sábado, 16 de janeiro de 2016

O fumo sem fogo (bombas?)


Hoje em dia «não podemos viver» sem internet. 
Claro, não é isto que quero dizer, mas creio que me perceberam bem. O leque que vai de um extremo ao outro é grande, enorme, e aparentemente do camponês meio analfabeto que nem um jornal lê e o net-dependente sempre agarrado ao telemóvel ou tablette parece haver um mundo de diferença. E há. Mas a verdade é que mesmo o tal infoexcluído depende da net para pagar os impostos, por exemplo (mesmo que tenha de pedir a alguém para o fazer) ou quando vai ao médico, e é influenciado por ela ao ver um telejornal, por exemplo. Mesmo que julgue que não...


E o complicado são as ratoeiras desta informação. Porque por um lado pela net pode pôr-se a correr um boato ao gosto de cada um, que não pode ser completamente desmentido pela mesma forma, e por outro as técnicas actuais podem manipular habilidosamente a informação. 
Veja-se aqui apenas um exemplo de manipulação da informação mas que não vai ser apagada, porque quem viu a imagem não a esquece nem quer saber em que país isto se passou, leu que foi na Grécia e é isso que fica na sua memória. Aliás conhecemos mesmo histórias que são «fakes», neologismo para classificar uma notícia completamente inventada, mas apoiada em imagens e com referências plausíveis. Todos nós já caímos nessa...


E esses boatos maliciosos atingem uma faceta verdadeiramente maléfica quando são usados na política - muitas vezes abrem feridas que nunca cicatrizam, porque o desmentido é sempre olhado com suspeição. Veja-se o famigerado «caso Casa Pia» por exemplo, onde a lama atirada ainda hoje perdura. Porque o povo vai pensando «se há fumo é porque havia fogo...» e nada é mais engraçado do que ver atingido um adversário (inimigo?).
Nesta campanha que está a decorrer, li uma vez um 'comentário' dos que enxameiam os artigos de opinião dos jornais, que me fez sorrir. O comentador punha em causa a formação académica de Sampaio da Nóvoa, por ter lido que ele tinha começado por frequentar um curso de teatro, e acusava-o de palhaço ou qualquer palavra do género. Eu, parva, sorri e pensei «coitadito, nunca frequentou uma universidade e não sabe exactamente o que é um reitor» considerando o comentário um boomerang que apenas demosntrava a falta de cultura de quem o tinha escrito. Eis senão quando, percebo que afinal aquilo era o anúncio do que vinha a seguir! O Blogue «O Insurgente», apesar de tudo com muitos leitores, escreve um post onde faz eco das dúvidas do candidato Cândido Ferreira exactamente sobre o mesmo ponto, qual a formação académica do ex-reitor! E foi o que bastou para o rastilho se propagar, por aí.
E de uma forma grosseira e violenta. Com comparações com Miguel Relvas, com piadas perguntado se íamos passar a ler «vai estudar ó Nóvoa». Ficamos de boca aberta. O homem referido nesta entrevista, a pessoa que tem este curriculum, vai ter de se defender de ter poucos estudos???
Não sei. Claro que para um grupo social mais culto tudo isto não tem pés nem cabeça, mas uma mancha de óleo malévola como esta pode realmente alastrar.
A verdade é que pode haver bombas de fumo, sem nenhum fogo. A questão é saber atirá-las.



Cereja

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O que é demais...

É irresistível para quem tem a minha idade a comparação dos seus tempos de meninice ou adolescência com a actualidade. Até porque, sejamos francos, a vida na actualidade é bem melhor e mais fácil do que era então. Comunicamos com toda a gente (quase...) a qualquer momento, deslocamo-nos com enorme velocidade em comparação com o que era há meio século, e temos aparelhos que nos facilitam a vida de um modo extraordinário, e na área do trabalho doméstico já nem sabemos viver sem eles!
Quanto à educação também as diferenças são impressionantes. Não falo apenas nos currículos académicos completamente diferentes, os estudos 'clássicos' desapareceram quase e a vertente científica tem muito mais peso, mas toda a atitude pedagógica é outra, tal como na família a postura que pais e filhos utilizam no respeito pela hierarquia (?!) familiar. Mas, embora muito interessante, não são estas diferenças que hoje me levam escrever e sim a diferença enorme em relação ao desporto.
Todos nos recordamos decisão de Afonso da Maia, quanto à educação do neto Carlos - à inglesa, ele devia para além dos estudos académicos fazer ginástica, actividade física... Revolucionário, hein?!  E bastante mais tarde, no tempo dos meus pais, a prática da actividade física não fazia parte do curriculo escolar. Eu já a tinha, mas sem nota, não se dava grande importância. 
Actualmente é bem mais importante, e muitos pais para além do que os filhos fazem na escola arranjam-lhes diversas práticas desportivas. É correcto. 
Mas já tinha reparado, em séries americanas sobretudo, que esse estímulo pela actividade física está a tornar-se uma mania. Cá para mim, o que é demais, é demais... Veja-se esta verdadeira obsessão pelos desportos !
Calma! Com 9 anos jogarem okey até às 10 da noite?! Com 13 anos praticar todas as noites e aos fins de semana?! Não se pratica desporto por ser divertido, ou fazer bem, tem de se ser muito bom, ser o melhor, ser uma estrela... Só os atletas são bem sucedidos, a competição é enorme, a família usa todos os tempos livres para ir ver os filhos a competir. Falhar um jogo é um desgosto profundo, uma catástrofe.
Mas afinal isto passa-se na América, onde o bom ensino é privado, e as famílias começam a juntar dinheiro para os estudos dos filhos ainda eles são bebés. Ser bom atleta é conquistar uma bolsa e garantir os estudos. 
Poizé, afinal melhor ou pior é uma questão de dinheiro.


Cereja

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A espiral sinistra irá abrandar...?

Na nossa terra ultimamente a vida de-quem-não-é-rico tem sido um pesadelo.
Sei que há quem o queira disfarçar, daí o eu ter optado desde há uns tempos por não ler, nem ouvir na tv, a «opinião» de uns senhores 'economistas' que vivem num universo paralelo e negam a evidência. O que dizem enerva-me tanto que optei por os ignorar!!!
Durante muito tempo, quando eu era criança, os ordenados eram uma miséria mas os preços eram controlados. Vivia-se muito mal, os salários se comparados com 'lá fóra' eram muito baixos, e os preços também. Um país onde tudo era pequenino, pobrezinho...
Veio depois um tempo onde os salários foram melhorados, e nós respirámos. Um período de grande esperança mas muito curto porque rapidamente os preços foram ajustados...
Ou seja de viver mal por os salários serem baixos, passámos a viver mal por os preços serem altos. O tempo em que se respirou foi curto.
Mas nos últimos tempos, com as medidas de austeridade para o nosso país, a tarracha apertou a um limite inacreditável, viu-se os preços a subir e os salários a baixar ! Ou seja os pobres passaram a miseráveis e a classe média a pobre, como diz na reportagem «os aumentos significativos registados nos preços de bens e serviços básicos ou obrigatórios vieram numa fase em que também o emprego, os salários e os apoios sociais foram penalizados» Na conhecida história do 'leito de Procusto' cortava-se ou os pés ou a cabeça da vítima para a ajustar à cama, mas no 'leito da austeridade' em Portugal cortava-se os pés e a cabeça! Sem salvação!
Mas de vez em quando contam-nos coisas tão inacreditáveis que têm de ser interpretadas para se aceitarem. Vi na véspera do Natal uma reportagem que dizia que os portugueses tinham gasto este ano, em média, 300 € em prendas de Natal. Mas quais portugueses? Ou é um milagre que rivaliza com o da multiplicação dos peixes, ou algo de estranho se passa para que num país onde  a média dos salários é de 550 € segundo a Deco, o que me parece realista, ou de pouco mais de 900 em estudos mais optimistas, como é que a média das compras foi de 300 €?! A minha interpretação é que se esperou pelo Natal para comprar coisas necessárias: um casaco de abafar melhor, um bom par de sapatos, ou trocar aquele electrodoméstico que estava em fim de vida... Só pode. 
E com o Novo Ano e Novo Governo, o que eu espero nesta altura é já que não me cortem mais no salário ou reforma! E que apareçam saídas profissionais para os nossos filhos. Não se pode pedir menos, creio eu...
Que se consiga abrandar a voragem desta espiral tenebrosa. Uma luzinha ao fim do túnel.








quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Mais uma vez a comida

Tinha prometido a mim mesma não voltar a falar de novo nas questões da alimentação (já me enjoa...) mas torna-se difícil, não sou eu que vou atrás do tema é ele que me persegue... Da comunicação social nas suas diversas formas, às redes sociais, somos constantemente metralhados com o raio do tema. Mal comparado, a ânsia de conversão de alguns fundamentalistas alimentares só me lembra a pegajosice  das 'testemunhas de jeová' que nos batem à porta ou nos abordam nas esquinas insistindo na bondade da sua mensagem. 
Desta vez é aquela coisa, a tal lenda urbana dos malefícios do leite. No facebook gozava-se com um cartaz onde se falava em 'soy milk' perguntando, com graça, se seria o leite espanhol a apresentar-se. Nos comentários lá apareceram os inimigos-do-leite, com o conhecido argumento cheque-mate: só o homem bebe leite em adulto, mais nenhum mamífero o faz, QED ... faz mal!
Óvalhamedeus!
Essa prova (?!) tão repetida deixa-me sempre atónita, até por vir muitas vezes de vozes cultas. O homem da actualidade, é diferente de todos os outros animais. A verdade é que, se quando desceu das árvores e começou a andar na vertical apoiado nas patas traseiras ainda seria herbívoro, desde há milénios que se tornou um omnívoro aliás acompanhado de muitos outros animais!

E, mais ainda, para além dessa esquisitice de ser o único que bebe leite em crescido, também é o único que cozinha os seus alimentos!!! E bebe líquidos fermentados. E... e... e...
Pois é, o ser humano é único. Felizmente.
Come de tudo, sim senhor. Bebe leite se quiser. Aliás também nenhum mamífero adulto come iogurte ou queijo porque não o sabe fazer. E já agora também nenhum mamífero adulto bebe leite de soja ou come tofu...
Vi ontem um episódio antigo de uma série de tv. Às tantas um pai a querer ser simpático com uma filha jovem adulta e o seu namorado convida-os a ir comer um «pato à Pekin». O olhar com que foi recebido o convite, de espanto e desdém, era fabuloso e acompanhado da resposta «Pai!!! Nós somos vegan!!!» num tom superior. No desenrolar do episódio o namorado, que era um dealer, acabava morto num tiroteio com um bando rival, e a rapariga também matava alguém, em defesa é certo mas por causa do negócio de droga...Achei graça. Princípios elevados na alimentação, não comiam carne, nem peixe, nem ovos, nem leite, nem mel, nem... mas consumiam e vendiam droga, e até não se faziam esquisitos para matar pessoas!


Claro que não tiro nenhuma conclusão parva, uma coisa não tem a ver com outra. Mas, achei graça, pronto!


O leite-creme leva leite...
Mas é tão bom, não é? 

Cereja

 

domingo, 22 de novembro de 2015

Outras guerras


Para além das grandes guerras que ocupam as nossas preocupações e os títulos dos jornais, há outras guerras mais mansas a que já nos habituámos e não matam mas moem. Ou até matam, visto por outro ângulo... Penso no consumo. Já reflectiram porque é que se fala de «defesa do consumidor», aliás até existe uma «lei de defesa do consumidor». Quando se usa o termo defesa é porque se pressupõe um ataque, não é?

O famoso 'consumismo' é uma doença relativamente actual. Imagino facilmente que ao longo dos séculos passados tenham sempre existido algumas pessoas que davam mais importância a ter coisas do que as outras pessoas. Mas como o comércio era uma actividade muito mais restrita do que agora, e muito do que se usava era 'feito' em casa ou na família, não se pode ver isso como consumismo. Ainda quando eu era criança, talvez efeitos do pós-guerra, a grande batalha era contra o desperdício - evitava-se desperdiçar, e o conceito não é exactamente igual a quando hoje se diz «poupe muito, compre 10 ao preço de 5», porque muitas vezes estamos a comprar o que não precisamos, ou seja vai-se desperdiçar no final...

E a minha convicção é de que o consumidor, ou seja 'todos nós', precisa muito de ser defendido. Porque o ataque é global, constante, e por formas cada vez mais habilidosas e sofisticadas. Não podemos esquecer que as empresas de publicidade têm nos seus quadros especialistas de psicologia.
Fala-se muito nas 'dívidas das famílias', os famosos créditos-mal-parados, e ouvimos constantemente em coscuvilhice de vizinhos censuras a pessoas de classe média-baixa por estarem muito endividados por fazerem demasiadas compras. Muitas vezes são censuras que até fazem sorrir, porque os gastos dos particulares para além da habitação, ou vá lá, um carro mais caro, são gotas de água ao pé da dívida de uma empresa mesmo pequena.

Mas quem empurra o consumidor para o gasto sabe bem o que faz e como o faz. 

Como possivelmente quase toda a gente da minha situação económica eu tenho, para além do 'cartão de crédito' a que a minha pequena conta bancária dá direito, uns dois ou três outros cartõe(zinhos) de crédito. Estão associados a empresas onde costumo fazer compras com regularidade e que mos 'ofereceram' explicando sempre que não tinha nenhum custo, que em muitos casos faziam prestações sem nenhum juro, que era só uma segurança para o caso em que... Pronto, aceitei! Portanto tenho, como disse, uns cartões que estão quase sempre inactivos porque tenho imenso cuidado nas compras que faço.
E o que motivou tudo isto que acabo de escrever é o bombardeamento que recebo constantemente quer por sms, quer por email, lembrando «olhe que tem x disponível para usar no cartão tal»...! Agora, talvez com a aproximação do Natal, tem sido constantemente, há manhãs onde chego receber 2 mensagens de cada um deles, ainda assim a primeira me tivesse passado desapercebida.
Ora, graças à minha fada madrinha que me deitou uns pós de perlimpimpim quando estava no berço, acontece que não sou nada consumista. Resisto bastante bem. Mas imagino o efeito que estas ofertas envenenadas terão para muitas pessoas. A prenda é oferecida envolta num papel tão bonito... custa a resistir. 
E a ratoeira fecha-se.
E quem lucra....?!



Cereja

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

As teorias da conspiração


Usamos a expressão «teoria da conspiração» para ironizar sobre teorias muito rebuscadas e um tanto paranóicas sobre a realidade. Mas, o certo é que na história original do filme que tornou a expressão comum, o certo é que afinal se descobre que o 'louco' tinha razão e existia uma conspiração em que ninguém acreditava.
Penso nisto a propósito dos atentados de Paris.
De qualquer das vezes, quem em Janeiro quer agora, o planeamento parece ter sido cuidado ao milímetro com muito pouco deixado ao acaso. Ora uma das coisas que deixa qualquer um de boca aberta é a história de ter sido encontrado junto de um dos cadáveres um passaporte sírio. A ligação que foi feita de imediato, e aliás confirmada pelos vistos, é de que aquele terrorista-suicida se tinha infiltrado através dos refugiados que têm chegado.
Digo que nos deixa de boca aberta porque alguém que entra numa conspiração desta envergadura e mete no bolso a sua identificação verdadeira é extraordinário! Qualquer série policial de meia tigela refere que o primeiro cuidado de um criminoso é usar uma identidade falsa, quanto mais numa acção destas...

Mas este pormenor teve de imediato repercussões, ou seja incendiou quem já estava de pé atrás com a chegada à Europa de tanta gente em fuga, e temia a desestabilização que tal vinha trazer. Portanto pensaram de imediato «olha, olha, cá está um!» mesmo que fosse natural existir 1 nos 135.000 ou seja 1 para 134.009. Seria natural mas segundo as últimas notícias, nem é bem isso, porque parece que afinal o famoso passaporte era de um soldado sírio já morto há meses

E cá voltamos à tal «teoria da conspiração» que não é tão tonta como isso. Imagine-se que o dito passaporte foi levado de propósito. Imagine-se que se pretendia de facto associar os refugiados aos terroristas. Imagine-se que se desejava a reacção que acabou por acontecer.
Vantagens para o ISIS: a) Baralha as pistas. Começa-se a pensar que o mal vem de fóra, quando as sementes estão bem plantadas no interiror. b) Faz 'perder tempo' aos investigadores. c) Bloqueia a fuga de refugiados que não lhes pode agradar, afinal estão a sair da sua esfera de influência.



.................
É certo que tudo isto são conjecturas.
Nada diz e seria realmente impossível improvável que os fundamentalistas do ISIS quisessem agradar à Marine Le Pen, ou aos que querem radicalizar as suas posições, mas se nas histórias policiais se costuma perguntar quem beneficia com o crime, parece que não há dúvidas que não foram as posições de esquerda que beneficiaram, muito pelo contrário.
Pode ser que os vendedores de armas reforcem agora as suas vendas à França e aos países que partirem em cruzada. O povo anónimo, os civis de parte a parte é que não beneficiaram nada, com certeza.



Cereja

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Os do «contra»tudo, sempre, sempre, sempre!


Uma antiga poesia que aprendi em criança, história imaginada por La Fontaine mas adaptada a português, lembro-me de que começava «O mundo ralha de tudo / tenha ou não tenha razão / vou contar-vos uma história / em prova desta asserção» (a memória de criança é óptima...) e depois contava de como um avô, o neto e um burro, foram sempre criticados fosse como fosse o modo como usavam ou não o burro...
Continua actualíssima!
Encontrei por acaso o boneco, que recorda que cento e muitos anos depois, monte-se o burro, vá-se a pé, ou leve-se ao colo, há sempre alguém para considerar que é um erro.
É cansativo.
É irritante.
E numa era onde muita gente participa em redes sociais, mesmo quando não se está muito dependente delas, essa crítica constante e permanente, ainda é pior. Se o grupo que nos lê é grande (felizmente não é o meu caso, que sou muito prudente e um tanto selectiva a quem abro a porta) é vulgar «desamigarem-se» pessoas por choque frontal de opiniões. Mas se faz todo o sentido receber críticas de gente religiosa se se é ateu, ou de activistas de direita se nos mostramos de esquerda, já é inesperado algumas críticas violentas muitas vezes, de quem em teoria está perto das nossas ideias.

Falo das redes sociais porque é um símbolo que todos conhecemos, mas claro que isso se vê por todo o lado, quando há um agrupamento de pessoas a conversar e se deu um acontecimento recente com algum impacto. Uns criticam por uma coisa, outros por outra, outros por outra. No campo da política isso então é um fogo de artifício...! O facto de pela primeira vez a Esquerda em Portugal ter conseguido unir-se em pontos básicos, se foi criticado pela Direita ela estava no seu papel, mas tanta crítica vinda da própria esquerda é cansativo. Claro que se queria mais. É poucochinho? Pois é. Mas não se diz que um grande caminho começa por um pequeno passo?! Eu posso desejar viajar num super-rápido TGV mas não vou ficar à espera que se construa a linha, vou mas é a pé por agora.

Cereja

sábado, 14 de novembro de 2015

«Porta aberta»? Claro que sim, mas...

Ainda não se fez o balanço do horror da noite de ontem em Paris. Aliás não se pode ter a certeza de que acabou (por agora) embora seja plausível, porque se foi cronometrado para que todos os atentados fossem à mesma hora era esse o efeito pretendido, e que foi conseguido. Hoje é dia de rescaldo, a sexta-feira 13, foi ontem.
Como é natural, nesta Era do virtual e da net, o efeito nas redes sociais foi enorme. Falando por mim, tinha um olho na tv - de preferência canais franceses, de que infelizmente o meu pacote cabo é muito sovina - e o outro no monitor do portátil que trazia muita informação mais actualizada.
E uma coisa bela, até comovente, foi a criação imediata, fulminante, da 'operação porta aberta'. Numa altura onde as ruas estavam fechadas, onde se pretendia socorrer as vítimas e apanhar os carrascos, a gente anónima que queria fugir não tinha para onde! Portanto milhares de parisienses da zona atingida abriram realmente a porta das suas casas a quem fugia e deixaram na net sob a hastag  #‎PorteOuverte‬  as indicações necessárias, morada, contacto telefónico, para os fugitivos saberem que ali tinham refúgio.
Foi bonito, foi generoso, foi comovente. Eu até tinha a imagem antiga, e não sei se actualmente ainda assim é, que os franceses não recebem com facilidade ninguém em casa, não é exactamente a hospitalidade portuguesa, portanto o gesto ainda é mais impressionante. Pelo que soube no twitter, cerca da meia-noite, já havia 200.000 ligações! Estavam de facto unidos como a outra hastag dizia  #‎NousSommesTousUnis‬. Faz-nos acreditar na humanidade.
O outro lado da medalha, era o que fui lendo também na rede portuguesa, onde a par do choque e da indignação partilhado por todos, vinha também muitas vezes o veneno do aviso sobre o perigo que a chegada dos milhares de refugiados implicava, porque afinal eles também eram árabes ou seja terroristas. E já está lançada a acha para a fogueira.
A Porta Aberta é para «os nossos». Para os outros fecha-se a porta na cara, e o melhor seria até entregá-los aos seus perseguidores. Apetecia-me abaná-las com força, estas almas idiotas. Claro que penso nos que estão de boa-fé e são apenas pouco espertos, não os 'pensadores' à Le Pen que devem esfregar as mãos com esta prenda que lhes saiu na rifa. 
Afinal a vítima é a mesma, o inimigo o mesmo. Quem foge são famílias inteiras sem condições de sobrevivência ou pessoas que estavam na rua naquele bairro, naquela sexta-feira, são tanto vítimas inocentes os passageiros do avião russo abatido, como os pais e filhos que fogem das bombas na síria, como os clientes do Bataclan ou espectadores do estádio, é igual, como igual é o inimigo o Daesh  que já afirmou que este ataque era para vingar a Síria, se alguém tivesse dúvidas. E, já agora, os inimigos são também quem fornece as armas a esta gente, quem lucra economicamente com estas mortes.
Parece simples, não parece?
A Porta deve ficar Aberta, sim, e tal como os 'refugiados' que ontem se abrigaram nas casas perto dos locais atingidos mas hoje devem voltar para as suas casas, também os 'refugiados' sírios e não só, devem poder voltar as suas casas, à sua terra, à sua vida. Igual.

«Os homens nascem livres e iguais»

E a Paz não tem preferidos.



Cereja


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Quarto Poder ou Super Poder ?!


