domingo, 12 de junho de 2016

Pais com crianças


Gosto de crianças. De todas as idades. E quando são adolescentes, e por isso 'menos criança', gosto também mas um modo diferente. Sinto-me à vontade com uma criança, e pelo retorno que costumo sentir creio que elas também se sentem bem comigo.

Talvez por isso mesmo fico atónita com as queixas que vou lendo por aí nas redes sociais sobre hotéis que não aceitam famílias com crianças (parece que existem hoteis desses!) o que implica uma busca atenta quando se faz a marcação. Já li por aí uma comparação com o tal hotel que não queria lá gays e avisava logo, mas isto é muito diferente. Creio que parte de um pressuposto de que todas as crianças são indisciplinadas e o seu comportamento incomoda sempre os outros hóspedes, portanto: hotel free-of-children! 
Ora bem, é uma verdade sem contestação que os meninos de hoje têm um comportamento que em nada faz lembrar o dos meninos de há 50 e tal anos. A relação criança adulto é muito mais próxima, e as regras muito diferentes. E as regras mais flexíveis conduzem a uma disciplina também mais fraca e, do meu ponto de vista, onde mais se nota isso é nas regras sociais. Muitas crianças - e deve ser isso que explica está na origem da chocante atitude dos hoteis - parecem inconscientes de que haja mais vida para além do seu núcleo familiar. Ignoram olimpicamente o que as rodeia, como se tudo fosse transparente.
Claro que a responsabilidade é dos pais, contudo muitos deles já foram educados assim... E há justificações muitas vezes. Um exemplo entre muitos: as crianças do meu tempo e do meu meio tinham horas certas de ir para a cama, quase logo a seguir ao jantar. Não gostávamos, tínhamos a ideia de que depois de nós adormecermos é que os grandes se divertiam, mas... obedecia-se é claro. Os pais de hoje, com empregos distantes, querem estar com os filhos e o único tempo livre é esse a seguir ao jantar. Compreende-se que a hora de ir para a cama se afaste um pouco, mas será necessário andar com crianças muito pequeninas até às tantas da noite? Noitadas aos 2 anos? São hábitos que se enraízam, a vida diária fica às avessas, o sono vem a outras horas. Ficam rabugentas e com birras? Muito provável.
Outro hábito social que dantes se educava tem a ver com o tom de voz, e também não interromper quem está a falar. Por si mesma uma criança não sabe graduar a voz, é uma competência que se aprende. Quase sempre gritar é para se fazer ouvir melhor e muitas vezes acima dos outros, o que se faz (quem o faz...) numa discussão, por exemplo. Mas devia ensinar-se uma criança a falar no mesmo tom que as outras pessoas e não interromper. Se ela «precisa de atenção» isso resolve-se de outra forma. 
Pronto, há muito mais coisas mas estas duas situações podem estar na origem da «má fama» das famílias com meninos - as crianças quezilentas, ensonadas, rabugentas, que perturbam a paz geral à noite, ou - e até em simultâneo - as que se ouvem ao longe, gritando, chamando a atenção, bloqueando qualquer conversa.

Pode evitar-se. Se olharmos com atenção há muitas famílias onde os filhos são educados, não direi à antiga mas sim correctamente.





Cereja

2 comentários:

Hipatia disse...

Pode ser politicamente incorrecto, mas eu ia para um desses hotéis. Tenho tido péssimas experiências com criancinhas malcriadas durante as férias, altura em que quero e preciso descansar.

cereja disse...

É isso mesmo, Hipatia. Era o que eu queria dizer. Como é que são educadas essas crianças? Digamos que o seu comportamento em público é como uma 'montra' onde é exibido à comunidade a sua relação-com-o-mundo. A permissibilidade de alguns (muitos?) pais é um boomerang porque no final vira-se contra eles. Quando chegam aos 10 - 12 anos os pais queixam-se amargamente.