domingo, 22 de novembro de 2015

Outras guerras


Para além das grandes guerras que ocupam as nossas preocupações e os títulos dos jornais, há outras guerras mais mansas a que já nos habituámos e não matam mas moem. Ou até matam, visto por outro ângulo... Penso no consumo. Já reflectiram porque é que se fala de «defesa do consumidor», aliás até existe uma «lei de defesa do consumidor». Quando se usa o termo defesa é porque se pressupõe um ataque, não é?

O famoso 'consumismo' é uma doença relativamente actual. Imagino facilmente que ao longo dos séculos passados tenham sempre existido algumas pessoas que davam mais importância a ter coisas do que as outras pessoas. Mas como o comércio era uma actividade muito mais restrita do que agora, e muito do que se usava era 'feito' em casa ou na família, não se pode ver isso como consumismo. Ainda quando eu era criança, talvez efeitos do pós-guerra, a grande batalha era contra o desperdício - evitava-se desperdiçar, e o conceito não é exactamente igual a quando hoje se diz «poupe muito, compre 10 ao preço de 5», porque muitas vezes estamos a comprar o que não precisamos, ou seja vai-se desperdiçar no final...

E a minha convicção é de que o consumidor, ou seja 'todos nós', precisa muito de ser defendido. Porque o ataque é global, constante, e por formas cada vez mais habilidosas e sofisticadas. Não podemos esquecer que as empresas de publicidade têm nos seus quadros especialistas de psicologia.
Fala-se muito nas 'dívidas das famílias', os famosos créditos-mal-parados, e ouvimos constantemente em coscuvilhice de vizinhos censuras a pessoas de classe média-baixa por estarem muito endividados por fazerem demasiadas compras. Muitas vezes são censuras que até fazem sorrir, porque os gastos dos particulares para além da habitação, ou vá lá, um carro mais caro, são gotas de água ao pé da dívida de uma empresa mesmo pequena.

Mas quem empurra o consumidor para o gasto sabe bem o que faz e como o faz. 

Como possivelmente quase toda a gente da minha situação económica eu tenho, para além do 'cartão de crédito' a que a minha pequena conta bancária dá direito, uns dois ou três outros cartõe(zinhos) de crédito. Estão associados a empresas onde costumo fazer compras com regularidade e que mos 'ofereceram' explicando sempre que não tinha nenhum custo, que em muitos casos faziam prestações sem nenhum juro, que era só uma segurança para o caso em que... Pronto, aceitei! Portanto tenho, como disse, uns cartões que estão quase sempre inactivos porque tenho imenso cuidado nas compras que faço.
E o que motivou tudo isto que acabo de escrever é o bombardeamento que recebo constantemente quer por sms, quer por email, lembrando «olhe que tem x disponível para usar no cartão tal»...! Agora, talvez com a aproximação do Natal, tem sido constantemente, há manhãs onde chego receber 2 mensagens de cada um deles, ainda assim a primeira me tivesse passado desapercebida.
Ora, graças à minha fada madrinha que me deitou uns pós de perlimpimpim quando estava no berço, acontece que não sou nada consumista. Resisto bastante bem. Mas imagino o efeito que estas ofertas envenenadas terão para muitas pessoas. A prenda é oferecida envolta num papel tão bonito... custa a resistir. 
E a ratoeira fecha-se.
E quem lucra....?!



Cereja

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