sábado, 14 de novembro de 2015

«Porta aberta»? Claro que sim, mas...

Ainda não se fez o balanço do horror da noite de ontem em Paris. Aliás não se pode ter a certeza de que acabou (por agora) embora seja plausível, porque se foi cronometrado para que todos os atentados fossem à mesma hora era esse o efeito pretendido, e que foi conseguido. Hoje é dia de rescaldo, a sexta-feira 13, foi ontem.
Como é natural, nesta Era do virtual e da net, o efeito nas redes sociais foi enorme. Falando por mim, tinha um olho na tv - de preferência canais franceses, de que infelizmente o meu pacote cabo é muito sovina - e o outro no monitor do portátil que trazia muita informação mais actualizada.
E uma coisa bela, até comovente, foi a criação imediata, fulminante, da 'operação porta aberta'. Numa altura onde as ruas estavam fechadas, onde se pretendia socorrer as vítimas e apanhar os carrascos, a gente anónima que queria fugir não tinha para onde! Portanto milhares de parisienses da zona atingida abriram realmente a porta das suas casas a quem fugia e deixaram na net sob a hastag  #‎PorteOuverte‬  as indicações necessárias, morada, contacto telefónico, para os fugitivos saberem que ali tinham refúgio.
Foi bonito, foi generoso, foi comovente. Eu até tinha a imagem antiga, e não sei se actualmente ainda assim é, que os franceses não recebem com facilidade ninguém em casa, não é exactamente a hospitalidade portuguesa, portanto o gesto ainda é mais impressionante. Pelo que soube no twitter, cerca da meia-noite, já havia 200.000 ligações! Estavam de facto unidos como a outra hastag dizia  #‎NousSommesTousUnis‬. Faz-nos acreditar na humanidade.
O outro lado da medalha, era o que fui lendo também na rede portuguesa, onde a par do choque e da indignação partilhado por todos, vinha também muitas vezes o veneno do aviso sobre o perigo que a chegada dos milhares de refugiados implicava, porque afinal eles também eram árabes ou seja terroristas. E já está lançada a acha para a fogueira.
A Porta Aberta é para «os nossos». Para os outros fecha-se a porta na cara, e o melhor seria até entregá-los aos seus perseguidores. Apetecia-me abaná-las com força, estas almas idiotas. Claro que penso nos que estão de boa-fé e são apenas pouco espertos, não os 'pensadores' à Le Pen que devem esfregar as mãos com esta prenda que lhes saiu na rifa. 
Afinal a vítima é a mesma, o inimigo o mesmo. Quem foge são famílias inteiras sem condições de sobrevivência ou pessoas que estavam na rua naquele bairro, naquela sexta-feira, são tanto vítimas inocentes os passageiros do avião russo abatido, como os pais e filhos que fogem das bombas na síria, como os clientes do Bataclan ou espectadores do estádio, é igual, como igual é o inimigo o Daesh  que já afirmou que este ataque era para vingar a Síria, se alguém tivesse dúvidas. E, já agora, os inimigos são também quem fornece as armas a esta gente, quem lucra economicamente com estas mortes.
Parece simples, não parece?
A Porta deve ficar Aberta, sim, e tal como os 'refugiados' que ontem se abrigaram nas casas perto dos locais atingidos mas hoje devem voltar para as suas casas, também os 'refugiados' sírios e não só, devem poder voltar as suas casas, à sua terra, à sua vida. Igual.

«Os homens nascem livres e iguais»

E a Paz não tem preferidos.



Cereja


Sem comentários: