quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Charia

Tenho por norma, como boa agnóstica que me considero, não falar de religião, seja ela qual for. Acho que se acredita ou não e ninguém muda de opinião através de argumentos racionais.
Mas é claro que quando a religião está por detrás de actos que vão contra o que sinto como Direitos Humanos ( a Inquisição, por exemplo, que se praticou em larga escala, ou ainda hoje a excisão feminina) passa para um degrau diferente e creio que injusto seria ‘branquear’ as coisas com o véu de que são-costumes-religiosos.
A Charia existe em países onde as leis comuns são religiosas, e se possivelmente muitas delas são bem aceites e digamos que ‘inofensivas’ para a dignidade e direitos humanos, há casos que não se podem aceitar com a justificação de que são leis religiosas.
O adultério era um pecado gravíssimo, ainda há poucos séculos. Eu era adolescente quando li «A Letra Escarlate» e chorei convulsivamente. Existe bastante literatura onde lemos que um marido que matasse a mulher se a encontrasse em claro adultério era absolvido.
De qualquer modo o mundo, o tal Primeiro Mundo, mudou.
Mas a Charia mantêm as suas leis. Adultério e homossexualidade são crimes horrendos punidos com morte, e não uma morte rápida e pouco dolorosa, morte por apedrejamento!!!
Sabemos que uma iraniana, Sakineh Mohammadi-Ashtiani, viúva – mas isso não interessa, porque o adultério tanto é durante a vida do marido como após a sua morte... – foi acusada de ter relações com um homem. Foi portanto condenada a ser apedrejada até morrer.
Dizia-se que o seria esta quarta-feira, não o foi mas pode sê-lo a qualquer momento, pelos vistos.
Enquanto nós esperamos um autocarro, tomamos um café, damos um recado ao telemóvel, lavamos a loiça, uma mulher de 43 anos, viúva, mãe de dois filhos pode estar a sofrer um martírio porque não foi fiel ao marido depois de morto.
Arrepia?
Pois arrepia!


Pé de Cereja


9 comentários:

josé palmeiro disse...

Esta, é daquelas que nos faz pensar no que andamos por cá a fazer.
Absolutamente inadmissível!!!
Pela minha parte já assinei petições e mais petições, veremos se darão algum resultado.

Joaninha disse...

Olá Zé Palmeiro!!!!
Vim cá espreitar apesar de ser cedo (ela agora começou a publicar as coisas mais tarde) e gostei imenso de ter voltar a encontrar!

De resto é impossível não estar de acordo.
Quando eu era muito pequenina havia uma canção que se cantava no Jardim-de-Infância e começava
:
«A plaina corre ligeira
Charia,charia,charia Õ
Tornando lisa a madeira
Charia, charia, charia ô
.....
No viçoso bosque em flor
ouve-se o mesmo rumor
Charia, charia, charia,
charia, charia charia, Ô!»

A cantiga era muito inocente, louvando os vários trabalhos do carpinteiro, ferreiro,etc.
É por isso que me choca ouvir a palavra Charia e saber o sentido sinistro que tem hoje em dia.

Joaninha disse...

Ah, é claro que pela minha arte também assinei várias petições, incluindo ESTA mas acho que isto até os torna piores, sentem-se desafiados.

Anónimo disse...

O ZP tem razão, a gente a pouco e pouco vamos reconstituindo o Clube! :)
É evidente que tinhas de falar neste tema, e não tem a ver com religião tem a ver com costumes e maus costumes!
Creio que no antigo blog já uma vez tinhas chamado a atenção porque eu assinei uma petição.
Só que é pouco. mesmo que resulte neste caso concreto continua a lei a existir.
E as punições físicas? Chicotadas públicas e coisas completamente medievais...
Horror e vergonha.

Mary disse...

Palavras para quê?....
E sejas bem-vindo, Zé Palmeiro!

cereja disse...

Venho só chamar atenção que quando a Joaninha escreveu ESTA, aquilo era um link. Como está quase da mesma cor não se entende.
(Desculpa Joaninha, o erro é meu tenho de estudar esta coisa dos links!)

sem-nick disse...

Evidentemente que não são coisas comparáveis, mas amigos, fez-me também impressão a menina cigana de 10 anos que deu à luz uma criança de 3 quilos!!!! Entre os ciganos é normal?... Acredito. Mas não o devia ser. Aos 10 anos o corpo humano ainda não está formado, é uma violência. Há usos e costumes que deviam ser melhor esclarecidos.

fj disse...

A parte que ainda me toca mais neste post é o assinalar na normalidade da vida da esmagadora maioria, enquanto ocorrem cenas como a prevista. Ainda me lembro da execução de Caryl Chessman, nos eua, muitos anos depois dos crimes de que o acusaram, e depois de aparentemente, recuperado.Ou recentemente também nos eua, um assassinato legal ás duas horas am de Lisboa que fui "vivendo", Pena de morte abominável em toda a parte, igual no significado, talvez desigual nos requintes de execução.Possível viver esquecendo a toda a hora isto, ou o Afeganistão, o Iraque etc. Possível, mas difícil e sujeito a recaídas tramadas pelo pouco que se pode fazer.Sonho comum ás religiões monoteístas não orientais é serem elas próprias o direito, o que tem vindo a ser progressivamente atenuado.Mas veja-se a frequência com que a igreja católica quando não consegue impor como direito um seu preceito, apela à desobediência civil.

cereja disse...

Bom, venho saudar a volta do FJ, que afinal pelo que me explicou não é que me tivesse deitado ao desprezo mas o pc dele agora só mostra metade do monitor... Ele é que descobre desgraças espantosas.
Gostei que tivesse reparado no toque que eu dei, de que as nossas vidas se mantém no seu ritmo habitual, e é natural que assim seja, mas vendo de longe faz muita impressão pensar no que pode estar a suceder neste momento em que calmamente sentada eu escrevo esta resposta...