quarta-feira, 7 de maio de 2014

O íman das nódoas

Bem, desta vez volto aqui com uma crónica pessoal - a referência à nódoas não tem nada a ver com nenhuma "saída limpa".
Quando eu nasci as 3 fadas do costume deram-me uns dons simpáticos, sou pontual sem dificuldade, sou arrumada, sou poupada, mas a horrível e feia fada má, como lhe compete, veio estragar a harmonia e fadou-me com um azar infernal: sou um íman de nódoas, desde criança até hoje. A sério. Acreditem.
Era bem pequena e lembro-me de ir brincar para casa de uma menina amiga. Quero eu dizer, não era assim muito, muito, muito amiga... Era a filha de uns amigos dos meus pais. E eu tinha em relação àquelas visitas um sentimento ambivalente: por um lado era engraçado ir lá a casa. A família tinha um nível económico superior ao nosso, o pai era médico de sucesso e ela filha única portanto tinha um quarto lindo com muito mais brinquedos do que o meu. Também faziam uns lanches muito diferentes da minha casa o que achava engraçado. E aquele ambiente (que, curiosamente, hoje me parece bem pretensioso) deixava-me fascinada com os cetins  e doirados. Isso por um lado, mas por outro lado, embirrava porque aquela parva parecia saída directamente de As Meninas Exemplares da Condessa de Ségur! Era im-pe-cá-vel, seguia a etiqueta de tudo, muito bem educada, e se vestia um bibe como todas as meninas daquela época quando estavam em casa, era um bibe branco com folhos de bordado inglês!!! Um bibe branco?! Pois era. Branco. E no final da tarde de brincadeiras estava tão limpo e pouco enxovalhado como estava no início... Oh que inveja! Aquilo não era natural.
Porque eu mal vestia fosse o que fosse um minuto depois estava bom para ir para o tanque da roupa... O molho, saltava do prato, a tinta do aparo da caneta, a sopa da colher, para virem enfeitar a saia, a manga, o peitilho, fosse o que fosse que eu vestia. Às vezes até parecia que era magia, que os salpicos sujos atravessavam a sala toda para chegarem onde eu estava.
E a maldição da fada má não é quebrada com o tempo.
Ainda hoje em dia se vou para a cozinha e ponho um avental, é certo e sabido que a sujidade vai aterrar no sítio da minha roupa que não está protegida pelo tal avental, se lavo os dentes a pasta salta da escova para a blusa! É sina, ou maldição já nem sei. Ainda há pouco depois de uma cena dessas relembrei a tal amiga de infância, aquela que se mantinha imaculada junto de mim mascarrada, dedos pegajosos, nódoas na roupa, fita do cabelo às 3 pancadas, e tive a certeza de que a minha capacidade de ser um íman de nódoas foi uma maldição de criança. Só pode ser!!!



Cereja

3 comentários:

Anónimo disse...

Eram execráveis as meninas exemplares!!! Mas fez-me saudades ver a capa do livro, os livros da Condessa de Ségur na altura foram revolucionários pelo papel dos diálogos. Liam-se muito bem porque era quase tudo em discurso directo!

Anónimo disse...

Não sei assinar aqui, mas sou já velhinha. Por isso achei muita graça aos bibes que desapareceram, e a referência àqueles livros.

Joaninha disse...

Não tenho deixado aqui os meus habituais comentários porque a minha entrada aqui tem estado bloqueada através do meu nick, e fiz uma birra em não querer comentar como anónima!

Hoje "desbloqueou"!

Essa da "menina do vestido branco" (que até deu origem à imagem) acaba por parecer mais importante do que seres um "iman de nódoas"!

Adorei a imagem!
Olha que há pessoas como tu, não estás sozinha. Ahahahaha!!!