quarta-feira, 6 de julho de 2016

Quando o amor (?) se transforma em ódio - 1

Violência doméstica.

O conceito de 'violência doméstica' é mais abrangente do que a que se passa entre um casal, porque abarca também gerações - pais agredirem filhos ou filhos agredirem pais idosos - mas, tanto quanto infelizmente se conhece, na sua enorme maioria refere-se a violência no casal e de género.

É social? Pois é. Sempre existiu? Acredito que sim. E isso é alguma justificação?! Nãããõ!!! 
Neste momento é considerado crime público, ou seja a vítima não necessita apresentar queixa, qualquer pessoa o pode (e deve) fazer, acabou o conselho do «não metas a colher», pelo contrário. Mas na nossa terra de uma forma geral não podemos acusar muito a legislação, o mal não está na ausência de leis e sim na dificuldade em as fazer cumprir. E este é um caso onde o preconceito está tão enraizado na opinião pública oculta que a luta é dificílima. E digo opinião pública oculta porque esta mancha só se manifesta em 'conversas de café' ou nos comentários mais ou menos anónimos dos jornais. Mas existe e de que maneira!!! 
Há dias foi notícia uma criança ter sido atingida por um tiro que presumivelmente se destinava à sua mãe. Chocou muita gente, como é de esperar. Mas... leiam um copy/past que fiz (sem alterar nada!) a alguns comentários lidos num jornal:


1 - Neste caso a única coisa que lamento foi o envolvimento da criança. Esta sim, mais uma vítima das guerras dos adultos. 
De falar em guerra: para a sociedade o que conta é o resultado final. Mais uma mulher vítima de violência domestica. O que levou a isso a este ponto, quem foi o provocador, quem foi o impulsionador não conta. O que conte é: mais uma mulher ia ser morta pelo marido. Logo agora que as mulheres estão tão Santas... É crime ser homem hoje em dia, aliás, se um bebé nascer rapaz é um pavor tremendo, então não se vê quando a maioria das pessoas que pensa em ter bebés só pensa em ter meninas e não meninos.
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2 - Bem vindo á sociedade dos dias de hoje, feminazista, SJWs, e Anti-Homens...
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3 - Em 2016 várias crianças, uns ainda bebes de dias foram mortas às mãos das mães. Perante tão hediondo crime, não faltaram mulheres a procurar desculpabilizar mulheres que por vingança, chantagem (Se eu não fico com o meu filho tu também não ficas, etc etc etc), mataram os seus filhos. Estamos a falar de uma Média de 80% de mães que ficam com a guarda dos filhos. Se elas fazem isso aos filhos, Imagine o que fariam elas aos homens se tivesses a força deles.
Sou terminantemente contra a qualquer acto de violência doméstica! No entanto, nos últimos anos, devido a sua agressividade verbal, algo que, quer para a comunicação social quer alguma sociedade civil, não interessa, algumas mulheres têm sido alvo de violência. No final, o que conta é: mais uma mulher vítima de violência domestica. Depois, hipocritamente, lá vem algumas mulheres, sabe-se lá porquê, dizer: nada justifica a violência doméstica. Logo elas!
Quanta hipocrisia…
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4 - M. C,: A minha vênia para a senhora. Nunca teve um momento de raiva, um momento de querer matar tudo?
Aqueles momentos onde e quando descobrimos que tudo em que acreditava-mos, afinal, era uma mentira, fomos enganados, fomos roubados, etc etc...
Hoje e acredite, devido ao meu trabalho social, sei do que falo! Muitos dos problemas conjugais, de há una anos a esta parte, devem-se ao facto de haver “2 machos” numa casa. Um por natureza e outro porque quer-se fazer. E os dois querem ter sempre a razão.
Porque ainda é o homem o mais forte fisicamente, ainda é a mulher quem mais leva… Mas, se invertêssemos a força, o Homem leva tarei da mulher todos os dias… Acredite, se é que não sabe…
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Havia mais, como se imagina. Estes estavam entre a primeira meia dúzia, mas dão o tom geral. As sonsas das mulheres provocam, querem competir, são malcriadas, e o que vale aos homens é terem mais força ou a coisa seria terrível. É interessante esse argumento da força física quando aqui se falava numa agressão a tiro, e para puxar um gatilho basta um dedo... Pois.

Eu vejo mais a questão do ponto de vista do respeito.
As agressões, as verbais também, são prova de uma grande falta de respeito, que põe em causa os fundamentos básicos de uma relação. Mas isso não se vê com clareza, como um estudo feito em diversas escolas a respeito da violência no namoro  mostrou. Muitos adolescentes achavam natural (?) a agressão. Ora só pode ser pelo peso social, uma noção ainda generalizada na sociedade.
Eu gosto de perceber sentimentos, mas neste caso sinto-me muito confusa e parece-me urgente uma educação nesta área a partir quase da pré-primária. Repetir-se como uma mantra «amar é respeitar», «ninguém é dono de ninguém».
Porque parece que há muito quem o não saiba.

Cereja

2 comentários:

Hipatia disse...

Duas situações diferentes, acho.

- a primeira, diz respeito a forma como imbecis ganham a força que não têm na sua vidinha diária quando se transformam em trolls. Têm a ver com a mentalidade "net" onde ninguém é responsável nem responsabilizado. Provavelmente nunca teriam coragem de verbalizar uma treta destas dando a cara, com medo que lhes espetassem com as bofetadas mais do que merecidas

- a segunda diz respeito ao amor e ao ódio que, ainda que sejam duas faces da mesma moeda de estremos, raramente têm a ver com situações de violência doméstica. Trata-se, quase sempre, de conflitos de poder e mais uma vez de cobardia. O amor ou sequer o ódio pouco têm a ver com o assunto e, quando muito, são a desculpa fraca para egoísmos.

cereja disse...

Tens toda a razão.
Mas quis ilustrar o que vejo passar tão perto de mim, e juntei duas situações.Eu evito ler os comentários dos jornais on line porque são quase sempre de vómito. Dizem as maiores barbaridades, num português cheio de erros, quase sempre numa visão de direita e muito reaccionária. Desta vez aproveitei alguns porque ilustram uma mentalidade que existe ainda muito.
O inquérito aos miúdos tinha-me chocado. No título chamei «amor» interrogado exactamente pensar que o não é. Mas se começam a levantar a mão ainda na escola, imagina-se o que se vai seguir...