quarta-feira, 13 de julho de 2011

«O lapso» ou as novas faces da miséria

A história tem graça.
Acho porque também me ri com ela e percorreu a net em blogs ou redes sociais com sorrisos por todo o lado. Um homem distraído ou enervado, foi apanhado a conduzir sem carta por ter passado um sinal vermelho. Enervado, é o que é. Ele mesmo o diz: "Passei o vermelho porque os polícias me deixaram nervoso."
Depois, o resto da história é que é inacreditável. 
Ele fala bem: diz que tem uma 'psicopatia', e que o que se passou foi 'um lapso', sendo a explicação fantástica - O carro é da minha esposa, mas ela também não pode conduzir por ser alcoólica, mas está muito melhor. Agora já bebe 3 litros de cerveja por dia, um de manhã, um ao almoço e outro ao jantar!
Na continuação das confusas declarações em tribunal vem-se a saber que alugaram uma casa há 3 dias (?), almoçam na AMI e depois vão ao supermercado onde compram «duas pizzas por 1 euro e 99 cêntimos, uns pães, umas manteiguinhas, um litro de cerveja para ela e um Jói para mim.»
O absurdo é geral, e se refiro a história é para acentuar o pormenor da má gestão do pouco dinheiro e... o carro! Este casal, um homem de 45 anos e a sua companheira, almoçam numa instituição de caridade mas para um jantar fazem compras que somam mais de 5 € (o que chegaria para várias panelas de sopa) de fast-food e refrigerantes. Quanto ao carro, se andava, pelo menos tinha gasolina que está bem cara.
Impressionante a miséria. Material, é evidente, mas não só. Uma terrível desorganização.
Na minha infância a classe média não sonhava em ter um carro. Esse era um luxo extraordinário, e os pobres, que havia muitos também e passavam fome com certeza, quando comiam era a tal tigela de sopa ou pão com o conduto que arranjassem.
Penso muitas vezes que, para além do famoso RSI o importante era ensinar a quem o recebe a gerir esse dinheiro. Ou não conseguimos sair desta espiral de miséria que gera mais miséria.







Pé-de-Cereja

11 comentários:

Joaninha disse...

Olá!
É das coisas onde me sinto mesmo velha (velha, velha, velha) é nesse aspecto da antiga 'economia doméstica'. Ainda aa panhei de raspão o póst guerra, a fase do paroveitar tudo
Sinto sempre um choque ao ver o espantoso desperdício que hoje nas sociedades modernas reina. E no campo alimentar é onde mais me choca – deitar-se para o lixo tanta comida por não a saber aproveitar, comprar-se tudo pré-cozinhado e evidentemente muito mais caro!
Este caso é um exemplo excelente: a cerveja já é de pasmar, mas um refrigerante????!!!! Não se sabe beber água da torneira?! E uma piza por cerca de 400 escudos na antiga moeda?! Como dizes que panela de sopa não se fazia com isso....

Joaninha disse...

...............
Não digo que eles tenham a culpa. Nem eu queria voltar ao antigamente. Mas ainda por cima é uma comida pouco saudável, caramba!

Paz disse...

E se em vez de nos preocuparmos tanto com o controle sobre os miseráveis nos preocupássemos com o controle sobre os ricos e as grandes empresas que produzem e promovem a fast food? Concordo que há uma grande desorganização e que Pedagogia é preciso (em geral, para todos os grupos sociais) Mas atenção ao paternalismo de classe
'inconsciente'.

cereja disse...

Olá Paz!
Essa do paternalismo....
(cá por mim é mais maternalismo, estas chamadas de atenção são mais maternais :))
Só para dizer que a quem tenho ouvido mais irritação contra o RSI e dizer de um modo mais duro o que escrevi mais acima (tipo "cambada de inúteis, drogados e ladrões Vêm dizer que têm fome mas nem sabem fazer um tacho de arroz") não são pessoas de classe média-alta mas à minha porteira, mulher a dias, vendedora do quiosque, ou cabeleireira de bairro...
Claro que quem vende os produtos e os publicita é o maior responsável, mas era importante haver uma contra corrente.

Mary disse...

É engraçado, eu entendo o que disse a Paz, afinal a culpa ou responsabilidade ou seja o que for, é de quem lucra com tudo isso.
Sei por experiência própria que uma pessoa quando está muito cansada não tem qualquer vontade de descascar cenouras ou batatas, quer é uma bucha qualquer e descansar a ver tv...
Mas essa história do «lapso» que correu por todo o lado, foi o máximo!!! Não tinha tirado a carta de condução por... lapso! lolol

cereja disse...

Certo Mary, mas é toda uma mentalidade de época como a Joaninha disse ali em cima.
Como toda a gente também tenho dias, em que tal como tu, estou bem cansada. Mas é um caso de organização. Quando tenho tempo (e há sempre um dia em que se tem mais tempo) faço um tacho de comida (ou dois ou três de comidas diferentes) e deixo no congelador em embalagens. Se venho mais cansada, enfio uma dessas coisas no micro-ondas.
Evidentemente que me podem responder que nem toda a gente é organizada. OK.

Anónimo disse...

ehehe!
Só digo é que essa sopinha da foto está com belo aspecto. Só falta cheirar...

Zorro disse...

É curioso que quando aparecem comentários a gente mesmo com pressa tem curiosidade de ver o que aqui está e acabamos por escrever mais uma coisinha... Há vezes onde leio o que escreveste mas ainda não tens comentários e não estou para abrir a caixa (Sorry...)
Isto daria uma polémica interessante. Eu também gozei no facebook com a história do «lapso». Foi espantoso. E não fixei o resto das compras que ele fazia só chamou a atenção a famosa cerveja - três litros !!!!!!!!! uau!
Não prestei atenção por aí além aos gastos da alimentação
mas para confessar tudo não sou eu que faço as compras da minha casa e portanto o gasto do Pingo Doce passa-me ao lado. Mas, já já estranhei a coisa do carro. Não é «apenas» (!?!?) a gasolina, é toda a manutenção. manter um carro custa muito caro a não ser que esteja parado o que não era o caso.
Realmente o cavalheiro do lapso devia repensar as suas prioridades. :)

Zorro disse...

Amigo anónimo, aquela sopinha parece realmente saborosa. 'Bóra aí, pedir a receita à Cereja?... :)

sem-nick disse...

Não resisto a vir deixar aqui este link:

http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1900950&opiniao=Jorge%20Fiel

É tal e qual aquilo que eu sinto!

fj disse...

expriencia