Há qualquer coisa de errado na actual comunicação social.
Certo, eu sei que ela é o tal Quarto Poder, mas não é mais do que os outros 3, caramba...! Contudo, sua atitude e a sua arrogância faz-me crer que ela assim se considera: mais importante e forte do que o Legislativo, Executivo e Judicial todos juntos.
Não posso comparar bem com o que se passa 'lá fóra' embora creia que por todo o lado se caminha para esse domínio, e a força de certa imprensa, a que se chamava tablóide de um modo depreciativo, extravasa e atinge a comunicação que se considerava mais séria mas que actualmente recorre já a todos os meios para passar as mensagens que quer.
A técnica que utilizam os jornalistas mais importantes de falarem eles em vez de perguntar, vem de longe. Recordo que há já uns 20 anos uma amiga minha, convidada de um programa de tv, ouviu a pergunta «Considera que tal-e-tal-e-tal-e-tal?», o truque da pergunta com resposta lá dentro. Respirou fundo e respondeu sorrindo «Concordo com a sua opinião e devo acrescentar que etc-etc-etc»
Mas na comunicação social portuguesa actual, isto está a atingir umas proporções revoltantes! Certas entrevistas (?) a figuras públicas non-gratas para eles, assemelham-se a interrogatórios de réus em tribunal, pela agressividade com que as perguntas são feitas, pelas armadilhas montadas para os fazer cair em contradição, pelo tom usado nessas questões, pelas mentiras usadas como argumentos para os irritar e fazer perder a compostura. Com a agravante de que se no tribunal há um advogado de defesa para chamar a atenção, nessas 'entrevistas' armadilhadas a vítima está sozinha...
Outro espectáculo que me choca, e isso não é só em Portugal, claro, mas aqui parece pior, é a matilha que corre e envolve a figura política que se considera poder dizer algo que possa ser usado. Ou a pessoa em causa já muito batida não tem medo de parecer antipática e repete sem parar: não tenho nada a dizer, não tenho nada a dizer, não tenho nada a dizer, não tenho nada a dizer... e mesmo assim vai ouvir mais tarde «fulano teve medo de responder», ou se tenta responder é a imagem da raposa rodeada de cães.
Mas quando penso que eles se acham o super-poder é quando citam um artigo de jornal que lhes agrada como sendo um facto. Ouvi ontem perguntarem num corredor a Mário Centeno qualquer coisa como «como reage ao facto de a Europa [ou o Mundo] estar contra o seu governo?» e de seguida explicou que citava um jornal qualquer. Não, não eram os governos de Inglaterra, França, Alemanha, não era Bruxelas, não era nenhuma força política conhecida que era citada, era um jornal!
Aliás quando uma determinada orientação política perde ou ganha é óbvio que os seus parceiros internacionais, a sua 'família política', se vai manifestar. De estranhar era que o não fizesse...
Ora a nossa comunicação social, que se tolerou que fosse completamente dominada por uma única força e usa e abusa do poder que tem, que ao organizar mesas redondas convida 3 elementos da mesma ala e um só da outra, que admite que um entrevistador manifeste durante a entrevista a sua opinião pessoal como se a entrevista fosse um debate, que filtra as entrevistas que faz na rua de modo a só mostrar as que lhe convêm (convêm a quem?) tem de ser chamada à razão.


A questão que me aflige é: chamada à razão POR QUEM?




Cereja

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Mentira, ou... não-é-bem-verdade

Há uma página do facebook chamada Os truques da Imprensa Portuguesa 

Tem graça e é pena que não não seja mais divulgada. É certo que aparecem lá, maioritariamente, graças e montagens com piada, mas sem perigo porque são obviamente montagens, não enganam ninguém. Mas actualmente o desplante e a impunidade (?) com que se manipula a informação que não convém, é chocante. Eu compreendo, mesmo que não goste, que a imprensa mais sensacionalista utilize técnicas menos éticas para chamar a atenção dos leitores sobre determinadas notícias, ou dê títulos a reportagens que adulteram o que depois ali se vai ver... Paciência, é chato mas já estamos prevenidos. Contudo, que a 'outra comunicação' que imaginamos mais séria, vá atrás dessas técnicas mesquinhas e desinformativas, dá-me volta ao estômago.

Porque a verdade é que a água mole em pedra dura... ou seja ouve-se uma vez, ouve-se duas, ouve-se três, e ainda por cima em diversos suportes - tv, jornais, rádio -  é normal acreditar-se, não podem estar todos enganados.... Aliás porque muitas vezes não é (às vezes até é!) uma perfeita e descarada mentira, é apenas uma forma de contar uma verdade. Se fossem a tribunal podiam sempre defender-se afirmando que não tinha sido exactamente uma falsidade. Reparem por exemplo nestas «informações» sobre os refugiados e o modo como as histórias são apresentadas. Sobre uma 'verdade' constrói-se toda uma interpretação mentirosa.
Exemplos de manipulação:



E já nem se fala, dos entrevistadores na tv (esse processo não resiste a uma entrevista para um jornal) que usam durante a entrevista (?) uma técnica de perguntar que mais parece um advogado de acusação a inquirir um réu em tribunal. Até ficam todos regalados quando uma armadilha resulta e apanhem a vítima numa contradição. Mas que bom, pensam eles, já te apanhei!
Não sei como fazer para contrariar esta tendência, o código deontológico não chega pelos vistos. Mas ao menos eu desabafo aqui...

Cereja