segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma grande onda


Muitos de nós temos presente uma frase, (não exactamente um slogan...) que os franceses usavam quando queriam referir a monotonia da vida dos subúrbios. Era uma seca isso do «métro, boulot, dodô». Foi uma frase que ficou como símbolo de uma vida cinzentona, triste, feita só de trabalho e sem nada de interessante. Mesmo aqui, a malta em Portugal um pouco mais culta, usava a expressão quando se queixava de um emprego desinteressante e que ocupava muito tempo.
Entretanto veio «A CRISE».
Com uma força brutal, apanhando nas suas malhas até mesmo quem pensava que não viveria muito bem mas tinha a reforma garantida... Nós, na nossa terra, até temos medo de abrir o rádio, de manhã, ou ler o jornal quando saímos de casa, com o terror de pensar «o-que-será-a-novidade-de-hoje»? Porque boa, sabemos que não é.
E também temos a noção que isto não se passa apenas em Portugal. Antes fosse, porque a solução seria imigrar-se em bloco, fugir daqui. Não. Esta assustadora onda espalha-se por todo o lado.
De tal modo que a famosa expressão francesa já não é «métro, boulot, dodô» e sim...."métro, boulot, caveau"!
Rima na mesma, mas é bem mais deprimente, porque ao mexer-se na idade da reforma está a diminuir-se os anos de relativa paz, ou seja a fazer-se uma directa do ‘boulot’ para a sepultura.
Com outra vertente «interessante», é que se os empregos ficam ocupados até mais tarde pelos trabalhadores, os jovens que acabam a sua formação continuam desempregados mais uns tantos anos. À espera que o avô finalmente se retire...

Pelo menos a França agita-se
Alguma coisa se passa. Parece uma vaga de fundo
E nós?



Pé-de-cereja

7 comentários:

fj disse...

Curioso que hoje tambem pensei em França. E já tinha reparado nas alterações sloganistas.É uma contraposição eventualmente utópica, para já, mas tem uma conceção de vida importante: enquanto os que andam a aumentar a idade da reforma vêm as "pessoas" como seres apenas produtivos, a partir da improdutividade descartaveis Estou muito com eles,os que contestam vêm as pessoas na sua totalidade, seres produtivos,sim, mas depois com vida para alem da produção, com direito a reforma digna em idade com vastas possibilidades de viver.
Mas há mais: de França têm vindo as maiores alterações na europa nos últimos séculos. O que se está a passar agora lá merece um olhar atento, e até porque não se trata "só de estudantadas",já estão outros grupos sociais envolvidos. Veremos pois...fj

Anónimo disse...

Por aqui o país ainda vive uma época de "descobrimento", onde o jovem ainda tem espaço no mercado, desde que não fique restrito aos grandes centros urbanos.Mesmo assim, é muito incentivado o empreendedorismo. E mesmo os aposentados, estes não conseguem ficar paradinhos em suas cadeiras de balanço - quer pela miséria que é sua pensão, quer pelo hábito de fazer algo. Já vi muitos senhores voltarem a trabalhar, num horário mais flexível, sem tirar a vaga de jovens. Algumas vagas que surgiram há alguns anos foram criadas especialmente para eles, como "ombudsman" de supermercados.
O grande problema das aposentadorias, pelo menos por aqui, é o enorme rombo que existe na Previdência. Assim, quanto mais velho se aposenta, mais tempo o governo tem para começar a pagar a pensão e, presume-se, menos tempo de pagamento. Dessa forma adia-se sempre uma forma de solucionar esse problema, num país que já está começando a envelhecer.

Zorro disse...

Ora aqui temos um tema que dá, como se costuma dizer, pano para mangas e ainda sobra pano....
A França é terra muito contraditória.
Muito «burguesa» como se sabe. A famosa 'revolução francesa' foi uma revolução burguesa. E repare-se nas medidas sarkovitcianas sobre os emigrantes, que são enxotados quando não servem ou são demais.
Mas a questão é como disse a Mirian uma questão de equilíbrio. Numa sociedade justa deveria haver trabalho adequado para todas as idades, mas não, como aqui lembras, prolongar a data da reforma para poupar a Segurança Social, e bloquando assim a entrada de gente mais jovem e muita delas bem preparada.
Vou ver se cá volto mais tarde (fiquei com o hábito de passar por aqui de manhã, mas afinal escreveste isto ontem à tardinha... :)

Zorro disse...

Ah, esqueci-me de gabar a ideia de realçar os links desta forma. Fica giro e não passa desapercebido como nalguns casos acontecia.

cereja disse...

O Zorro tem toda a razão. No caso da França - Sarkozy as coisas estão a rebentar por todo o lado. E Xenófobos como aquela gente é, está-se a ver que os emigrantes vão ser os primeiros a sofrer. De resto o movimento parece estar a alastrar-se, e como disse o FJ, já não são 'meninos bem' da Universidade desta vez doi a muita gente.

Joaninha disse...

Este tema se bem que muitíssimo oportuno é tão vasto que não te cabe num post!!!
É o neoliberalismo, é claro.
A verdade é que a sociedade vai andando, evoluindo, e há direitos adquiridos que são hoje impossíveis de negar.
É certo que um historiador diria que há 100 anos ou mais não havia o conceito de reforma. O trabalhador trabalhava enquanto fosse capaz e depois ficava a viver da caridade dos filhos. E depois havia os Senhores que viviam dos «rendimentos» e portanto esses nunca acabavam!
Hoje isso mudou quase radicalmente, porque os Senhores tem trabalho (com algumas excepções) que é principescamente pago....pelos outros trabalhadores, que descontam impostos cada vez mais injustos e aumentando de um modo incrível.
E depois as máquinas fazem o trabalho e começa a imaginar-se que não são precisos operários bastam máquinas e especialistas.
Uma droga, é o que é!

Mary disse...

E agora já não têm gasolina.
Esta coisa dos combustíveis é mais grave do que pode parecer, porque não é apenas não se poder andar de pópó, é que TUDO o que é transportado bão o pode ser ou é a preços incomportáveis...
Vai ser lindo.
Eu leio com muita atenção as notícias de França porque pode ser muito mais grave do que parece a quem anda distraído.




(Porque é que este post tem tão pouco comentários???)