terça-feira, 23 de novembro de 2010

Frieza? Desumanidade?

Uma história que ouvi da boca da protagonista que a contava a uma outra pessoa na minha presença. É claro que ela a contava à sua maneira e pode ter «branqueado» alguns pontos, mas na essência era o seguinte:
Ela, Júlia, vivia com um ordenado de cerca de 500 €, que era pouco mas com uns ‘ganchos’ que o marido ia fazendo naquelas economias paralelas que todos nós conhecemos, ia vivendo assim-assim, com bastantes dívidas mas tudo dentro do habitual numa classe média muito baixa.
Acontece que o marido, tipo exaltado e de mão leve, por uns desentendimentos sobre as partilhas duma casa, é acusado pelo actual companheiro de uma senhora de 80 anos de ter levantado a mão para ela. Para apimentar a história, este ‘companheiro’ tem 40 anos e era com ele que o marido da Júlia se estava a bater, mas a velhota lá levou uns empurrões. Concluindo, queixa, tribunal, e o homem está preso.
Agora a Júlia, tem para viver, ela e um filho adolescente, os tais 500 € que têm de dar para a renda, água, luz, gás, pagar as tais dívidas, transportes, higiene e comida... Não dá.
Foi à Segurança Social expor o caso, e enviaram-na para a sua Junta de Freguesia. Depois de muitas entrevistas adiadas lá foi recebida pela respectiva Senhora Assistente Social.
Essa senhora, olhou para os papeis e reconheceu que a Júlia o que poderia ter para gastar em alimentação (dela e do filho) eram 2 euros por dia. E.... então concluiu que lhe chegava bem.
-«Então?! Ao almoço faz feijão-frade com atum, e ao jantar uma panela de sopa que lhe pode chegar para a semana...!»
A Júlia a contar isto chorava. Porque não encontrou resposta possível. Em que mundo vivia a senhora-assistente-social? É certo que se pode poupar em comida mais do que muitas vezes se faz, e ela (a parva da AS) poderia ensinar-lhe como fazer algumas refeições baratas (não por 2 euros!) Contudo a frase que usou era de uma arrogância e estupidez que merecia uma queixa. 
Mas a verdade é que pobre não se sabe queixar por escrito. Olhem, fica pelo menos aqui o meu testemunho, é o que posso fazer.





Pé de Cereja

7 comentários:

sem-nick disse...

Acredito!
................
A desumanidade está bem expandida! E uma besta dessas é assistente social para atender quem precisa de apoio....
Grrrrr...

Mary disse...

Ela que experimente o Banco Alimentar. Para casos desses creio que sempre ajuda.

Joaninha disse...

É claro que o trabalho dessa senhora deve ser tramado e não lho invejo. Deve estar todo o dia a ouvir histórias que davam «fados». Aliás esta que contas, da senhora com o marido preso, só faltava ter a mãe doente e um irmão tuberculoso (como era dantes; acho que agora a tuberculose passou a ser a droga...) Uma pessoa deve endurecer-se para aguentar ouvir tanta desgraça.
O que não impede que um grãozinho de empatia fosse de esperar. Essa da receita do feijão-frade e atum e uma panela de sopa por um euro (com que batatas e com que legumes???) é de bradar aos céus. E os vegetais que sobretudo para um adolescente tanta falta fazem? Já nem falo na fruta...

Anónimo disse...

Esse género de pessoas, deviam ser condenadas a passar pelo mesmo!
Desconfiam de tudo e todos. Uma coisa é deixarem-se envolver nas situações outra dar respostas dessas - só faltava aconselha-la a cultivar os legumes na banheira!

cereja disse...

Mary, creio que ela vai realmente bater à porta do Banco Alimentar. Só contei esta história porque a tinha acabado de ouvir, e me chocou a resposta estúpida e agressiva da senhora que a atendeu.

Anónimo disse...

Pois é, eu perco-me um pouco com o teu novo horário....
Por um lado entendo que ser assistente social em certas Juntas de Freguesia deva ser um martírio. Mas é claro que a resposta é de uma má educação que brada aos céus! Apetecia convidá-la a fazer as compras da semana e respectivos menus, para a casa dessa senhora que ouviste.

Estrela-domar disse...

É uma história muito dura e repare-se que a protagonista nem sequer está desempregada! E o salário é até um nadinha acima do mínimo nacional. Mas o que se consegue fazer para que duas pessoas vivam independentes com 500€? Talvez voltando para casa dos pais... E ela tem pais? E quando o marido sair o que fazem? É uma história modelo, essa, e vem mesmo a calhar para o dia de hoje!