segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Supernanny

Tem agitado espectadores, a Comunicação Social e as nossas Redes Sociais. Muita gente que não viu o tal programa, como eu, dá a sua opinião porque este é um caso que não nos pode deixar indiferente. Muito raramente dou opinião sobre uma coisa que não vi, este caso é excepção, apesar de poder 'voltar atrás' e rever o programa não o quis fazer porque a Estação decerto conta as visitas e não quero aumentar esse número que é decerto enorme.
O nome, quando o li, levou-me a pensar na Nanny PcPhee um filme engraçado, onde realmente existe uma ama disciplinadora com bastante sucesso, ideia confirmada pela imagem da ama com o guarda-chuva. E julguei que seria uma série imaginada, com personagens fictícios, onde diversas situações com crianças rebeldes eram analisadas. Podia ser interessante, vem ao encontro de muitas das minhas preocupações sobre educação.
Mas ao ler alguns comentários percebi que afinal era um modelo ao vivo, tipo reality show. Como??? Um reality show com crianças? A portarem-se mal e serem reeducadas com milhares de pessoas a assistir? Não podia ser, era engano.
Era verdade, afinal. Com argumentos de que os-outros-países-também-fazem, e há anos. Parece que sim, infelizmente. E pelo que li, igualmente criticados. Em Portugal muita gente se manifestou escandalizada, li a opinião do blog Aventar que linka um programa radiofónico de Bruno Nogueira e também a opinião da Ana Sousa Dias e imensos outros, nem vale a pena referir tudo. Contudo, a SIC garante que 80% dos espectadores gostaram 😡
Entre os que gostavam li nas caixas de comentários dos jornais o mesmo argumento: se as crianças entram em programas como Master Chef Junior, telenovelas, anúncios, que mal tem este? Para além de tudo o que é referido estar errado, sem dúvida, sobretudo concursos onde a frustração é horrível, e devia ser também completamente proibido, o foco é o oposto. Uma criança que é exposta por ter uma habilidade especial, aparece porque é melhor, ou assim a consideram. É um elogio. Pode sentir-se bem, importante. Pode ser olhada na rua, invejada na escola, é o centro da atenção por ser boa. Claro que isso está mal mas a própria criança pode senti-lo assim. Nesta caso, é apontada a dedo por ser pior. Serve de modelo para o que não deve ser! Vai ser envergonhada se for reconhecida na rua, e gozada na escola. Isto é um bulling de uma estação televisiva!
E a «nanny» é uma psicóloga. Incrível. Um psicólogo a trabalhar em directo numa tv. Em directo. Nem sei como classificar aquilo, felizmente que existe uma Ordem e uma carteira profissional que pode ser retirada.
Um psicólogo pode ser muito útil a aconselhar pais de crianças rebeldes, indisciplinadas, sem regras, sem controlo. Pode e deve aconselhar primeiro os pais, observar e ouvir a criança, assistir à interacção pais/filho, até pode fazer uma visita a casa para ver como as coisas acontecem - aliás hoje há meios para se filmar umas horas da vida familiar sem mais ninguém a assistir. O que nunca pode é fazê-lo em público. Nunca, isso é o rigoroso oposto do seu trabalho que é confidencial.
Tenho pena dos meninos assim expostos, dos pais aflitos que caíram nesta armadilha, mas uma grande raiva de quem teve esta ideia sinistra e maldosa, e quem vai lucrar economicamente com ela.
Será que a onda de indignação pode travar o programa?
Tenho bem receio de que não. O valor do dinheiro é mais forte do que a sensibilidade.
Que vergonha!
Não da criança mas de quem assim procede.


(já depois de ter escrito este post soube que a SIC pôs no ar outra dose do mesmo, mesmo que os pais já estivessem arrependidos e pedissem que não fosse emitido o programa. E vemos que mais peritos estão de acordo em condenar o formato e dizem-no. Mas, claro, quanto mais se falar mais audiências...)


Cereja

2 comentários:

Anónimo disse...

Se não fosse em direto, real, com psicóloga pública até não era mau.
Só que não era...fj

cereja disse...

É essa a questão. É o formato reality show que é péssimo, tendo crianças como protagonistas/vítimas. O facto de a «educadora» ser psicóloga é a cereja em cima do bolo. Na Inglaterra parece que é uma educadora e é igualmente mau, mas profissionalmente uma educadora não tem o mesmo código de ética. Claro que a questão de regras, disciplinas, frustração, autoridade, ligação correcta com um filho, são pontos importantíssimos, estou sempre a falar nisso. E se fizessem uma série com várias histórias muito realistas, eu aplaudia. Mas nunca isto.