domingo, 17 de outubro de 2010

Pombos

Se baptizei este blog de «cerejas» como perceberem logo, foi pensando que uma ideia-puxa-outra e, não apenas os comentadores do blog poderiam ir pensando coisas por associação com o que eu escrevia, como eu própria também me lembrava de assuntos por sugestão de algo que tinha dito aqui.

Ora cá vem. Os pombos.

Quando contei a história verdadeira da gatinha que veio fornecer a dispensa da minha amiga, disse que ela apanhara um pombo mas não sei se foi exactamente isso. A verdade é que numas dezenas de anos a imagem de ‘pombo’ deu uma reviravolta de 180º. Quando eu era criança falava-se nos ‘pombinhos’ de uma forma ternurenta, as crianças eram muitas vezes fotografadas numa praça rodeadas de pombos, e a imagem de pombo era inocente, pacífica, bela.

Hoje, nas cidades, dizemos de dentes cerrados «malditos pombos» quando temos de abrir caminhos no meio de grandes bandos que nem se dão ao trabalho de levantar voo, porque eles multiplicaram-se de um modo espantoso. São milhares e milhares. Perderam a graça e a inocência.

Ora há uns anos eu tinha uma casa numa aldeia. Casa essa que ficava paredes-meias com uma grande mansão que nas férias era habitada por uma dama que na terra tratavam respeitosamente por senhora viscondessa. A ‘viscondessa’, altiva e idosa, fazia-se acompanhar por um séquito de criadagem, o chauffeur, não sei se mordomo, e várias criadas que andavam fardadas, de bata e avental e touca na cabeça. Uma espécie de libré. Para muita gente começando por mim, completamente ridículo e desadequado.

Acontece que nessa época eu tinha um gato. Encontrado na rua, esfomeado, e quando o recolhemos cabia-nos na palma da mão. Cresceu, é claro, e viveu connosco uns 16 anos sempre com vitalidade e energia. O veterinário concordava que o facto de aos fins de semana andar em liberdade na aldeia só lhe fazia bem. Claro que domingo à noite recolhia ao cesto e voltava para Lisboa.

Parece que a viscondessa tinha um pombal com pombos. Nunca tinha prestado atenção a isso até que certo dia, me bate à porta uma jovem fardada de criada, que com uma voz muito sumida e atrapalhada, disse que trazia um recado da viscondessa, o meu gato tinha caçado um dos seus pombos e ela exigia que eu mantivesse o gato preso em casa! Assim mesmo. Olhei serenamente para a mensageira que não tinha culpa nenhuma da má educação do recado, e respondi-lhe, que me propunha pagar o pombo caçado, quanto ao resto, uma vez que ela tinha o pombal e eu tinha o gato dividíamos as horas do dia. Metade do dia eu fechava o meu gato e os pombos dela voavam por onde queriam; na outra metade ela fechava os pombos e o meu gato circulava como lhe apetecesse…

(E a ironia disto é que tudo se passava numa aldeia onde existiam dezenas de gatos à solta, para além do meu!)

O certo é que a senhora não mandou nenhuma resposta, e o bom do meu gato continuou a correr pelos quintais em liberdade.



Pé-de-cereja

7 comentários:

Anónimo disse...

Minha cunhada tinha uns cinco gatos que, contrariando a natureza, viviam trancados dentro de casa. Mesmo eu, que achava aqueles gatos muito antipáticos (talvez eu tranferisse meus sentimentos em relação à cunhada para os gatos), morria de dó vendo que eles amariam estar lá fora correndo atrás dos pombos. :)

Mas esta sua história também me fez lembrar do meu próprio filhote, que ama qualquer bicho, um dia saiu em disparada, no meio de uma escuridão na rua (as luzes se apagaram de repente e eu tinha ido buscá-lo na escola) e eu o acho agachado num cantinho. Então, ele me vem, com todo o cuidado, trazendo um pombo infestado de doença, para que levasse para casa para tratar do pobre. Quase tive uma síncope! Depois de colocados todos os argumentos, inclusive que aquilo fazia parte da natureza, ele concordou deixar o pombo ali mesmo. Puxa. Deu até arrepio agora me lembrar disso. :)

beijinhos

cereja disse...

Olá Mirian!
Realmente as pessoas muitas vezes preferem gatos por serem mais «domésticos» mas cá para mim não existe nenhum animal que goste de se sentir de certa forma preso (cá voltamos ao meu post do 'ar livre') Se dessem a escolher a um gato se prefere viver preso em casa ou à solta, estou convencida de que a resposta era clara. E, de facto no campo eles andam livres e só voltam a casa para comer ou dormir...
Quanto aos pombos, eu até gostava deles. Mas têm proliferado de tal forma nas cidades que neste momento já não acho nenhuma graça.

Joaninha disse...

Estou contigo no ódio ao excesso de pombos.
Mas isto com a crise, vais ver que vem aí a moda de «arroz de pombo» e eles diminuem drásticamente.

Joaninha disse...

Ah, e4squeci-me de aplaudir a tua resposta à baronesa. De facto ou há justiça ou então é meia prisão para cada espécie!!! lol!

Mary disse...

Olá!
Alguém me informou deste endereço e parece mesmo que voltamos à tertúlia que caracterizava o teu outro blog.
Bem vinda (retornada?) à blogosfera!!!!

cereja disse...

Boa noite minhas amigas!
Realmente o meu grupinho está a refazer-se.
Este blog é mais leve, e talvez menos «político» porque a minha desilusão é tão grande com o estado do país ou talvez do mundo, que nem me apetece abordar os temas que dantes me deixavam muito enérgica. Se calhar vão sentir a falta disso.
Mas gosto imenso de voltar a encontrar os nomes que me habituei a ler nos comentários...

Zorro disse...

OK.
Voltaste como seria inevitável!
Mais serena, ou seja com menor produção, porque serena costumas ser.
Um abraço e vou retomar o costume de passar por cá de novo.