quinta-feira, 14 de abril de 2011

Paroles, paroles, paroles...

Gosto de conversar.
Gosto mesmo muito. É certo que também aprecio o silêncio, também sabe muito bem estar ao pé de uma pessoa com quem nos entendemos mesmo sem palavras a apreciar o sossego do silêncio. Contudo, de um modo geral, sou faladora e aprecio muito a conversa.
Mas...
Tudo o que é demais, enfim, é demais! Assim à primeira vista até parece que as pessoas de hoje têm medo do silêncio. Sem querer armar-me em «interpretadora» quase me apetece imaginar que haja para aí medo de pensar, receio dos caminhos aonde nos podem levar os pensamentos quando não os estamos a partilhar com outrem.
É certo que as actuais tecnologias ajudam-nos a andar meio caminho. Meio? Dois terços ou mais! O telemóvel é um objecto completamente indispensável em todas as idades e classes sociais, e usa-se de um modo que gera dependência: sair de casa sem telemóvel faz-nos ficar de ressaca. O pior castigo que se pode dar a um filho é tirar-lhe o telemóvel.
É evidente que se vê com mais facilidade o exagero do vizinho do que o nosso, mas quantas ‘conversas’ não ouvimos nós num transporte público, na rua, num café, seja onde for que estejam pessoas e haja rede, que parece mesmo que falam para... não estarem calados.
«Olá! O que estás a fazer? Ah! Pois. A Rita já chegou? É, é cedo para já aí estar. Hoje está mais frio. Não achas?! Se calhar estás mais agasalhada do que eu. Eu tenho uma camisola fininha. Sim... [silêncio] Pois. Nem por isso. Olha, contaram-me uma muito engraçada [segue-se uma anedota] Olha parece-me que tenho aqui uma chamada a entrar, eu já te ligo» e atende uma outra chamada com a mesma conversa de chacha. Muitas vezes nem sei como a bateria aguenta chamadas de meia hora – não pensando já na conta que está a pagar - desde a entrada no autocarro até à saída num fim da carreira.
Se reparem bem em cada dez pessoas com quem se cruzam numa rua, umas oito estão de telemóvel colado à orelha ou, noutra versão, a carregar velozmente nas teclas trocando mensagens.
Anteontem entrei numa loja de bairro, pequenina, muito simples, e o senhor estava em frente de um pc a conversar via skype decerto. A conversa era do tipo da que referi. «Ah, então está tudo fino? Pois, o calor veio para ficar, aqui também. Tens visto o Esteves? Ná, foi só para perguntar. Eu estive com ele há pouco tempo» depois lá olhou para mim de sobrolho levantado porque como ia fazer uma compra cortava-lhe a conversa. «Espera aí, que já volto» Lá me vendeu o que eu precisava e voltou a sentar-se «Mas conta-me coisas. O que é que tens feito? Ah, ah, ah! Sempre és um malandro. Não pá, estou à vontade. Olha, sabes que...» etc, etc. Conversa mole.
A tecnologia é excelente. Põe toda a gente a falar mesmo sem ter nada para dizer. Pois, como dizia a prima do Solnado que gostava muito de dizer coisas...

Pé-de-Cereja



6 comentários:

Zorro disse...

Olha!!!!!!!!!!!!!!!
Cadê o meu comentário?! Deixei aqui um antes de ter voltado ao post debaixo (se calhar o outro também não entrou... ainda vou confirmar) e agora vim aqui e vi zero comentários. Malandrice...
Bem, também não disse nada de importante :D Apoiava o que dizias; eu uso bastante o tlm e os mails e essas coisas todas, mas não ando a fazer conversa como vejo por aí e tu descreves bem. Custa-me a perceber (será da idade?!) a necessidade de andar permanentemente em comunicação.

cereja disse...

Olá Zorro!
É claro que este post também é um pouco 'conversa mole'. Cada um é como é e neste caso não se faz mal a ninguém. Isto foi mais à laia de desabafo!

Mary disse...

:D
Claro que é tão consensual para algumas pessoas (sobretudo para os teus leitores habituais) que não «provoca» comentários. A gente lê e pensa: Pois é!
.......
Mas sempre deixo aqui qualquer coisa, porque, caramba lá por se concordar não quer dizer que se deixe o blog em branco, não é?

Mary disse...

Ah, e queria cumprimentar o velho Zorro, é claro.
Olááááá!!!!!!

saltapocinhas disse...

é horrível, eu fico possessa quando estou a falar com alguém e essa pessoa interrompe a conversa para atender o telemóvel.
se posso, viro as costas ostensivamente e venho embora!

cereja disse...

E$ fazem constantemente isso! Sem um pedido de desculpa, sem explicar que é muito urgente, nada! Aquilo toca e precipitam-se para atender... Também fico possessa.