segunda-feira, 28 de abril de 2014

Uma profissão delicada

 Uma noticiazinha tão palerma que nem merecia dois minutos de leitura, referindo que no XXXV Congresso Português de Cardiologia um tema foi «Os desafio da "e-saúde"» e se falou num código de conduta no facebook. Dizia a repórter, talvez já brincando, imagine que no dia em que acorda para ser operado descobre numa rede social como o Facebook que na noite anterior o seu médico ficou acordado até às duas da manhã e até bebeu uns copos.  
Uma parvoíce, é claro, porque posto daquela maneira parecia que o grave era o tal médico ter confidenciado isso publicamente e não o tê-lo feito. E não é apenas o médico que deveria ter cautela com o que escreve se estiver aberto ao público em geral, toda a gente devia ter esse cuidado e mais ainda, obviamente, as profissões baseadas em relacionamento humano.
Ora a medicina deve ser das profissões mais antigas e mais globais do mundo. Tratar da saúde do seu semelhante, até nas cavernas dos homens primitivos e nas ilhas mais remotas da Polinésia, se encontra ou encontrou quem o faça. É um trabalho importantíssimo e de prestígio social.  É verdade que de vez em quando ouvimos dizer "eu não gosto de médicos!" (o mais comum é "eu não gosto de hospitais!") uma declaração que me faz sorrir porque o que essas pessoas não gostam é de estar doentes. E, claro, também não gostam de se sentir dependentes do saber de outrem, mas duvido imenso que depois de adoecerem não gostem de ser tratadas!!! Era cá um raio de um masoquismo....
Mas, voltando ao facebook, por acaso já me aconteceu ter uma consulta marcada para uma primeira vez e ir espreitar se esse médico tinha facebook. A sério! Via a cara dele, a idade, de onde era, por acréscimo se era casado e tinha filhos, e até talvez o seu clube de futebol... Vantagens? A humanização.
De vez em quando volto ao mesmo, mas para mim é importante. Exactamente porque estamos inquietos com a nossa saúde, sentimos que vamos expor-nos num momento de fragilidade. É importante ter a sensação que à nossa frente está alguém que nos vai entender, um ser humano.
Já me tem acontecido (poucas vezes, graças aos céus!) estar à frente de alguém que faz perguntas mecanicamente e no fim me estende um papel. Como gosto de ficção científica, imagino nessas alturas um self-service de saúde: uma cabine, e folhas de papel, não não! um monitor com perguntas onde ia clicando um sim ou não, e minutos depois um diagnóstico aparecia no ecrã e saia uma palete de comprimidos de uma ranhura. Rápido e asseado.
Como por enquanto a relação ainda faz parte do processo, gosto de saber com quem estou a falar, é bem mais agradável. E, quando estou doente os casos onde tenho recuperações mais espectaculares são sempre quando sinto a empatia do médico.
Portanto, para mim as redes sociais são tal e qual como um medicamento - fazem bem se não abusar, tomar com cautela, e não esquecer os efeitos secundários (privacidade)
Afinal uma simples questão de Bom Senso.



Cereja

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