 


Pé-de-Cereja

4 comentários:

Mary disse...

Nestes dias de feriados e fim-de-semana tudo junto a gente perde o hábito das visitas habituais :)
E, desta vez até deixaste um post a pedir mesmo comentário.
Já tenho pensado no que dizes, Cerejinha. Isto é um circulo vicioso - estimula-se a «não-pesca» ou a «não-agricultura» para beneficiar os senhores gigantes das UE, e depois há queixas de que não produzimos o suficiente para comermos... Como é que é?!

cereja disse...

Bom Dia Mary!
Tens razão, estes dias de pausa, que souberam bem a todos nós, deixaram aqui o Cerejas a falar sozinho... :)
Eu andava (muito!) mal habituada com muitos leitores habituais no meu antigo blog. Tenho de aceitar que criar um blog do início não é fácil, mas é claro que tenho pena, porque mesmo os velhos amigos - Zorro, King, e tu, sem falar na Joaninha que era tão assídua! - perderam o hábito de passar por cá.
De resto, também é verdade que eu não escrevi aqui nada de extraordinário, é uma reflexão que todos fazemos. :(
Infelizmente.

Anónimo disse...

quem parte leva saudades...
quem fica saudades tem...dizem os antigos. resta saber se isso corresponde a realidade.
alguém de outras eras, de outros tempos

Joaninha disse...

Este post tinha-me passado. como disse a Mary, esta maravilha dos dias de folga deixa-nos um tanto tontos e perdi o fio à meada.
Quanto a este senhor, nunca cheguei a pensar nada de jeito dele e nem lhe oiço os discursos!
..............
Fiquei com curiosidade em relação ao comentário anterior. Será de um antigo comentador do Pópulo? Ou alguém teu conhecido? (parece, pelo modo como escreveu)