terça-feira, 13 de março de 2012

Borrifos...

Hoje em dia está tudo quase tudo mecanizado.
Já se sabe, por exemplo, que usamos comandos para tudo e mais um par de botas. A mim dá-me alguma vontade de rir ver por vezes usar um comando para ligar um aparelho que basta estendermos um braço para lhe tocar! Mas, enfim, é a civilização e a lei do menor esforço. Do mínimo esforço. O estranho é que as pessoas habituam-se e depois até se esquecem que há outros modos de fazer as coisa. 

Mas desta vez a «dependência» da máquina a que assisti é engraçada. Passo a contar mas faço antes um flashback:


Quando eu era pequenina via passar-a-ferro com um ferro onde se colocavam brasas no interior. Um pouco mais crescida e já essa operação era com um ferro eléctrico, coisa limpa e prática. A transição de um para o outro foi boa mas era preciso alguma cautela e recordo ainda uma história espantosa: Quando fui para Moçambique, os meus pais, como todos os colonos, tinham um criado para tratar da casa - acho até que eram dois, um mainato e um mofana. E ele passava a ferro com um desses ferros de carvão, é claro. Os meus pais eram boas pessoas e decidiram comprar um ferro eléctrico para aliviar o trabalho do rapaz. Simplesmente ele estava habituado a arrefecer o excesso de calor do ferro mergulhando a base num balde de água… Moral da história, o desgraçado não morreu por uma sorte espantosa mas provocou o maior curto-circuito de que há memória! 
Ora, ainda dentro do capítulo «ferro de engomar», esse objecto foi-se aperfeiçoando cada vez mais e hoje temos dezenas de variedades de ferros e uma função que quase todos têm é um borrifador para humedecer a roupa quando está muito seca. Há um botãozinho onde se carrega e sai um jacto de água. Prático. Mas onde a minha história se torna cómica é porque ouvi uma amiga lamentar-se que a senhora que lhe vai passar a roupa não o tinha feito porque o ferro «estava avariado». 
«Que chatice» solidarizei-me eu «que é que ele tem?» 
«É que não sai água do esguicho da frente. Aquilo deve estar entupido, não sei…»
 Larguei-me a rir. Tal empregada, tal patroa. 
«E ela deixou a roupa por passar por causa disso?!» 
«Então?...O  que havia de fazer?» 
Bem, tentei explicar que salpicar de água limpa uma peça de roupa não é tarefa que exija uma competência especial. Mas, acreditem ou não, tal não tinha ocorrido a nenhuma delas. Era uma coisa que a máquina fazia e está tudo dito. 
À mão?!
Como...???
 Mas que raio de ideia . À mão?!.

Pé-de-Cereja

7 comentários:

meri disse...

Pois é! Mordomias... Olha que (com esta crise) tenho pensado muito no que era a vida há 30/40 anos - já nem vou mais atrás - e era realmente muito diferente.~Atenção não estou saudosista!!! ainda bem que tudo está diferente, demos como certo e eterno muita coisa que, na verdade, não é!
(também me lembro dos ferros a carvão - e dos fogões a lenha? ainda temos um na aldeia e eu adoro-o :)))

cereja disse...

Olá Méri! que bom apareceres!
Estou tal e qual como tu. Não sou nadinha saudosista. Acho que vivemos bem melhor e com mais conforto do que na minha infância. Então as tarefas domésticas nem têm comparação.
Contudo, não seria mau as pessoas perceberem que existem alternativas a certas mordomias, sobretudo agora que o cinto se está a apertar tanto.
Fogão a lenha havia em casa da minha avó. Preto, grande, com um forno ao meio e uma caldeira para água quente no lado direito. Tinha um varão de metal dourado à frente. Que saudades da cozinha dela...

Joaninha disse...

Que engraçado este post. Também me fez voltar atrás, é claro!
Tanta coisa que hoje achamos normalíssimo e até nos irritamos se não funciona como aqui contas e eram coisas que nem se conseguia imaginar há 40 ou 50 anos!!!
Começando (ou acabando) por esta conversa :)
(quem sonhava que se podia estar a conversar com pessoas que nunca vimos na vida através de um instrumento como é o computador??????!)

Joaninha disse...

Ups!
Uma vírgula a menos e o que escrevi ficou confuso.
Vou refazer a segunda frase porque o que queria dizer era: «Tanta coisa que hoje achamos normalíssimo serem como são, e até nos irritamos se não funcionam bem, como aqui nos contas...» etc

cereja disse...

:) Joaninha, que exagerada! Não valia a pena vires corrigir o que tinhas escrito, mas claro que assim aumentas as minhas 'visitas' ou seja visitas comentadas...
Tem piada teres chamado a atenção que até mesmo estarmos a fazer isto (escrever num blog e trocar opiniões) era «ficção científica» da pura. Não se sonhava com isto!!!!

Anónimo disse...

Olha!!! Passei por aqui na minha voltinha higiénica da mamã e vi que tinha entrado um post ontem a uma hora inabitual!
OK.
É a tal coisa, as máquinas são dominadoras mas já não passamos sem elas!
Um dos primeiros comandos que me lembro foi o da tv. Claro, já havia os brinquedos telecomandados, mas isso era outra coisa. Cá em casa foi a TV. e como dizes, hoje tudo, e não é preciso ser nas «casas inteligentes», pode ser controlado por comando! Vamos ter um calo num dedo só!!!
:)

cereja disse...

Ainda voltei aos comentários deste post porque a mesma empregada que não passou a ferro por estar avariado o borrifador, hoje também não limpou o pó porque se tinha acabado o «pronto» ou lá como se chama o spray que ajuda a polir as mobílias!!!
É verdade que quando existem aparelhos para facilitar a lida da casa, é excelente usá-los, mas chegar-se ao ponto de não passar a ferro ou limpar o pó por falta de um acessório, é demais!