sábado, 23 de abril de 2011

O calendário e a motivação

A zanga costuma ser contra as famigeradas «pontes». Quando um feriado cai numa quinta ou terça, e o trabalhador gasta um seu dia de férias naquele dia de trabalho ali encalhado, costuma-se bramar contra esse despautério. Cita-se o exemplo dos países onde, quando o calendário determina esse tipo de feriado, empurram-no para junto do fim-de-semana. De uma forma geral, essas pessoas iradas costumam ignorar que nessas terras quando o tal feriado cai no fim-de-semana passa para um dia útil... 
Mas desta vez o escândalo foi sobre algo que, desde que me lembro, sempre aconteceu: haver folga quinta-feira santa à tarde para serviços não essenciais. Como se o ano passado, e o outro, e o outro, e o outro, e o outro, não tivesse sido assim!
Já tinha pensado em escrever qualquer coisa sobre isto, quando reparei que quer a Didas: Expliquem-me como se eu tivesse cinco anos com uma idade mental de dois, se faz favor quer a Saltapocinhas que pede, Gostava que me explicassem ...como se eu fosse muito burra tinham focado o caso ironicamente, queixando-se de que não entendiam.
Pois é. Também acho que essa treta dos tais 20 milhões que se gastaram é só para “dizerem coisas”. Lembrei-me de uma historieta bastante antiga que já nem sei reconstituir muito bem, mas era mais ou menos assim:
Um empregado foi pedir aumento ao patrão.
«Aumento?!» escandalizou-se ele. Você tem semana inglesa portanto não trabalha 104 dias por ano, só trabalha 261.
E só trabalha 7 horas por dia, um terço do dia, ou seja uns 89 dias.
E tem ainda 30 dias de férias, portanto ficam uns 59 de trabalho. Mas não trabalha também no Natal, Páscoa, Dia de Ano Novo, e mais aí uns 10 feriados de dias históricos ou religiosos, o que reduz o seu tempo de trabalho a pouco menos de 2 meses. Se descontarmos o tempo, em que vai à casa de banho, atende chamadas, tosse, responde a perguntas de colegas, vem receber ordens ao meu escritório, tenho de concluir que você praticamente não trabalha vai ter de me indemnizar pelo tempo que perco a responder!
É que essa do dinheiro que se ‘perde’ foi muito repetida mas muito mal explicada. Que uma fábrica, se parar um dia, baixe com isso a produção, entendo. Mas pouco mais do que isso, em quase tudo o resto o que está em jogo é a competência, motivação, vontade. E isso não se avalia com o relógio ou calendário. Mesmo quem olha de lado para a Função Pública no seu aspecto mais burocrático, sabe bem que um funcionário interessado e competente pode despachar 10 casos enquanto o seu colega resolve 2. E se pusessem o incompetente a trabalhar o dobro do tempo, ele resolvia 4 casos! 
Não é o tempo que importa é o conhecimento e competência. É o modo como as coisas estão organizadas. Não é significativa a diferença de tempo que se trabalha “lá fora” até pode ser menos, mas é certo que se trabalha mais e melhor. 
Porque será?

Pé-de-Cereja

6 comentários:

FJ disse...

engraçado que na véspera o presidente da Confederação Empresarial Portuguesa, um tal sr. Saraiva, que até foi sindicalista da UGT, bramou contra a tarde de 5ª feira, blasfemicamente, note-se ( embora aquela do 3ª dia me faça ainda confusão, apesar de bem explicada no inimigo público do Público de ontem ). Pois não querem saber que o sr. Saraiva deu a tarde de 5º feira, usando os válidos argumentos que agora até cavaco aceita:poupa-se mais não indo do que indo,e os gajos do fmi também lá têm dessas coisas, como aprendi á minha custa, cada estágio que fiz no estrangeiro apanhava um feriado!?

cereja disse...

Grande FJ, ou não consegues entrar um deixas um senhor dom comentário! 'Brigada, até pelo pormenor da experiência pessoal reforçando o que eu também sei: nós não temos mais feriados do que a maioria dos países.
Para além disso eu continuo na minha, não é pelo tempo que se está no local de trabalho, que este é bom ou mau, é pelo empenho e motivação, que não há quando se vai de má vontade!

Zorro disse...

Bem visto!
Olá FJ! Também «voltaste» pelos vistos. aqui a malta gosta da tua ironia, e mais uma vez ela apareceu - «blasfemicamente» a não aceitar a Sexta-feira de Paixão como soe dizer-se
eheheh!!
E, cá eu, também já tenho ficado surpreendido com os feriados dos outros países - se calhar por não serem os nossos, sei lá :D

cereja disse...

Li num comentário do «Fábulas» e copio em parte por ilustrar bem o que muita gente pensa:
«a importância de repartições públicas (câmaras, finanças e outros serviços burocráticos) ñ fecharem: de facto, no nosso país existe tanta burocracia para pedir tudo e mais alguma coisa, que o facto dessas repartições estarem fechadas uma tarde acaba por atrasar tudo o resto, o q faz um certo sentido... E algum dia, estas e outras regalias têm de acabar para o país andar p a frente.»
O pensamento é: como existe excesso de burocracia isso justifica que se trabalhe mais, não que se acabe com ela! Sou do tempo em que se trabalhava ao sábado de manhã. Eureka! Restaurar isso e lá vêm mais 20 milhões. Aliás se acabar o fim-de-semana, serão 80 milhões! UAU! 320 milhões por mês?! Dentro em pouco ficamos cheios de dinheiro! É o ovo de Colombo. Quanto ao que se faz nos 'outros países' é a tal 'lenda', sei que eles têm tantos feriados como nós o que são é em dias diferentes - aliás o FJ também o testemunha.

Anónimo disse...

Hoje acordei cedo vi aqui espreitar e tinhas um post de ontem...
Uma acha para a fogueira (também vivi na estranja e sei que essa dos feriados é 'conversa')
Nós temos 14 feriados, não é? Olhem, por exemplo, a Áustria com os feriados regionais pode ter 29 feriados! A Espanha, 26, a Bélgica 15, a Alemanha 26 etc, etc... Posso ir procura mais exemplos.

Zorro disse...

Muito bem, amigo «anónimo» (não deves ser, cheira-me a um dos comentadores do Pópulo, porque não tens nick agora?) é isso mesmo. Também já tenho ido vasculhar ao google para responder a essa acusação do excesso de feriados e é tal e qual. Aliás os nossos 14 é contando com o feriado municipal de Sto António ou S. João. Verdade verdade temos 13, tal como uma enorme parte doa países do mundo, e muitos deles têm bem mais que nós!