sexta-feira, 29 de julho de 2016

O passarinho e o gnr


Uma história de aldeia:

Quem vive em cidades tem muitas vezes a ideia muito romântica das relações numa aldeia como simples, sadias, muito afectuosas. Como na canção na minha aldeia lembram-se? Bem, claro que quando vemos pelos olhos da Miss Maple a coisa já fica diferente... Bom, mas adiante.
A aldeia onde estou neste momento, é pequena e muito antiga. Realmente os habitantes ´todos são primos e primas' como na canção que deixei ali em cima, e se muitos são amigos também quer dizer que há para aí rancores originados em partilhas que vêm de longe. Mas não é disso que venho falar...
As casas no centro (como se aquilo tivesse centro e periferia...) estão encostadinhas umas às outras, quase encaracoladas umas por cima das outras. O que significa que a intimidade não é grande, claro.
Ora, eu não assisti à cena mas isto foi-me contado por uma senhora muito idosa - e quando digo idosa quero falar em 90 anos - que vive numa casa apertadinha entre as outras:
Certa manhã, estaciona no largo um jipe com dois GNRs. Vão até à porta dela e um deles sobe à casa do seu vizinho e volta a sair trazendo uma gaiola com um passarinho. O outro, um tanto risonho e bem educado, quis saber «A senhora vive aqui, o pássaro incomoda-a?» e ela pasmada «Nããão! Mas que ideia!» e pronto, arranca o cortejo, a 'autoridade' levando a gaiola com o passarinho, o dono do passarinho tropeçando atrás dele muito nervoso e triste, e o último gnr fechando a marcha. Foram-se.
Contou-me a tal senhora velhinha que o passarinho tinha sido recolhido ferido há uns tempos por aquele vizinho, que o tratou e o bicho agradecido (?) cantava muito bem. Mas, lá por coisas, a vizinha do lado embirrou e foi fazer queixa à Guarda de que o passarinho a incomodava porque cantava às 6 da manhã. Antipática! Por um lado, 6 da manhã para uma aldeã não é nada de extraordinário, por outro toda a gente sabe que se taparem a gaiola com um pano, os palermitas julgam que ainda não nasceu o sol, e continuam a dormir. Não havia necessidade, a não ser implicar com o vizinho...
E agora, tárátátá!!!, para rematar a história entram as-novas-tecnologias. No dia seguinte a este drama, a minha velhinha recebe uma chamada no seu telemóvel da autora da queixa que mora encostadinha à casa dela, e a descompõe violentamente por ela ter dito que o pássaro não a incomodava. Da ca-sa-ao-la-do-por-te-le-mó-vel, viram bem?! Oh céus!
Esta aldeia não tem nada a ver com a da cantiga :)))

Cereja

Sem comentários: