quinta-feira, 15 de março de 2012

Pontos de vista

Se há coisa que o momento em que vivemos (já não posso com a palavra crise!) nos tem mostrado muito bem é como é tão relativo o conceito de abundância ou carência. Bem… quero dizer que é relativamente relativo! Estou a pensar que há limites que ao serem ultrapassados tornam certas considerações chocantes e provocatórias, como a Maria Antonieta a aconselhar os esfomeados a comer brioches. 
Uma pessoa nasce, cresce, é educada num determinado mundo. Fala-se em «berço de ouro» para contrapor aos berços de madeira e até pode nem haver nenhum berço, ser apenas um pano traçado às costas da mãe… Mas desde que um bebé começa a observar o mundo que o rodeia dá como certo e adquirido alguns factos que contribuem para o seu conforto ou desconforto. Para ele isso é o normal, o natural. Um adulto (a mãe...?) toma conta dele, e os valores que esse adulto lhe transmite começam por ser aceites como sendo a verdade absoluta. Pronto, fomos chutados para o mundo real que não-é-igual-para-todos, como se vê. Por termos nascido no Canadá, na Índia, na Holanda, nas Filipinas, a nossa vida começou de um modo diferente e as expectativas diferentes são. (Bem, estou a pensar naquilo que se poderá chamar classe média, que quanto aos muito ricos talvez essa diferença não seja assim tão notável) Mas é um facto que uma criança aceita como 'normal' o meio onde foi criada e ficará triste se perder alguma coisa e contente se ganhar. 
Claro que um adulto também. E os últimos tempos têm sido o espelho disso. Como se cada um estivesse num degrau de uma escada, se tiver de descer ou subir isso é sentido por si como uma perda ou um ganho mesmo que no degrau para onde passa esteja a viver imensa gente. É a promoção ou despromoção social afinal, que chega a alterar prioridades cortar-se em despesas, para alguns essenciais, para manter aparências importantes socialmente.
Pensei  nisto quando vi uma reportagem apoiada nuns paternalísticos conselhos do Barreto-do-Pingo-Doce,  a explicar alegremente que os portugueses protestam menos que os gregos "porque estão ocupados a procurar soluções para a sua vida". (#&a;%#ª§£@!!!!!) 
Fiquei agoniada, deu-me vómitos aquilo! Os conselhos que aquela criatura nos vem dar são como se desta vez a Maria Antonieta, dissesse que não fossem gulosos e comessem pão em vez de bolo, quando o que está em causa é simplesmente não haver pão.
 Estive a ouvir pacientemente 'os conselhos' e não existe um único de uma coisa que eu não faça e há vários anos! Carne, é peru ou frango. Peixe, só congelado. Água, bebo a da companhia. Nada de pré-cozinhados. Só uso produtos brancos e depois de comparar bem. Fruta, é de época e a que estiver mais barata. Ando de transporte público. Ginástica é andar a pé e subir as escadas da minha casa. Etc, etc. Mas voltando aos degraus, sei perfeitamente que estou a viver pior do que vivia dantes mas muito melhor do que muita gente. Mesmo muito melhor.
Não, isso não me conforma nada e sinto muita revolta, por mim e por eles. E quando oiço estes Antónios Barretos desejaria que vivessem aí um mês - nem era preciso mais - com uma família de um bairro social ("Sangue do meu Sangue", por exemplo).
E ainda há muitos degraus para baixo…

Pé-de-Cereja

6 comentários:

Anónimo disse...

Como dizes, cereja, essa reportagem era um nojo. Assim como os paternais conselhos de quem vem ensinar como é que milagrosamente se paguem despesas de 1.000 euros com 500. Gostava de os ver na prática!

Anónimo disse...

Algumas das coisas que referes, até era bom que se praticassem (como o andar mais a pé, por exemplo) mas por opção, por escolha, e não por desespero.

meri disse...

Completamente de acordo!
Também me irritam e revoltam estes "iluminados" que só agora estão a descobrir os produtos brancos, a água da torneira e etc!

sem-nick disse...

se fosse só ele!
Mas como disse aqui a Méri, o que anda mais por aí são uns 'iluminados' a descobrir a pólvora. Se calhar para eles essas economias podem ser grande novidade, mas para quem anda a apertar o cinto há que tempos é a maior das banalidades.
É revoltante o tom condescendente e superior com que falam, como paizinhos a aconselhar uns filhos pequenos (e meio tontos!)

cereja disse...

King, meu amigo, é isso mesmo.
Há coisas que são consumismo (estimulado pela publicidade e outras coisas que tais, é claro) e até para defesa do ambiente, não era nada mau que se evitassem.
Mas por opção.
Seria inteligente que se andasse mais a pé e menos de automóvel, porque nos faz bem e a gasolina e os seus gases prejudicam o nosso mundo. Usarmos uma energia limpa seria bom.
mas estes conselhinhos da treta, irritam-me imenso!

cereja disse...

olá Méri!
(que bom passares por cá; para além do mais é sinal de que te sentes melhor, ainda bem...)
É isso que eu sinto.
Por exemplo, os pré-cozinhados, se nalguns casos se justifica, em muitos outros casos podemos faze-lo nós. Depois de feito, congelamos. Sai mais barato e sabemos que não tem conservantes esquisitos...
(Claro que isto digo eu que até gosto de cozinhar)
E a água, é uma moda bem recente. Precisamos de a beber sem dúvida, mas as toneladas de garrafas de plástico que se recolhem todos os dias não fazem nenhum bem ao planeta e a simples água pagamo-la ao preço de uma outra bebida.
E a graça que eu acho a alguns amigos que pagam um dinheirão ao ginásio (agora isso está a passar...) para onde se deslocam... de popó! :) :)